Ex namorada? Clarisse tinha uma ex namorada? Sim, ela tinha. E eu estava indo conhecê-la. Caramba!
- Ex namorada? - Perguntei meio engasgada.
- Sim, mais ou menos isso. Não há nada para se preocupar. Não se garante? - Ela riu como se houvesse algo para rir. Eu não vi graça alguma.
- Não estou rindo. - Joguei o cabelo para trás e encarei a janela ao meu lado.
- Pois deveria. Fica linda quando sorri.
Ela continuou rindo por alguns segundos e eu não entendi o motivo mas preferi ignorar. Não havia nada para discutir e nem para comentar. Ficamos em silêncio até que finalmente Clarisse estacionou o carro. Paramos em frente a uma casa pequena mas bem arrumada, em uma rua sem saída e meio deserta.
- Chegamos. - Disse ela abrindo a porta e pulando para fora do carro e eu fiz o mesmo. - Se comporte mocinha, não deve sentir ciúmes. Nunca fui apaixonada por ela. Deve saber disso.
- Não sinto ciúmes, não se preocupe. - Fui para perto dela e segurei sua mão.
- Se você esta dizendo... Então, vamos. - Ela saiu um pouco mais a frente e me puxando. Tocou a campainha da casa e esperamos alguns minutos até uma garota abrir a porta.
- Clarisse? - Ela olhava para Clarisse um pouco assustada e talvez aliviada. Era uma garota com cabelos castanhos, ondulados e médios. Mais ou menos do meu tamanho e usava jeans e moletom. Não muito feminina mas muito bonita. Muito mesmo. - Caramba, eu não acredito. - A garota saiu para fora e puxou Clarisse para um abraço apertado. Quando a soltou finalmente olhou em minha direção e sorriu amigavelmente. - Olá.
- Oi, sou Mirele.
- Sou Joana, prazer. - Apontou para a casa, pediu para que entrássemos e foi o que fizemos.
- Clari, como você esta? Não tive noticias sua. Procurei por você em tantos lugares, perguntei sobre você para tantas pessoas. Por que não me ligou? Por que sumiu assim? Cara, você merece um murro. - Havia uma expressão de preocupação em seu rosto e uma de divertimento no de Clarisse por vê-la preocupada. Eu apostava na tentativa de fazer cara de paisagem.
- Sentem-se. - Joana apontou para o sofá e nos sentamos. Ela se sentou no outro sofá, bem a nossa frente.
- Me desculpa, Joana. As coisas estiveram bem loucas depois da morte dos meus pais. Eu estive bem louca. - Respondeu Clarisse.
- E o que trouxe vocês até aqui? - Joana perguntou.
- Vou direto ao ponto. Preciso que você testemunhe ao meu favor, preciso que diga ao juiz como era meu pai, como eram nossas vidas.
- Claro, veio pedir um favor... - Um olhar desapontado surgiu. - Olha, você sabe que faço tudo que estiver ao meu alcance para ajudar a você. E suspeitei que precisaria disso. Conte comigo.
- Caramba, sabia que seria fácil. Você é mesmo incrível. - Ela correu para o lado de Joana e a abraçou. - Obrigada, Jô. Obrigada, mesmo.
- Para com isso, garota. Não precisa agradecer, você sabe. - Elas sorriram uma para a outra e Clarisse se levantou.
- Vou ao banheiro e já volto. Comportem-se na minha ausência. - Disse Clarisse enquanto caminhava em direção a um corredor.
Joana me encarou e suspeitei que teria perguntas a me fazer assim como eu tinha para fazer a ela. Estava tentando me conter, porém ela não.
- Bom... Então você é uma amiga nova da Clari?
- É, por ai.
- Sei. Fazem um belo par. - Ela disse com um meio sorriso um tanto debochado e eu me fiz de desentendida. - Eu vi ela acariciando sua mão enquanto estavam sentadas. E vocês chegaram de mãos dadas. Clarisse não é assim com amigas. Eu sei.
- É, estamos juntas. Espero que não seja um problema para você. - Respondi enquanto me endireitava no sofá.
- E se for?
- Você terá que lhe dar com isso.
Seu sorriso havia desaparecido. - Não se preocupe. Não bancarei a ex namorada ciumenta. Essa não sou eu. Gosto muito da Clarisse, gosto mesmo. Mas as coisas entre nós acabaram faz tempo. Por sorte, nos restou o carinho e a amizade que temos uma pela outra.
- Ótimo! - Pretendia encerrar o assunto ali mesmo. Mas ela não.
- Como acabei de dizer, gosto muito dela, mas preciso alertar você. - Ela estava séria.
- Sobre o que? - E eu estava começando a me sentir incomodada com aquela garota.
- Clarisse é uma ótima pessoa, mas é maluca. E se você não se cuidar ou se acabar cuidando dela demais, também ficará maluca. Ela vai fazer dela a sua vida e das preocupações dela as suas. Não estou dizendo para deixá-la, só para tomar cuidado. A qualquer momento ela pode fazer uma loucura ou sumir e você ficará sem saber o que fazer. Ela sempre foi imprevisível e nunca soube lidar bem com a dor e seus problemas, imagine agora. Ela matou a própria mãe por acidente e, pelo visto, só tem você. Portanto, isso torna dela uma bomba relógio. - Ela olhou para ver se Clarisse estava vindo e continuou. - Ela explodirá a qualquer momento. Ela esta mentindo para si mesma dizendo que esta bem. Cuidado para não explodir junto.
Eu não sabia o que dizer, claro. Aquela garota provavelmente conhecia Clarisse muito bem e eu estava em desvantagem. Como diria a ela que estava errada e que Clarisse ficaria bem se eu não sabia ao certo.
- Não acho que esteja totalmente certa. Ela não fará nenhuma loucura. - Disse a ela.
- Talvez sim, talvez não. Como eu disse, só estou alertando-a.
- Que sabonete cheiroso. - Clarisse foi em direção ao sofá, pegou sua mochila e jogou sobre os ombros. - Joana, precisamos ir. Eu ligo para você ou apareço por aqui outro dia. Meu advogado entrará em contado, tudo bem? E, obrigada.
Elas se abraçaram e se despediram. Tentei esconder minha insatisfação por ter conhecido Joana e segui Clarisse porta a fora.
Ela ligou o som do carro e cantava alto todas as músicas que tocavam. De vez em quando olhava para mim e sorria. Até seus olhos sorriam para mim.
Seria possível aquela garota me explodir de alguma outra forma que não fosse de amor?
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