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História Livrai-nos do mal, amém! - Eis que os filhos são herança do Senhor! - História escrita por DanshinQueen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Livrai-nos do mal, amém! - Eis que os filhos são herança do Senhor!


Escrita por: DanshinQueen

Notas do Autor


BOM DOMINGO GAYS PASSANDO AQUI COM UMA ESPÉCIE DE PRÓLOGO PRA SPIN-OFF/SEGUNDA TEMPORADA DA FIC DA CRENTE, POIS, SIM, SAIU UMA SEGUNDA TEMPORADA/SPIN-OFF DA FIC DA CRENTE COM SEULRENE CASADAS E MÃES DE MENINA!

Deu de gritaria, o link da história nova vai estar nas notas finais.

APROVEITEM O PRÓLOGO DE DIVULGAÇÃO, BOA LEITURA! o/

Capítulo 31 - Eis que os filhos são herança do Senhor!


Muito provavelmente já se passava da meia-noite de uma madrugada não muito fresca de outubro. Apesar do horário, ainda havia uma luz acesa no apartamento dos Kang. Uma, não. Várias delas. No caso, as luzinhas alaranjadas que decoravam o espelho de Seulgi. A dona do quarto, por sua vez, se encontrava deitada na cama, que era compartilhada com a namorada, naquele momento.

A única coisa audível, na maior parte do tempo, era o do ventilador de teto a refresca-las. Fora as respirações de Seulgi Kang, Irene Bae e de uma gatinha cinza que circulava pelo quarto, não havia mais um som vindo do apartamento. Os pais da Kang haviam ido passar a semana em São Paulo, numa turnê pelas casas dos avós de Seulgi que, à propósito, só não tinha sido convocada a participar por conta do trabalho.

Sim.

Kang Seulgi tinha um trabalho. Tudo bem que era só o primeiro ano como trainee de uma empresa de porte considerável, do parque industrial da cidade vizinha, mas já recebia mais dinheiro, por mês, do que ganhara em toda a vida como universitária. Tá, exagero, mas vocês entenderam. Era bem mais do que uma bolsa-estágio. Era, tipo, quatro delas por mês. Mas nem tudo eram flores. Tinha os lados negativos, também. Tipo as complicações de sua agenda com a da namorada. Irene terminava o último ano de faculdade e estava cumprindo os últimos meses de estágio, para poder se formar. Oportunidades para se ver? Restritas aos fins de semana.

Mas as coisas certamente melhorariam depois que aquilo acontecesse. Seulgi tinha o pressentimento que sim. Por ora, aproveitariam a companhia uma da outra sempre que a oportunidade aparecesse. Como fora naquela sexta-feira. Irene, havia sido dispensada mais cedo da faculdade por ter uma única prova, no primeiro horário. Seulgi, muito perspicaz, usou a brecha para sugerir um encontro; sair para comer algo, assim que a Bae estivesse livre. E depois virem para a casa da Kang, passar a noite e o fim de semana. Para aproveitar que Seulgi teria a casa livre, só para as duas, já que, há poucos meses, o mala sem-alça do irmão mais velho da Kang, Seojun, havia enfim deixado a casa dos pais para morar com a pretendida.

Aproveitar o fim de semana, uma na companhia da outra, então, era o que faziam. Irene Bae que deitava parcialmente sobre o corpo de Seulgi, com uma das pernas entre as da Kang e a cabeça apoiada em seu ombro. Isso enquanto prestavam atenção no celular que Seulgi erguia, de forma que a tela ficasse visível para ambas. As duas que eram cobertas por um lençol, além de suas camisas e peças íntimas.

- Eu gosto, de móveis desse tom. – O silêncio do quarto era quebrado por bocejos e ocasionais comentários sussurrados, como este vindo de Seulgi.  – Ilumina mais a casa, principalmente durante o dia. E fica fácil de combinar, se for pra comprar as coisas aos pouquinhos.

- Eu também gosto. – Irene concordou com a cabeça, pela movimentação que Seulgi sentiu em seu ombro. Estava mais ocupada salvar pins de ideias que interessavam não apenas a ela, mas a Bae também. - Lá em casa está uma escuridão, agora, com aqueles móveis escuros e sala naquele tom de pêssego horrível que minha mãe inventou de botar.

- Não gosta de tinta colorida? – Seulgi perguntou. Mais uma coisa a se levar em consideração.

- Não é como se eu não gostasse. Em uma ou duas paredes até fica bonito, mas, se for para escolher, eu prefiro sem. Branco. Ou gelo, se quiser inventar moda. Dá menos trabalho para retocar e ninguém enjoa da cor. – Resposta, aquela de Irene, que não foi tão inesperada assim. – Mais fácil para decorar, também, como você disse.

- Eu concordo. – Seulgi aquiesceu, usando a mão livre para acariciar os cabelos de Irene, em meio ao abraço. – Fica mais fácil de controlar a vibe do ambiente, também, com as luzinhas. As que dão pra controlar intensidade e temperatura. Eu gosto dessas coisas.

- Você e seus LEDs... – Irene riu baixinho, porque, bem, também não era uma surpresa uma consideração daquelas vir da Kang.

- A vibe é importante, ok? – Seulgi que enfim a encarou, erguendo as sobrancelhas para enfatizar o seu ponto.

- Eu dou um desconto porque seu quarto ficou bonitinho. – Irene apoiou o antebraço sobre o ombro de Seulgi e se ergueu o suficiente para olhar ao redor. Sim, fazia um tempão que Seulgi havia terminado de decorá-lo, mas... o quarto ainda estava muito bonitinho. Fazia o gosto de Irene, mesmo depois de anos. Pinterestificável, se essa palavra existe, mas nada exagerado. – Dou o braço a torcer até para o gabinete do seu PC. Parece uma rave, mas fica legal quando você desliga as luzes do quarto.

