A chuva parecia ter ficado mais forte, agora relâmpagos e trovões participavam da sombria reunião entre padrões e excluídos à espera de um desfecho. O poder que emanava de Crackstone era impetuoso e Martínez estava certamente assustado com o que poderia acontecer.
— Você não pode fazer isso, a magia desse seu artefato é muito perigosa! — Disse o diretor ao avançar até Vincent em uma tentativa de trégua. — Você certamente não sabe o que está fazendo. — Concluiu.
A figura maligna à frente o observou a poucos metros de distância, bastou apenas um levantar de dedos para que o diretor voasse até os pés de seus alunos.
— Temos que sair daqui. Ele não vai parar, vamos para Beladona, lá é mais seguro — Martinez disse levantando-se rapidamente.
— Precisamos derrotá-lo! — Wandinha falou ignorando as ordens do diretor.
— Não temos chance, esse anel carrega muito poder, precisamos encontrar uma maneira de tirar da mão dele— Xavier ponderou.
O grupo correu novamente para o esconderijo secreto, ali estavam protegidos apenas pelas grandes paredes de cimento envelhecido de centenas de anos atrás.
— Isso tudo é culpa sua — Wandinha apontava para o diretor.
— Minha? Não fui eu quem me meti no covil de um velho psicopata e destrui a casa dele. — Martinez descontou.
— Já chega — Bianca tomou o controle. — Eu não sei o que de fato está acontecendo aqui, mas precisamos de um plano.
Enquanto todos discutiam, Tyler furtivo verificava a imensa variedade de artefatos que o cômodo guardava. Por fim achou o mapa de Nunca Mais e o jogou sobre a mesa, fazendo com que todos se calassem e prestassem atenção no que o garoto tinha para falar.
Aquele não esperava tanta atenção, ainda não se sentia parte daquele grupo, a insegurança ainda se fazia presente em seus movimentos. Um pouco desajeitado pegou alguns alfinetes e finalmente expôs seu plano.
— Precisamos nos dividir, Bianca, Ajax e Yoko podem interceptar facilmente os quatro padrões. Bianca e Yoko irão distraí-los e os levarão até o banheiro feminino, chegando lá a Górgona os petrifica.
Ajax não gostou da forma como Tyler se referiu a ele, apesar de ser verdade. O garoto soltou um sorriso irônico e falou:
— E os outros três que restaram?
— Bom… Xavier e diretor Martínez conseguem despista-los, levem eles até a cabana. Lá Xavier terá inúmeras opções para interceptá-los. O que é bem melhor do que as aranhas que ele desenhou agora a pouco— Disse em resposta.
— Vai ser moleza — Xavier ressalta.
— Wandinha e eu ficamos com os que restaram, na primeira oportunidade devemos retirar o anel, ou até mesmo arrancar a mão de Vincent se for preciso— Tyler continua.
— Eu fico com Vincent, já lutei com seu antepassado antes, vai ser moleza— Wandinha se pronuncia interrompendo Tyler e caminha até uma armadura antiga para puxar a velha espada de aço que supostamente pertencia a Joana D'arc— Vamos derrotar esse padrãozinho.
Todos já sabiam sua posição. Crackstone já tomava posse do castelo. Observava todos os cômodos à procura de algum excluído. O que não esperava era que Martinez já havia dado a ordem para evacuação de seus funcionários desde a descoberta da possível invasão.
Quatro dos capangas de Vincent estavam guardando a entrada de Nunca Mais, enquanto os outros três procuravam pelos excluídos do outro lado do jardim.
Bianca e Yoko se fizeram presentes no campo de visão dos garotos que as olharam surpresos, apesar de prontos para revidar. A sereia e a vampira começaram a atacar propositalmente os padrões. Bianca usou um pouco da água do bebedouro ali perto e Yoko fez um pequeno grupo de morcegos atordoar os rapazes, sem perceberem eles trilharam o caminho da armadilha que os levou até o banheiro feminino onde Ajax esperava pronto para transformá-los em estátuas.
Enquanto isso, Martinez e Xavier se preparavam para agir.
— Ei, seus idiotas! — Xavier gritou em direção aos outros três restantes.
Aqueles imediatamente partiram em direção ao artista que não perdeu tempo em fugir dali, e por mais rápido que Xavier tentasse correr parecia não ser o bastante. Ao olhar para trás viu que já estavam na sua cola, o que causou um certo pavor no garoto.
Xavier viu os três padrões o alcançarem, não havia mais o que fazer, então parou e observou seus inimigos que agora estavam lado a lado bloqueando a passagem.
— Não tem mais para onde fugir excluído de merda. — Disse um de seus adversários.
