Talvez estivessem mesmo começando a se dar bem. É claro que não é como se o ômega tivesse feito amizade com o alfa, mas pelo menos ele não se sentia tão tenso com a presença do outro. Pelo menos agora eles poderiam agir como parceiros de laboratório de forma natural, conversavam quando precisam conversar, se cumprimentavam quando se encontravam e cumpriam suas responsabilidades sem jogar um em cima do outro por algum erro ou displicência. Jaebum até poderia ser um bom parceiro quando aparecia nos horários certos. Youngjae estava infinitamente aliviado.
Youngjae tentava manter a sua distância e não perguntar sobre a vida de Jaebum, não queria tornar-se íntimo do alfa o suficiente para se considerar amigos, ainda tinha o seu pé atrás. Mas era inevitável não notar algumas nuances da personalidade de Jaebum: o alfa, quando se concentrava, conseguia fazer tudo de forma perfeita, ele era realmente eficiente e sempre o ajudava. Ele também era viciado naquelas bebidas açúcaradas de morango, parecia estar constantemente tomando pelo canudinho o suco da fruta, além de estar constantemente mastigando balas e doces do sabor artificial, chegava a ser engraçado por não combinar com a figura de um alfa. E Youngjae também percebeu que os flertes de Jaebum eram pura brincadeira, ele parecia fazer aquilo de forma natural, quase acidental, pois se divertia, mas não exatamente para tirar sarro de Youngjae, o ômega quase podia se acostumar com esse tipo de comportamento.
E o mais importante, Jaebum nunca mais apareceu cheirando a outro ômega ou mesmo cheirando ao seu próprio cheiro. O perfume tornou-se uma constante.
O Professor Kim estava radiante com o avanço de sua pesquisa, sabia que em pouco tempo eles teriam resultados favoráveis, e sempre que podia creditava o êxito ao bom trabalho de dupla de Youngjae e Jaebum. Mas ambos não relaxavam com os elogios, Youngjae estava realmente focado na pesquisa, tanto que naquele dia mal vira o tempo passar, preocupado em deixar tudo preparado para o dia seguinte.
— Youngjae, vai perder o último ônibus do dia.
O som da voz do alfa o despertou do seu estado de concentração, olhando alarmado para o relógio para perceber que o ônibus passaria dali a 10 minutos, o que não lhe daria tempo para finalizar e guardar as coisas, pegar sua mochila e correr para o ponto que ficava fora do campus. Ele inevitávelmente perderia o ônibus, e se amaldiçoou por não ter percebido antes. Bufou, desistindo de tentar se apressar, não adiantaria nada mesmo.
— É… acho que vou ficar por aqui e embora de manhã. - ele deu de ombros e Jaebum franziu o cenho.
— Você quer dizer virar a noite no laboratório?
— Sim, eu posso finalizar tudo aqui e depois me deitar no sofá sem problemas. - disse, voltando a focar no microscópio voltando a focar na pesquisa após perceber que não valeria a pena terminar agora - Você pode ir se quiser.
Jaebum levou as mãos à cintura, observando o ômega completamente alheio ao seu próprio bem estar para continuar o trabalho. Não que ele teria minimamente se importado com o fato do ômega ficar sozinho durante a madrugada no laboratório se fosse a algumas semanas atrás, mas agora só a ideia lhe dava calafrios na coluna, sendo uma ideia impensável para si.
— Nada disso, Choi Youngjae. Você vem comigo, eu te dou uma carona no meu carro.
Youngjae crispou o cenho novamente, perdendo mais uma vez a atenção na pesquisa ao virar-se para Jaebum com o tom confuso. Era impressão sua ou o alfa estava sendo gentil consigo?