- Ora, ora, vejam só... obrigada? – Seulgi brincou, surpresa, de fato, pelo elogio. Irene que deixou uma tapinha leve em seu ombro, antes de voltar a apoiar a cabeça ali. – E é funcional. Não é só por estética.

- Se você diz... – Daquilo, Irene ainda duvidava um pouquinho, mas pelo menos era só o gabinete. Se mouse e teclado piscassem que nem ambulância, também, aí a Bae estaria julgando. – Eu confio no seu gosto. Pelo menos para esse tipo de coisa. – Irene provocou, também, rindo ao ver a forma que Seulgi havia a encarado. Fingia estar ofendida bem mal. – Mas seria bom ter uma dessas lâmpadas no quarto. E na sala. Mesmo se for de canto. É bom poder controlar a iluminação para assistir Tv ou ler. Então, vale a pena, eu acho...?

- Eu acho que sim. – Seulgi concordou. É claro que Seulgi iria concordar. Ela que tinha dado a ideia. – Cê tem alguma exigência? Porque, tipo, por mim tudo bem começar com o básico do básico e ir comprando tudo aos pouquinhos. Porque não vai ser nosso primeiro e único apartamento, então... acho que nem rola comprar muita coisa de cara. Provavelmente a gente não vai alugar um de dois quartos logo de cara. – Seulgi falou e foi a vez de a Bae concordar com a cabeça. – Começar a comprar as coisas pelo essencial, que é comer e dormir. O resto a gente vê com o tempo.

- E lavar as roupas. Se eu não tenho ânimo pra fazer isso na mão, imagine você. Então tem que ter uma máquina. E secadora, se a área de serviço não for separada da cozinha. Não vou usar roupa com cheiro de bife. – Ah, sim. Claro que Irene Bae iria se lembrar de cuidar das roupas sujas. – E uma mesa ou sofá, se não tiver bancada na cozinha, ou coisa assim. A gente não vai comer no quarto, mó nojeira fazer isso.

- Eu faço isso direto. – Seulgi argumentou, como se precisasse.

- Eu sei. Seu quarto vive com cheiro de miojo e Pringles. Eu só suporto porque não é minha casa e o quarto é só seu. – Sim, era triste, mas seria algo que Seulgi teria que levar em conta para evitar discussões: não comer em frente ao computador. – Fora isso... eu não consigo pensar em nada. Pelo menos não agora.

- Tem problema se o PC ficar no quarto, também? – Seulgi perguntou. Um pouquinho para provocar. Por isso, a Bae riu baixo e negou com a cabeça, antes de responder. – Porque assim, um apezinho pequeno para começar estaria mais do que bom. É bom economizar e juntar dinheiro, no começo.

- Eu concordo. – Irene assentiu, por fim. – Contanto que você não fique jogando até tarde... ou traga trabalho pra casa... que ao menos dê de desligar as luzinhas da sua nave espacial, se for o caso, porque eu não gosto de dormir de madrugada.

A ironia é que já era mais do que madrugada no instante em que Irene falava.

- Coitado, nem parece que tava sendo elogiado a meio minuto atrás, o computador. – Seulgi estalou a língua em falsa decepção e Irene achou que fosse desnecessário responder àquilo com algo mais do que risos soprados. – Mas, de acordo. O básico, para começar, mas o suficiente para ser confortável.

- Isso. E aos pouquinhos. Eu acho que vale mais à pena investir em coisas boas e ir sem pressa do que depois ter que trocar tudo. – Irene disse e Seulgi assentiu, antes de acrescentar.

- A gente só teria que definir melhor “o básico” e ver quanto iria custar. E ver o quanto isso toma do que a gente tem guardado. Isso sem considerar o resto das contas. – Seulgi falou e sentiu a cabeça de Irene mexer, em seu ombro, em concordância. A Bae que não ficou daquele jeito, deitada, por mais muito tempo. Irene se levantou logo em seguida, o que tomou Seulgi de surpresa. – O que foi?

- Fazer a lista do básico. – E Irene se levantou tão rápido, ao passar por cima de Seulgi, que nem deu nem tempo de a Kang protestar. Irene logo estava a se colocar de pé, após deixar a cama.

- Mas essa hora? – Seulgi questionou, mas não mexeu um dedo quando viu Irene se afastar.

- É pra eu não esquecer do que a gente falou até agora! - E nem quando a Bae quase se matou após tropeçar numa peça de roupa que fora largada no chão. Seulgi só riu, mesmo, ao ver Irene olhar com ódio para os jeans e chutá-los em direção à cama. – Para de rir que eu podia ter quebrado o nariz! Por sua causa, que larga roupa em qualquer lugar! Que custa dobrar e colocar no canto?!

- Seu narizinho lindinho tá bem. Mas, me desculpa, isso não vai se repetir. – Seulgi continuou a rir, assim como também a permanecer deitada. Esticou-se apenas o suficiente para conseguir alcançar a calça e dobrá-la com cuidado, dando umas batidinhas no bolso traseiro ao ajeitá-la ali mesmo, perto da cama. Estava dobrada e em um canto. Atendia aos requisitos da Bae, que seguira em direção à escrivaninha de Seulgi. Ou melhor, às prateleiras, logo acima. Onde havia cadernos, livros, HQs, álbuns de pop coreano, action figures e... uma estátua viva que não deveria estar ali de jeito nenhum. – Ei, Rene, aproveita e enxota a Amandinha daí de cima, por favor? Da última vez ela quase matou o Naruto. Jogou o coitado do precipício.

