Acordei sentindo braços fortes me envolverem e antes mesmo de estranhar o fato me lembrei da forma que acabei dormindo na noite anterior. Adam após quase me flagar com Mon-El, fez questão de me acomodar da melhor forma possível na cama, e insistiu até mesmo em me fazer uma massagem, mas eu recusei, claro, não por querer evitá-lo dessa vez, mas sim por não achar justo seu esforço para me fazer sentir melhor por um mal estar que nem mesmo existia. Me rendi ao menos a dormir em seus braços. Isso acontecia sempre, mas em algum tempo eu sempre dava um jeito de me afastar na maioria das vezes, porém dessa não tentei me mover, e o motivo disso era a culpa que me tomava.
Que Adam não era um anjo eu estava cansada de saber. Ele tinha feito coisas horríveis, e era uma pessoa com diversas falhas de caráter, mas de repente ver sua preocupação comigo enquanto eu mentia descaradamente sobre me entregar ao seu irmão, me trouxe diversas questões. E se ele estivesse mesmo tentando melhorar? E se de repente já soubesse e estivesse vendo até onde chegaríamos? E se eu estivesse me tornando uma pessoa como ele? O que pra mim era uma péssima opção.
Com certeza amava Mon-El, e precisava dele, a ideia de perdê-lo me enlouquecia. Mas até onde conseguiríamos ir com toda essa farça? Encontros escondidos na madrugada, olhares trocados em meio a todos, provocações de ciúmes das duas partes, e nossa perigosa mania de estar sempre de olho um no outro. Aquilo ia mais longe a cada momento, e por mais que eu quisesse dar um fim em tudo não sabia por onde começar, nem mesmo se tinha forças para isso. Minha cabeça girava a todo momento me perguntando o que o futuro poderia reservar para pessoas como nós. Quatro jovens que não sabiam nada da vida envolvidos em um jogo perigoso, e talvez fatal.
- Bom dia - Adam disse sonolento - dormimos muito não foi?
- Aparentemente sim - observei a forte luz do sol que já cruzava a janela - minha família deve estar preocupada, é melhor eu... - tentei me levantar mas ele me empediu.
- Você não sai desse quarto sem antes ver um médico - disse autoritário.
- Eu juro, estou melhor, posso correr daqui se precisar - falei na tentativa inútil de convencê-lo.
- Mas não vai fazer nada disso antes que o médico permita. Eu vou até lá, digo a todos que não se sente bem, e mando que tragam seu café da manhã e chamem um médico - se levantou - não vai levar muito tempo até que esteja livre dessa cama se você se cuidar bem.
- Adam... - peguei sua mão o impedindo de se afastar - obrigada - sorri.
- Tudo bem - ele devolveu o sorriso indo em frente - onde está a minha nova serva? - Começou a reclamar enquanto se encaminhava ao banho - eu juro que acabarei a dispensando antes mesmo de irmos para casa - dizia impaciente - se ao menos eu pudesse gritar aqui.
(...)
- Majestade sua filha está ótima, não tem porquê se preocupar, as dores devem ser devidas a queda, eu tenho certeza que logo vão passar, ela só deve fazer repouso - o médio dizia a minha mãe.
- Como está bem? Ontem eu a encontrei caída no chão de tanta dor, deve haver uma lesão ou algo assim - Adam disse impaciente.
- Adam tudo bem, eu já disse que estou bem melhor, já até consegui andar pelo quarto, você viu - por que eu tinha que ter inventado aquela dor?
- Por que não ficam de olho nela enquanto ela se recupera, e eu volto mais tarde, assim garantiremos que ela fique bem - sugeriu o médico.
- Assim está ótimo - disse minha mãe - tudo bem pra você Adam?
- Claro - assentiu.
- Eu não vou poder nem mesmo sair dessa cama? - Perguntei antes que o homem de meia idade fosse embora.
- Andar pequenas distâncias não te farão mal, mas não abuse disso - recomendou.
- Tudo bem, obrigada - agradeci com um sorriso e ele se retirou após dar os devidos cumprimentos a rainha.
- Eu preciso falar com minha mãe, volto logo - Adam disse se retirando.
- Pode falar o que quer falar mãe - a encarei notando seu sorriso bobo.
- Ele gosta de você - ela disse ao se sentar na cama comigo.