— Você tem um carro? - ele perguntou de primeiro momento, pois ele sabia tão pouco sobre Im Jaebum que nunca nem havia reparado que ele saía a hora que quisesse da faculdade. Até o fato dele ter um carro o surpreendeu. Mas logo em seguida condenou-se pela pergunta idiota, abaixando o rosto para esconder o constrangimento - Quero dizer, você nem sabe onde eu moro…
— Não se preocupe, meu tanque está cheio. - ele deu de ombros, pondo as mãos no bolso da calça com um sorriso despreocupado no rosto - Gastar gasolina não é nada se comparado a deixar um ômega sozinho e desprotegido a madrugada inteira no meio da universidade.
Youngjae mordiscou o lábio inferior. Normalmente ele seria ríspido, diria ao alfa que era ridículo ser tratado daquela maneira, como se ele não soubesse se defender, como se fosse um ômega inútil, mas a pequena batida em seu coração o deixou desconcertado por um segundo, impedindo-o de pensar numa resposta mal-criada e rápida para o alfa. Estava prestes a abrir a boca para soltar qualquer coisa para defender a sua honra como ômega, quando sentiu o celular vibrar no bolso. Ignorou o alfa, correndo para atender o telefone e tentar esquecer aquela sensação estranha quando viu o nome no visor e sentiu-se ainda mais nervoso.
— Oi, hyung… - atendeu o telefone, se encolhendo ao ouvir a voz raivosa do outro lado da linha - Não… Eu não vi a hora, hyung… Ah, desculpa… Eu estava pensando em… Não posso? Se eu já estou indo?
Olhou para Jaebum, que com um sorrisinho no rosto tirou uma chave de dentro do bolso que obviamente era do carro. Youngjae suspirou, não queria dar o braço a torcer, mas pela bronca que estava levando não tinha muita escolha no momento.
— Sim, eu estou indo já. Não se preocupe. Tchau, hyung.
E desligou, fazendo um bico com o sorriso vitorioso de Jaebum em seus lábios, super irritante. Revirou os olhos e bufou, demonstrando a sua insatisfação com a situação.
— Eu só vou aceitar porque o meu irmão vai me matar se eu não voltar pra casa hoje! - e cruzou os braços como uma criança mimada - E não porque você está preocupado que um ômega não saiba se cuidar, ok?
E finalizou a pesquisa, guardando as coisas sem olhar para Jaebum pois ainda estava com aquela sensação estranha de constrangimento enquanto o outro parecia querer morrer de rir por dentro.
— Claro que não, Choi Youngjae. Eu jamais pensaria isso de você. - disse com seu habitual tom de deboche. Sabia que não devia provocar o garoto mais do que ele já estava irritado agora, mas não conseguia evitar - Vamos indo?
Guardando o jaleco e vestindo o casaco, Youngjae o acompanhou até seu carro no estacionamento, até esquecendo-se do que estava fazendo antes no laboratório, a cabeça pela primeira vez preocupado com algo que não era o seu trabalho.
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Jaebum não era tão desatento para não perceber que o ômega estava tenso enquanto ao seu lado dentro do carro, pois no laboratório nunca ficavam tão próximos como estavam no momento sentados um ao lado do outro. E uma coisa ele poderia agradecer com essa sua ideia de dar uma carona ao ômega, dentro daquele ambiente fechado e tão próximo ele conseguia sentir com muito mais intensidade o seu aroma inebriante de morango. Desejava poder inspirar profundamente o seu cheiro e embebedar-se daquele aroma tão único que buscava em outros ômegas mas nunca realmente havia encontrado até conhecer Choi Youngjae. Era surreal como um aroma de um ômega que não despertaria a sua atenção nem num segundo olhar pudesse ter uma sensação tão satisfatória pelo seu corpo.