— Você tem razão, então vou ter que acabar com vocês — Xavier disse enquanto sorria — Estão com medo? — Zombou.
Os súditos de Crackstone se incomodaram com a brincadeira do rapaz, os três deram passos agitados até o garoto, prontos para descontar seu ódio, mas logo um deles decidiu cuidar sozinho de Xavier, em uma possível tentativa de mostrar todo seu poder, tanto para seus aliados como para seu inimigo.
— Deixem comigo. Esse merdinha vai se arrepender.
Aquele sem nenhum remorso saiu em disparada na direção do garoto que não se moveu nem um único centímetro, apenas soltou mais risos ao ver o brutamontes se aproximando.
— Agora! — Xavier gritou.
Martínez saiu dos arbustos e com um leve balançar de braços conjurou mais um de seus truques. Criou correntes luminosas que se prendiam aos pés dos inimigos indo em direção ao solo.
— Como eu disse, agora vou acabar com vocês.
Xavier move sua mão delicadamente, logo se escuta um rugido ensurdecedor vindo de sua cabana. A porta de madeira vai ao ar revelando mais uma de suas criações. Uma especie de Triceratops negro, com os olhos avermelhados que antes estava preso em um dos murais do artista na cabana.
A criatura correu em direção dos prisioneiros que olharam assustados, sem acreditar que aquilo era realmente possível, até mesmo Martínez ficou impressionado com todo o poder que Xavier guardava em suas pinturas.
Durante todo o tumulto causado por Xavier e Martinez, Wandinha e Tyler seguiram em passos silenciosos para dentro da escola. Vasculharam alguns cômodos até encontrarem Vincent na sala do diretor, descansando na poltrona que antes pertencia a Martínez.
Wandinha empunhou a espada e junto a Tyler entraram vagarosamente prontos para decepar a mão do mais velho.
— Não é magnífico a vista daqui de cima? — Vincent pergunta se virando e observando os dois jovens, quebrando assim qualquer ideia de ataque furtivo.
Tyler e Wandinha logo perceberam que havia dois policiais armados com a mira virada para eles, esperando apenas o comando de Vincent para disparar. Donovan, apontava o cano de sua pistola para seu próprio filho e Michael se concentrava em Wandinha.
— Pai! Isso é loucura, abaixa essa arma — Tyler dizia desesperado.
Donavan parecia confuso em suas ações e Vincent observou isso. Aquele não poderia perder mais súditos, com isso ordenou para acabarem logo com isso.
— Atirem!
Tyler conseguiu ouvir um tiro, que saiu da arma de seu pai. O garoto ficou imóvel por alguns segundos até perceber que o projétil não foi em sua direção e sim na direção de Michael que agora estava no chão, completamente inerte, agora nada mais era além de um cadáver.
Donovan e Tyler se olharam, ambos surpresos com aquela decisão. O mais velho caiu no chão e se ajoelhou deixando algumas lágrimas caírem, não aguentava mais tudo aquilo, percebeu o que fez por todo esse tempo. Apenas alimentava um ódio que não fazia sentido. Se arrependia profundamente do que fez com sua esposa e do que estava fazendo com seu filho.
— Me desculpe, filho. Por favor me perdoe— Aquele proferiu descompassadamente, aos soluços.
Tyler não conseguia dizer nada, não poderia perdoar a pessoa que ajudou a torturar seu próprio filho e matar sua própria esposa. Talvez o garoto sentisse mais ódio do que imaginava contra seu pai, que mesmo ali implorando por perdão parecia miserável a seus olhos. Por um lado desejava a sua morte, mas por outro tentava ser compreensivo, pois sabia que qualquer uma das decisões iria perturbá-lo para o resto de sua existência.
Um clarão de luz foi em direção ao policial, o poder de Vincent o atingiu de maneira certeira, o homem que ainda se encontrava com os olhos fixos no filho aos poucos foi se desintegrando, toda sua pele se transformou em poeira e logo sumiu ao ser arrastada pela brisa que escapava pela janela aberta.
— Pai, não! — Tyler gritou em um misto de sentimentos.
— É o que dizem. Tal pai, tal filho— Vincent pronunciou ao fitar o garoto agora enfurecido.
Movido pela raiva, Tyler começou a se transformar, suas garras se fizeram presentes, deixando alguns pingos de sangue caírem sob a tapete aveludado. Sua visão agora era dez vezes melhor e conseguia farejar um inseto a quilômetros de distância. Suas presas foram se formando lentamente. Normalmente essa transformação o causava dor, sua pele era arrancada de seu próprio corpo e trocada por a de um monstro, mas naquele momento Tyler não sentia nada além de ódio por tudo que lhe fora causado, queria acabar de uma vez com todo aquele show sem sentido.
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