- Aposto que foi de propósito. No próximo aniversário, vou comprar para ela um roupãozinho da Akatsuki. – Em uma situação normal, Seulgi estaria achando engraçado o quanto Irene se esticava para conseguir tirar a gata da prateleira mais alta. Ou adoráveis, os barulhinhos que Irene fazia com a boca, por conta do esforço. Ou mordível, a bundinha pálida e desavantajada, coberta apenas pela calcinha cor de rosa, depois de a camiseta ter se erguido. A menção de facções criminosas ficcionais chamou mais atenção, porém. Irene não precisou nem olhar para trás, ao deixar a gatinha livre pelo chão, para saber que Seulgi a encarava com a maior cara de choque. – Eu disse que tinha começado a ler. O mangá é bem melhor que o desenho, inclusive. O desenho é bem tosco.

- Anime. – Seulgi corrigiu, mas a cara de trouxa com a que encarava a namorada deixou bem óbvia a única coisa que se passava pela cabeça da Kang, e isso era o quanto amava Irene Bae. Retribuição por, anos atrás, Seulgi ter tentado ler a bíblia para se inteirar melhor daquele universo cristão do qual Irene fazia parte? Talvez. Mas era louvável, mesmo assim. – Onde cê tá?

- Na luta do Vale do Fim. Dele contra o Sasuke. Comecei hoje de manhã. – Irene, aliás, que se sentou na cama com uma agenda e uma caneta em mãos. Respondeu na maior casualidade, mas Seulgi continuava a encará-la com aquela cara de bocó, em silêncio, mal piscando os olhos. Irene não aguentou. Teve que rir. Ainda mais com aquela franjinha curta da Kang toda revirada. Deixava Seulgi ainda mais engraçada. – Sério? Cê tá tão feliz assim?

- Mas tu já tá terminando o clássico?! – Só que Seulgi parecia igualmente consternada, também, o que só fez Irene rir ainda mais alto.

- Eu leio rápido, não sou que nem você! – Irene resmungou, ainda que sorridente, enquanto folheava a agenda em busca de uma folha totalmente em branco. – Depois a gente fala sobre isso. Foco. Primeiro a lista. O que a gente já falou? Coisa para comer. Cozinha. A gente pensou nos eletrodomésticos, mas duvido que cê levou em conta louça e panela. E louça e panela é caro pra –

- Deixa isso para amanhã, vamos só conversar, não tô com cabeça pra fazer lista, nem conta, agora... – Seulgi choramingou ao tomar agenda e caneta das mãos de Irene e deixa-las no chão, ao lado da cama e da calça. E de onde Amandinha se aproximava, curiosa. A Bae que continuou a encarar a Kang, boquiaberta e indignada, até Seulgi a puxar de volta para um abraço. Irene não teve escolha senão deitar abraçada à namorada outra vez. Ou quis se convencer disso.

- Mas você topa? Tipo, de verdade? Ano que vem. Quando eu me formar. E se eles realmente me ficharem no escritório. – Irene só ergueu um pouquinho o queixo, para encarar Seulgi, que olhou de volta em sua direção também. – Morar junto. Eu queria tentar. Cê acha que a gente consegue?

- A gente se virar sozinha? – Seulgi perguntou e Irene aquiesceu ao voltar a apoiar a cabeça em seu ombro. – Acho que sim. Sei lá, supondo que, juntando o que a gente receber, desse uns quatro contos... eu acho que seria tranquilo. A gente nem gasta tanto assim.

- É, o problema é fazer dívida. Tipo, eu tenho um dinheiro guardado, e eu sei que você também tem, mas a gente vai ter que comprar tudo do zero. Aí que fica difícil. Junto com o lance do aluguel, condomínio e boletos. Vai ser vida de adulto real, se a gente for fazer isso. Não vai ser eu pagando uma conta aqui e ali pra ajudar minha mãe. – Normalmente, as preocupações de Irene costumavam ser meio exageradas e dramáticas. Aquelas, porém, Seulgi achou bastante sensatas. E concordava com todas.

- Eu acho que meus pais ajudariam com algumas coisas. Se fosse o caso. – Seulgi falou, pensativa, ao fazer biquinho e encarar o teto. Irene tinha certeza que sim, conhecendo os sogros. – A Fany certeza que iria querer ajudar com algo, também. A gente só não pode ser muito orgulhosa e deixar eles ajudarem um pouquinho. O que cê acha?

- É, eu acho que sim. Meu pai veio com um papo estranho também, da última vez que a gente se falou. – Seulgi desviou a atenção de volta para Irene ao ouvir aquilo.

Ah, e, sim, Irene e o pai tinham finalmente sentado para conversar, na segunda metade anterior. Como havia sido prometido que fizessem no aniversário de vinte e dois anos de Irene, no ano passado. Os dois haviam conseguido chegar a algum tipo de acordo de convivência. Não ao pé da letra. O homem continuava a morar e trabalhar na capital, e não voltara a ver a filha desde o feriado de carnaval daquele ano. Mas Irene vir contar que conversou com o pai sobre isso ou aquilo, por telefone, acontecia com mais frequência. Uma ou duas vezes por mês. Para algo que costumava acontecer uma ou duas vezes por ano, era um baita avanço.