Ficou até satisfeito quando ouviu da boca do outro garoto o seu endereço, pois Youngjae morava um pouco distante da faculdade. E quis abrir um sorriso maior ainda quando gotas de chuva começou a atingir o rosto do ômega, obrigando-o a fechar totalmente a janela pela chuva forte que estava começando a cair. Já era quase meia noite, ele não queria nem pensar no ômega sozinho e no meio da chuva, a ideia causava um incômodo dentro de si. Ligou o rádio do carro quando percebeu que eles não iriam trocar nenhum diálogo, e apesar de estar tocando uma música idol, era uma bela balada sobre procurar pelo universo as belas memórias com a sua pessoa amada. Seria quase constrangedor - digo, estar num carro trancado no meio da chuva com um ômega que abertamente não ia com a sua cara, forçando um clima que definitivamente não existia entre eles - se a música não fosse muito relaxante e até mesmo Youngjae começar a cantarolar o seu refrão.
Outras músicas passaram, e mesmo que lá pra terceira música Jaebum tenha reparado que a estação estava tocando baladas por causa do horário, ele ainda assim não trocara a estação para uma mais agitada e menos constrangedora. Youngjae também não lhe fez nenhum pedido, então achou que devia estar tudo bem.
Ao chegar no endereço, Jaebum teve que soltar um pigarro ao ver que o ômega de perfume de morango havia cochilado brevemente. Um sorriso até brincou em seus lábios, ao perceber que o outro confiava em si o suficiente para ficar tão relaxado ao ponto de cochilar consigo ao volante. E ele até poderia ficar ali observando as linhas do ômega, que ficava tão adorável quando não estava tenso, se não soubesse que seria muito estranho ficar ali parado no meio da chuva observando o rapaz dormir quando eles já haviam chegado em casa.
Youngjae piscou os olhinhos, parecendo um pouco desnorteado quando percebeu que finalmente haviam chegado em casa. Suspirou tirando seu cinto, lhe dizendo:
— Obrigado pela carona, Jaebum. Meio que não precisava…
— Está tudo bem. Eu não ia te deixar sozinho lá, Youngjae. - ele sorriu, percebendo que a chuva ainda estava forte.
Quando o ômega destrancou a porta e estava prestes a sair sentiu-se um tanto culpado. A chuva estava realmente forte demais para que Jaebum prosseguisse viagem no momento. Não que ele estivesse preocupado com o alfa, pois ele tinha plena consciência que um alfa conseguia se virar sozinho. Porém não conseguiu deixar de sentir-se ansioso ao pensar em deixá-lo correr algum risco, afinal fora Jaebum que se ofereceu para deixá-lo em casa. Por isso decidiu ser educado, limpando a garganta antes de dizer:
— Gostaria de subir? Tomar uma água e esperar a chuva passar.
Ele realmente perguntou por pura educação, e sabia que a educação também seria recusar o convite. Mas o sorriso involuntário que surgiu no rosto do alfa não permitiu que ele perdesse essa oportunidade tão fácil, dizendo sem mesmo ter um tempo para ponderar a prospota:
— Quero.
Youngjae suspirou, sentindo o nervosismo subitamente subir pela sua nuca, mas fez o possível para não transparecê-lo. Eles entraram na casa que ficava em um bairro residencial de classe média. O lugar não era muito grande, mas possuía um pequeno quintal com belas flores sendo molhadas pela chuva no jardim, que fazia uma distância entre o portão e a casa, fazendo com que ambos, sem guarda-chuva, acabassem se encharcando no caminho até a entrada.
O mais novo abre a porta, com os dentes rangendo de frio pela chuva gélida, mas pelo menos dentro de casa estava bem mais quente do que do lado de fora. Lançou os olhos para Jaebum, que agora tinha os cabelos negros colado no corpo, e lhe fitava como se esperasse por alguma coisa. Um baque lhe atingiu ao perceber que a chuva, por mais rápida que tivesse sido, de alguma forma pareceu limpar o perfume que ele sempre trajava para mascarar o seu aroma natural, e então ele estava lá, lhe atingindo com força total. Café torrado misturado ao ozônio da chuva, que fez até desconfiar que a tremedeira em suas pernas não eram completamente culpa do frio. Jaebum estava próximo demais, aquele cheiro estava ao seu redor intenso demais. O alfa até mesmo piscou, soando um tanto confuso com a sua paralisação, mas logo a sua atenção caiu para algo que definitivamente não era os olhos de Youngjae. Jaebum estaria mesmo encarando...?
