Capítulo 9 - Rumo a um piquenique
Acordei antes do celular despertar. Não sabia como lidar com meus sentimentos, com os sentimentos de Clarisse e tudo mais. Não sabia como lidar com aquele dia. Enquanto me arrumava e tomava um café quente para ir a escola, pensava bastante a respeito do dia anterior.
"Aquilo havia mesmo acontecido?, sim. "O que devo fazer agora? Como devo agir?", não sabia.
Não sabia se deveria tratar ela apenas como amiga, se deveria contar o ocorrido para a Allana e o Léo. Não sabia qual seria a reação deles ao saber. E saber o que? O que aqueles beijos significam? Realmente, eu estava perdida em pensamentos.
Cheguei a escola alguns minutos mais cedo e isso era novidade. Entrei na escola e avistei Allana encostada em seu armário conversando com Daniel, um amigo do Léo que sempre foi louco por ela e ela sempre o desprezou.
- Bom dia! - Falei enquanto me aproximava deles.
- Meu Deus! Você chegou cedo? Caiu da cama? Que evolução. - Disse Allana enquanto ria e me abraçava.
- Pois é, milagres acontecem. Oi, Mi. - Disse Daniel se inclinando para me beijar na bochecha.
Não gostava daquele carinho todo que essas pessoas costumam ter. Sempre achei desnecessário abraços e beijos alheios. Mas o que eu poderia fazer?
Daniel se afastou e foi conversar com alguém do outro lado do corredor e lamentei por isso quando olhei para Allana e vi sua expressão de "eu vou matar você" estampada em seu rosto.
- Eu vou matar você.
- Ei, calma. Me desculpa. Eu não queria desligar na sua cara, juro.
- Você desligou na minha cara, Mirele. Mas não é só isso. Você tem me evitado, tem estado distante e estranha desde sexta ou sábado, se não me engano. Vai me contar o que esta acontecendo? - Então ela cruzou os braços e me encarou feio.
Eu não sabia se deveria contar a ela. Tudo bem que ela era minha melhor amiga mas ela nunca foi compreensiva o bastante, madura o bastante. Suspeito que se fosse o Léo me fazendo essa exigência, já teria lhe contando tudo e pedindo conselhos.
- Não esta acontecendo nada, Allana. Tenho passado muito tempo pensando. Nosso último ano, certo? Estou muito tocada em faculdade. É isso! Estou estudando no meu tempo livre.
- Sei. Por que não me chamou para estudar com você? Sempre fez isso.
Eita. - Bom, tentei fazer isso sozinha. Nada pessoal.
- Okay. Vou fingir que acredito nessa sua desculpa até você tomar coragem para me contar a verdade. - Ela sempre sabia quando estava mentindo.
Seguimos rumo a sala de aula e entramos. Nos sentamos no fundo, como sempre.
Meu celular vibrou no bolso da calça. Era um sms e eu o abri.
"Bom dia, flor do dia. Espero que tenha dormido bem. Me encontre na tenda do estacionamento. Vamos fazer um piquenique.
Clarisse."
Era ela. Um piquenique? Precisaria comprar algo para levar até a tenda. Esperava que ela me contasse tudo que havia para me contar.
O tempo passou muito devagar e quando as aulas do dia se acabaram, peguei minhas coisas e fui até a cantina da escola comprar um pouco de suco de laranja natural e alguns cupcakes.
- Para que isso? - Era o Léo me perguntando com um sorriso no rosto. - Quanta fome...
- É, muita. - Comecei a andar. - Preciso ir, depois ligo para você. - Pude ver estampado no rosto dele, quando dei uma olhada para trás, o jeito como não gostou disso.
Chegando no estacionamento, a poucos passos da tenda que havia ali, pude ver Clarisse deitada sobre um lençol ao lado de algumas cestas de piquenique.
- Cheguei. Demorei? - Ela se sentou.
- Oi, demorou. Quase fui embora. Ia mesmo me da um bolo?
- Não. Fui comprar algumas coisas. - Me sentei ao lado dela e coloquei as sacolas de papel a lado das cestas.
- Então vamos comer. Trouxe algumas coisas bem gostosas e uma torta que eu mesma fiz. Pode se deliciar com meu talento culinário - ela riu. - E depois vamos conversar. - ela respirou fundo. - Preciso lhe contar algumas coisas, certo?
- Certo.