É... Ela fez aquilo. Pulou no mar e soltou um grito pela água que possivelmente estava gelada, mesmo assim, não tirou o sorriso do rosto. Fiquei boba observando o divertimento de Sana e, assim que ela gritou para que eu entrasse na água, me vi obrigada a fazê-lo.
É claro que iria estar tão incrivelmente gelado a ponto de me fazer bater os dentes.
Andei lentamente como uma tartaruga, tremendo, até estar devidamente perto de Sana, que riu e passou seus braços por meu pescoço.
- Não está tão ruim assim, Dahyunie. - Apenas mexi a cabeça, estava de braços cruzados mesmo que isso não ajudasse em muita coisa.
- V-Você é muito louca.
Ela gargalhou.
- Bem, você me acompanhou, então acho que tenho alguém que gosta da minha loucura. - Desfiz minha pose séria para rir e abraçar sua cintura. - Seu pai sabe que está aqui, certo?
- Eu disse a verdade, apenas omiti que você estaria comigo. Ele sabe que preciso de um tempo, Tzuyu e eu sempre nos dedicamos muito naquela empresa. - Capturei o olhar calmo e orgulhoso da japonesa.
- Dahyunie, você é um exemplo de mulher. - Deu um tapinha em minha bochecha enquanto usava aquele seu tom debochado. Cheguei a estremecer com o contato da sua mão molhada. - Você parece ser tão dedicada, não deve ser fácil estudar e ainda carregar uma empresa nas costas.
Ri e desviei o olhar, estava sem graça.
- Não faço nada sozinha, Sana. Ainda sim dou meu sangue pra que a empresa continue sendo tudo isso que é. Meu pai sofreu muito pra conseguir levantá-la, quero dar orgulho a ele.
Percebi que Sana estava quieta, ou surpresa, ela me olhava fixamente e isso começou a me intimidar.
- O que foi? - Perguntei abrindo um sorriso, não me contive em apertá-la em meus braços. Sana era apenas a garota mais linda com quem eu já havia estado.
- Quais são seus planos para o futuro?
Aquela pergunta me deixou surpresa.
- Vou terminar a faculdade e assumir a presidência da empresa. Essas são minhas certezas.
- Não perguntei isso, Kim. - Sana rebateu. - Me diz sobre seus planos pessoais. Você iria se casar com Momo?
- Casar com a Momo?! - Exclamei assustada. - Claro que não! Na verdade, sempre soube que nós não íamos durar muito. Minha mãe não gostava dela tanto assim e eu também nunca fiz tanta questão. Depois que te conheci só tive mais certeza.
- Me sinto uma destruidora de lares agora. - A garota riu fraco.
Então ela me beijou, lento, mas carregando ali toda nossa tensão sexual. Me senti nas nuvens, esse era o poder que ela tinha sobre mim, eu só não sabia se isso era bom. Sana era muito diferente de qualquer outra, me tinha na palma da mão.
Nós saímos da água e sentamos na areia, observando as poucas estrelas no céu. Sana se sentou entre minhas pernas e ficou ali, encostada em meu corpo. Senti uma sensação boa.
- Não sei nada sobre você. - Ela riu e encostou a cabeça em meu ombro.
- Não tem nada de interessante sobre mim, Dahyun. Não sou uma pessoa importante como você.
Sua resposta me incomodou.
- Você e Chittaphon são amigos há muito tempo? - Minha voz saiu trêmula pelo frio.
- Desde que cheguei na Coréia, sim, ele foi bem hospitaleiro. Também fazemos faculdade na mesma instituição, embora em prédios diferentes.
- E ele sempre foi aquele garoto esquisito mesmo? - Perguntei. Sana voltou a rir, quando percebi ela já estava entrelaçando nossos dedos.
- Não fala assim do Ten. - Ela me respondeu com uma falsa irritação. - Ele tem alguns costumes estranhos, mas é um bom rapaz.
- E sua família?
Notei ter tocado em um assunto delicado quando senti Sana ficar tensa em meus braços.
- Está no Japão. - Falou no mesmo segundo, ainda tensa. Percebi que ela, no mínimo, estava mentindo ou não queria tocar no assunto.
- Não quer falar sobre isso? - Questionei.
- Só é um assunto delicado pra mim. Podemos falar sobre isso uma outra hora? - Assenti mesmo que ela não pudesse ver, queria ser compreensiva.
