Hoseok umedeceu os seus lábios, ofegante, erguendo o olhar para checar em mim que também tentava recuperar meu fôlego. Sequer sabia se ainda tinha forças para levantar minha própria cabeça para encontrar o olhar do meu namorado. Quando finalmente o fiz e encontrei seu olhar no meu, eu sorri.
— Você é tão fofinho, xuxu, tão fofooooo. - Eu disse, olhando cansado pra ele, estiquei as mãos para apertar a sua bochecha com força. Ele franziu o rosto irritado, sacudindo a cabeça para se livrar do meu aperto, com um olhar de quem não entendia nada. Se ergueu com os cotovelos no colchão e levantou uma sobrancelha para mim.
— Eu literalmente acabei de te fazer gozar com beijo grego e é isso que 'cê tem a dizer pra mim? Que eu sou fofo? - Ele se ergueu mais ao falar claramente indignado, ainda tinha as minhas duas pernas erguidas uma de cada lado de sua cabeça, apoiadas em seus ombros. Era engraçado.
Gargalhei jogando a cabeça para trás no travesseiro da minha cama. Alto e grosso, meu sorriso estampando uma grande parte do meu rosto.
— Mas você é! 'Tava a coisa mais fofa desse mundo me chupando. Muito fofinho, Hobi! Vem cá. - Eu ri dele, todo dengoso estendendo minhas mãos de novo e sinalizando que eu o queria mais perto de mim. Ele sorriu revirando os olhos e passou as mãos pelas minhas coxas ainda suspensas em seus ombros, deixou uma última mordida brincalhona em uma delas, me fazendo soltar um gemidinho fino e me arrepiar todo, porque eu ainda estava sensível e sabia que ele adorava ficar me provocando depois que eu gozava.
— Eu 'tô perdendo toda minha moral com você, não tô? - Ele brincou, finalmente soltando minhas pernas para subir até mim, no caminho, tomou seu tempo para beijar minha barriga e recolher os resquícios de meu prazer que ainda estampavam minha pele, eu tentei suprimir os gemidos chorosos que eu quis soltar enquanto ainda tremia de leve, o segurei pelos cabelos com mais força o puxando para cima a força quase como se o pedindo para parar, mas aparentemente, para Hoseok, brincar com a hipersensibilidade de meu corpo era muito divertido.
— Claro que não... - Respondi quando o puxei de vez pelo rosto até que nossos narizes estivessem colados, suas duas mãos apoiadas ao lado de minha cabeça e as minhas apertando os cabelos em sua nuca. - Só que você tem que diferenciar, sabe? Porque depende... - fiz um biquinho explicando. - às vezes você é meu daddy, às vezes você é meu Hobi. E meu Hobi é fofo. Muito muito muito fofo. - Comecei a rir enquanto dizia e o beijava ao mesmo tempo, intercalando as últimas palavras com pequenos selos travessos em sua boca.
— E o daddy não é? - Ele ergueu a sobrancelha de forma desafiadora questionando, eu sabia que dependendo da minha resposta eu poderia me encrencar bastante em um futuro próximo.
Porque quando Hoseok quer investir no roleplay, eu, supostamente uma criatura pagã, me vejo tendo que pedir a Deus por piedade.
— Também é... mas eu acho que se eu falasse isso pra ele, ele não ia gostar, então fica entre a gente. - Eu respondi brincalhão fazendo cafuné nos cabelos, tocando meu nariz de leve no dele. Todo manhoso, com os melhores olhos de filhotinho que consegui.
— Hmmm... vamo torcer pra ele não descobrir então. - Ele respondeu sorrindo junto da minha boca e ao mesmo tempo levou suas mãos para começar a me fazer cócegas nas laterais da barriga ainda sensível, me fazendo contorcer na cama enquanto tentava o expulsar de mim, soltando uma risada daquelas, alta do jeito que ele tanto dizia gostar.
— Para para paraaaaa! - Eu exclamei tendo que pausar várias vezes, tentando conter as risadas que as cócegas dele me causavam, já chegava ao ponto de eu sentir dor na barriga de tanto rir e ter que o bater com força no peito, porque eu realmente ia morrer de rir. Se ele não parasse eu juro que eu ia fazer xixi.
Depois de eu implorar muito, e vendo que eu estava com lágrimas nos olhos, ele teve pena de mim e parou com as cócegas, me deixando respirar aliviado e continuar a bater no seu peito, mesmo que eu soubesse que ele não sentia dor nenhuma com aquilo. Ele segurou meus pulsos e os colocou no colchão acima da minha cabeça, me imobilizando e arrancando mais um gemido de reclamação meu.
— 'Cê é a coisinha mais linda que existe nesse mundo, sabia? - Ele sorriu com o rosto à minha frente, tão, tão perto que eu podia ligar seus poros como constelações de estrelas e contar seus cílios um por um. Eu corei com o elogio.
Porque sim, mesmo depois de um tempo de namoro, eu ainda corava toda vez que ele me chamava de coisinha linda.
— Já me falaram algumas vezes, é que eu não posso evitar sabe, é meu jeitinho. - Eu brinquei, fazendo uma expressão de desinteresse para ele, olhando pro lado.
Ele me fez calar a boca, me beijando.
Eu sorri me derretendo e deixando minha língua encontrar a dele, de novo e de novo e de novo. Mexi meus pulsos, mostrando que eu queria me mexer e ele facilmente os soltou de cima da minha cabeça, me deixando passar as minhas mãos por sua nuca, seu pescoço, suas costas fortes, sua pele cheia de marcas de luta. Me deixando tocar todinho enquanto ele fazia o mesmo comigo. Ele colocou os dois braços por baixo do meu corpo, me abraçando pela cintura, facilmente me erguendo com ele para me beijar sentado em seu colo, me apertando tão forte contra si como se achasse que eu fosse fugir. Até parece.
Nos beijamos muito, incansavelmente, como sempre fazíamos, eu e ele.
Nossas bocas sempre exigindo voltar uma a outra como se a cada segundo distante fosse um grande sacrifício. Até as pausas para respirar eram poucas, porque eu precisava tanto dele e ele de mim que de repente o ar sequer parecia tão necessário. Respirar é legal, mas não é melhor do que beijar Jung Hoseok. E eu tecnicamente já 'tava morto mesmo.
E eu o amava tanto, tanto.
Não, gente, vocês não estão entendendo não. Eu o amava tanto, mas tanto, que eu chegava a me assustar com todo o amor que eu sentia quando eu olhava pra ele.
Eu olhava pra ele e me assustava pensar em tudo o que eu faria por aquele garoto.
Toda santa vez, inferno. Toda santa vez que eu via a expressão atordoada e ofegante que ele tinha em seu rostinho quando nossos lábios se separavam depois da gente se beijar por muito tempo e ele parecia que precisava demorar um pouquinho pra voltar pra terra, toda santa vez que eu sentia o jeito que ele dormia me abraçando, que ele me acordava de madrugada porque tinha espasmos involuntários que me faziam mexer também. Eu não conseguia nem ficar com raiva, porque a visão do rosto de Hoseok enquanto dormia, sem nenhum resquício da dor ou do rancor que eu sempre percebia ali, era uma visão que nunca me cansava, então eu olhava pra ele até cair no sono de novo.
Toda santa vez que a gente saía com amigos e provocava ele com as mãos habilidosas debaixo da mesa, mantendo um olhar inocente, apenas por tempo o bastante até ele ficar puto e ter que ir me punir numa cabine de banheiro. Toda santa vez que ele estragava meu gloss de propósito bem quando eu 'tava finalmente acabando de aplicar, me virando pela cintura e me sentando na pia de uma vez só pra me beijar até que todo o trabalho que eu tinha tido fosse jogado por água abaixo. Eu batia nele logo depois, reclamando, chorando e fazendo bico porque gloss era caro. Ele se limitava a dar um sorrisinho ladino e adivinhar o sabor do gloss depois, como se não tivesse feito nada, acredita?
Juro, ele simplesmente falava "cereja" depois de ter me bagunçado todo daquele jeito, me dava um último selinho e saía do banheiro. Vê se pode um negócio desse.
Toda santa vez que ele falava "essa camisa é minha" com uma sobrancelha arqueada, me vendo indo do quarto pra sala, enquanto me esperava no sofá - segurando um balde de pipoca enquanto o pratinho com brigadeiro ficava na mesa, porque ele sabia que era assim que eu gostava - e eu respondia que sim com um sorrisinho travesso, logo sentando no colo dele e o fazendo revirar os olhos.
— Qualquer dia desse eu vou ficar sem roupa por sua causa, bebê. - Ele falou, um dia, enquanto eu já me atracava todo nele abraçando sua nuca e escondendo meu nariz no seu pescoço.
E sim, ele não cansava de arranjar apelidinho pra mim, juro por Deus que ele me chamar de Taehyung acabou virando raridade, e também não é como se eu achasse ruim. Eu gostava de "bebê", achava fofo.
— Deixar você sem roupa é exatamente minha intenção. - Eu disse baixinho com um sorrisinho travesso e com os lábios ainda em seu pescoço, o senti rindo e me dando um beliscão no quadril onde sua mão me segurava. Fingindo me repreender, quando na verdade não tinha qualquer chance contra mim.
Porque deixa eu falar, Hoseok gostava muito de fazer toda essa pose de hard dom, malvadão e rígido, e eu também não tô reclamando, eu amava, meu Jesus Cristo como eu amava… mas a verdade é que não importava toda aquela pose dele, ele era todo soft por mim, caidinho. E eu sempre acabaclarova tendo tudo o que eu queria, depois de apanhar um pouquinho, , mas que eu tinha tudo o que eu queria, eu tinha.