— Youngjae, finalmente você chegou! Olha essa chuva, eu estava preocupado!
Ambos viraram-se para a voz que chamava no fim do corredor. O rapaz magro de feições finas, usando uma camisa social com os três primeiros botões desabotados estava com os braços cruzados e uma expressão nada amigável. Jaebum engoliu a seco quando percebeu que era o mesmo rapaz que acompanhava o ômega no outro dia, e agora sentindo o seu cheiro de perto percebeu tratar-se de um alfa. Um alfa cujo o aroma frutado mas não exatamente doce, soando como um vinho bordô forte. Por instinto, ele quis segurar Youngjae pelo braço e puxá-lo para si, num súbito sentimento de posse, mas não fez nada além de olhar para ele completamente confuso sobre quem era ele e porque estava na casa de Youngjae.
— Ahn… hyung… - Jaebum ficou um tanto surpreso quando ouviu Youngjae usar uma voz macia e mais baixa - Este é Im Jaebum, meu colega de laboratório, ele me deu uma carona até em casa. Jaebum, este é o meu irmão mais velho, Mark hyung.
Irmão mais velho? Fazia sentido ele estar em sua casa então, apesar de ambos não terem absolutamente nada parecido. Mas agora sabendo que Mark era um parente de Youngjae, Jaebum abaixou a cabeça em forma de respeito, mesmo sendo um alfa. O aroma de Mark pareceu ficar um pouco mais suave com o seu sinal de respeito, porém não tanto a ponto dele ter perdido toda a sua desconfiança com relação à presença de Jaebum ali.
Ele até engoliu à seco. Não era como se estivesse desafiando Mark e nem nada, mas conhecer o irmão mais velho do ômega com certeza o deixou nervoso. E Mark parece ter ficado desconfiado de algo, pois arqueou a sobrancelha antes de dizer:
— Youngjae, por que não vai pegar uma toalha para Jaebum se secar e preparar um chá?
— Ahn, não precisa… - Jaebum tentou se adiantar. Tinha a impressão que devia dar meia volta a ir embora.
— Ainda está chovendo demais para você ir embora, e também foi culpa minha você ter pegado chuva. - Youngjae disse de forma meio baixa, fitando o chão - Já volto…
Então o garoto saiu de seu campo de visão, subindo as escadas no fim do corredor. No mesmo momento Jaebum sentiu o peso de estar no mesmo ambiente com Mark, virando o seu pescoço para o outro alfa, que fez um movimento com a cabeça para acompanhá-lo. Jaebum sabia que não havia muito como fugir a partir dali.
Eles sentaram-se à uma mesinha de centro em cima do carpete. A casa não era muito grande e havia alguns brinquedos espalhados pelo chão, apontando que devia haver crianças morando ali também. Mark sentou-se à sua frente, o encarando descaradamente enquanto na ausência de Youngjae. O ego alfa de Jaebum lhe dizia para rosnar para aquele cara, que claramente o avaliava e ainda fazia questão de projetar os seus feromônios e mostrar que ele era o dono daquele território, mas maior do que incômodo era a sua vontade de não arranjar nenhuma confusão com Youngjae.
— Então… você é amigo do Youngjae. - começou Mark, e Jaebum suspirou. Não acreditava que estava prestes a ter esse tipo de conversa, se é que era isso que ele estava entendendo.
— Ele é meu sunbae no laboratório. - se adiantou para dizer - Mas nós dois nos ajudamos.
Mark analisou a sua resposta, digerindo lentamente e sem desfazer a pose firme.
— Eu nunca vejo o Youngjae andar por aí com alfas. - disse, fazendo Jaebum começar a perceber qual era o problema acontecendo ali. - Youngjae é um pouco sensível, eu não tenho remorso em superprotegê-lo.