Ficamos em silêncio, eu tinha tantas perguntas a fazer, estava curiosa sobre ela. Sana me encantava demais e eu ficava agoniada com o fato de não saber nada sobre ela.
- Meninas! - A voz alta de Jihyo foi ouvida ao longe. Sana e eu olhamos para trás, mas senti que eu era a única encarando Jihyo, a japonesa parecia fixar seu olhar em mim. - Entrem pra dentro, vamos fazer pizza!
- Já vamos! - Gritei de volta, vendo a Park entrar na casa logo em seguida. - Vamos, Sannie?
- Vamos. - A garota deslizou sua mão por meu rosto e me deu um selinho antes de levantar. Peguei nossas roupas espalhadas pela areia, foi quando o frio nos atingiu e voltamos abraçadas para casa.
Captei os olhares confusos das duas garotas sentadas no sofá. Não era para menos, Sana e eu estávamos só com nossas roupas íntimas e ainda molhadas.
- Foram dar um mergulho, é?
- Ideia da Sana.
Mal percebi quando olhei a japonesa com um sorriso quase bobo.
- E desde quando cobra gosta de nadar? - Ri, mesmo que Sana segurasse a expressão séria no rosto.
- Existem cobras que nadam, querida. - Jihyo sorriu. - Como é o nome daquela lá? Ela é bem grande, vive na água...
- O nome é Minatozaki Sana.
Gargalhei junto de Tzuyu, o que deixou Sana mais emburrada ainda. Eu quis encher seu rosto de beijos naquele exato momento.
- Vão se trocar ou vão acabar pegando um resfriado. - Jihyo pediu, senti preocupação em sua voz. - Vamos organizar algumas coisas na cozinha.
Sana segurou minha mão, logo me arrastando para o andar de cima. Ela continuava séria, não havia nem rebatido nenhuma das provocações de Tzuyu. Fiquei com medo que ela tivesse se chateado pela minha pergunta sobre sua família.
- Sana. - A chamei com a voz quase sumindo. Seus olhos iluminados focaram em mim por um segundo. - Tá tudo bem?
- Claro que sim. Eu estou com você nesse lugar maravilhoso.
Engoli em seco.
- É que você me parece tão... Séria.
- Eu tenho muitos lados que você não conhece, Dahyun. Estar séria e não querer cair nas provocações do poste ambulante é só um deles.
- Devo me preocupar? - Sana balançou a cabeça.
- Claro que não. Agora vou tomar um banho, e não precisa se preocupar porque vou usar o outro banheiro.
*
Dava para notar a diferença de humor de Sana enquanto ela sorria e terminava de tirar as pizzas do forno. Jihyo mais ainda. Ela tinha um sorriso lindo e contagiante, ninguém podia negar que Tzuyu era uma sortuda. Ao meu lado ela estava quieta como sempre, mas observando tudo.
- Você tá caidinha pela Sana.
Entendi que Tzuyu comentou sobre aquilo pois eu não tirava aquela expressão boba do rosto, muito menos tirava meus olhos de Sana.
- Não sei do que você tá falando.
- Ah, qual é, nós somos melhores amigas, Dahyun, pode me contar. - Ela sorriu pra mim de forma encorajadora.
Eu não sabia se estava mesmo sentindo algo além de atração por Sana, mas já havia aceitado que ela me causava curiosidade, me deixava encantada com seu jeito único. Era surreal.
Talvez Tzuyu estivesse mesmo certa.
- Não sei... Tá tudo muito confuso. Nós nos conhecemos há pouquíssimo tempo, seria uma vergonha caso-
- Você se apaixonasse? - Tzuyu sugeriu, com a voz baixinha e discreta.
- Não, para com isso, é assustador. - Respondi com um semblante assustado. - Sana é linda, completamente diferente de qualquer garota que eu já conheci, mas não acho que seja pra tanto. Eu não vou me apaixonar por ela assim, do nada.
- Se você tá dizendo...
Percebi uma certa ironia vindo da mais nova, mas fingi não ter notado nada. Continuei a observar Sana que agora estava agasalhada pelo frio que fazia. Me perguntava se havia sido uma boa ideia ter vindo para Incheon, mas ao ver o sorriso lindo da japonesa eu apenas parava de me questionar.