Hoseok era derretidinho por mim, quase, quase tanto quanto eu era por ele.
Também toda santa vez que eu colocava uma lingerie bonita, daquelas que ele me dava ou das que eu comprava mesmo, com direito a persex na coxa, tiras na cintura e quimono de seda, que eu já deixava cair dos meus cotovelos enquanto eu ia pra cama com tanta ansiedade quanto vergonha, porque ele me olhava de onde ele sentava na cama, com olhos tão cheios de adoração que era como se eu fosse o último homem que existisse no mundo, como se eu fosse a última pessoa que existisse no mundo.
E esse olhar de Hoseok, de completa devoção, que aparecia nos primeiros poucos segundos antes de se transformar num de provocação ou de malícia. Esse olhar que me fazia sentir visto, transparente, completamente despido. Era meu preferido.
— Se arrumou todo pra mim, coisinha linda? - Ele não demorava pra querer me irritar, com um sorriso convencido e uma sobrancelha levantada enquanto me olhava de cima pra baixo, me comendo com os olhos.
Ele sempre falava isso e sempre sabia que eu tinha a mesma reação: revirar os meus sem paciência, o que contrastava um pouco com o fato de ao mesmo tempo continuar me aproximando para me ajoelhar por cima dele.
— Eu me arrumo pra me sentir bem comigo mesmo. - Eu empinava o nariz todo emburrado e ele ria da minha birra, já passando as mãos nas minhas coxas e roçando aquele sorriso safado no meu pescoço.
— Uhum. - Idiota.
— Não pra agradar homem nenhum. - Eu tentava continuar firme, mas já me arrepiava com seus toques passando das minhas coxas pra minha cintura.
— Claro, claro... - Aquele filho da puta ainda debochava e começava a me deixar a clássica trilha de beijos em meu pescoço. Eu tentava não ceder mas ficava difícil pra mim manter a linha de pensamento.
— Nem tudo o que eu faço é em função de te agradar, seu convencido. - Eu já nem sabia se falava ou se gemia, já que minha voz saia quebrada porque ele chupava bem naquela partezinha do pescoço que eu gostava.
— Sim, senhor... - Ele respondia sem nem ligar pro meu discurzinho e eu conseguia sentir aquele babaca rindo no meu pescoço, porque sabia que eu já 'tava entregue faz tempo. Sinceramente, no terceiro chupão eu nem sabia mais o que eu ‘tava falando, deixava a militância de lado pra segurar seu rosto e obrigá-lo a me beijar. Me deixava rir junto com ele e então beijava o oxigênio pra fora dos seus pulmões até que ele ficasse completamente sem ar, o jogava na cama depois e prendia seus pulsos do lado do seu rosto.
— Você é um idiota.
E então ele me beijava, ou eu o beijava. Sinceramente depois de um tempo sequer me importava mais como os beijos começavam, apenas aquela sensação gostosas das mãos dele pelo meu corpo de da sua boca colada na minha.
Eu gostava de fazer cenas com Hoseok. Eu já havia tido experiências algumas daquelas coisas antes, afinal, como já disse, nunca fui nenhum santo.
Mas Hoseok… pelo amor de Deus. Hoseok gostava de me fazer experimentar coisas que eu nunca tinha experimentado antes, que eu nem sabia que existiam antes, e eu amava.
Eu amava como ele conseguia me mostrar de quantas várias e diferentes formas ele conseguia me fazer sentir prazer e me levar além do limite que eu sempre achava que eu havia chegado, mas não havia. Mais do que isso eu gostava do quanto era sexy o jeito que ele pedia pelo meu consentimento antes de fazer coisas mais pesadas, sussurrando no meu ouvido todas as loucuras que ele queria fazer comigo, me perguntando no fim, provocando, se eu queria também, se o docinho dele deixava. E eu deixava. Eu me deixava ser amarrado, deixava ele me colocar uma coleira, uma venda, ou os dois ao mesmo tempo. Deixava ele me chamar de putinha e todos os derivados. Deixava ele arrastar gelo com a boca no meu corpo, comigo amarrado na cama, até que eu estivesse quase chorando, gritando, implorando pra gozar porque o anel que ele colocava no meu pau me deixava à beira de um colapso. Deixava ele me colocar numa mordaça quando ele me mandava calar a boca e eu não calava. Deixava ele fazer absolutamente o que quisesse comigo.
Numa vezinha, quando a gente ‘tava meio bêbado, depois de uma boa dose convencimento, junto com muito choro e olhos pidões de minha parte, e d muita, muita, muita preparação, ele até deixou eu fazer o que eu quisesse com ele. Sim. Isso mesmo.
E, deixa eu falar pra vocês, que até dando pra mim Hoseok conseguiu ser o dom mais insuportavelmente gostoso desse mundo. Ele sequer me deixava fazer nada direito. Foi uma delícia.
— Gostou? - Eu perguntei, ainda recuperando meu fôlego e olhando pra ele, de cima pra baixo, descansando em seu peito.
— Foi... foi bom, só... diferente. - Ele me olhou travesso, passando o dedão para limpar a lágrima que ainda havia em meus olhos, resquício do meu orgasmo, e que orgasmo. - Eu nunca tinha tentado.
— Eu também nunca tinha... - Sorri, sem graça. - Eu gostei, muito até… Mas não sei se vou querer outra vez. - fiz um biquinho.
— Por quê, bebê? - Hoseok pareceu se preocupar, tirando uma mecha para de trás de minha orelha com cuidado, provavelmente medo de ter feito algo errado.
— Eu senti falta do seu pau. - Eu confessei depois de segundos. - E seus quadris fazem um ótimo trabalho sentando, mas não tão bom quanto fazem me comendo. - Dei de ombros.
A gargalhada que ele deu depois disso fez meu coração, como sempre fazia, pular dentro do meu peito. Ele logo trouxe meu rosto pra perto do seu, apertando minhas bochechas.
— 'Cê 'tá muito atrevidinho pro meu gosto, bebê. - Ele levantou uma sobrancelha pra mim, seu olhar ficando mais sugestivo.
— Me pune, então. - Eu respondi, mordendo o lábio inferior, o desafiando de volta, ainda mais atrevido.
Depois daquilo ele me virou de uma vez na cama e bem... o resto 'cês já imaginam.
Ele me puniu e eu deixei. Eu sempre deixava.
Porque na cama, eu era como massinha nas mãos de Jung Hoseok, ele me moldava, me desfazia e desmontava todo só pra depois juntar tudo novamente, colocando cada parte minha de volta no lugar, me fazendo adquirir formas que eu nunca imaginei que eu conseguiria ter, mas que eram bonitas, e ele fazia questão de dizer o quanto eram. Inflando meu ego a cada sacanagem que ele sussurrava mordendo meu ouvido.
Hoseok era bom. Era tão, tão bom. Era absurdo o quanto ele era bom, era injusto o quanto ele era bom.
E me deixava doente ver que ele não pensava isso sobre si mesmo, me deixava enjoado ver que ele se maltratava tanto. Porque para Hoseok, tudo era sobre me elogiar, me fazer sentir bem, querido, amado. O que definitivamente ele não se importava em fazer consigo mesmo. Ele se maltratava tanto, e por um lado, eu entendia suas razões.
Aquela vez, depois daquela noite no bar, não foi a única que ele me apareceu machucado depois de um chamado difícil. Depois daquela houve várias, mais do que eu gostaria.
Às vezes a gente 'tava no meio de um restaurante e ele tinha que sair correndo porque Jungkook ligava dizendo que estavam precisando deles dois. E ele saía apressado, me deixando com nada além de um selinho nos lábios, uma cadeira vazia na minha frente, um coração apertado e um prato de sobremesa que, por mais que eu amasse muito, eu não conseguia mais ter apetite pra comer.
Às vezes, também, os chamados eram no meio das madrugadas, e normalmente a gente sempre 'tava dormindo junto. Hoseok atendia o celular sonolento e tentava sair do meu abraço de coala o mais discretamente possível, com todo o cuidado do mundo para não me acordar, mas eu sempre acordava, todo atordoado e irritado porque meu travesseiro estava levantando pra ir embora assim do nada.
— Xuxuuu... - Eu gemia com a voz sonolenta e chorosa, usando toda a força que eu não tinha pra erguer meu torso com a mão apoiada na cama, olhos inchados enxergando a sua silhueta esbelta se vestindo no escuro do quarto, iluminada apenas pela luz da lua que passava pelas frestas.
Eu via também ele colocando as estacas e munições dentro de sua jaqueta. Aquilo me arrepiava e eu ficava mais preocupado ainda.
— Eu tenho que ir, bebê. - Ele falava, segurando meu rosto pra me dar outro daqueles selinhos de despedida que eu não gostava nenhum pouco. - O Kook vai comigo, fica tranquilo. Volta a dormir, 'tá tarde. - Ele tentava me confortar ao máximo, me dando um último beijo na testa antes de voltar a se arrumar pra ir embora. Aquilo nunca me confortava por completo.
— Se cuida. - Eu pedia baixinho, vendo ele voltar a se arrumar, com meu coração apertado. E nada do que eu falava para Hoseok era mais sincero do que essas duas palavrinhas.