— Youngjae? Sensível? - o alfa riu consigo mesmo. - Estamos falando da mesma pessoa? - qual é, ele nem estava brincando. Youngjae era marrento, mandão e nada delicado. Como poderia se quer imaginar que o rapaz era sensível?
Mark pareceu não gostar muito da sua pontuação, parecendo estourar uma veia em sua testa. Ele pousou a mão na mesinha de centro com força o suficiente para fazer barulho e até mesmo assustar Jaebum.
— Sabe, ele é meu irmão mais novo e é minha responsabilidade avisá-lo sobre a má intenção das pessoas, principalmente alfas.
Ele entendeu desde o começo que o rapaz mais velho estava ali assumindo a pose do responsável por Youngjae, mesmo que o ômega fosse bem grandinho para responder por si só, e também entendia que o alfa - como irmão mais velho - estava preocupado com o seu irmãozinho e com a possibilidade de ele sair machucado, mas aquele comportamento um tanto duro podia resumir o porquê de Youngjae ser um ômega tão arisco e desconfiado.
— Não tenho más intenções, aliás, não tenho intenção nenhuma. - o alfa lhe respondeu, precisando cerrar os punhos para se conter com aquele alfa abertamente lhe desafiando.
Quando viu as feições de Mark se relaxar um pouco, o que o fez também repensar no que falou. De fato, ele não tinha nenhuma intenção com Youngjae, não era? Afinal ele sempre achou a aparência do ômega meio sem graça, o seu gênio era difícil de lidar, ele não era gentil e delicado como outros ômegas e - tirando o seu cheiro - sempre disse para si mesmo que não havia nada que o atraísse em Choi Youngjae para que se quer considerasse qualquer tipo de segunda intenção com isso. Então ele não estava mentindo quando o disse, não estava?
— Espero que não esteja dizendo isso como sinônimo de falta de comprometimento. - Mark insistiu, ainda desconfiado.
— Não, eu estou dizendo que eu e Youngjae somos literalmente colegas de laboratório.
Youngjae entra na sala no momento, lhe trazendo uma toalha, uma camisa e uma caneca fumegante boiando um saquinho de chá dentro, pousando na mesinha de centro ao se sentar ao seu lado. Por um breve momento Jaebum não se mexe, ainda preso sob o olhar do outro alfa, antes de ser despertado pela voz ao seu lado:
— Algum problema, Jaebum? - pergunta o ômega percebendo a trocar de olhares entre ambos aos mais velhos antes de Jaebum lhe sorrir, dizendo:
— Nada, eu só estava falando para o seu irmão sobre a pesquisa. - e lançou um olhar para a direção de Mark, como se esperasse que ele confirmasse.
Mark nada disse, continuou a fitá-los impetuosamente, mas Youngjae pareceu não ligar, estendendo uma toalha para Jaebum secar seus cabelos. Logo uma figura branquinha surgiu em seu campo de visão, uma cadelinha maltesa minúscula cuja qual Youngjae chamou de “Coco” e a apresentou para si, dizendo que ela provavelmente estava dormindo antes por ser tão tarde e só acordou agora com o barulho. A presença de bichinha pareceu diminuir os fios de tensão da conversa anterior, embora Mark continuasse a encarar a ambos sem nada dizer, mas pelo menos Jaebum conseguiu brincar um pouco com ela, dizendo também que tinha uma gatinha em casa. Eles começaram a conversar sobre os seus bichinhos, sendo uma das conversas mais leves que tiveram com Youngjae.
Mas fora somente por alguns minutos, pois logo ele percebeu que a chuva dera uma trégua e consequentemente estava na hora de ir. Já passava da meia-noite, e embora não tivesse hora para voltar para casa pelo fato de morar sozinho, Youngjae já estava sonolento, além de que pelo olhar de Mark, ele parecia querer que ele fosse embora imediatamente.
Ficou de pé, coçando a nuca meio sem jeito antes de anunciar:
— A chuva parou, melhor eu ir. E obrigado pelo chá.