- Olhe só pra ela. - Sussurrei sem tirar meus olhos daquela garota, Tzuyu virou seu rosto em minha direção. - Ela é tão bonita e fica sorrindo daquele jeito, aposto que nem sabe o poder que tem sobre os outros. Quais são as chances de eu me foder?
- Às vezes você fala umas coisas que me dá vontade de cavar um buraco no chão e enfiar minha cabeça lá.
- Você não tem nenhum sentimentalismo, não? Como a Jihyo te aguenta? - Perguntei enquanto empurrava forte o ombro da taiwanesa.
- Meu sentimentalismo é gasto todinho com a minha noiva, você que lute. - Me empurrou de volta, tão forte que me fez tombar para o lado no chão.
Quando pensei em revidar e começar uma pequena luta ali no chão, Sana e Jihyo vieram até nós trazendo pratos com pedaços de pizza.
- Prova, Dahyunie. - A garota riu enquanto se sentava ao meu lado. - Fui eu quem fiz essa. - Eu nem cheguei a pegar o prato, foi Sana quem pegou o pedaço e colocou na minha boca.
Estava delicioso.
- O que achou? - Suspirei, fazendo suspense e uma careta desgostosa enquanto terminava de mastigar.
- Eu esperava mais, Minatozaki. - Me senti culpada por ver aquele sorrisinho fofo ser apagado de seu rosto. - É brincadeira, meu anjo, está ótimo.
- Otária! - Ela bateu fortemente em meu ombro e tudo o que consegui fazer foi rir e lhe roubar um selinho.
Era certo, entrava em um mundinho só meu junto com Sana e esquecia do resto quando estávamos juntas.
- Quer provar do meu, Dahyun? - Jihyo perguntou, mostrando aquele sorriso contagiante. Logo me vi sorrindo também.
- Claro! - Novamente tinha um pedaço de pizza na minha boca. Estava tão bom quanto o de Sana. - Hm... Isso está perfeito, Hyo. - Abracei sua cintura com força, vendo o olhar enciumado de Tzuyu pra cima de nós.
- Tira as mãos da minha noiva, Kim.
Levantei os braços e voltei a me sentar, nem percebi quando Sana saiu da sala e buscou as pizzas inteiras. Tzuyu a ajudou a organizar as coisas enquanto Jihyo pediu que Jeno buscasse duas garrafas de vinho.
- Tá rolando festinha e ninguém me chamou? - A voz de Jeno preencheu a sala onde só se ouvia a conversa baixa entre Jihyo e Tzuyu e o barulho das chamas da lareira.
- A festinha é para adultos, o que você não é. - Tzuyu disse, provocando o garoto.
- Pois bem, senhorita Chou, você ainda vai precisar de mim. - Ele comentou antes de deixar as garrafas em cima da pequena mesa em que estávamos ao redor.
- Vou pegar pizza pra você levar, Jeno.
Dito isso, Jihyo se levantou e foi até a cozinha para a surpresa de Tzuyu.
- Tá vendo? Sua noiva é bem mais legal que você. - Jeno deu risada da cara séria que a Chou insistia em manter.
- Se ponha no seu lugar, pirralho! - Respondeu rápida e mal humorada.
Foi quando, cansada de assistir aquela pequena troca de farpas infantil, foquei em Sana. No momento ela se ocupava limpando os dedos sujos de gordura em um guardanapo, sem ter ideia da atenção que eu lhe dava. Aquilo era mesmo sério, eu queria que nosso lance fosse além de pegação e sexo.
- Nós estávamos falando sobre minha semana. Gostaria de saber sobre a sua. - Sana me olhou surpresa, mas sorriu.
- Minha semana foi só um pouco menos corrida que a sua, senhorita Kim. - Enquanto ela respondia, peguei sua mão por baixo da mesa. Sana não pareceu estranhar, no entanto. - Não vai comer?
- Pra ser sincera eu estou sem fome, quem sabe depois eu coma um pouco. - Pisquei para ela, que riu e molhou os lábios com o vinho. - Dê uma volta comigo depois. - Pedi ao abraçá-la e fazê-la se aconchegar entre minhas pernas.
- Só nós duas? - A japonesa se encostou em meu corpo e descansou a cabeça em meu ombro.
- Só nós duas. - Respondi automaticamente.
Conversamos por um longo tempo depois que Jihyo voltou e Jeno foi para casa. A coreana foi a primeira a ficar animadinha com a bebida alcoólica. Tzuyu até tentou fazer a noiva subir consigo, mas Jihyo insistiu em continuar ali com a gente.