Com meus olhos já cheios de lágrimas que graças a Deus ele não podia ver por causa do escuro, eu suspirava e deitava de novo, em posição fetal, agarrando dois travesseiros de uma vez pra compensar a falta do corpo dele ali. Eu escutava a porta de seu quarto fechando quando ele saía e sentia frio, nem todos os cobertores do mundo sendo o suficientes para aquecer meu corpo do jeito que Hoseok aquecia.
Eu não conseguia dormir até ele voltar.
Às vezes ele voltava ainda de madrugada, me abraçando por trás e beijando meu pescoço depois de tomar um banho, satisfeito, dizendo que tinha corrido tudo bem e me pedindo, de novo, pra voltar a dormir. O que eu fazia, mas só depois de me virar pra ele e me atracar de novo em seu corpo com mais força ainda do que antes, apenas para ter certeza que ele ‘tava ali e que 'tava mesmo tudo bem.
Outras vezes bem menos frequentes, contudo, Hoseok demorava pra voltar, e quando voltava, voltava um caco. Doía em mim quando ele chegava com a boca cortada e os dentes sujos de sangue. Doía em mim quando ele voltava com hematomas no torso e dobras dos dedos roxas e inflamadas. Doía em mim quando eu via suas roupas rasgadas, quando eu via arranhões em suas costas.
Doía em mim, principalmente, quando ele chegava com mordidas em seu corpo. E doía em mim ver o quanto ele chegava puto por causa disso.
É óbvio que ele não xingava vampiros na minha frente, Hoseok era sensível comigo, era cuidadoso. Ele sabia que minha transformação era algo que ainda me trazia dor, e era a pessoa mais doce do mundo em relação a isso, nunca tocando no assunto a não ser que eu começasse, e, quando eu começava, sempre abrindo a boca apenas para falar palavras e conforto, de aceitação, de amor.
Mas é que seus olhos não conseguiam mentir tão bem.
E quando ele chegava batendo com os pés no chão, bufando de raiva, e tirando as roupas rápida e agressivamente com a cara fechada, não era difícil imaginar o que ele ‘tava pensando.
— Xuxu... 'tá tudo bem? Você 'tá machucado, deixa eu ir pegar-
— Não precisa, Taehyung. Volta a dormir. - Ele me cortava, com a expressão fechada e mandíbula travada. Quando ele me chamava de Taehyung... sem "bebê", sem "docinho", sem "coisinha linda", eu só sabia que tinha algo de errado. Aquilo quebrava meu coração.
Por isso mesmo que eu não voltava a dormir coisa nenhuma. Ficava tão emburrado quanto ele e levantava da cama para ir, também batendo os pés, pegar as coisas que eu sempre usava pra cuidar de seus machucados.
— Porra, Taehyung, eu disse que não precisava, não disse? - Ele falava se virando de uma vez pra mim, no escuro do quarto, quando percebia eu chegando com a caixinha, em um tom de brutalidade que ele quase nunca tinha comigo.
Mas bobo era ele se pensava que cara feia ia me afastar.
— E eu disse que você 'tá machucado, Hoseok. Agora cala a boca e senta aí. - Eu dizia ainda com a voz rouca de sono, mas com tanta brutalidade quanto ele. Porque se ele ia ser abusado e não me chamar mais de apelidinho, eu também ia. Eu também sabia fazer cara feia, ora.
E claro que ele ficava revirando os olhos e suspirando e achando ruim, orgulhoso e marrento do jeito que era, mas no fim sempre me deixava cuidar dele.
Depois de um tempo eu percebi que, nas poucas vezes que ele chegava naquele estado, normalmente era porque o chamado não tinha ido muito bem, então eu nem perguntava nada, me limitava a passar algodão úmido e limpar as feridas de seu corpo. Fazendo curativos onde ele precisava e soprando para fazer sarar.
Até porque eu nunca queria saber muito sobre os chamados de Hoseok, na verdade, e vocês imaginam por quê. Ele matava vampiros. Eu sou um vampiro, etcetera etcetera.
O pior era quando eu via as mordidas em seu corpo, em seu quadril, em seus braços, em suas pernas.
E doía em mim, também, mais do que qualquer outra coisa, porque aquelas marcas de dentes faziam um ótimo trabalho em me lembrar de quem eu era, do que eu era.
Vampiro.
E sabe o pior? Era que Hoseok nunca, nunca mesmo, faria nada para me magoar, para me machucar. Hoseok era provavelmente a pessoa mais protetiva de mim e dos meus sentimentos - junto com Yoongi, claro.
Mas ainda assim, mesmo sabendo que ele nunca ia ter essa intenção, ele me quebrava o coração, porque ele não percebia, mas mesmo no escuro eu notava o jeito com o qual Hoseok olhava para aquelas mordidas em seu corpo.
Com nojo.
Hoseok tinha nojo de vampiros, Hoseok sempre teria, e eu não exatamente o culpava, não depois do que aconteceu com seus pais.
Hoseok me contou sobre o que aconteceu. Em uma noite que a gente 'tava jantando lá em casa. Eu já sabia como eles haviam morrido. Yoongi havia me contado, mas eu nunca o quis perguntar nada. Queria que ele me contasse quando estivesse preparado para compartilhar daquilo comigo, que nem eu fiz quando o contei da minha transformação.
— A gente podia assistir O Bebê de Rosemary. - Eu disse, mastigando meu macarrão e com os olhos no celular, escolhendo um filme para vermos depois de comer. - Parece legal.
— Já vi esse... muito bom. - Hoseok disse, quase automaticamente, e quando eu olhei para ele percebi que seus olhos brilhavam diferente enquanto ele enrolava o macarrão no garfo. - Era o favorito da minha mãe. - Um sorrisinho apareceu no canto de seus lábios, um sorriso nada feliz.- Eu devo ter visto uma dez vezes com ela. Acho que vi pela primeira vez com 14 anos, ela nunca ligou pra esse negócio de classificação indicativa. Eu acabei nunca tendo medo, e mesmo quando eu tinha, ela ‘tava lá comigo.
— Ela devia ser incrível. - Eu comentei, tomando cuidado com cada palavra, eu sabia que era um assunto sensível.
— Ela era, os dois eram. - Hoseok suspirou, parecia juntar coragem dentro de si para falar as outras palavras. - Eu sinto falta deles, Tae. - Eu abri minha boca, mas nada saiu. Eu normalmente sempre tinha palavras na ponta da língua para responder meu namorado. Mas ali, todas sumiram. - Essa semana o Kook sonhou com eles de novo, acordou chorando. Eu pensei que isso fosse passar eventualmente, mas... acaba que acho que essas coisas nunca passam. - Seus olhos começaram a marejar e eu de repente tive vontade de chorar também.
— Você não precisa falar disso se não quiser, Hobi. - Eu estiquei minha mão pra segurar a sua por cima da mesa, meu coração se apertava tanto, eu não queria o ver daquele jeito.
— Eu quero, bebê. Falar com você ajuda, você me ajuda. - Ele respondeu, com um olhar sincero para mim.
Eu assenti e ele me contou tudo, tudo sobre a noite em que ele 'tava em um barzinho como qualquer jovem adulto e de repente teve a vida inteira arruinada em uma ligação de apenas alguns segundos. Tudo sobre a tempestade e o caminho difícil até o local onde tudo aconteceu, carregando Jungkook em suas costas com a força que sequer tinha, tudo sobre o reconhecimento dos corpos destroçados e da sensação de ter morrido junto com eles. Tudo sobre ter de cuidar de Jungkook depois disso, sobre ter que lidar com as crises de pânico e ansiedade de seu irmão no meio da madrugada ao mesmo tempo que tinha que lidar com suas próprias. Hoseok me contou dos episódios e de todas as vezes em que se machucou. Sozinho em seu quarto. Sempre sozinho.
E foi então que eu percebi melhor o que já estava ficando claro para mim há muito tempo.
Hoseok, desde que perdeu os seus pais e teve de assumir posição deles em sua carreira, dedicou sua vida a cuidar, a proteger. Cuidar de Jungkook, proteger Porto de Luna.
Mas nunca teve alguém que o cuidasse, não depois que seus pais se foram, nunca teve alguém que o protegesse, não depois que as duas únicas pessoas que faziam isso foram arrancadas dele por causa de uma supérflua sede por sangue.
Por isso que o custava tanto deixar que eu o cuidasse. Por isso ele mantinha a cara fechada enquanto eu limpava o sangue de seu corpo.
E talvez por isso Hoseok tivesse tanto ciúme bobo às vezes, talvez por medo de perder, de novo, alguém que estava cuidando ele.
Eu só queria que ele entendesse que eu morreria antes de parar de cuidar dele. O que nunca iria acontecer, sabe? Já que eu era imortal.
Depois que ele me falou aquilo e eu escutei tudinho, ele chorou.
Foi a segunda vez que eu vi ele chorando daquele jeito, e quebrou meu coração ainda mais do que a primeira.
A gente não viu mais filme algum e, naquela noite, quem dormiu atracado em meu corpo que nem um coala foi ele.
Por isso que eu tentava só não levar para o pessoal o fato de ele não gostar muito de vampiros. O fato de eu perceber a raiva quase fumegando de seu corpo quando ele chegava de um chamado mal-sucedido e o fato de aquele olhar de nojo dele para mordidas me machucar tanto.
Porque tudo aquilo não importava, ele podia odiar vampiros mas ele gostava de mim. E isso era o que importava, certo?
É, eu também achava que sim.
Eu o amava, eu o amava, eu o amava tanto.