– Ele perguntou de ti. Não lembro do que a gente estava falando, mas ele começou com um “há quantos anos vocês tão namorando, mesmo? Nossa, cinco? Quando eu completei cinco anos com a sua mãe, tu já tinha quatro, hahaha!”. Com aquela risada de tiozão dele. – Irene fez questão de imitar o tom de voz e jeito de falar do pai. Era quase idêntico. Seulgi nunca acreditara, quando Tiffany falava, mas Irene e o pai eram quase a mesma pessoa. Com a mesma risada, com a mesma cara, e o mesmo temperamento. Exceto o fato que homem dava quase umas duas Irene de altura e ambos tinham lá as suas discordâncias. Apesar disso, eram parecidos de um jeito que chegava a dar medo. – E aí ele veio com um “não enrola ela demais não que fica feio, viu?”. Nossa. É esquisito demais quando ele vem bancar o pai compreensivo.

- É cringe, mas pelo menos ele tenta. – E se Irene fazia careta, muito provavelmente lembrando da vergonha alheia que fora ter aquela conversa com o pai, Seulgi via a maior graça na mesma situação. – Ah, falando nisso, eu te contei? Meu irmão marcou o casamento. Vai ser em dezembro. Diz ele que já tá tudo certo.

- Sério? – Irene até usou do apoio dos braços para se erguer e poder encarar Seulgi, que assentiu sorridente para a Bae com uma empolgação tão grande que a Kang parecia mais confirmar a data do próprio casório. Pelo menos não era a única, já que Irene também parecia genuinamente feliz pelo cunhado. – Finalmente! Cê tinha me dito que os dois estão juntos desde um pouquinho antes dele começar a trabalhar no shopping, não é isso?

- É, é isso. Bem pau-mandado. Topou o primeiro trampo que conseguiu para bancar os rolês com a namorada. – Seulgi riu ao expor o irmão. Irene também. Só que ao negar com a cabeça, com um pouquinho mais de respeito pelo rapaz. – Mas isso foi, tipo, uns cinco ou seis meses antes da gente só. Ele entrou na loja em –

- Que, pera, sério isso? – Irene ergueu as sobrancelhas, em total estado de choque. Seulgi fez o mesmo, ao assentir, mas para reafirmar a veracidade de sua fala anterior. – Mas, meu Deus... parece que eles tão juntos há mais tempo do que Moisés demorou pra cruzar o deserto...

- Teu pai deve ter pensado o mesmo da gente. – E a prova que Seulgi tinha realmente tentado ler o livro sagrado da namoradinha é que estava rindo de uma referência bíblica. Se sentiu uma senhora de sessenta anos por saber até a resposta. E o contexto, mesmo que não exato. Era perto do livro caga-regra. Ou era parte do livro caga-rega? Seulgi também precisou de uns quarenta anos para terminar aquele troço. Era bem antes da parte legal, quando a galera de Deus chegava em Jericó matando geral. Quer dizer, não legal. Um pouquinho mais emocionante. Não era legal para quem morria.

O povo daquele tempo era meio violento.

- É, talvez... – Mas Seulgi decidiu guardar aquele pensamento consigo mesma, para que Irene continuasse a franzir a testa só para o assunto do qual tratavam. Caso contrário, tinha certeza que seria atacada fisicamente de alguma forma. Ou cancelada por cristofobia. Melhor poupar Irene de ouvir as suas piadinhas bíblicas. – Até o ano passado eu estava achando a possibilidade meio apressada. Mas, sei lá... está parecendo um pouquinho mais sensato, agora. Morar junto... casar e essas coisas.

- Cê ainda tem a mesma ideia? Sobre casamento e tals. – Seulgi perguntou ao correr os dedos pelos fios de cabelo de Irene. Era gostosinho, fazer aquilo. Para equilibrar um pouco as coisas. Geralmente era a Bae quem a mimava com cafunés.

- E por que não? A gente tem o direito de fazer isso. Não vejo porque não, se a gente acabar decidindo que sim. Até porque, se a gente vai fazer mesmo o lance de morar junto... não acho que é com o objetivo de ir cada uma para um canto, daqui a dois ou três anos, ou é? – Irene indagou e Seulgi riu baixo ao negar com a cabeça. Era só o começo das justificativas que Irene sempre dava, quando mencionavam o assunto. Isso e um monte de benefício jurídico que Seulgi não conseguia decorar. – Não vejo porque não formalizar. A menos que você não queira.

- Nem, eu concordo. Só perguntei por causa do seu lance com a igreja. Se isso não vai te complicar ainda mais com o povo de lá. – Seulgi falou com o maior cuidado possível. Não era com a intenção de fazer Irene repensar a ideia. Era só para garantir que estava mesmo tudo bem para ela, quanto àquilo. Por isso, abaixou o olhar para procurar pela reação da Bae, mas Irene apenas piscava, em silêncio, e retribuía o carinho em sua cintura, distraidamente.

- Eu tô pensando em sair. – Irene respondeu aquilo como se não fosse nada. Tão casualmente que até se assustou com o sobressaltou de Seulgi, que ergueu a cabeça do travesseiro e a encarou de volta com um par de olhos arregalados.

- O que?! – Dum jeito que as sobrancelhas da Kang quase desapareciam sob a franja. E repito, apenas para enfatizar: a franja era bem curta.

- Não é como se eu fosse me converter, nem nada, meu Deus... – Numa tentativa de acalmar a namorada espantada, Irene empurrou delicadamente Seulgi pelos ombros, para que voltasse a se deitar completamente no colchão. – É que o ambiente de lá sempre foi meio pesado, com o lance da minha mãe. E eu sei que rola fofoca sobre mim, também, mas eu tenho certeza que isso vai piorar se eu aparecer casada. Mas não vai ser por sua causa. Relaxa, eu já vinha pensando nisso.