- Então. - A Park apoiou o cotovelo na mesa e encarou eu e a japonesa em meus braços. - Vocês duas estão juntas?
- Defina "juntas", Jihyo. - Sana pediu com um sorriso fechado nos lábios.
Me senti incomodada com o olhar que Tzuyu me lançou.
- Juntas como um casal. - Novamente, naquele dia, senti Sana ficar tensa em meus braços. Consegui ficar mais incomodada ainda.
- Dahyun e eu somos amigas. Amigas que gostam de dar uns amassos e fazer sexo de vez em quando.
- Vocês parecem um casal muito bonitinho pra mim. - Falou a garota, mostrando um sorriso malicioso.
- Tudo bem, então. - Sana bateu a mão na minha perna e se levantou. - Tzuyu, é melhor cuidar da sua noiva, Dahyun e eu vamos dar uma volta.
Foi o que precisava para também me levantar e deixar a taça de vinho na mesinha. Sana segurou meu braço quando saímos da casa, o vento frio estava nos fazendo tremer. A parte boa era poder ficar pertinho dela, sentindo o calor do seu corpo.
Me senti uma idiota por não conseguir planejar um assunto em minha cabeça para que aquele silêncio incômodo fosse embora, o mais estranho era que nem Sana havia tentado fazer isso.
- Você está quieta demais.
- Isso é bom, significa que me sinto confortável em sua companhia. - Fiquei meio aérea com aquela resposta, mas voltei quando senti meu braço ser apertado por Sana. - Você queria saber sobre minha família, certo?
- Só se você se sentir confortável me dizendo sobre.
Não percebi quando começamos a caminhar sobre um píer, não tinha ninguém por ali e só era ouvido o barulho do mar. Ali estava mais frio ainda, e quando sentamos na beirada, fiquei com uma tremedeira notável. Percebendo isso, Sana me abraçou fortemente.
- Bom, devo dizer que minha família é uma pessoa só. - Ela começou, enquanto isso segurava minha mão e fazia carinho nela com o polegar. - Minha mãe era uma prostituta.
Fiquei surpresa, mas não disse nada, preferi deixar que ela continuasse.
- Ela nunca foi bem aceita por meus avós, então sempre foi sozinha no mundo. Eu não cheguei a conhecer meu pai, sabe... - De repente, a japonesa soltou uma risada amarga. - Às vezes questionava minha mãe, mas ela sempre dava alguma desculpa. Foi só quando me tornei maior de idade que liguei os pontos e percebi que na verdade eu fui um acidente dela com algum cliente.
Engoli em seco, sem ter um pingo de ideia do que fazer ou dizer. Pela primeira vez Sana parecia um tanto vulnerável para mim. Contudo, a peguei em meus braços.
- Tenho duas perguntas a fazer, mas não quero ser insensível. - Apesar do momento, Sana riu e se aconchegou contra meu corpo.
- Tudo bem, pode fazer.
- Sua mãe continuou nessa “profissão” depois que você nasceu? - A garota se virou para me olhar séria, pensei até ter falado merda.
- Não. Ela conseguiu um emprego numa lanchonete e ficou por lá até que conseguisse. Hoje eu a ajudo com metade do meu salário. - Assenti, sem jeito, me sentindo uma idiota com a droga da pergunta que fiz. - Qual é a próxima pergunta?
- Como sabe sobre seu pai? Digo, como tem tanta certeza que ele é mais um dos clientes da sua mãe?
- Eu só sei. De qualquer forma, isso não me interessa, minha mãe sempre se esforçou, sempre foi o suficiente pra mim. - Novamente assenti, preferindo nem continuar naquela conversa. - Acho que nós mudamos a vida uma da outra. Tudo o que eu sei, foi ela quem me ensinou.
- Se ela foi responsável por você ser incrível desse jeito, eu gostaria de conhecê-la e agradecer. - Considerei que havia um tanto de humor em minha voz, mas Sana continuou me encarando séria.
- Quero falar uma coisa, mas você tem que me prometer segredo. - Ela falou, quando percebi seu corpo já estava por cima do meu e suas mãos em minha nuca. - Me prometa segredo, Kim Dahyun.
- Kim Dahyun promete segredo. - Meu tom saiu tão robótico, podia jurar que meu rosto estava vermelho.
