Dentro da garagem da mansão, Junmyeon e S/N se mantinham em silêncio no carro dele, encarando a parede enquanto tinham muito em suas cabeças. Aquela madrugada havia sido, no mínimo, extremamente exaustiva.
Baekhyun levou a veterinária ao hospital após pedir para D.O ligar para o doutor Seo e para a obstetra de S/N, pedindo para que eles também fossem para lá. O gangster deu um jeito de entrar pelos fundos do hospital, sem ser visto pela maioria das pessoas dali. Prevenindo para não chamar a atenção de ninguém, ele e S/N colocaram máscaras e bonés. Também havia pedido para alguns homens que trabalhavam para o EXO se espalharem pelo hospital, servindo de seguranças para ter certeza que tudo estava bem. Todo cuidado era pouco e não precisavam de ninguém sabendo que a mulher estava ali, longe da segurança da mansão.
Após diversos exames e a confirmação de que, sim, ela estava tendo um aborto, a doutora Khali confirmou que não havia mais nada que pudesse ser feito. Nada além de tomar um comprimido que aceleraria o processo para que o feto saísse mais rápido de seu corpo. S/N desejava que tomar aqueles comprimidos fosse tão simples como soava, mas estava completamente longe disso. Com lágrimas escorrendo por seu rosto, coração destruído e peito pesado, a única coisa que S/N fez foi olhar para o lado, encarando Baekhyun que carregava uma vulnerabilidade nos olhos que ela nunca viu antes. Aquilo foi o necessário para ela deixar um alto soluço escapar por seus lábios e começar a chorar com uma intensidade sufocante.
Baekhyun não soube o que dizer, mas segurou S/N em seus braços com força enquanto tentava processar o que estava acontecendo. Ela e Jongdae não teriam um bebê. E ele não fazia ideia se Jongdae voltaria para descobrir aquilo. Era um pensamento e uma realidade completamente fodida de se ter.
Quase uma hora depois, quando S/N já tinha tomado o comprimido e apenas esperava para ser liberada, Junmyeon apareceu. Os rapazes voltaram de Daegu naquele meio tempo e óbvio que não demoraria para seu irmão saber o que estava acontecendo. Ela não conseguiu se impedir de chorar quando o homem a abraçou, a envolvendo com o conforto e familiaridade que ela tanto necessitava naquele momento. Não importava o que acontecesse, S/N sabia que Junmyeon sempre estaria ali por ela. E ela não poderia ser mais grata a ele.
Após a doutora Khali e o doutor Seo conversarem com ela e Junmyeon, a veterinária foi liberada. Entrando no carro de Junmyeon, o caminho de volta para a mansão foi em um absoluto silêncio. E, agora, se encontravam na garagem da mansão sem saber o que falar ou fazer.
— Encontraram Zhou? - Sua voz saiu rouca e falha, mas ela não se importou. Precisava distrair sua mente cansada do que havia acabado de acontecer.
— Encontramos e descobrimos quem é a gangue. - S/N voltou sua atenção para Junmyeon, esperando ele continuar. — O líder é Jung Siwoo. - A mulher ficou em silêncio, ponderando se conhecia alguém com aquele nome, mas nada veio em sua mente. Se bem que ela não estava com cabeça para pensar muito sobre aquilo.
— Você o conhece?
— Ele fez parte da primeira geração do EXO.
— Ele trabalhou com o nosso pai? - Perguntou em um fio de voz, incrédula e confusa com aquela informação. Junmyeon assentiu.
— Nosso pai o expulsou da gangue após ele ter passado informações para a máfia japonesa. Porém, quando alguém é expulso da gangue, não é simplesmente sair e tudo fica bem. - S/N se recordou de uma conversa que teve com Jongdae onde ele mencionou o assunto.
— Quando um membro sai, ele é morto. - Murmurou. Junmyeon comprimiu os lábios, balançando a cabeça. — Então, o que aconteceu?
— Até onde sabíamos, ele se envolveu em um acidente enquanto tentava fugir e morreu. O carro caiu dentro de um rio e ele não conseguiu escapar. Ninguém tirou o carro do rio para confirmar que era ele lá dentro, independente do quanto eu e os rapazes insistíssemos para que os mais velhos fizessem isso. Teríamos feitos nós mesmos, caso não estivéssemos tão ocupados na época.
— O Siwoo fingiu a própria morte?
— É o que parece.
— Ele matou o nosso pai e quer me matar apenas por vingança?