- Certeza? – Seulgi perguntou, desconfiada, e Irene assentiu tão confiantemente quanto pôde, em resposta.

- Mas só tô pensando. Ou, não sei, tentar encontrar um lugar que colabore com a minha saúde mental. Ou só manter o hábito de ler e refletir sozinha. Eu gosto disso. – Irene respondeu ao balançar ligeiramente os ombros. - “... onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”, não é? Eu não acho que é só sobre congregar. Mas que é válido independentemente de quantos são e onde estão. Esse raciocínio... não acha?

E o que Seulgi poderia fazer senão concordar com a cabeça? Irene era a crente ali, então, o que quer que ela dissesse, Seulgi interpretaria como verdade e daria todo o apoio. Corretíssima. Se algum dia Irene havia dito algo errado, Seulgi não se lembrava.

- E outra. – E Irene continuou. – Qual o sentido de orar em comunhão se a última coisa que eu ando tento com aquele povo, ultimamente, é alguma conexão ou paz de espírito?

- Faz o que você se sentir melhor fazendo. Cê se justificou direitinho. Acho que Deus vai te entender. – Seulgi aconselhou, por fim. Irene riu baixinho, mas concordou com a cabeça.

- E é meio bizarro pensar sobre isso, tipo... – Irene até se afastou para deitar no colchão ao lado de Seulgi, de barriga para cima, como se aquilo fosse fazê-la pensar melhor. – Antes, quando eu pensava sobre essas coisas que a gente tá discutindo... me preocupava bastante. Porque era muito diferente do que eu tinha planejado. E custou desapagar da ideia. A de sempre. Noivar com um cara decente, casar na igreja e dar uma festa pra família toda. Aí ter um filho depois de dois ou três anos, porque certamente cobrariam, para depois batizá-lo na igreja e manter esse ciclo interminável... eu me pergunto se eu realmente queria isso ou era só eu querendo atingir expectativas dos outros.

- Tipo “olhem para mim, sou a filha perfeita, não terão mais um ‘a’ para falar sobre mim”? – Seulgi se virou de lado, então, para encarar Irene, que mussitou e balançou a cabeça positivamente em resposta.

- Tipo isso. Mas, hoje em dia, não faz falta. Se a gente assinar uns papéis e depois for comer um pastel com caldo de cana... sabe onde eu tô falando? Na pastelaria perto do cartório, no Centro? – Irene mal terminara de dizer e Seulgi já estava vermelha de rir, ao assentir. Sabia exatamente do que Irene estava falando. – Sério que cê viu tanta graça na história do pastel?

- Rene, aquela pastelaria é tão pé de chinelo que cachorro entra e sai como se fosse cliente! – E, de alguma forma, ver Seulgi rir tanto ao dizer aquilo junto a um facepalm, dum jeito que os olhinhos mal abriam e, ao mesmo, lacrimejavam, faziam Irene rir tanto quanto.

- Mas é o melhor pastel que tem! – Irene tentou se defender seriamente. Só tentou. O sorriso ainda estava bem aberto no rosto. Irene só não disse mais nada porque o próximo estágio da crise de riso de Seulgi seriam lágrimas. Vermelha a Kang já estava. Então esperou a namorada se acalmar, antes de continuar. – Cancela o pastel, então. Mas cê pegou a ideia.

- É, eu peguei, e nunca mais vou esquecer dela. – Seulgi passou as mãos pelos olhos e negou com a cabeça, antes de respirar fundo. Irene tinha umas linhas de raciocínio exageradas que a Kang ainda não entendia, e não sabia se um dia chegaria a entender. Isso em todo e qualquer sentido. Preferia ver como um charme, porém. Irene era única. Exclusiva na face da Terra. – Mas e a parte dos filhos? Cê só desistiu dela, também?

- Filhos...? – Irene voltou a franzir a testa, pensativa, e voltou a olhar para cima, como se isso fosse ajudar. Puxou o ar entre os dentes e repetiu a palavra. Umas duas ou três vezes, entre mais puxadinhas de ar entre os dentes, antes de dar uma resposta da qual talvez se pudesse concluir algo. – Não sei... eu gosto de criança, mas isso é uma neura que eu sempre tive. – Irene começou, e Seulgi até apoiou a cabeça em uma das mãos, ao se erguer um pouquinho, interessada no que sairia daquela boca, após tanta reflexão. – Começar a namorar com cara, aí ficar grávida sem querer, que nem minha mãe. Ficar nove meses com um ser vivo crescendo dentro de mim, pra depois eu ser uma daquelas azaradas que têm complicações no parto. Aí acabar morrendo. E matando a coitada da criança junto.

- Que? – A fanfic hetero de Irene era meio trágica? Era. Mas, de novo, era tão absurda que Seulgi teve que se jogar no colchão, de tão alto que estava rindo outra vez. Irene era uma bichinha muito trágica. – Por que tudo pra ti acaba em morte?!

- Mas pode acontecer! – Irene se defendeu. Até ergueu as costas do colchão, mais ou menos, para poder encarar Seulgi que, no momento, se revirava de um lado para o outro, na cama, com ambas as mãos na barriga. – Para de rir que é sério! Eu tenho real disso acontecer! Só de pensar me dá hipertensão gestacional e nem grávida eu tô!