- Você é a pessoa mais legal que eu já conheci. - Estava surpresa, e Sana notou isso enquanto tocava meu rosto. - É sério, Dahyun, você é tão doce e tão incrível, me sinto muito confortável quando estamos juntas.
- É, uh... Obrigada? - Respondi sem jeito, o que ocasionou uma risada na japonesa.
Novamente uma sensação estranha, mas gostosa, passou pelo meu corpo assim que Sana deitou sua cabeça em meu ombro. Nós ficamos em silêncio por um bom tempo enquanto me ocupei fazendo carinho em seu braço.
- Sana, eu tenho uma dúvida. - Ela levantou a cabeça assim que ouviu minha voz. - Por que você e o meu irmão estão juntos?
- É complicado.
- Vocês se gostam ou algo do tipo?
Deu para perceber o desconforto de Sana, mas em nenhum momento ela deixou aquela pose confiante de lado.
E eu estava torcendo para que ela dissesse que não sentia nada por ele.
- Não, pelo menos não da minha parte. - Falou com toda tranquilidade do mundo.
- E o que aconteceu pra que o charme do Junmyeon não fizesse efeito em você? - Puxei a japonesa para que ela voltasse a se deitar. Sua respiração calma em meu pescoço me fez relaxar mais ainda. - É que muitas garotas fazem de tudo para estar com ele e...
- Dahyun, seu irmão não é tudo isso. - Sana me interrompeu, rindo logo em seguida.
- Mas... Ele é um bom visual.
- E você acha mesmo que isso serve de alguma coisa? - Questionou com um tom petulante, contudo, eu estava sem jeito pelo Junmyeon.
- Não sei, acho que sim.
- Diga isso para os orgasmos que eu fingi enquanto estava com ele.
Engasguei com minha própria saliva.
- Sana! - Lhe repreendi constrangida. - Ele ainda é meu irmão.
- Foi você que começou com perguntas desnecessárias. - A garota soltou uma risada fofa e me deu um beijo no pescoço. - Bem, prefiro que ele e nem ninguém sinta nada por mim.
- Por quê?
- Porque não sei se sou capaz de gostar de alguém assim. - Quando Sana disse aquilo, um balde cheio de desânimo foi jogado na minha cara. Acho que até mesmo ela percebeu isso. - O que foi?
- Nada. - Balancei a cabeça junto de um sorriso falso. - Que tal nós voltarmos? Acho que esse frio todo tá me fazendo ficar com sono.
- Ah, claro, eu também tô um pouco sonolenta.
Deu para sentir o clima estranho que ficou quando voltamos para casa, mesmo que Sana tivesse tentado manter uma conversa comigo. Não era culpa dela, é claro. Só fiquei pensando se era uma boa me meter naquilo.
Não era.
- Dahyun, antes de nós entrarmos... - Olhei para ela confusa, mas sabia que ela iria tocar no assunto. - Eu disse algo errado?
- Claro que não. Só estou com sono e fico bem quieta quando tô assim. - Aquela desculpa foi uma merda, mas mesmo assim Sana sorriu e me beijou.
- Espero que você me esquente bem essa noite, Kim.
Não havia sinal de Tzuyu ou Jihyo na sala e ela estava uma bagunça. Subimos para o segundo andar, Sana em minuto algum desgrudou de mim.
- Acha que Tzuyu conseguiu domar a fera que Jihyo vira quando tá bêbada? - A japonesa virou o rosto em minha direção enquanto tirava a blusa de frio.
- Provavelmente. Só não sei se é do jeito que ela queria. - Nós duas gargalhamos até que Sana fizesse sinal para abaixarmos o tom.
Me enfiei debaixo do edredom grosso, esperando que Sana fizesse o mesmo, e quando isso aconteceu, meu coração meio que começou a acelerar. Acho que gostava daquele contato todo com Sana, bem, talvez fosse porque ela era cheirosa e sua pele era macia.
Ou eu realmente estava gostando dela e deveria parar de tentar negar isso.
- Hm... Sana, tenho outra pergunta a fazer. - Sana estava de frente para mim, fiquei me sentindo tentada a beijá-la. - Então, eu não posso gostar de você?
- Dahyun... - A japonesa riu e segurou minha mão por baixo do edredom. - Claro que pode. Eu só... Acho que isso vai machucar você e eu não quero que isso aconteça.
- Agradeço a consideração.
Novamente ela deu aquela risadinha fofa.