— Siwoo dedicou a vida inteira ao EXO. Não é de se surpreender que ele quis vingança por ter sido expulso.
— Mas ele foi expulso porque traiu a gangue.
— Ele não via como traição já que fez o que fez para tentar formar uma aliança com os japoneses. Mas ele passou informações demais, não foi algo que pudesse ser perdoado. Sem contar que ele fez tudo isso sozinho já que ninguém o apoiou quando ele sugeriu conversar com a máfia. Todos foram contra e mesmo assim Siwoo decidiu se arriscar
S/N suspirou audivelmente, encarando o teto do carro. Sua mente estava a mil e seus hormônios e pensamentos uma completa bagunça. Os rapazes conseguiram o que buscaram por tanto tempo e todo aquele inferno estava perto do fim. S/N estava na mansão a apenas poucos meses e, mesmo assim, parecia anos. Tanta coisa aconteceu em pouco tempo que era difícil assimilar em como sua vida estava de cabeça para baixo naquela intensidade.
— Quando estávamos saindo de Daegu, mandei alguns homens irem ao estabelecimento que eles têm para descobrir quem administra o lugar para Siwoo. Pelas informações que conseguiram, amanhã à noite o homem vai aparecer.
— E você acha que esse homem deve saber de algo?
— Se ele é responsável pelo lugar, com certeza é da confiança do Jung. Então ele deve saber onde esse filho da puta está.
Pelas informações que conseguiram o homem, que era conhecido por Venom, apareceria no bar na noite seguinte levando novas meninas e mulheres para serem vendidas como prostitutas. Seria a oportunidade perfeita para irem até lá e conseguir alguma informação sobre Siwoo.
— Se o que Siwoo quer é se vingar do EXO e ele pegou Jongdae e Lay, você realmente acha que eles ainda estão vivos? - Perguntou em um murmuro, sentindo sua garganta se fechar enquanto seu peito doía com a carga de sentimentos que a inundava.
— Eu espero que sim, S/N. Eu realmente espero que sim.
(...)
No dia seguinte, a veterinária acordou com batidas na porta. Sem se dar ao trabalho de se mexer ou falar alguma coisa, não demorou para ouvir a porta se abrindo.
— Está na hora de acordar, Bela Adormecida. A flor mais bonita do jardim veio te visitar. - Franzindo o cenho ao ouvir as palavras de Baekhyun, S/N abriu um olho. Ele estava escorado no batente da porta, apontando para a mulher ao seu lado. Rosa rolou os olhos, fingindo estar irritada com as palavras do gangster.
— Fiquei com saudade e vim ver como você está. - Falou, entrando no quarto e indo se sentar na beirada da cama. Depositando uma sacola ao lado de S/N, Rosa começou a tirar os itens ali de dentro. — Espero que sorvete e muito chocolate ajude de alguma forma.
S/N sentiu seu peito contrair ao ver a preocupação e carinho que Rosa demonstrava mesmo que elas se conhecessem por tão pouco tempo. Ela realmente precisava de uma amiga e ficava feliz que era Rosa quem ocuparia esse cargo.
— Obrigada. - Murmurou com a voz embargada. Ela também havia sentido falta da mulher.
— Agora, você vaza daqui. - Rosa falou para Baekhyun, já que o homem continuava na porta enquanto observava as duas. Ele tinha um pequeno sorriso nos lábios e S/N não podia deixar de notar a maneira que o homem olhava para Rosa. — Agora é o momento das mulheres, pode ir embora.
— Eu não posso ficar nem se gostar das mulheres?
— Baekhyun, sai! - Rosa esbravejou, pronta para jogar um travesseiro nele. O gangster começou a resmungar, não demorando para fechar a porta e deixá-las sozinha. S/N teria rido, caso não estivesse tão depressiva.
— Vocês sabem que um dia vão se casar, não é?
— Você acabou de acordar, não está falando coisa com coisa. - Rosa rebateu prontamente, lançando um olhar recriminador para a veterinária. — E estamos aqui para falar de você.
— Eu prefiro falar do relacionamento que eu quero que você e o Baekhyun tenham do que falar sobre eu ter perdido meu bebê enquanto eu nem sei se o pai dele está vivo. - Rosa mordeu o lábio inferior enquanto analisava S/N. Seus olhos começavam a brilhar com as lágrimas que se formavam e era perceptível seu semblante abatido, como se ela tivesse chorado a noite toda e mal conseguido dormir. — Eu vou chorar de novo. - Murmurou, apontando para o próprio rosto. A bartender sorriu, passando por cima do corpo da veterinária e se deitando ao lado dela, a puxando para um abraço quente.