E o amor de Hoseok era que nem ele, discreto, contido, mas nunca, nunca, despercebido.
Hoseok me amava no sutil. Me amava baixinho, calado, de seu próprio jeitinho, emburrado e envergonhado, mas que era seu. E só por isso já me fazia tão bem.
Hoseok me amava no sutil quando me pedia para colocar um casaco antes de a gente sair de casa quando o inverno já havia chegado. Eu sempre negava o assegurando que ‘tava tudo bem, que eu não sentia frio porque era um vampiro e que um casaco ia só estragar meu look. Mas ele parecia conhecer meu corpo mais do que eu, porque no fim eu sentia frio, e era orgulhoso demais para admitir. Só que ele percebia o jeito que meu nariz se avermelhava e o jeito que eu começava a abraçar meus próprios braços, e reclamava de mim e me repreendia e me chamava de teimoso, dizendo eu só o dava trabalho, ao mesmo tempo que, em segundos, adicionava suas jaquetas de couro ao meu look, sem se importar se combinava ou não.
Hoseok me amava no sutil quando continuava a comprar o mesmo chocolate no mercadinho perto da minha casa toda vez antes de ir me visitar, persistia em receber um beijo com o gosto dele em forma de recompensa.
Hoseok me amava no sutil me deixando pintar suas unhas quando eu ficava nervoso, sempre deixando elas pelo menos por uma semana(um favor que eu fazia a ele, vamos combinar, homem de unha pintada é uma delícia).
Hoseok me amava no sutil opinando em maquiagens minhas sem saber absolutamente nada sobre maquiagem. Hoseok me amava no sutil me ajudando a escolher look para ir até na esquina, se divertindo deitado na minha cama enquanto eu usava o caminho do meu closet até ela como uma passarela de moda. Engraçado o jeito que ele sempre me ajudava a escolher uma roupa, apenas para arrancar ela de mim segundos depois.
Hoseok me amava no sutil me deixando maquiá-lo quando eu precisava treinar coisas que eu não queria treinar em mim mesmo. Hoseok me amou no sutil quando me deixou postar várias fotos nossas, comigo dando mil beijos no rostinho sério e maquiado dele, com sombra preta, delineado e tudo. Hoseok me amou no sutil também quando sequer se importou com os trinta comentários seguidos do Namjoon tirando sarro dele por causa disso.
Hoseok me amou no sutil usando os stories do instagram dele pela primeira vez - e olha que ele nunca usava porque ele era low profile demais pra isso - só pra me ajudar a divulgar meus reels me maquiando ou mostrando meus looks. E essa é a história que explica como eu ganhei vários seguidores da cena roqueira gótica de Porto de Luna de uma hora pra outra, não reclamei, view é view.
Hoseok me amou no sutil também quando postou a primeira foto no seu feed, um pouco porque havia se cansado de me ouvir reclamar sobre como eu postava milhões de coisas com ele e ele nunca postava nada comigo.
— Eu nem uso esse treco, Tae. - Ele revirou os olhos, deitado do outro lado da cama que eu 'tava sentado. - Eu não postei foto com você porque eu nunca posto nada.
— Eu só 'tô falando, Hoseok, o amor demonstra. - Fiz um biquinho emburrado e continuei a aplicar o blush que eu passava em frente ao espelho.
No fim era tudo cena minha, óbvio que eu sabia que ele me amava com ou sem post nenhum.
Mas de novo, como sempre acontecia, eu acabei tendo o que eu queria. E quando ele me cutucou com o pé todo envergonhadinho pedindo pra eu olhar meu instagram eu já sabia muito bem o que era.
A foto que ele postou foi um pouquinho íntima, e eu nem sabia que ele tinha tirado. Eu ‘tava dormindo nela, com o rosto deitado em seu colo e usando uma das suas camisas pretas, claramente roubada. A permanente do meu cabelo ‘tava bagunçada, caindo em cima dos meus olhos, minha boca entreaberta, minhas mãos embaixo do meu rosto e em cima da sua coxa, meu perfil sereno dormindo. E sua mão em meu cabelo.
Ele podia ter postado qualquer uma das fotos que a gente tinha, sabe? De nós dois, aquelasque eu 'tava todo produzido ou as que tiravam da gente se beijando no meio dos shows de rock que ele me levava. Seria mais escancarado, seria mais óbvio, mais extravagante.
Mas como eu disse, Hoseok me amava no sutil.
— O que é na legenda? - Eu falei, com as bochechas já todas coradas, sem conseguir tirar os olhos do celular, ainda impressionado com o quando eu havia gostado daquela foto.
— Uma música. The cure. - Ele coçou a nuca ainda todo constrangido. - Me lembra você.
"You, soft and lonely.
You, just like heaven."
Eu li, e reli e reli, e acho que fazia sentido, porque eu já havia ouvido uma vez ou outra Hoseok falando que eu parecia um anjo.
Depois daquilo, por mais que eu não fosse um grande entusiasta de punk rock ou sei lá o que aquilo era, Just Like Heaven do The Cure se tornou uma das minhas músicas favoritas.
Hoseok me amava muito no sutil por meio da música, depois de um tempo com ele não demorou pra perceber.
Quando eu encontrei uma caixa com um baixo no armário dele e tirei de lá perguntando da onde aquilo tinha surgido ele me contou que antes de o trabalho começar a consumir sua vida por completo, ele tocava numa banda com uns amigos.
Ele tocava baixo, um pouco de violão também. Pois é, como se já não fosse o bastante ser gostoso e tatuado.
— Você não toca mais? - Eu perguntei, um dia.
— Eu não... tocava. - Ele riu, passando as mãos pelas cordas do violão preto que Jungkook havia deixado na mesa da sala. - Perdi a paixão por um tempo, mas ultimamente, sei lá, eu tenho tentado tocar de novo. Tô bem enferrujado, mas até que 'tô gostando.
Me levantei para ir até onde ele 'tava sentado, o abraçando por trás passando as mãos pelo seu peito antes de as juntar ali mesmo, abaixando meu rosto para afundar o nariz na área entre seu pescoço e ombro.
— Esperando o dia que você vai tocar uma música pra mim. - Eu disse todo faceiro, brincando com ele e dando uma mordidinha onde meus lábios tocavam seu pescoço. Ele riu junto e levantou a mão para me pegar pelo braço de uma vez e me fazer sentar no colo dele num movimento brusco, eu levei um susto mas logo já ‘tava rindo daquilo com as mãos na sua nuca. Hoseok apertou minha bochecha, segurando minha cintura com a outra mão, me mantendo em seu colo.
— Pra você eu toco um álbum inteiro, Tae. - Ele disse antes de me beijar, com a palma aberta em meu rosto, me fazendo carinho.
E eu me derreti em seu beijo, me derreti em seu colo, como eu sempre fazia.
Outro dia, Hoseok puxou com os dedos meu lábio inferior quando a gente 'tava junto no sofá. Eu estava em seu colo e ainda tinha minha expressão tontinha de tanto o beijar. Ele riu de meu olhar assustado quando puxou a área da minha boca, sorrindo travesso.
— Adoro te beijar, sabia? O piercing dá um geladinho. - Ele passou os dedos delicadamente no anelzinho prateado que decorava meu lábio inferior e eu tentei não soar tão sensível quanto eu me sentia com aquele contato tão simples. Segundos depois, eu tive uma ideia brilhante.
— Ah, é? Por que você não faz um? - Sorri apertando mais minhas mãos em seu pescoço.
A cara de nojo dele foi impagável.
— Não mesmo.
— Ué, por quê? - Fiz uma carinha de filhote confuso.
— Porque eu... eu sei lá, Tae. Não gosto, nem furo na orelha eu tenho direito. Isso aí já é com o Kook. Ele tem vários.
Eu levantei a sobrancelha, exibindo um sorriso desconfiado, brincalhão.
— Você tem medo, xuxu? É isso? - Mordi o lábio inferior tentando segurar minha risada, mas era difícil.
— Medo não, né, Taehyung. - Hoseok me tirou de seu colo me colocando do seu lado simplesmente por birra. Já ficava todo marrento. - Eu só não amo a ideia de uma pessoa furando meu corpo. - Cruzou os braços.
— Hoseok... você é tipo... todo tatuado. - Foi a única coisa que eu respondi, levantando a sobrancelha e descendo o olhar da tatuagem em seu pescoço para as várias em seus braços, ainda tentando segurar a risada, porque aquilo não fazia sentido nenhum.
— É diferente. - Ele começou a coçar a nuca e bufar, fingindo procurar o controle da televisão no sofá.
— Então o caçadorzão tem medo de um furinho, entendi. - Eu disse debochado, tombando minha cabeça para o lado, abraçando minhas pernas e o exibindo um sorrisinho. Hoseok me olhou e uau como eu 'tava encrencado. O que não me impediu de continuar debochando quando ele voltou a procurar o controle. - E olha que o Yoongi Hyung tinha me dito que era o maior de Porto de Luna.
— Taehyung... - Ele disse meu nome ainda sem me olhar, me advertindo. Não me intimidei.
— Eu acho melhor a gente nem ver aquele filme de terror que a gente 'tava querendo, xuxu, vai que você fica com medo também.
— Eu vou te jogar dessa janela, juro por Deus. - Eu olhei para a janela do lado dele e contive outra risada com aquela ameaça.