- Acho que perdi o sono. - Ela comentou do nada quando levantou da cama e começou a bisbilhotar o quarto em que estávamos. - Tem coisas suas aqui.
- Sim, é meu quarto. - Respondi por fim, observando a japonesa mexer em um aparelho de som. Eu quase tive um ataque quando ela o ligou.
- Uh, você ouve esse tipo de música. - Engoli seco, com as bochechas vermelhas de vergonha. - Own, Dahyunie, você é tão fofa! - Sana pulou no colchão até me alcançar e apertar minhas bochechas. - Trouxe alguém pra cá da última vez?
- Não, eu nunca trouxe ninguém. - Sussurrei assustada. Sana fechou os olhos e riu, eu quase explodi de ódio porque ela era mesmo a garota mais linda e nada mudaria minha opinião.
- Obrigada por fazer com que eu me sinta lisonjeada. Agora, por favor, não me diga que ficou aqui sozinha ouvindo essas músicas depressivas.
- Não tem nada depressivo, Sana, são músicas românticas. - A japonesa então abriu seus olhos apenas para me olhar e rir mais alto ainda. - Virei piada?
- Não, você só é muito fofa, Dahyun. - Ela sorriu e acariciou meu rosto. - Me conte mais sobre você.
No começo, jurei que Sana estava tirando uma com a minha cara, mas quando percebi ela já estava se ajeitando de lado na cama justamente para me observar.
Esqueci sobre toda aquela merda quando começamos a conversar de verdade. Não tinha muito jeito com conversa, por isso preferi muitas vezes deixá-la falar. Sua voz era música para os meus ouvidos, não havia dúvidas disso. Ficamos ali por horas conversando, algumas vezes Sana me beijava. Nós tínhamos muito em comum, isso tinha que significar alguma coisa.
No fim da noite, Sana parou com sua cabeça na curva do meu pescoço enquanto me abraçava fortemente.
- Está com sono? Pensei que fosse mais forte, Minatozaki. - Assim que beijei as costas de sua mão, ela me apertou mais ainda.
- Você não? - Não respondi, afinal, comecei a me entreter com algumas mechas do seu cabelo. - Não sei se já te agradeci, mas se não, queria agradecer por essa noite.
- Não fizemos nada demais essa noite, Sana.
- Foi demais pra mim. O mais interessante, além de saber mais sobre você e descobrir seu costume de ouvir músicas excessivamente românticas, é que em momento algum nós falamos sobre sexo. - Respondeu calma, sabia que ela estava sorrindo, eu também estava.
- Bem, não precisa agradecer por nada.
Sana sorriu e entrelaçou nossos dedos, fiquei encarando aquilo por alguns minutos, e esses minutos em silêncio foram o suficiente para que a japonesa dormisse. Tive alguns problemas com insônia e não consegui levantar para desligar o aparelho de som por medo de acordar Sana, mas no fim das contas, acabei dormindo também.
*
Pois é, eu sabia que iria acordar de mau humor, e foi exatamente isso que aconteceu quando a claridade da manhã não me deixou prosseguir com meu sono. Sana não estava mais ao meu lado, o que inicialmente me incomodou.
Praticamente me arrastei até o banheiro onde pude tomar um banho frio e fazer minha higiene. Embora tivesse todo um esforço, o sono ainda fazia parte de mim, diferente das meninas, que pareciam estar ligadas em um nível máximo de energia. Até mesmo Tzuyu estava animada.
- Ora, ora, Kim Dahyun está viva! - A taiwanesa brincou, sorrindo como se tivesse ganhado na loteria.
- Qual é a dessa animação toda? - Ignorei a garota para seguir até a cozinha e pegar uma garrafa de água. Jeno estava por ali devorando um pedaço de pizza. - Bom dia, Jeno.
- Bom dia, Dahyun. Sua namorada está ligada no duzentos e vinte, você tá ferrada. - Ri quando Sana apareceu na cozinha e Jeno engasgou com a comida na boca.
- Falando de mim? - Perguntou. Me permiti olhar seu corpo todinho quando ela se abaixou para pegar algo dentro da geladeira.
- Você sempre é o assunto principal. - Quando Jeno respondeu aquilo, a japonesa se aproximou com uma garrafa de vodca e bagunçou seu cabelo. - Ei, não faça isso!
- Estamos indo pra piscina, Dahyunie. Você vai vir agora ou depois?