— Chorar faz bem. - Disse, sem se importar se a mulher quisesse se debulhar em lágrimas. Ela ouviu S/N suspirar e comprimiu os lábios, odiando o que falaria em seguida. — Então… o que você quer falar sobre o relacionamento que quer que eu e o Baekhyun tenhamos? - S/N soltou uma fraca risada, se afastando para encarar Rosa.
— Você realmente quer falar sobre isso?
— Não, mas se fizer você se sentir melhor eu posso passar por essa tortura. - S/N fez um bico, abraçando Rosa com mais força.
— Vocês teriam filhos extremamente bonitinhos.
— Ok! Eu retiro o que disse, pode parar. - A bartender acabou mudando de assunto sem querer ouvir mais daquilo.
As duas ficaram conversando por horas, por mais que na maior parte do tempo Rosa falasse sozinha, o que já era algum tipo de distração para S/N. Ela não sentia muita vontade de conversar ou de ao menos sair da cama, mas ficava feliz de ter Rosa ali.
Era perto do meio dia quando uma das cozinheiras bateu na porta, deixando uma travessa com o almoço em cima da cama. Enquanto as duas comiam, puderam ouvir a agitação do lado de fora do quarto enquanto os gangsters pareciam caminhar apressados, saindo da mansão. E por mais que nenhuma das mulheres tivesse dito nada sobre isso, sabiam que algo tinha acontecido.
Quando o céu já tinha escurecido e a mansão continuava em silêncio, Rosa resolveu que era hora de fazer S/N sair da cama. Ver a mulher grudada no colchão estava começando a deixá-la agoniada.
— Olha só o tamanho dessa banheira! - A bartender gritou de dentro do banheiro do quarto enquanto a veterinária encarava o teto, ainda deitada na cama.
— Nem é tão grande assim.
— Para quem não tem uma banheira, é grande, sim. - Argumentou. Ligando a água quente e jogando um líquido rosa claro que começou a criar espuma e um aroma delicioso preencher o ar, ela sorriu satisfeita. — Agora, levanta a bunda dessa cama e vem tomar banho. - S/N soltou um resmungo, deitando de barriga para baixo e escondendo o rosto no travesseiro. — Pepper, não me faça ir até aí! Eu vou contar até três.
A mulher sorriu contra o travesseiro. Não podia negar que Rosa tinha uma personalidade quase maternal em certos momentos e aquilo era extremamente adorável. S/N sempre precisou cuidar de si mesma por ter perdido sua mãe muito cedo e seu pai e seu irmão estarem ocupados o tempo inteiro. E por sua família levar a vida que levavam, S/N nunca deu muita abertura para seus amigos saberem muito sobre ela. Ela era uma incógnita na vida dos que a conheciam e, pela primeira vez, a veterinária tinha uma amizade que realmente sabia quem ela era. Filha do ex-líder do EXO e irmã do atual. E aquilo significava muito, muito mais do que ela queria explicar para aqueles que conviviam com ela antes de ela precisar ir morar na mansão.
E se S/N parasse para pensar, não era somente a amizade de Rosa que ela conseguiu no meio de toda aquela loucura. Baekhyun, Luhan e até mesmo Lay se tornaram próximos dela e pessoas as quais S/N sabia que podia contar. Claro que quando precisasse tinha noção que podia pedir ajuda para os outros membros da gangue e eles a ajudariam. E, claro, não podia deixar Jongdae de fora da lista.
Por mais que a veterinária e o gangster tiveram seus desentendimentos, foi ele quem esteve ao seu lado desde o início, quando S/N tentava lidar com tudo o que aconteceu e a forçou a ser inserida na vida a qual ela foi afastada por todos aqueles anos. Ele facilitou as coisas para ela e fez o tempo que estava morando na mansão ser mais suportável. Quando estava com ele, S/N não se sentia tão sozinha e vazia porque sabia que Jongdae daria um jeito de arrancar alguma risada dela e a distrai-las de seus pensamentos mórbidos. Desde o ínicio ele esteve ali e, agora que não estava, S/N via que mesmo assim não estava totalmente sozinha. A ferida que a morte de seu pai causou começava, por mais que dolorosamente, a melhorar aos poucos e agora ela tinha mais uma que precisava dar tempo para que pudesse curar. Perder seu bebê não era fácil, não saber como Jongdae e Lay estavam não era fácil e ser alvo de um homem que queria vingança muito menos. Mas desde quando algo foi realmente fácil? Se sua família fazia parte de uma gangue notável, não tinha escapatória, uma hora tudo voltaria contra você por mais que você nunca tivesse feito nada. Porém, S/N tentava se manter positiva no meio de todo aquele inferno. Acreditava que aquela situação estava prestes a acabar e logo Jongdae e Lay estariam na mansão, são e salvos.