- Eu sei que pode! Mas, cê sabe, seu corpo foi feito pra isso, não é como se você fosse morrer só porque acha que vai. – Irene já estava esperando que Seulgi fosse tirar sarro dela com aquilo, então já tinha preparado o travesseiro para acertar na Kang, até que Seulgi parasse de rir e implorasse por perdão. O que eventualmente aconteceu. – Desculpa, eu parei. Vamo falar sério...

Irene bufou e negou com a cabeça, antes de voltar a utilizar a “arma” como apoio para a cabeça. Só então a Bae se voltou para Seulgi novamente, que ainda ria, mas pelo menos era baixo. Menos irritante.

- Mas o que cê acha? – Irene perguntou quando Seulgi se ajeitou deitada de lado, mais uma vez, para poder encará-la de volta.

- De complicações na gravidez? – Nunca caiam nisso, quando Seulgi disser que “parou”. É mentira. Irene revirou os olhos, Seulgi deu mais uma risadinha idiota, mas, felizmente, Irene não precisou se estressar ou repetir a pergunta. Seulgi logo tratou de conversar como gente. – Eu também gosto de criança, mas... sei lá. Não tenho medo, mas também não consigo me imaginar grávida sem rir. – E, de fato, Seulgi estava rindo ao falar aquilo. – Nossa, ia ser muito feio. Pode ser que eu mude de ideia, mas –

- Que? – E, pelo jeito, só tinham invertido os papéis. Era Irene quem ria, então, ao lançar um olhar questionador para a Kang. – Que história é essa? E o papo de “seu corpo foi feito para isso” de agora há pouco?

- Isso é verdade, mas é esquisito, mesmo assim! – Seulgi se defendeu, mas, ao contrário de como Irene tinha reagido, o fez aos risos, junto com a Bae. – De qualquer forma não é algo para agora! Só queria saber o que cê achava! Quando e se esse dia chegar, a gente pensa sobre, se a gente resolver fazer isso. Por enquanto é só distante demais. E, do jeito que for, vai ser caro pra cacete, então...

- É, eu sei, mas, ai... – Irene concordou, mas logo fechou os olhos e franziu a testa ao bufar. Abraçou Seulgi novamente, como forma de consolo, antes de resmungar contra o pescoço da Kang. – Por que tudo tem que custar dinheiro?

- Capitalismo. – Seulgi não teve muita escolha senão se deitar na cama e puxar a Bae para um abraço. Irene, aliás, que riu para sua resposta. – Só não diz isso na frente da Wendy Ancap que ela te cancela.

- E desde quando a Wendy é Ancap? – Irene ergueu a cabeça para encarar Seulgi, com a testa franzida. Estava desatualizada? Porque só se lembrava da Park acusar a Son de ser o completo oposto, no espectro político. Mas a Kang balançou a cabeça para os lados ao rir e guiar Irene para que voltasse a se apoiar em seu ombro.

- Eu e a Joy tamo usando essa pra encher o saco da burguesa safada que diz que não é, agora. Mas foi a Roseanne que começou, em minha defesa. – Irene obedeceu e voltou a se recostar, mas negou com a cabeça, antes. De alguma forma, a Bae sentia compaixão pela Son. Irene sabia bem o que era ser perseguida pelas amigas e namorada. Não tinham um dia de paz, ela e Wendy. – Mas é bom saber que a gente ainda concorda sobre essas coisas.

- Eu também acho. – Irene assentiu lenta e discretamente em concordância, para não atrapalhar o carinho que a Kang tinha voltado a fazer em sua cabeça. – E eu topo, o lance de tentar morar junto, ano que vem. Se depois que eu me formar, receber a carteira da Ordem bonitinha... a definitiva, não aquela de estagiária; e eles realmente me efetivarem no escritório... eu topo. Dá mais segurança, eu acho.

- E enquanto isso a gente se prepara. – Seulgi concluiu e sentiu Irene assentir levemente, mais uma vez. A Bae só acrescentaria “rezar para dar certo” à lista. – E assim, se depois de um ano morando junto a gente não tiver motivo para querer matar uma a outra... e os empregos parecerem mais ou menos estáveis, eu não vejo motivo para esperar mais pra formalizar. Se esse é mesmo o nosso objetivo.

- Você tá indiretamente me pedindo em casamento? – Irene riu baixo ao balançar a cabeça gentilmente para os lados. Apesar da brincadeira, não via nenhum mal na ideia de Seulgi.

- Tô. Mas só se você topar. Se não, é brincadeira. – E Irene teve que rir ainda mais da idiotice alheia, ao ver Seulgi confirmar.

- Só vai saber se eu topo ou não quando perguntar de verdade. Desculpa. - E Irene continuou assim, brincalhona, até o corpo de Seulgi se inquietar, sob o seu. A Kang que se esticava dum jeito como se tentasse alcançar algo no chão. Irene não pôde evitar se erguer para encarar Seulgi. Do mesmo jeito que um frio lhe congelou o estômago, mesmo sem haver alguma necessidade aparente para isso, quando a Kang deixou a impressão de estar procurando por algo. – Que foi?

- Vou perguntar de verdade. – Seulgi, aliás, que se aproveitou do fato de Irene ter se afastado para deslizar para fora da cama. E ver Seulgi a apoiar ambos os joelhos no chão, com ambas as mãos para trás do corpo, com um sorriso tão nervoso quanto era constrangido, deixou Irene mais do que alerta. Irene estava a ponto de ter uma crise de nervoso.

Como se isso fosse novidade.