— Eu só 'tô falando que um caçador de verdade, que ganha a vida lutando, não deveria ter medo de um furinho best-AAAH. - Eu falava todo faceiro mas ele não me deixou completar a frase porque em segundos me pegou pela cintura e me colocou por cima do seu ombro com um movimento brusco. Meu estômago se embrulhou e eu comecei a rebater minhas pernas e bater meus punhos em suas costas, gritando. - Me solta me solta me soltaaaaaaa.
Eu conseguia escutar aquele filho da puta rindo de mim enquanto me levava pra varanda, sem se comover nem um pouco com meus murros em suas costas e minhas pernas se rebatendo, implorando pra voltarem pro chão.
— 'Cê só me dá trabalho. Chega. Acabou, cansei de namorar. Vou te jogar daqui e quem sabe assim ter um pingo de sossego. - Eu escutei ele falando e por causa daquele atrevimento dei murros ainda mais fortes na suas costas enquanto continuava a resmungar choroso, tendo uma reação contrária à que eu queria, porque ele só ria mais de mim.
— Tenta pra você ver, Hoseok! Se você me jogar daqui você sabe que eu vou sobreviver, aí eu volto aqui pra te matar!!! E você sim pode morrer! - Eu gritava irritado enquanto continuava a me rebater todo pra ele me soltar. Eu continuava a achar tudo aquilo muito engraçado.
Eu ainda exclamava pedidos pra ele me descer, batendo em suas costas, e só calei minha boca quando ele finalmente me tirou de seu ombro pra me colocar sentado na bancada da varanda, com mãos firmes na minha cintura.
Hoseok morava no segundo andar, ali nem era tão alto, mas ainda assim aquela altura normalmente faria meu estômago se revirar todo. O que não aconteceu ali. Não aconteceu porque Hoseok me segurava, e quando ele me segurava, nada mais importava. Quando ele me segurava daquele jeito só existíamos eu e ele e o resto do mundo de repente era somente figurante das histórias que nossos olhos se contavam.
Mas depois de só alguns segundos eu já 'tava dando murrinhos no peito dele do mesmo jeito, irritado.
— Você é maluco, maluco maluco maluco! - Ele riu de mim aceitando cada um dos meus pequenos golpes, que pareciam não lhe fazer nem cócegas.
— Você que começou, bebê. - Ele levou as mãos para as minhas bochechas e eu as tentei tirar de lá birrento, fazendo um bico. Eu segurei seus pulsos para as tirar dali e continuei olhando para baixo por um tempo.
Meu coração se inquietou, meu sorriso sumiu rápido.
Eu não queria, não queria ser inseguro assim, não devia ser. Eu sabia que não, mas vocês têm que entender. Meu ex namorado me deixou jogado no meio de um beco, minha família mudou de cidade pra não ter que lidar comigo. Não era como se meu histórico me ajudasse a pensar diferente.
Não consegui olhar para Hoseok quando perguntei, com a voz baixinha.
— Você não ia me jogar de verdade, né?
Hoseok demorou um pouquinho, como se sequer entendesse a pergunta, antes de levantar meu rosto de novo para si. Quando me obriguei a retribuir seu olhar, eu o percebi cheio de surpresa, como se não esperasse aquilo, depois se juntando com um olhar que eu não percebia se era bem de empatia ou de pena, não sei se queria saber também.
— Pelo amor de Deus, bebê, nunca, nunca, nunca. - Ele segurou meu rosto com força e começou a me beijar no cantinho da boca e depois nas bochechas enquanto falava aquilo com a voz mais doce possível, eu só ficava com mais vergonha. Eu sabia que tinha sido uma pergunta idiota. - Foi só uma brincadeira, eu te assustei?
Não me contive, e quando assenti de leve com o olhar para baixo, meus olhos já se enchiam de lágrimas. Hoseok, percebendo aquilo, me trouxe para um abraço imediatamente, me apertando com tanta força que eu quase fiquei sem ar. Eu afundei meu rosto em seu pescoço e fiquei ali fungando baixinho e deixando o cheirinho dele me acalmar.
Eu chorava muito mais por vergonha do que qualquer outra coisa, era constrangedor ser inseguro desse jeito. Eu nem devia ser tão emotivo assim, eu era um vampiro afinal.
Mas eu não podia evitar, porque todo dia meu coração ainda se apertava, me fazendo achar que Hoseok a qualquer momento iria mudar de ideia e me deixar sozinho, se livrar de mim, que nem todo mundo fazia.
— Desculpa... Eu fui idiota. Não sabia que 'cê tinha medo de altura, Tae. Não vou fazer de novo, ok? - Hoseok disse pertinho do meu ouvido, afagando minhas costas com suas mãos delicadas e me deixando me afundar mais em seu pescoço, apertando mais os braços em sua nuca. Depois de falar ele começou a beijar meu ombro em cada pedaço que conseguia, várias e várias vezes pra que eu me acalmasse.
E apesar daquele carinho tão bom, eu só assenti e funguei mais, ainda chorando em seu pescoço.
Não falei nada, não havia motivo para aquilo.
Mas não era da altura que eu tinha medo.
— Ei, ei... 'cê 'tá bem? - Ele levantou meu rosto inchado de choro com as duas mãos para me fazer olhar pra ele, me deu um selinho logo depois. - Quer alguma coisa? - Outro selinho. - Quer que eu faça chá? Quer que eu compre doce, hm? Qualquer coisa. Só falar. - Ele se comunicava intercalando os breves selinhos com as palavras e só aquilo foi capaz de finalmente me arrancar um risinho constrangido e bochechas coradas.
— Não precisa disso tudo. 'Tá tudo bem. - Eu disse, passando meu nariz de leve no dele. No fundo eu queria tudo aquilo e mais um pouco.
— Para de fazer charme. 'Cê quer sim. - Ele disse com um tom brincalhão e me deu um último beijinho no nariz antes de me segurar pela cintura, me suspendendo ao me descer da bancada pro chão novamente. - Deita e escolhe uma série, eu vou na esquina comprar aquele milkshake de morango que 'cê gosta. Volto já.
Ele me beijou na testa enquanto eu sorria pequenininho enxugando minhas lágrimas que secavam, ainda constrangido com tanto cuidado comigo.
Quando ele se virou para ir pegar as chaves do carro e eu o vi fechar a porta quando saiu, eu desabei deitado no sofá e me encolhi todo, abraçando forte os travesseiros para o meu rosto, sem me importar que Jungkook estava em casa e que eu ainda 'tava usando só uma camisa de Hoseok e nada mais. Grunhi angustiado, porque eu sentia meu coração cheio, tão cheio, tão quente, mesmo que meu sangue devesse ser gelado.
Eu o amava tanto. Demais. Tanto que eu acho que não cabia em mim, talvez por isso eu chorasse daquele jeito. Acho que me transbordava amor pelos olhos.
— Que gritaria foi essa aqui agora há pouco? Errr... Tae... 'tá tudo bem? - Eu ouvi a voz familiar de Jungkook ecoando, depois de ele abrir sua porta e provavelmente caminhar para pegar algo na cozinha.
Grunhi outro "uhuuum" dengoso e arrastado sem tirar meu rosto dos travesseiros. Sem forças pra isso.
Eu estava envolvido demais. E eu sabia que Hoseok também. Não sabia se isso era exatamente bom.
Mas pelo menos ele não me olhava mais como se quisesse me matar.
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Hoseok estava me olhando como se quisesse me matar.
Dois dias depois, ele cedeu e nós fomos juntos ao estúdio de tatuagem que ele e Kook costumavam ir.
E ele olhava para a Lisa e pros materiais que ela higienizava como se eles fossem os monstros dos filmes de terror, e eu só conseguia sorrir sentado do seu lado. Passei minha mão na sua coxa por cima de seu jeans rasgado e acariciei ali, tentando o confortar.
— Eu juro que não vai doer, xuxu. - Eu o dei um beijinho na bochecha, mas ele ainda estava tenso como se fosse entrar numa sala de execução ou algo do tipo. Era cômico.
— Engraçado, Seok, da última vez que você veio aqui eu lembro muito bem que você disse que "não tinha quem te fizesse colocar um piercing"... mas só precisou do seu xuxuzinho aí pra mudar de ideia. - Lisa debochou chegando perto de Hoseok, já com as luvas e os aparelhos metálicos nas mãos. Eu segurei outra risada e Hoseok nem se deu ao trabalho de responder à implicância da Lisa, distraído demais com os olhos enormes e assustados direcionados aos materiais nas mãos dela. Ele se inquietou todo, se endireitando em seu assento. Sem sequer perceber, apertou mais minha mão.
Estava apavorado, era a coisa mais fofinha do mundo.
— Cala a boca e acaba logo com isso, Lisa. - Hoseok disse, todo irritadinho e marrento, mas sem soltar minha mão. Lisa riu e em segundos já estava inclinada sobre ele na cadeira tipo maca reclinável, com os olhos atentos à pequena "tesoura" que ela usava para segurar a área do septo de Hoseok que ela iria perfurar. Eu tentei tirar minha mão de onde estava para deixar o caminho de Lisa mais livre da, mas Hoseok a apertou tão forte a fazendo ficar ali que quase me machucou.
— Nem fodendo, Tae. isso tudo foi ideia sua. Segurar minha mão o mínimo que 'cê vai fazer. - Ele me reprimiu, me olhando de ladinho já com o rosto imobilizado pelas mãos da Lisa, apertou mais minha mão e eu caí na risada, me inclinando para segurar melhor sua mão tentando não atrapalhar o trabalho dela. A sua mão estava tremendo e eu não conseguia evitar rir e revirar os olhos porque por Deus como Hoseok era dramático.