- Não sei, acho que vou só ficar por aqui mesmo. - Vi sua expressão animada cair de seu rosto, me senti mal por isso.
- O que aconteceu?
- Nada, só não tive uma boa noite de sono. Vocês parecem tão animadas agora e eu não quero contagiar ninguém com meu mau humor.
- Tem certeza que é só isso? Seria ótimo se você ficasse um pouco com a gente.
- Vou ficar aqui com Jeno só por enquanto, depois fico um pouco com vocês. - Ela balançou a cabeça e me deu selinho antes de sair da cozinha.
Aquele garoto ficou me encarando de um jeito esquisito depois que me sentei com ele. O encarei também enquanto comia meu pedaço de pizza.
- O que foi, bundão?
- Vocês duas namoram mesmo? - Perguntou de forma brincalhona, mas não esbocei nenhum tipo de reação.
- Não, nós somos só amigas. - Finalmente soltei uma risada, não importava, era forçada.
- Me lembro dela na última festa da empresa. Você deve saber, eu estava servindo as bebidas.
Automaticamente me lembrei do dia que conheci Sana. Era a garota mais fodidamente linda e interessante que eu já tinha visto.
- Sim, eu também me lembro.
- Ela me perguntou de você, parecia interessada, mas também perguntou do Junmyeon. - Se havia um mero sorrisinho no meu rosto, ele desapareceu assim que ouvi o nome do meu irmão.
- Não importa, somos só amigas.
Deixei a mesa depois daquela resposta um tanto grosseira da minha parte. Era possível ouvir os gritos de Jihyo e Sana, curiosa, fui até uma das janelas com vista para a área da piscina. Tzuyu estava toda esparramada em uma das espreguiçadeiras e com os olhos cobertos por um óculos escuro. Sana e Jihyo se ocupavam tentando afogar uma a outra, pareciam duas crianças.
- Vai lá com a sua namoradinha. - Ouvi a voz de Jeno e pela primeira vez quis quebrar aquela janela com a cabeça dele.
- Se não calar a boca vou te deitar na porrada. - Tentei pôr medo no garoto mas ele não se importou. - E eu já disse, Sana e eu somos só amigas.
- Você olha pra ela como eu olho pra batata frita. - Olhei para ele com estranheza. - É um pouco estranho, cara.
- Estranho é você tentar ter esse tipo de conversa comigo. Você não sabe de nada, Lee. - Voltei a encarar Sana pela janela, mas me assustei ao perceber que ela me encarava de volta.
- Foi pega no pulo, gata. - Ri baixinho, me dando por vencida.
Fui tirando minha camiseta no caminho até a piscina, não tinha intenção alguma de entrar mas preferi assim. Sana sorriu ao me ver chegando.
- Mudou de ideia? - Balancei a cabeça em resposta e me sentei ao lado de Tzuyu.
- Eu estou fodida. - Sussurrei para ela com um sorriso largo. A taiwanesa sabia do que eu estava falando.
- E como chegou a essa bela e incrível conclusão? - Perguntou rindo, a garota chegou a retirar o óculos para olhar minha cara de palhaça.
- Não consigo passar um minuto sem pensar nessa maldita. - Se possível ri mais ainda, em momento algum tirei meus olhos de Sana.
- Oh, que ótimo, você apaixonadinha pela Sana é a escória.
- Em momento algum disse que estava apaixonada por ela, Chou. Na verdade, acho que gosto verdadeiramente dela, do seu jeito. Sana é única.
- Sim, você está apaixonada.
- Tzuyu, não.
- Pois é, a Dahyun está apaixonada.
- Não, eu não estou! - Acabei gritando e chamando a atenção das duas garotas dentro da piscina. Me senti envergonhada enquanto Tzuyu gargalhava alto.
Ora, que ótima amiga!
- Filha da puta. - Murmurei para ela enquanto sorria para Jihyo. - Isso é coisa séria, sabia?
- Não precisa se preocupar, Dubu, seu segredo está muito bem guardado comigo.
Cerrei os olhos, mas balancei a cabeça positivamente. Tzuyu era uma filha da mãe comigo na maioria das vezes, mas nunca contava meus segredos.
- Dahyunie! - Respirei fundo quando ouvi a voz fina e consideravelmente fofa de Sana. - Vem ficar um pouco comigo.
- É, vai lá, Dahyunie. - Tzuyu provocou.
- Cala a boca.