- Que? Cê não tá falando sério, não tá? Aposto que não tem nada na tua mão. – E, sinceramente, Irene não sabia o que preferia. Se fosse brincadeira, teria que expulsar Seulgi de passar a noite na própria casa. E seu coração teria batido tão acelerado à toa. Teria passado vergonha à toa, por ter acreditado que a namorada palhaça talvez não estivesse tão de brincadeira assim. Seulgi muito provavelmente terminaria apanhando. Mas, no momento, Seulgi só gesticulava com a mão esquerda, para Irene se aproximar da borda da cama. – Seulgi... eu me recuso a acreditar que cê vai fazer isso vestindo calcinha e camiseta. Se -

- Eu posso botar a calça, se você quiser. – Seulgi deu de ombros e, após gesticular mais uma vez com a cabeça, Irene enfim cedeu ao pedido e se sentou na borda do colchão. Mesmo que com os olhos ainda arregalados, sem saber se preparava uma boa dose de cascudos em antecedência ou se deveria bater em si mesma, por estar tremendo. Agarrar o lençol da cama não ajudava a estabilizar as mãos. – Era para eu ter feito isso depois do jantar, te levar para dar passeio e tal... mas aí cê tava com a maior cara de cansada e eu fiquei com dó...

- Seulgi... – Irene tentou interromper, mas Seulgi apenas negou com a cabeça mais uma vez.

- Pera, que dá vergonha. – E o pior era que o sorrisinho constrangido não deixava o rosto de Seulgi nem quando a Kang abanava o rosto com a canhota. Ficava difícil não acreditar. – Eu me preparei para fazer isso assim que a gente chegasse em casa, mas aí cê me chamou pra ficar de preguiça na cama e eu não resisti. Já tava planejando algo para o fim de semana, de verdade, juro, eu não queria fazer isso de calcinha, de madrugada, assim, do nada, mas a gente tocou no assunto, me deu um surto de coragem, e –

- Seulgi –

- Irene. - Seulgi interrompeu a fala da Bae, mas não apenas isso. A respiração dela, também. É que Seulgi estava respirando fundo demais, e com um sorrisinho envergonhado demais, antes de manter um contato visual mais sério do que Irene esperaria, caso fosse apenas brincadeira. – Eu gosto da sua ideia. Formalizar e depois comemorar entre a gente? Vamos fazer isso. Mas você me conhece, eu sou meio cafona. E teria sido mais se tivesse seguido o meu plano, mas... enfim. Você me conhece. Eu quero propor isso romanticamente, também.

E lá estava Seulgi, de novo, inspirando profundamente e soprando o ar pela boca, ao agitar a gola da camiseta. Mas a Kang conseguiu vencer a timidez que dava cor ao seu rosto, ao se arrastar mais para perto de Irene, apoiar o queixo sobre um dos joelhos da Bae e estender a mão direita, antes fechada, sobre o colo da namorada. Irene engoliu em seco. Não era brincadeira. Seulgi tinha um sorriso nervoso no rosto e um par de alianças douradas e reluzentes na palma da mão.

Não era brincadeira. Não era um treinamento.

- Irene Bae. - Estava acontecendo. De verdade. Irene já havia ficado nervosa em muitas situações, vocês sabem disso. Mas nunca daquele jeito. Era o mais rápido que seu coração já havia batido em toda a sua vida, e Seulgi ainda estava apenas tomando fôlego, antes de dizer as próximas palavras. As que Irene já esperava e, mesmo assim, fizeram do seu interior uma bagunça. – Casa comigo? – E, mesmo assim, Irene mal conseguia piscar, ao retribuir o olhar da Kang, por mais que ele fosse gentil e ansioso. – Eu ia pedir de um jeito melhor, desculpa, mas é que –

Não demorou muito, contudo, para que um sorriso crescesse no rosto de Irene. Ainda desacreditado e surpreso pelo que estava acontecendo, mas um sorriso. Irene também não sabia dizer se o motivo para o seu surto interno se devia a uma explosão de nervoso, fofura ou amor, mas segurou o rosto de Seulgi com ambas as mãos e a trouxe para um beijo que foi correspondido no mesmo segundo. Irene teve tanta certeza do sorriso que sentiu contra sua boca, quanto teve de que seus lábios também tinham os cantinhos erguidos enquanto exerciam pressão contra os de Seulgi. O contato tão seguro e enfático quanto a resposta que a Bae planejava dar em seguida, logo depois de se afastar.

- Essa vai ser a história de pedido de casamento mais aleatória do mundo, mas, sim. Eu caso contigo. – E do mesmo jeito, um sorrisão tomou conta do rosto de Seulgi. Que até riu, quiçá em alívio, ou em resposta ao nervosismo e euforia que ainda sentia.

- É pra manter a tradição. A gente é sempre assim. – Mais uma vez, Seulgi exalou o ar que acumulara nos pulmões e, conscientemente ou não, Irene fez o mesmo, após rir da resposta da Kang. – Posso trocar? As alianças? Essa, sim, é de respeito.

- Quando cê pagou nisso? – Irene indagou ao assentir e ceder a mão direita para Seulgi. Ao menos já não tremia. Bem, não demais. O normal. As mãos de Irene sempre tremiam um pouquinho, em qualquer situação, então... não era desculpinha.

- Relaxa. Não foi tanto quanto eu pretendo pagar na próxima. – Seulgi respondeu bem-humorada e Irene riu, mas balançou a cabeça para os lados, envergonhada. Ao menos Seulgi estava bem concentrada em tirar delicadamente a aliança de namoro do anelar da Bae, para trocá-la pela de noivado. Noivado. Irene estava noiva de alguém. Precisaria de tempo para se acostumar com aquela informação. Não parecia verdade, ainda. – Ficou bonitinha, eu acho...?