Quando a Lisa passou a agulha pelo catéter fininho, furando o septo de Hoseok, ele lacrimejou e soltou um grunhidinho de dor, espremendo os olhos com força e mordendo o seu lábio, mas também não muito mais do que isso.
Como eu disse pra vocês. Tudo drama.
Piercing não doía nada. Por isso que eu tinha um no lábio inferior e uns quatro em cada orelha. E por isso que eu ia fazer um no umbigo logo depois que Hoseok parasse de choramingar ali falando com a Lisa.
— Eu não chorei porra nenhuma! - Ele disse, ainda com os olhos irritados de lacrimejar. Contraditório. - Eu só levei um susto, só isso. - Ele disse, todo irritado, enquanto pegava com força o espelho da mão dela, que só continuava rindo dele, que nem eu.
Hoseok virou o rosto algumas vezes em frente ao espelho, analisando sua mais nova aquisição. Um piercing prateado no septo.
E eu analisei também, vendo o anelzinho com duas bolinhas prateadas reluzir em seu nariz. Seu perfil perfeitamente delineado ao se olhar no espelho. Com sua jaqueta de couro, jeans rasgados e coturnos pretos, a tatuagem com a data de nascimento de Jungkook em seu pescoço e aquelas que eu ainda conseguia ver no seu pulso, na parte não estava pela jaqueta. Sua mandíbula estava travada enquanto ele mantinha o olhar sério no espelho.
Gostoso. Gostoso gostoso gostoso. Meu namorado era um gostoso.
— Ok ok ok, chega de ficar se admirando aí. Xispa que é a minha vez. - Eu o sacudi pelos ombros e puxei sua jaqueta até que ele se levantasse, o empurrei para onde eu antes estava e troquei de lugar com ele, me endireitando no assento. - Vamo, Lisa, me deixa ainda mais lindo.
— Pera, 'cê vai fazer outro? - Hoseok perguntou.
— Claro que vou! - Eu disse sorrindo travesso. - E esse eu te dedico, xuxu. - Eu mordi o lábio e comecei a tirar o cinto que apertava minha calça flare para deixar minha barriga mais exposta. Hoseok perdeu a pose toda no mesmo instante, olhando alarmado para o pedaço de pele que eu exibia na barriga. Se levantou na mesma hora e chegou mais perto, quase como se para evitar que as outras pessoas no estúdio olhassem pra onde ele olhava. Seu ciúme chegava a ser fofo.
— Corre com isso, Lisa. - Ele disse, cruzando os braços emburrado, ainda bem perto de onde eu estava, realmente querendo fazer uma cortina entre mim e o resto das pessoas do estúdio. Revirou os olhos para o sorriso travesso que eu troquei com Lisa percebendo aquilo e bufou quando nós dois começamos a rir de sua marra, porque claramente havia um único motivo para que ele quisesse que ela acabasse logo com aquilo.
Eu também chorei um pouquinho quando senti Lisa me perfurando no umbigo e depois endireitando o piercing prateado com detalhezinho de diamante em forma de coração no meu umbigo. O gritinho que eu dei foi quase automático enquanto eu agarrava forte o braço de Hoseok que estava apoiado do meu lado.
Quando eu o apertei de novo, pedindo por sua atenção, e o olhei com olhos lacrimejando e um biquinho nos lábios por causa do susto, enquanto Lisa passava um algodão úmido em minha barriga, e não precisei falar nada. Hoseok sabia quando eu queria dengo, não demorou para se inclinar sobre mim, rindo da minha manha e segurando meu rosto para me beijar pertinho dos olhos onde os resquícios das poucas lágrimas secavam.
— Você gostou? - Eu perguntei, baixinho, secando os olhos com as costas das minhas mãos e enfim olhando para baixo onde a o piercing brilhava na área avermelhada da minha barriga. - Olhei de novo para Hoseok e só consegui o ver prendendo o seu lábio inferior com os dentes enquanto olhava para meu umbigo, olhou por um bom tempo, e seus olhos se escureceram daquele jeito que eu conhecia bem, me fazendo corar.
Hoseok esperou Lisa sair para ir lavar os materiais e só então levou os dedos para a minha pele exposta ali, contornou a área sensível com eles, delicadamente, quase não tocando direito e de um jeito que me fez arrepiar da cabeça aos pés. Ele me percebeu soltando um pouquinho de ar pela boca com aquele contato, sorriu sacana pra mim. Aquele filho ta puta.
— Se ajeita aí e vamo pagar, coisa linda, daqui a pouco eu te mostro o quanto eu gostei. - Ele falou com aquela voz rouca, roçando os lábios no meu ouvido, ainda com os dedos passeando em minha barriga. Eu tive que me segurar muito para não soltar um gemido ali mesmo, me limitando a corar, morder meu lábio e começar a me apressar para colocar minha calça de volta e fazer exatamente o que ele pediu.
Hoseok não conseguiu esperar nem chegarmos na sua casa, minto, não conseguiu esperar nem sairmos do estacionamento, nem ligar o carro ele ligou. Assim que eu entrei no banco do carona da sua caminhoneta ele me puxou para seu colo com toda a pressa do mundo, me fazendo ficar com as pernas de cada lado seu, e eu não neguei.
Ele já beijava meu pescoço quando eu senti suas mãos descendo para abaixar o zíper da minha calça, o movimento foi brusco e eu senti a pressão lá, o que me fez franzir o rosto com a dorzinha e apertar sua nuca, minha voz saiu toda dengosa e trêmula quando eu tentei falar por entre as respirações fortes que começavam a sair de mim por causa dos chupões que ele dava, indo do meu pescoço para minha clavícula.
— Cuidado, xuxu. 'Tá sensível ainda. - Gemi choroso, e ao mesmo tempo, sem me afastar dele nem um pouquinho.
— Meu docinho 'tá sensível, é? - Hoseok perguntou todo sacana depois de me dar um chupão no pescoço que eu sabia que nem dois quilos de corretivo iriam tirar, em segundos suas mãos agarraram minha bunda e eu quase pulei com o susto, apertando minhas mãos em sua nuca e abrindo a boca para gemer em seu rosto, o olhando de cima para baixo. Assenti à sua pergunta todo manhosinho e ele me olhou, subindo uma mão para minha nuca. - Deixa que eu cuido... - Ele sorriu sacana e apertou meu cabelo, puxando minha cabeça um pouco pra trás e me fazendo gemer de dor. - Vou foder meu docinho com tanta força que sentir vai ser a última coisa que ele vai precisar se preocupar.
Hoseok não me deixou reagir e puxou pra um beijaço no mesmo segundo, meu corpo já tremia em ansiedade e então eu comecei a me esfregar nele, indo e vindo, indo e vindo, porque era única coisa que ele me permitia fazer me prendendo na posição em que estávamos ali.
O vidro do carro já se embaçava e tinham pessoas provavelmente andando do lado de fora. O sol ainda se punha lá fora, não estava sequer tão escuro e a caminhoneta de Hoseok não tinha muito fumê.
E por mais excitado que eu ficasse a cada segundo simulando reboladas no pau do meu namorado, por cima de nossas roupas, enquanto ele me falava sacanagem no ouvido, era absolutamente sem noção nós terminarmos o que estávamos começando ali.
Mas quando Hoseok tirou meu pau pra fora da minha calça e começou a me masturbar sem nenhum pudor, arrancando gemidos meus cada vez mais altos enquanto eu olhava para baixo e via tão graficamente o trabalho que ele fazia ali, eu mandei qualquer tipo de noção pra puta que pariu. Sorrindo e gemendo, gemendo e sorrindo. Ele percebeu o quanto aquilo me excitou e começou a me provocar.
— 'Tá é querendo que peguem a gente aqui, né? - Hoseok falou, os movimentos mais apressados no meu pau me fazendo não segurar nada meus gemidos. - 'Cê quer que todo mundo te escute gemendo que nem uma putinha desesperada por pau, né, Tae? Claro que 'cê quer. Cê quer que todo mundo te ouça me implorando pra te comer. Tão previsível, bebê, tão previsível. - Hoseok ria de mim enquanto falava aquelas coisas, era tudo divertido pra ele, e aquilo me dava mais tesão ainda. - Eu espero que vejam, sabia? Espero que todo mundo aqui veja a bagunça que 'cê fica gritando com meu pau fundo em você. O quão patético 'cê soa gozando pra mim, bebê. Só pra mim, pra mais ninguém.
— Só pra você. - Foi a única coisa que eu consegui verbalizar, palavras que quase não saíram audíveis da minha boca porque eu engasgava com o ar e a saliva na minha boca, tentando não gozar rápido com Hoseok me masturbando daquele jeito. Apertei sua nuca com as duas mãos e tentei falar, de novo, soprando as palavras em sua boca. - Mais ninguém, daddy, só você.
— Caralho. - Aquilo pareceu levar Hoseok a um limite e ele tirou a mão do meu pau pra me puxar pelo pescoço e me beijar com força, de novo.
E eu não sei se realmente alguém realmente pegou a gente ali ou não, estava distraído demais quicando em Hoseok para conseguir prestar atenção aos nossos arredores.
Mas assim, se alguém, hipoteticamente, tiver visto... digamos que foi espectador de um baita show.
Cheguei em casa exausto e ainda com uma dorzinha na cabeça.
Eu bati ela algumas vezes no teto do carro, vocês imaginam o porquê.