De qualquer forma, quem era eu para recusar um pedido de Sana? Me levantei imediatamente e tirei meu short, pulando na piscina logo em seguida.
- Tá tudo bem? - Sana perguntou ao chegar perto de mim.
- Claro, por quê?
- Você acordou estranha. Ficou lá cochichando com o Jeno enquanto me observava, agora chegou e ficou cochichando com Tzuyu.
Revirei os olhos.
- Não estou falando mal de você, se é isso o que quer saber. - Respondi, nem ao menos olhando para a japonesa, que, incomodada, segurou meu queixo.
- Não gosto de segredos. - Ela comentou, passava muito a língua sobre os lábios.
- Acredito que isso é um problema seu.
- Já disse que não gosto quando você me responde desse jeito.
- E o que você vai fazer quanto a isso? - Sana riu e tirou a mão do meu rosto, mas não disse nada.
Bem, isso até ela juntar uma boa quantidade de água nas mãos e jogar em meu rosto.
Fiquei puta enquanto ela gargalhava.
- Você me molhou.
- Você já estava molhada antes, Kim.
- Isso vai ter troco. - Não quis dar tempo para ela raciocinar sobre aquilo, só dei um tapa na água e isso fez com que o rosto de Sana ficasse mais molhado. - Eu avisei!
Pensei que ela fosse me dar o troco de alguma forma, mas a japonesa se aproximou de mansinho e me beijou. Ouvi as meninas fazendo uns barulhos estranhos para nos provocar, entretanto, estava focada demais nos lábios de Sana.
- Vamos lá pra dentro.
- Pra quê?
- Quero te mostrar uma coisa.
- Que coisa? - Minha pergunta barra resposta fez Sana ficar impaciente. Ela nadou para o outro lado e saiu da piscina. - Sana?
Fiquei como idiota assistindo a garota entrar dentro da casa, quando Tzuyu soltou uma tosse forçada.
- Deixa de ser idiota, vai atrás dela, lerda. - Tzuyu mandou.
Lá estava eu revirando os olhos de novo. Saí da piscina, logo entrando na casa sem me importar com o fato de que estava molhando o piso. Sana me esperava encostada na parede da sala.
- Acordei hoje de manhã e encontrei um porão peculiar. - Sua voz soou de forma sexy dessa vez. - Você sabe do que eu estou falando, não é?
Sim, eu sabia mais do que ninguém.
- Sim, sei.
- Podemos nos divertir lá. - Ela se desencostou da parede em um movimento rápido. Fiquei com os olhos arregalados e as pernas bambas quando ela segurou minha mão, começando a me arrastar pela casa até o porão.
- Sana, isso não é uma boa ideia.
- Será que dá pra você parar de ser careta? Nós só vamos jogar. - A Minatozaki disse, fazendo uma cara de cínica. Ela abriu a porta e depois a trancou uma vez que já estávamos ali dentro. - Esse lugar é incrível, não?
Não respondi, fiquei analisando aquele lugar que não visitava fazia tempo. Lembrava que papai havia feito aquele porão se tornar uma sala de jogos para mim e Junmyeon, mas nunca usamos, ainda mais depois que a casa ficou só para mim.
- Qual a finalidade disso? - Perguntei ao vê-la ajeitar as bolas na mesa de sinuca que ficava no centro da sala.
- Não seja lerda, Dahyunie. Vamos jogar. - Seu sorriso malicioso já dizia muita coisa. - Quero propôr algo diferente.
Comecei a ficar mais nervosa ainda.
- Que seria...? - Peguei um dos tacos que ela me ofereceu.
- Vamos jogar uma única partida valendo alguma coisa. - Assim que Sana me olhou como se eu fosse sua refeição favorita, soube que não sairia coisa boa dali. Ou sairia, não sei. - Sou bem observadora, Dahyun, já sei muito bem o que você pode fazer com a língua.
- Sana...
- Então, façamos um trato. Se eu ganhar, você vai ter que me presentear com um oral. Caso contrário, eu vou ter a grande honra em chupar você.
Abri um sorriso e estendi minha mão para Sana, que a pegou, balançando umas duas vezes antes de voltar a segurar seu taco.
- Gosto dessa ideia. - Sussurrei para ela, que sorriu e acertou forte na bola branca. - Eu fico com as ímpares.
- E que comece o jogo.
Ah, isso com certeza vai ser ótimo!
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