— Pepper, eu não vou repetir duas vezes, entendeu? - Rosa gritou do banheiro, arrancando uma fraca risada da veterinária.
Se dando por vencida e concluindo que um banho lhe faria bem, S/N se levantou. Rosa saiu do banheiro, pronta para dar um sermão, mas ficou em silêncio ao ver que a mulher já estava indo para o cômodo. Entretanto, ao invés de ir direto para a banheira, S/N parou na frente de Rosa e a puxou para um abraço.
— Eu queria que você fizesse parte dessa família. - Murmurou. A bartender ficou em silêncio, apenas retribuindo o abraço.
Quase uma hora depois, as duas estavam na cozinha. Após buscarem por todos os itens necessários, Rosa fazia pipoca enquanto S/N estava sentada na bancada, aguardando pacientemente. Planejavam ir para a sala de jogos e assistir filme na enorme televisão pendurada na parede.
— Você não tinha que trabalhar hoje? - A veterinária indagou, se dando conta de que já era quase dez da noite.
— Baekhyun disse que não tinha problema se eu não fosse desde que eu arrumasse alguém para cobrir meu turno. - Deu de ombros.
— E foi ele que pediu para você vir?
— Ele me contou sobre o que aconteceu quando estava no hospital com você. Espero que você não se importe.
— Eu acabaria lhe contando de qualquer forma. - Murmurou.
— Na verdade, ele apenas me contou porque estava levemente desesperado e não sabia o que fazer para te dar algum apoio. Mais tarde, quando vocês já estavam em casa, ele mandou outra mensagem e conversamos um pouco. Perguntei se teria problema eu vir aqui te ver e ele disse que não. Então, ele foi me buscar hoje mais cedo.
— Ele fez questão de ir te buscar, é? - O tom sugestivo de S/N não passou despercebido e Rosa lhe lançou um olhar irritado.
— Você nem comece com essas coisas. - Falou, desligando o fogo e colocando a pipoca dentro de um balde plástico que tinha a estampa de algum filme.
Ouvindo o barulhos de carros do lado de fora da mansão, as duas se entreolharam. Pegando o balde de pipoca, se recostaram no batente da cozinha e esperaram por alguma alma viva entrar pela porta da frente. E quando a mesma foi aberta, às mulheres arregalaram os olhos. Loey foi o primeiro que entrou, segurando um homem pelo pé enquanto arrastava o corpo inconsciente até um corredor, sumindo do campo de vista das duas. Em seguida, Sehun e Kris também apareceram. Sehun seguiu o primeiro gangster e Kris parou para encarar as mulheres.
— Vão para cima e não saiam de lá. - Mandou. Sua altura intimidadora, olhar sério e tom de voz autoritário não davam brecha para que sequer fosse questionado ou desobedecido.
— Quem é esse homem? - S/N perguntou antes que subisse as escadas.
— Quem vai nos dizer onde estão Lay e Chen.
A veterinária ficou parada por um momento até que processasse a informação e foi para o andar de cima junto com Rosa. Por mais que a bartender não planejasse dormir ali, imaginava que ninguém a deixaria sair da mansão até o dia seguinte.
O sono demorou a vir, assim como a quietude para sua mente. S/N estava de costas para a figura adormecida de Rosa. Ela queria a paz que a mulher parecia ter, mas era impossível. Era impossível ignorar o luto que se apossava de seu peito quando podia sentir algo sair de dentro dela vez ou outra e o desconforto em seu abdômen por conta da leve cólica. Seu corpo expulsava o que deveria ter se tornado um bebê, o seu bebê. A sua esperança de pureza e calma em meio ao caos. O início da família que ela teria junto com Jongdae. Como se os dois já não tivessem uma lista extensa de perdas em suas vidas. Mesmo que tentasse a veterinária não conseguiria explicar em palavras o que sentia. Era como se seu corpo estivesse dormente apenas para tentar ignorar a dor que se espalhava por cada célula de seu corpo, como se a dor fosse física e não psicológica. A única coisa que ela podia fazer era torcer que tudo aquilo passasse em breve.
(...)