Porque eu disse pra vocês que Hoseok me amava no sutil, mas às vezes, que nem essa, ele também gostava de me amar na extravagância, pra todo mundo ver. E era tão gostoso quanto.
— Ei, pera, não dorme ainda. - Eu escutei Hoseok falando quando eu entrei no seu quarto e desabei na sua cama, de barriga pra cima pra não irritar mais a área do piercing. Coloquei um travesseiro no meu rosto.
Eu 'tava todo moído, não tinha possibilidade nenhuma de eu transar de novo.
— Xuxu, eu 'tô cansadooooo. Não quero agora. - Eu tirei o travesseiro do rosto pra olhar pra ele com o melhor bico nos meus lábios. Ele começou a rir enquanto tirava a jaqueta.
— Eu não quero transar, bebê, pelo amor de Deus. - Ele negou com a cabeça, colocando sua jaqueta em cima do seu móvel. - Só... não dorme ainda, que eu quero te mostrar uma coisa.
Ele saiu do seu quarto e me deixou lá, bocejando com, um monte de dúvidas na cabeça.
Quando Hoseok voltou, tinha o violão de Jungkook nas mãos e uma expressão envergonhada no seu rosto.
— Minha voz não é boa, ok? Kook que é o prodígio da família, então por favor não espere muita coisa. - Ele disse, colocando a alça do violão em seu ombro e sentando na ponta da cama. Eu continuava sem entender nada, me ergui com o cotovelo no colchão e franzi o rosto para ele.
— Hoseok, o que- - Eu ia o questionar, ainda atordoadinho, mas ele me interrompeu.
— 'Cê me disse que queria uma música, lembra? - Ele disse, virando o rosto para mim com um sorriso devastador em minha direção. Hoseok não fazia a mínima ideia do quanto aquele sorriso me desarmava. Meu coração deu cinco saltos mortais dentro do meu peito e eu abri a boca pra falar alguma coisa porque pelo amor de Deus eu não 'tava esperando por aquilo.
Os primeiros acordes que ele tocou me fizeram fechá-la no mesmo segundo.
E eu estava esperando alguma balada de rock que ele já havia me mostrado ou algo assim, mas quando eu não reconheci a melodia que ele havia começado a tocar, a realização me bateu como um lutador de boxe em um ringue.
Quando Hoseok começou a cantar, eu fui nocauteado.
"White like the snow, precious as gold
My love for you, can light up the world
If painted in black, it won't be undone
'Cuz my love for you, can always be sung"
Hoseok não olhava para mim enquanto cantava, não, eu só conseguia ver o seu perfil enquanto ele prestava atenção nas cordas do violão que dedilhava. Estava escuro, mas a luz que vinha da sala conseguia iluminar um pouquinho o quarto e eu conseguia ver metade do seu rosto reluzindo a luminescência enquanto ele tocava. Ele havia dito que baixo era sua especialidade, mas para mim parecia tão bom quanto no violão.
E sua voz… sua voz não era que nem a de Jungkook, não tinha aquela técnica profissional. Era grossa, imperfeita, um pouco mais crua. Mas ela cantava para mim, só para mim, e por isso mesmo, e por inúmeros outros motivos, eu a escolheria sobre qualquer outra.
"Go tell your friends this one's for you
Let it be heard that you're mine, it's true
This one's for you
This one's for you
This one's for you"
E eu não precisei perguntar o questionamento que apareceu em minha cabeça desde que ele havia começado a tocar, porque a última frase daquela música, que ele repetiu de novo e de novo pra mim, como um mantra, já me respondia.
"Essa é pra você."
Era minha. Hoseok tinha feito uma música pra mim. Só pra mim. Uma canção de amor.
Hoseok me amava. Hoseok me amava, ele me amava.
E eu acho que ele nunca havia me dito em voz alta, não assim, sabe... com todas as palavras.
Quando ele terminou de dedilhar o fim da canção, parecia ainda mais envergonhado ainda do que quando havia começado, e olhou para baixo, para sua mão parada nas cordas do violão, suspirou antes de voltar o olhar para o meu.
— V-você fez pra mim? - Eu perguntei, foi a única coisa que consegui falar, ainda o olhando atônito.
— Cada letra dela, Tae... - Ele me deu um sorrisinho tímido, braço ainda apoiado no violão. Meu coração queria explodir, explodir e sair pela boca e depois correr gritando pelos quantro cantos do mundo o quanto eu amava aquele caçador. - Eu sei que minha voz não é lá essas coisas mas eu-
— Eu te amo. - Não deixei ele falar mais nada e o atropelei com minhas palavras, que saíram de mim quase que automaticamente. Meu olhar nele ainda era impressionado, olhos arregalados e boca entreaberta, como se eu ainda não acreditasse no que tinha acabado de acontecer. - Eu te amo. Porra, eu te amo tanto. - Na última frase eu bufei num risinho, porque chegava a ser ridículo o quanto eu o amava.
Por uns instantes depois daquilo Hoseok me olhou sério, com olhos indecifráveis e lábios também repartidos, ainda segurando o violão, e eu acho que foram os segundos mais longos da minha vida. Quando ele se livrou do instrumento e veio até mim na cama, pondo uma palma delicadamente na minha bochecha, eu prendi minha respiração.
— Eu também te amo, Tae. Te amo faz tanto tempo... desde o primeiro momento. Até o último. - Suas palavras entraram dóceis e quentes em minha boca trêmula. Meus olhos se encheram de lágrimas e minha garganta seca me impediu de falar mais alguma coisa, mas eu não precisei.
Porque ele me beijou.
E eu o beijei de volta, de novo e de novo, o agarrando para mim e só para mim. Despencamos os dois na cama e o cansaço que eu sentia antes, em segundos, se dissipou completamente.
A gente fez amor naquela noite. Eu e Hoseok, a gente fez amor.
Sem cena, sem dirty talk, sem lingerie, sem brinquedos, sem nada.
Só nós dois. Amor, pura e simplesmente.
Durante o ato, enquanto ele me tocava com a mesma delicadeza com a qual havia tocado as cordas daquele violão, as palavras "eu te amo" jorravam de seus lábios como água de uma cachoeira, caindo em cada parte meu corpo, me molhando inteiro, me encharcando, me afogando.
E enquanto ele me tocava eu o cantava, eu o cantava de volta minha própria canção de amor dedicada a ele, na forma de sussurros e gemidos, ecoando soprados e baixinhos em seus ouvidos. E dessa canção Hoseok sabia a letra decorada. Era uma serenata infinita, dele para mim e de mim para ele, a mais linda de todas elas, e só nossa.
Quando Hoseok começou a me tocar embaixo, movendo o rosto para jorrar seu amor por entre minhas pernas abertas, eu me deixei chorar, sem que ele visse, por causa de questionamentos intrusos que surgiram em minha mente.
Eu não podia estar morto.
Não era possível, sete meses depois e eu não conseguia conceber isso. Porque como que eu podia acreditar que estava morto se o amor de Hoseok me fazia sentir tão vivo? Com tantos sentimentos escapando de mim, escorrendo de dentro pra fora?
Não era justo. Não era. Tudo isso de ser um vampiro e me apaixonar perdidamente pela última pessoa por quem um vampiro devia se apaixonar.
Mas, de novo, acho que o destino nunca havia sido justo comigo, sabe? Sempre tendo sido tão mau, mesquinho, insistindo em querer arrancar de mim o que eu amava: minha famíla, minha alma, minha vida.
E, por mais que naquele momento eu tentasse me convencer do contrário, eventualmente ele continuaria seu trabalho, arrancando de mim impiedosamente esse novo amor que eu sentia crescer dentro de mim.
Era só uma questão de tempo.
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— Ele te ama, Tae, você mesmo me disse isso. Você não precisa ter vergonha. Ele é seu namorado, ele sabe quem você é. Eu não entendo todo esse drama. - Eu escutava a voz de Jennie, mas suas palavras não eram meu foco no momento. O sangue doce que eu sugava do seu pulso era a única coisa em que eu me concentrava, com dentes cravados em sua pele branca e macia, sentindo a energia que ela sempre me dava me preencher o corpo.
Era um alívio, um alívio, de verdade, porque desde que eu havia dispensado Wooshik e Bogum e Seojun para ficar com Hoseok, eu não me alimentava mais do jeito fácil que antes. Jennie era tudo o que eu tinha, então quando finalmente marcávamos um dia pra ela me deixar beber seu sangue, eu aproveitava cada gota.
Óbvio que eu podia me alimentar das bolsas de sangue que o Governo fornecia, que nem Yoongi Hyung fazia. Mas... não era a mesma coisa, eu só as aturei no período que eu ainda estava me recuperando da transformação, porque depois que eu comecei a provar de sangue humano, eu não consegui mais nem olhar para aquelas bolsas de sangue frio e sem graça sem ficar enjoado.
Tomar aquilo era a mesma coisa que, sei lá, me alimentar bebendo só água.
Eu continuava com fome, continuava cansado. Não tinha sustância alguma para mim. Eu acostumei meu corpo mal, e lidava com as consequências.
Além disso, quando eu mordia os caras, eles não reclamavam, então eu não achava que isso fazia de mim um vampiro do mau. Afinal, era tudo consentido, e se vocês me perguntarem eu até acho que eles gostavam. Já me alimentei no meio do sexo mais vezes do que me orgulho de falar.
Além disso, quando eu estava sem paciência pra sair com homem algum e ainda assim tinha sede, Jennie sempre estava lá, sempre.