E enquanto Seulgi coçava a nuca, constrangida, mesmo que o sorriso não saísse do rosto, Irene tomou um tempo para observar a mão direita. A expressão de Irene não era muito diferente da expressão de Seulgi, mesmo antes da Bae assentir em confirmação.

- Você tem bom gosto pra isso, também. – Irene respondeu e recebeu outra risadinha baixa, em resposta. Certeza que a primeira coisa que faria ao voltar para casa, no domingo, seria esfregar a aliança nova na cara de Tiffany. Antes disso, porém, tinha o final de semana planejado na companhia de Seulgi. Com sua noiva. Noiva. Mas, ainda, antes disso... Irene apontou para a mão direita da Kang. – Posso?

Seulgi aquiesceu em resposta ao retirar o próprio anel, para só então entregar a aliança nova e estender a mão para Irene. A Bae que também não teve muita dificuldade em deslizar o novo símbolo de compromisso pelo anelar da outra. E era tão constrangedor colocar uma aliança em alguém quanto o inverso. Seulgi riu, e não foi a única.

- Isso é gay pra caralho. – Irene também riu do comentário da Kang, mas não sem chiar com os lábios para que Seulgi ficasse em silêncio e lhes poupasse das gracinhas. Ainda que Irene concordasse. E ainda que sorrisse do mesmo jeito.

- Ficou bem em você também. – Irene disse, por fim, enquanto via Seulgi a observar a aliança nova em sua mão direita. – Mas eu ainda vou querer guardar a minha. A antiga.

- Me lembra, no domingo. Eu te devolvo antes de cê ir embora. – Seulgi disse e Irene confirmou com a cabeça. Tinha certeza que não se esqueceria. Se Seulgi não perdesse os anéis de namoro, também. Irene teve que revirar os olhos ao ver Seulgi guardar ambos no bolso traseiro da calça, ali, próxima à cama.

- Seu jeito de deixar as coisas em qualquer lugar às vezes me impressiona. – E como Seulgi reagiu à bronca? Como sempre reagia. Rindo.

- Não tá em qualquer lugar. A calça tá dobrada e no cantinho, que nem cê pediu. E eu guardei dentro do bolso dela. Ninguém vai mexer aí até amanhã de manhã. No máximo a Amandinha vai deitar em cima, mas aí não dá nada. – Seulgi tentou se defender, também, logo em seguida. Irene negou com a cabeça, antes de procurar pela gata. Não lhes dava a mínima, deitada sobre o tapete, no meio do quarto.

- Já tô até vendo qual vai ser o motivo das brigas, entre a gente. – Irene disse ao segurar as mãos de Seulgi e gesticular para que a Kang se levantasse.

- Vou tenta melhorar isso. Para não ser tão frequente. – Seulgi respondeu e as duas riram, ao mesmo tempo em que Irene se arrastou mais para trás, para que Seulgi voltasse ao colchão. E assim a Kang o fez, tomando espaço entre as pernas da Bae antes de corresponder ao beijo para o qual seu rosto fora novamente trazido. Menos apressado, mais delicado, mas tão terno quanto o anterior. Também se repetiu mais e mais vezes do que da outra vez. Com leves mordidinhas e sugadinhas lentas em seu lábio, entre eles, por parte de Irene. O que fez Seulgi rir baixinho, antes de se afastar um tiquinho. – Pensei que você estivesse com sono...?

- Estava. – Irene admitiu e, ainda que tivesse rido da resposta, Seulgi foi quem continuou a tomar a iniciativa para os breves beijos que eram trocados. – Mas ainda é muito cedo pra dormir, numa sexta.

Não, não era. Não era cedo e, com certeza, também já não era sexta. Seulgi sorriu cúmplice durante a breve troca de olhares que aconteceu antes de a Kang acabar com a distância entre os seus lábios novamente e iniciar um beijo que, daquela vez, tinha o intuito de durar tempo suficiente para ser aprofundado.

Seulgi não fazia ideia de onde e como estaria dali a dez, vinte, trinta anos. Mas, naquele momento, pareceu mais certo dizer que, ao menos, Irene continuaria ali, ao seu lado. E esperava que as coisas não mudassem muito, entre elas. Que não apenas Seulgi continuasse a se sentir como se sempre se sentiu, quando trocavam beijos lentos e passionais como aquele. Que ainda pudesse dizer que planejava passar os próximos dez, vinte ou trinta anos ao lado de Irene Bae. E que se lembrasse de tudo, dos pequenos aos grandes momentos, assim como tentava guardar aquele instante bem seguro em sua memória.

Seulgi sabia, sim, que a vida pode ser muito imprevisível, mas tinha confiança de que venceriam obstáculo por obstáculo., juntas Ou torcia para que conseguissem. Como a Kang tinha certeza que Irene Bae diria, o futuro não lhes pertencia. Que o cara lá de cima, então, tivesse lhes reservado algo bom.

Pois, dos dias de hoje, elas certamente viveriam.


Notas Finais


A fic da nova crente com a velha crente. Sim, é seulrene, com mais uma dose de winrina: https://www.spiritfanfiction.com/historia/eis-que-os-filhos-sao-heranca-do-senhor-22920409

Eu fiz uma playlist no Spotify que eu chamo de "resumo sonoro da fic da crente". Segue o link pra quem quiser ouvir: https://open.spotify.com/playlist/0MF7ghRKAnRS7N3Uq6adng?si=d2e35420495446a8

Agora é definitivo, essa fic aqui não atualiza mais. CORRAM PRA FIC NOVA, ENTÃO, GAYS!


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