Venom gritava enquanto sentia a pele de seu rosto queimar e derreter após ser enfiada em um balde de metal com a água que fervia com a alta temperatura. Não fazia mais de uma hora que estava sendo torturado por alguns dos membros do EXO e ele sentia seu corpo completamente exausto e prestes a desmaiar. A dor era excruciante e ele não sabia quantas vezes se perdeu em uma breve inconsciência. Por todo o tempo que trabalhou para Siwoo ele nunca se arrependeu do que fazia. Até o momento que caiu nas mãos dos gangsters.
— Por que você não usa a porra da boca para responder a minha pergunta?! - Loey falou alto e acertou um forte soco contra o rosto em carne viva de Venom. Mais gritos foram ouvidos, tirando a paciência do homem. — Lay e Chen, onde eles estão? - Venom balançou a cabeça, sem pronunciar uma palavra.
Ele não sabia dizer quantos dedos estavam quebrados ou quantos cortes ele tinha espalhados pelo corpo. Seu braço direito estava em um ângulo descomunal e alguns dentes já haviam voado de sua boca. Uma longa faca atravessava sua coxa, prendendo a mesma contra a cadeira e diversas partes do seu corpo estavam em carne viva, sendo queimado por um maçarico. Aqueles filhos da puta eram insanos.
— Venom, você não vai morrer antes de nos dar a merda da informação que queremos, isso não é uma opção. - Loey explicou, ficando cara a cara com o homem que tinha o rosto deformado. — Você não quer falar por bem, ok, vai falar por mal. - Seu sorriso macabro demonstrava que, sim, ele falaria.
Assim que Sehun se aproximou, a tela de seu celular entrou no campo de visão do homem que estava sendo torturado. A menina que apareceu no aparelho fez o ar escapar de seus pulmões e seu corpo tremer violentamente.
— Kai está no quarto da sua filha enquanto ela dorme. Tudo o que precisa é eu pedir e ele vai levá-la. E sabe para onde?
— Vocês não vão encostar um dedo nela, seus filhos da puta! - Venom gritou, por mais que sentisse as terminações nervosas de seu rosto latejar a cada movimento de seus músculos.
— Ele vai levá-la para a porra da Black Vipers. Imagine o que pode acontecer com uma menina de seis anos em um bar onde acontece um esquema de prostituição, hum? Aqueles urubus vão cair em cima dela e não vai sobrar nem um osso para contar história, assim como acontece com as mulheres que você vende lá. - Loey murmurava perto do rosto dele, sustentando um sorriso perverso.
Ele não queria precisar mandar Kai fazer aquilo, tinha consciência de que a garotinha não tinha culpa de seu pai estar envolvido em toda aquela sujeira. Mas quando se estava naquela vida, quem você ama paga por seus erros. Era simples assim.
Venom começou a chorar enquanto encarava a menina pela tela do celular de Sehun. Nenhum dos gangsters tinham ideia do que se passava na cabeça do homem, mas era aquele o momento que ele provavelmente estava se arrependendo de todas as escolhas de sua vida. E mesmo o homem mais leal abria a boca para delatar o que lhe fosse pedido quando a vida de quem ele ama está em jogo.
— Siwoo não está mais com nenhum dos dois. - Venom falou entre alguns gemidos de dor e suspiros. O cansaço e a exaustão de toda a tortura em um curto período de tempo começava a consumir o que sobrava de energia em seu corpo. Loey, Sehun e Kris se entreolharam.
— Onde eles estão?
— Não sei. Siwoo fechou um acordo com a família Hayabusa. Ele expandiria o esquema de prostituição para o Japão e em troca os Hayabusa pediram Chen e Lay.
— Quando isso aconteceu?
— Eles foram entregues anteontem. Não sabemos o que eles querem com os dois, Siwoo não se importou em perguntar.
— Onde?
— Ulsan. Pelo o que eu soube eles iriam voltar para o Japão essa madrugada.
— Para quem eles foram entregues? - Venom hesitou, sem conseguir esconder sua expressão. — Não se esqueça que Kai continua no quarto da sua filha. - Loey relembrou em um tom ríspido e impaciente. Quanto mais tempo perdessem com Venom, mais tempo a máfia japonesa tinha para ir embora da Coréia com Chen e Lay. Venom olhou mais uma vez para a sua filha adormecida calmamente, sem perceber que o perigo estava, literalmente, ao seu lado.
— Akira. Eles foram entregues para o Akira.