E seu sangue era tão docinho e quentinho e confortável, tinha gosto de casa. Eu amava minha Nini.
Depois de sugar uma quantidade considerável de seu sangue pra mim enquanto ela conversava comigo, eu tentei tirar meus dentes do jeito mais delicado possível, percebendo o jeito que o rosto dela se franziu em desconforto pela dor das minhas presas saindo de sua pele, meu coração se apertou.
— Desculpa. - Eu disse envergonhado, sem olhar pra ela, deixando um beijinho casto na área perfurada que agora escorria um pouquinho de sangue.
— Já disse que não precisa pedir desculpa. - Ela disse com um sorriso gentil. Eu assenti ainda envergonhado e limpei o resto de sangue da minha boca com as costas da minha mão antes de pegar minha maletinha para fazer um curativo em seu pulso. Ela continuou o sermão. - Mas sério, Tae. Você não pode esconder isso dele pra sempre.
É claro que ela tinha razão, mas era mais fácil falar do que fazer.
— Eu não escondo nada dele, Jennie! Eu só prefiro não tocar no assunto. Não tem pra quê! Ele já sabe que eu sou um vampiro, ele sabe que eu me alimento de algum jeito, ele não precisa saber de detalhes, e, sendo bem sincero, não acho que ele iria querer. - Eu falei, sentindo uma dorzinha no meu coração ao lembrar da forma que ele olhava para aquelas mordidas em seu corpo.
Me perguntei o que ele pensaria de mim se me visse daquele jeito, com sangue escorrendo na minha boca, olhos vampirescos e cuidando do machucado que eu mesmo fiz no pulso da minha melhor amiga. Tentei não pensar nisso por muito tempo, porque me angustiava.
— Taehyung... isso é exatamente esconder. Você só tá se alimentando, você precisa se alimentar, do mesmo jeito que eu preciso e que Hoseok precisa e que qualquer pessoa precisa. Isso - ela apontou do pulso dela pra mim. - faz parte de você. De quem você é, querendo ou não. E se Hoseok te ama por todo o resto, ele vai te amar por isso também.
— Eu não tenho tanta certeza sobre isso, Nini... ele ainda é um caçador, lembra? - Eu disse, incerto, terminando de enrolar seu pulso com as ataduras macias.
— Sim, um caçador completamente, perdidamente, absolutamente apaixonado por você. - Ela segurou minha mão em cima de seu pulso e eu a olhei. - Qualquer pessoa vê isso, Tae, tá estampado na cara dele, aquele cara é louco por você, faz tudo por você. E não é uma besteira dessas que vai mudar isso.
E eu sabia que fazia sentido, aquilo que Jennie falava, ela sempre tinha uma visão das coisas mais sensível que a minha. Sempre tentava tirar esse véu de insegurança que insistia em me fazer ver as coisas do pior jeito possível.
Naquele dia, não discuti mais, porque eu queria muito acreditar nas coisas que ela tinha falado, afinal eram verdade, não eram?
Talvez eu não devesse ter tanto receio em mostrar Hoseok essa parte de mim, afinal, ele não reclamava de quando eu mostrava minha aparência vampiresca na cama, também não se importou quando eu contei a história da minha transformação, e aquela mordida que eu dei nele já estava tão no passado, sabe? Acho que a questão da minha alimentação não iria ser tão ruim assim.
Por isso que eu decidi que na próxima vez que eu me sentisse confortável, eu o falaria sobre. Ele me amava, como Jennie disse, e aquilo não o faria me amar menos.
Era uma parte de mim e, sinceramente, eu estava me cansando de mentir pra ele toda vez que eu saia pra ir pra casa da Jennie me alimentar, inventando desculpas quaisquer. Ele era meu namorado, eu não deveria mentir pra ele. Não faria mais isso, estava decidido.
Que bobo que eu fui.
O momento em que as coisas começaram a dar errado foi um bem específico, que Hoseok com certeza nem percebeu, mas que ficou comigo por muito, muito tempo.
A gente 'tava na minha casa, eu ‘tava de um lado do sofá, deitado enrolado no meu edredom por causa do frio, com o prato de brigadeiro numa mão e a colher na outra. Hoseok 'tava sentado não muito longe de mim, com cotovelos apoiados nos joelhos e concentrado em passar os filmes na aba de seleção da plataforma de streaming na televisão.
— Vamo ver o filme da Melanie. - Eu pedi, com a colher de brigadeiro na boca.
— A gente já viu três vezes, bebê. Limite. - Ele respondeu desinteressado, sem nem olhar pra mim. Eu o dei um chutinho com o pé que o alcançava, ele não pareceu se importar.
— Tá... mas terror não. Não aguento mais. - Eu disse fazendo bico e colocando de novo a colher de brigadeiro pra dentro da minha boca.
Hoseok fazia o melhor brigadeiro do mundo, o homem perfeito existia.
E então Yoongi abriu a porta de seu quarto e saiu, passando pela gente pra ir até a cozinha. Com uma camisa preta maior do que seu corpo, calça de moletom cinza e pé descalço. Cabelos platinados lisos bagunçados indo pra todo lado e cara amassada de gatinho arisco com sono.
— Ah, oi, Seok... não sabia que 'cê vinha pra cá hoje. - Ele falou bocejando, esfregando os olhos e indo pra cozinha.
Hoseok o cumprimentou com um aceno e um sorriso e eu levantei uma sobrancelha, impressionado, sem tirar o brigadeiro da minha boca. Yoongi até um dia desses odiava meu namorado e até de 'Seok' 'tava chamando agora.
— Nossa, 'tô faminto. - Yoongi disse ainda preguiçoso, de costas pra onde a gente estava, coçando a nuca e abrindo a porta do freezer da nossa geladeira. Foi aí que eu comecei a ficar nervoso, soltei minha colher no prato na mesma hora e meus olhos se arregalaram um pouquinho. - Quer alguma coisa, Tae?
— N-não, nada. - Eu balbuciei, com olhos ainda atentos em Yoongi. Hoseok parecia não se importar tanto, com seu olhar ainda na televisão. Eu via Yoongi remexendo a mão no compartimento da geladeira e minha barriga se embrulhava cada vez mais porque eu sabia o que ficava ali e não queria que Hoseok visse.
Yoongi se virou com uma bolsa de sangue nas mãos e um sorrisinho satisfeito no rosto, pegou um canudo na bancada e colocou dentro da bolsa cheia.
— Bom filme pra vocês, e não façam muito barulho que eu vou produzir. - Ele disse, passando pela gente da cozinha para o seu quatro, já com o canudo na boca tomando do sangue, uma mão na bolsa com o líquido e outra segurando seu celular perto de seu rosto, como se não estivesse fazendo nada.
E realmente não estava, nada de errado pelo menos. Era aquilo que mandava a lei, estava tudo ok, mas ainda assim… a expressão no rosto de Hoseok.
Nada teria me preparado para a expressão de Hoseok para Yoongi ali.
Foi rápido, não deve ter durado mais do que uns quatro segundos antes dele chacoalhar a cabeça e voltar seu olhar para a televisão com a mandíbula travada fingindo que nada aconteceu, provavelmente não querendo que eu visse.
Mas eu vi, eu vi demais. Eu vi perfeitamente.
Só uma palavra definiria aquele olhar de Hoseok. Aquele olhar com o nariz franzido e aquela expressão de desprezo. Uma palavra que eu infelizmente sabia muito bem qual era, uma palavra que fazia meu estômago se revirar todinho dentro de mim.
Nojo. Nojo, nojo e mais nojo.
Eu reconheci aquele olhar, reconheci muito bem, muito parecido com aquele que ele me deu quando me jogou no chão no dia que nos conhecemos, o mesmo que ele tinha em sua expressão quando ele abriu a boca para confirmar o que eu já pensava sobre mim, me chamando de "nojento”.
E eu sabia, eu sabia que já havia muito tempo daquilo, que eu devia ter esquecido e que ele havia pedido desculpas, sabia que ele tentava todo dia me cuidar de um jeito cada vez mais doce, tentando compensar aquela sua agressividade do início, que o atormentava tanto quanto a mim.
Mas eu simplesmente, infelizmente, não consegui ignorar aquilo.
Porque foi bem ali que eu percebi que não importava o quanto Hoseok me amasse, nem todas as palavras de carinho e cuidado que ele já houvesse me dito até ali, não importava nossas noites juntos, mãos dadas, lábios grudados e declarações de amor por baixo das cobertas. Nada disso importava.
Eu ainda era um vampiro, eu sempre seria. Para o resto da minha vida, da minha vida eterna e triste e patética.
Hoseok, em um momento ou em outro, eventualmente, iria sentir nojo de mim. De novo.
A única coisa que eu podia fazer era evitar que aquele momento, o exato momento que eu perderia Hoseok, chegasse tão cedo.
E foi por isso que, naquele dia, decidi parar de beber sangue, definitivamente. Eu já estava bebendo somente da Jennie naquela época, não poderia ser tão difícil parar. Eu daria um jeito. Teria que dar um jeito.
Porque eu não deixaria Hoseok escapar pelas minhas mãos, eu não seria olhado com aquele olhar de nojo, não de novo. Nunca mais.
Daria tudo certo, afinal, era apenas um vampiro deixando de fazer a única coisa a qual existia para fazer, beber sangue.
Deixando de beber da única fonte de energia existente para manter as funções vitais de seu corpo.
O que poderia dar errado?
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