Youngjae assentiu e seguiu com ele até o portão, fechando a porta da casa atrás de si antes de seguir até o portão de ferro da área exterior. Jaebum só não lhe afastou, dizendo não ser necessário, pois queria aproveitar aqueles últimos minutos perto do cheiro doce do ômega.
— O seu irmão parece que tem algum problema comigo. - ele comentou distraidamente enquanto faziam o caminho do pequeno jardim.
— Não se preocupe, ele é assim com todo mundo. - ele riu, e algo se mexeu dentro de Jaebum. Ele sempre via Youngjae rindo, mas nunca para ele. - Os nossos pais são médicos e estão sempre viajando para zonas de guerra pela Cruz Vermelha, então eles não param muito em casa. - Youngjae suspirou - Desde então Mark acha que deve cumprir o mesmo papel de pai por ser um alfa, sabe? Apesar dele ser bem jovem... Quando eu era menor, o hyung era um delinquente e andava com uma gangue e meio que aprendeu a fazer cara de mal encarado para quem acaba de conhecer. Ele é um pouco ciumento também.
— Um pouco? - dessa vez fora Jaebum que riu. Dava pra ver que Mark era completamente ciumento e ultraprotetor com o seu irmãozinho. Também, sendo um alfa com um irmão ômega talvez fosse normal a sua preocupação. Mas um delinquente frequentando uma gangue? Um alfa com uma aparência tão elegante quanto Mark? Achava difícil de acreditar, apesar de sua carranca mal encarada ser real.
Chegaram no portão de ferro, ao lado do carro estacionado. Jaebum não queria ir ainda, mas já não tinha nenhuma desculpa para ficar.
— Obrigado, Jaebum. - ele sorriu de forma fraca antes do mais velho entrar no carro, olhando para qualquer lugar que não fosse o seu rosto - Você foi gentil, apesar de eu não ser muito gentil com você…
O ômega parecia envergonhado, ele conseguia ver uma breve vermelhidão surgir no rosto do garoto sob a luz úmida do poste, e Jaebum não pôde deixar de sorrir. Eram raras as ocasiões que Youngjae era suave consigo, fazendo o seu cheiro até mesmo parecer mais doce. Os seus dedos até mesmo formigaram de vontade de encostar em suas bochechas altas.
— Não foi nada. E aliás… apesar de você ser meu sunbae, é estranho ouvi-lo chamar o meu nome. Você deve me chamar de hyung, un? - as sobrancelhas de Youngjae se uniram em confusão, e o corpo de Jaebum por um segundo ficou estático de eletricidade, o sorriso querendo brotar por de repente achar Choi Youngjae fofo como um filhotinho de cachorro.
— Hyung…? - perguntou, meio certo.
— Sim, hyung. Eu sou mais velho, não sou? - deu o seu sorriso brincalhão, com aquele tom que Youngjae não gostava muito, mas no momento pareceu não ligar, rindo também e acabando pro concordar com um aceno de cabeça.
— Tudo bem, Jaebum hyung… - a palavra soou estranha em sua língua, mas o alfa adorou ouvi-la. - Então… boa noite?
— Boa noite. - ele o cumprimentou, e já estava para sair, quando os seus olhos encontraram com o irmão do garoto encarando ambos por uma fresta na cortina da janela da casa. Se surpreendeu ao vê-lo até ali vigiando o seu irmão mais novo. Youngjae devia mesmo ser superprotegido.