Assim que a informação foi dada, Kris pegou seu celular, ligando para Xiumin. Levou apenas um toque para que o homem atendesse e Kris saiu do cômodo, começando a passar as informações e ordens do que precisavam fazer.
— Agora, deixem minha filha em paz, seus porcos!
— Tem uma coisa que você ainda precisa nos falar. - Venom os olhou cético. — Onde está Siwoo? - O homem fechou os olhos, rindo o quanto podia com a dor que consumia cada parte de seu corpo.
— Vocês estão loucos.
— Siwoo te mataria em um segundo se fosse necessário para salvar a própria pele. Isso não se trata mais de algum juramento que você fez quando começou a trabalhar para ele. Isso se trata sobre sua filha ser jogada para um bando de estupradores que são mil vezes mais fodidos da cabeça do que nós dois. Você não vai sair vivo daqui de qualquer forma, mas o destino da sua filha está nas suas mãos. Ela não precisa pagar pelas decisões que você tomou.
O silêncio de Venom denunciava a sua decisão. Ele sabia qual era a escolha certa. E em menos de dois minutos, os rapazes tinham a localização que precisavam, e Kai estava fora do quarto da menina a deixando em um sono calmo e profundo.
(...)
Apenas quando sua cabeça começou a latejar e parecia extremamente pesada que Jongdae percebeu que estava consciente. O cômodo que ele estava pareceu tremer por breve segundos, mas ele não se sentia lúcido o suficiente para distinguir alguma coisa. Tentando mexer seus braços, Jongdae não sentiu nada e, assim como sua cabeça, suas pernas pareciam pesadas demais para fazer algum movimento. A única coisa que ele conseguia sentir era a dor aguda que latejava em todas as partes de seu corpo.
O cômodo estava tomado pela escuridão e não havia sequer uma janela para entrar um feixe de luz. O gangster passou a língua por seus lábios secos e rachados, mas não fez muita diferença.
O cômodo estremeceu assim que um forte estrondo ecoou. O gangster soltou um grunhido, fazendo um enorme esforço para tentar se mover, mas nada aconteceu. Tentando forçar sua mente a se agarrar a realidade e não voltar a cair na inconsciência, Jongdae começou a pensar. Esgoto, inconsciência, Black Vipers, tortura, Siwoo, mais tortura, Lay levado por gangsters, tortura, tortura e tortura. A quanto tempo ele já estava nas mãos de Siwoo? O EXO já sabia quem estava por trás de toda aquela merda? Lay estava vivo? Já fazia quanto tempo que ele não conseguia ficar consciente por mais de meia hora? Como os rapazes estavam? Como estavam S/N e o bebê? S/N e o bebê. Jongdae precisava voltar para ela e seu filho. Ele precisava se manter vivo para que pudesse se casar com a mulher com quem ele queria viver para o resto de sua vida. Jongdae era egoísta demais e o pouco tempo que passou com S/N estava longe de ser o suficiente, ele precisava de mais. E era aquele pensamento que o mantinha sano no meio de toda a tortura física e psicológica que passou diversas vezes naquele meio tempo. Nem sabia dizer a quanto tempo estava ali. E fazia um tempo considerável que não viu mais Lay e aquilo estava o deixando extremamente desesperado.
Toda a tortura que passou para que soltasse alguma mínima informação sobre o EXO ou até mesmo sobre a localização de S/N eram inúteis. E Jongdae não estava morto somente porque Siwoo achou uma utilidade melhor para ele. Ser dado para os Hayabusa em troca de seja lá o que ele conseguiu. Jongdae também não sabia quanto tempo fazia que estava sob o poder de Akira e aquele foi o tempo em que menos foi torturado. Se bem que mal ficou consciente para saber sobre qualquer coisa que estava acontecendo consigo mesmo.
Quando um feixe de luz invadiu o cômodo sem aviso algum, Jongdae fechou os olhos com força, desacostumado com a claridade. Assim que seu rosto foi segurado por duas grandes mãos, sendo levantado, Jongdae abriu levemente os olhos, franzindo o cenho ao ver o rosto em sua frente. O homem mexia a boca, mas o gangster não ouvia o que ele falava. Ele realmente estava em sua frente ou Jongdae estava delirando? Assim que alguns tapas começaram a ser dados em seu rosto, a realidade começou a recair sob Jongdae enquanto tudo ao seu redor começava a ser captado por seu cérebro exausto.
Gritos, tiros e explosões ecoavam pela porta que agora estava aberta, deixando com que o caos chegasse até seus ouvidos, assim como a voz do homem à sua frente.
— Chen! Acorda, cara! - Kris parou de bater em seu rosto assim que os olhos do gangster finalmente se focaram na face dele. — Nós te encontramos, porra. Você vai pra casa. - O alívio de Kris era evidente na sua voz enquanto ele pegava uma faca do suporte de sua perna para cortar a corda amarrada nos pulsos de Jongdae, prendendo o homem em um suporte no teto e fazendo seus pés não encostarem no chão.
— L-Lay? - Sua voz saiu extremamente falha, arranhando sua garganta seca. Jongdae não sabia a quanto tempo uma palavra não saía de sua boca.
— Luhan e Loey já o encontraram. - Jongdae suspirou, sentindo um peso sair de seus ombros.
— Siwoo…
— Nós já sabemos. Suho e alguns dos rapazes estão atrás dele. Não se preocupe com nada disso, apenas fique vivo. Você está todo fodido.
Jongdae teria soltado uma risada, caso conseguisse fazer isso. Assim que a corda foi cortada, Kris segurou o corpo do gangster que cairia com força contra o chão.
— Você nos deu um puta trabalhão pra te encontrar, seu filho da puta. - A voz de Baekhyun ecoou pelo cômodo, sem perder tempo em se aproximar e passar um dos braços de Jongdae por seu ombro para sustentar seu peso. Um sorriso se pendia no rosto do homem, feliz por terem encontrado Chen vivo.
— Vá se foder, Byun.
Foi a última coisa que Jongdae conseguiu pronunciar antes de a inconsciência tomá-lo novamente. Casa. Ele iria para casa.
(...)
S/N se remexeu assim que a claridade que batia em seu rosto foi o suficiente para acordá-la. Alguns comprimidos para dormir foi o que precisou para apagá-la e finalmente deixá-la dormir. Abrindo os olhos, viu o sol que brilhava do lado de fora, denunciando que era dia. Rosa não estava na cama e S/N não fazia ideia de quanto tempo ficou apagada.
Ao ouvir alguns passos do lado de fora e vozes animadas ecoando pelo corredor, a veterinária se forçou para fora da cama. Algo estava fora do comum. Fazia dias que os rapazes mal ficavam em casa de dia e se S/N acordasse muito tarde, uma bandeja estaria em cima da cômoda. Sem contar que Suho não havia ido conversar com ela até agora.
Sem se dar ao trabalho de ir até o banheiro checar sua aparência, S/N saiu do quarto, indo para o andar inferior.
Vendo a figura de Luhan se esgueirar até a cozinha, a veterinária o seguiu. Alguns dos rapazes estavam ali e ela parou na porta. Por mais que estivessem cheios de cortes, machucados e bandagens em sua pele, a expressão cansada não era o suficiente para apagar os enormes sorrisos em seus rostos.
— Aconteceu alguma coisa? - Ela se pronunciou, fazendo a atenção recair nela.
— Pepper, adivinha quem trouxemos para casa enquanto você dormia? - Tao falou. Ele não precisava dizer mais nada para que ela soubesse e sua mente começasse a girar com todas as coisas que começavam a passar em sua cabeça.
A porta da enfermaria foi aberta em um baque assim que S/N entrou, escaneando o lugar com os olhos. Quando a figura inconsciente de Jongdae entrou em seu campo de visão, a veterinária sentiu suas pernas prestes a cederem e seu coração parar de bater por alguns segundos. Ele estava péssimo, com diversos cortes e queimaduras, bandagens por várias partes do corpo e talas em alguns de seus dedos. Até mesmo um de seus pés tinha um gesso. Era possível ver as costelas proeminentes sob sua pele pálida, denunciando o quanto de peso ele perdeu naquele meio tempo. E a mulher não conseguia e não queria imaginar tudo o que ele passou naquele período em que esteve sumido.
S/N se aproximou com passos cautelosos, como se tivesse medo de se aproximar e ver que aquilo não passava de uma alucinação ou até mesmo um sonho. Ele estava ali. Jongdae estava em casa. Um alto soluço escapou pelos lábios da veterinária. Ela se jogou em cima do corpo dele, o abraçando com força e sentindo o calor de sua pele contra a dela. O ritmo calmo que seu peito subia e descia, apenas comprovando que ele estava vivo. Vivo e em seus braços. S/N chorava descontroladamente, sem se importar com nada além de Jongdae. Seu peito doía com a intensidade do alívio que sentia, com o desespero que se esvaía lentamente enquanto ela processava o que estava acontecendo.