Mas então olhou novamente para Youngjae. Nunca reparou que os seus olhinhos eram castanhos, alguns tons mais claros que o seu. Eram hipnotizantes, o fez dar um passo à frente, tocando suavemente nas mãos do ômega. Droga, ele não costumava a ser assim tão cuidadoso, mas tampouco era impulsivo. Mas havia algo naquele ômega que lhe trazia para mais perto como a terra gravitava em torno do sol, mal conseguia se conter. Ele sabia que não deveria, e se o perguntassem a algumas semanas atrás ele diria até mesmo que nem queria. Mas no momento fora inevitável, o seu ímpeto de provocar e também o desejo no momento pelo Choi falou mais alto. Ele deu um passo à frente, despertando um arregalar de olhos do ômega, mas antes que o outro pudesse fazer qualquer coisa ou tentar impedi-lo, Jaebum estava pousando os seus lábios no dele.
E droga, definitivamente droga. Os lábios dele eram bem mais macios do que ele imaginou, e bem mais doce também.
O ar se prendeu em seu pulmão, e aquela sensação estatica pareceu aumentar infinitamente mais agora que estava colado em Youngjae, como se uma corrente elétrica houvesse passado pelo seu corpo. Youngjae também não parecia ter muito mais reação do que si, ficando por hora parado mas também não o afastando. Ele tentou movimentar-se nem que fosse um pouco para tirá-lo da inércia, a sensação de corrente elétrica aumentando exponencialmente. Tocou de leve o braço dele com uma mão e o rosto com outro, sentindo a quentura de suas bochechas, o sangue circulando fervorosamente apontando que o ômega estava constrangido, o que achou ainda mais adorável. Será que poderia ouvir as batidas do seu coração se chegasse mais perto? Ele podia quase sentir o gosto dos morangos, se aprofundasse um pouco mais.
Mas não aprofundou, deixando o beijo somente superficial. Não era a sua intenção ser afetado dessa forma por um simples beijo. Queria poder sorrir vitorioso, mas precisou respirar fundo ao se afastar e fitar o rosto vermelho de Youngjae. Droga, a sua expressão era tão apetitosa que era difícil para si não se inclinar para beijá-lo novamente.
Mas se conteve, dando um passo para trás. Quis rir de si mesmo por ele próprio ter saído do controle da brincadeira que ousou fazer, acabando que por fim não era uma brincadeira. Ele quis esse beijo. Muito.
Ele deu um sorriso de lado, para disfarçar o quanto seu coração batia alto ao ter lábios separados aos do ômega. Tentando disfarçar do quanto tremia dos pés à cabeça, com sua mente ainda inebriada tentando entender o que era aquela reação tão forte.
— Tchau. - ele disse, porque precisava se despedir, sair dali antes que fizesse uma besteira ainda maior e seu corpo começasse a enrijecer onde não devia. Só teve tempo de lhe roubar mais um selinho rápido, deixando o ômega completamente atônito antes de ele dar as costas para entrar no carro.
Não era a sua intenção parecer um babaca misterioso também, saindo sem dizer nada, mas nem o próprio sabia o que falar ao finalizar o beijo. Também não queria ter que lidar com um Youngjae furioso, o que provavelmente aconteceria quando o ômega se desse conta do que aconteceu. Por isso ele somente ligou o carro e saiu, tomando o seu rumo, deixando um Youngjae paralisado onde estava, os dedos pousando nos lábios inchados e as bochechas vermelhas.
Agora que estava sozinho, e embora ainda houvesse um resquício de cheiro de morango no carro era bem mais fraco do quando estava na companhia do garoto, conseguia pensar mais claramente, tentando entender o que fizera. Vivia dizendo para si mesmo que Youngjae não fazia o seu tipo, que ele não o atraía e que só gostava de provocá-lo porque era engraçado. Youngjae gritou consigo, Youngjae disse que ele o desprezava, Youngjae nunca pareceu minimamente atraído por ele. E mesmo assim ele o beijou, ele ficou com medo e ele fugiu. E ele também queria mais que um simples beijo.
Ele teve que parar o carro no acostamento quando percebeu que as batidas aceleradas do seu coração não iriam parar por si só. Encostou a cabeça no volante, perguntando-se por quê o seu corpo estava agindo assim.
Aquele ômega havia bagunçado a sua cabeça, e o garoto nem mesmo havia feito nada para isso.
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