S/N se afastou, segurando o rosto dele com delicadeza, analisando cada pequeno traço e detalhe de sua expressão, que agora estava tão machucada. Ela selou levemente seus lábios, sentindo seu coração dar saltos descontrolados em seu peito. O medo que tinha de perdê-lo era gigante e a engolia no mais puro desespero e desamparo. Ela jamais quis aceitar que poderia perdê-lo e, por algum milagre, não precisava.
— Por Deus, como eu senti a sua falta. - Sussurrou com a testa encostada contra a dele, mesmo que ele não estivesse acordado.
S/N acariciou a parte da pele do rosto dele que não estava machucada, sem saber o que dizer ou pensar. Jongdae estava bem ali. S/N soltou uma fraca risada incrédula, mesmo que pudesse gargalhar sem parar por conta da felicidade que sentia. Se aquilo fosse um sonho ela não queria ser acordada jamais, porque ficaria completamente devastada no momento em que abrisse os olhos.
— Eu sei que você está feliz, mas precisa tomar cuidado com os ferimentos. - A voz de Baekhyun ecoou pela enfermaria. S/N se afastou levemente de Jongdae, olhando para a porta. O gangster e Rosa estavam parados ali, sorrindo para ela.
— Ah. - S/N murmurou com a voz trêmula, se dando conta da grande bandagem no tronco desnudo de Jongdae.
Olhando para o lado, a veterinária percebeu Lay em outra maca. Ele também estava inconsciente e tão péssimo quanto Jongdae. O pesar de ver os dois daquela maneira era tão grande quanto a felicidade de tê-los de volta.
— O doutor Seo está descansando agora, mas ele disse que os dois vão ficar bem. Talvez demore um pouco para eles acordarem porque o corpo deles precisa recuperar energia e toda essa baboseira. - Baekhyun explicou. Rosa deu um fraco tapa no braço dele, em um mudo pedido para ele parar de ser tão indelicado. S/N sorriu fraco.
— Eles estão de volta, Pepper! - Rosa falou em um tom animado.
— Sim, eles estão. - S/N murmurou com um enorme sorriso. Ela passou os dedos por entre os cabelos de Jongdae, o observando. Ela não havia o perdido. Pelo menos não ele. — Como estão os outros?
— Todos bem, tirando alguns machucados. Nada grave.
— E Siwoo?
— Achamos ele e quem o ajudava a comandar a Black Vipers. Encontramos o arquivo que eles tinham dos homens que trabalhavam para eles e diversos dos homens que trabalham para o EXO estão atrás deles. É como se fosse a porra da caça às bruxas. A Black Vipers já era.
— Siwoo está morto?
— Ele não. Ainda não. - Havia algo no tom de Baekhyun que denunciava que tinha algo a mais. Siwoo não sairia impune, S/N apenas se perguntava o que o EXO faria com ele agora que o pegaram.
S/N voltou sua atenção para Jongdae enquanto pensava. Era aquilo. Aquele inferno estava no fim. Após meses, quem matou seu pai e quem queria lhe matar não estava mais à solta. Jongdae e Lay estavam em casa. Ela sobreviveu.
— Não te encontrei no quarto, imaginei que já estivesse aqui. - A voz de Junmyeon ecoou pela enfermaria. Rosa puxou Baekhyun para fora, dando privacidade para que os dois conversassem. — Como você está se sentindo?
— Eu não sei. - Junmyeon parou ao lado da cama, também observando Jongdae. — Então, é isso?
— Siwoo ainda vai pagar pelo o que fez. Porém, agora a prioridade são os dois. - Se referiu aos gangsters inconscientes. — Mas… é, essa situação chegou ao fim. - Os dois se entreolharam. S/N tinha os olhos marejados e Junmyeon sorriu fraco, depositando um beijo no topo de sua cabeça.
— E onde Jongdae e Lay estavam? E como sumiram?
— Outra hora eu explico tudo, sim? Você já tem muito para processar no momento. - Em qualquer outro momento, S/N teria discutido. Mas sabia que Junmyeon tinha razão. Fora todas as coisas que estavam acontecendo, ela ainda precisaria contar para Jongdae que eles não teriam um filho.
Agora que o caos acabou, eles podiam começar a juntar o que sobrou após a tempestade e começar de novo. A bagunça seria organizada aos poucos enquanto lidavam com as perdas e as mudanças que aconteciam. E sobre os traumas, seriam apenas mais alguns para a extensa lista que cada um carregava em sua alma.
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