- Quem o médico? - Me fiz de boba.
- Pare com isso, seu marido - ela riu - ele gosta de você, olhe tudo isso.
- Ele só quer impressionar vocês mãe - expliquei impaciente. Será que não estava obvio para eles que toda a bajulação vinda de Adam se devia ao fato de que precisava que gostassem dele?
- De certa forma sim - deu de ombros - mas ele tem estado realmente preocupado, e eu pude notar alguns olhares da parte dele que sinceramente, só alguém que gosta poderia dar.
- Adam é alguém prático e frio demais para sentir qualquer coisa mãe, nosso casamento é político, e ambos apenas fazemos o necessário pelos nossos reinos. Nem sempre envolve sentimento, nem sempre dá certo como para senhora e o papai - desabafei, não queria que ela soubesse o que eu já havia passado nas mãos de Adam, e muito menos o que me aguardava no futuro, mas também não suportaria ela o pintando em sua mente como um anjo.
- Por que é tão difícil pra você aceitar que pode ser que seu marido te ame, que seu casamento vá dá certo? - Perguntou irritada.
- Eu não o amo mãe, não combinamos, e eu não sei ser a esposa que ele deseja. Eu nunca quis isso, eu não tive escolha graças a vocês, não pode esperar que tudo dê certo e termine como em um conto de fadas, isso não existe - respondi soando mais rude que gostaria. O silêncio se instalou por um momento e ela virou seu rosto entristecida - mãe me desculpe, eu não queria magoá-la - pedi arrependida.
- Não tem um só dia em que eu não me precupe com o que está havendo com você, e me culpe por tê-la afastado de nós contra sua vontade - não me encarava, mas eu sabia que ela estava chorando - eu sei o que está passando, eu já senti isso, esse medo do futuro, essa mágoa, essa tristeza por não ter a vida que deseja, mas eu sei também que enquanto não baixar a guarda isso não vai passar - se aproximou de mim cautelosamente e me encarou - eu lamento muito, que sua história seja parecida com a minha, mas minha querida... - segurou meu rosto entre as mãos, as lágrimas corriam livremente por nossos olhos - essa é sua vida agora, e precisa aceitá-la.
- Mãe... - ela não deixou que eu terminasse.
- Vai chegar um dia em que eu e seu pai não estaremos mais aqui, seu irmão estará casado com Lois, e cuidando de um reino, e então o que tiver construído com Adam vai ser tudo que tem. Ele vai ser tudo que você tem, sendo perfeito ou não - secou as lágrimas do meu rosto voltando a segurá-lo - eu lamento muito que não tenha tido a chance de se apaixonar e se casar com quem ama assim como seu irmão, mas o mundo nem sempre é perfeito querida, e precisa aceitar isso, aceitar que sua vida é, e sempre vai ser estar ao lado dele, isso não vai mudar infelizmente, não torne as coisas mais difíceis para você fugindo disso, só vai te causar mais dor, e você não merece sofrer - deixou um beijo em minha testa e sorriu antes de me deixar sozinha.
Não tive tempo para absorver nada daquilo, ouvi o barulho discreto da porta e estranhei a calma da pessoa ao entrar, logo pude enxergar Mon-El e tive vontade de matá-lo antes mesmo que ele se aproximasse de mim. O que ele poderia querer no meu quarto? Já não bastava o risco que passamos na noite anterior? Céus ele não conhecia limites.
- Não, não, sai daqui! - O repreendi antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, enquanto secava as lágrimas no meu rosto - Mon-El alguém pode entrar.
- Fica tranquila, Adam está com minha mãe tendo uma conversa séria - explicou.
- Como se o problema fosse somente os dois - balancei negativamente a cabeça - do que você precisa?
- Eu vi sua mãe saindo chorando do quarto, vim saber como está - explicou me observando.
- Eu estou bem, não foi nada, mas graças a nossa enorme irresponsabilidade eu vou ter que passar meu precioso tempo em Krypton em repouso - revirei os olhos - aquilo foi insano Mon-El, por alguns segundos teriamos provocado a nossa morte.
- Fica calma, enganamos ele, por que ainda está tão preocupada com isso? - Questionou ao se aproximar - estamos bem.
- Não, nós não estamos bem, está tudo completamente fora dos eixos - suspirei - eu nem sei mais o que estamos fazendo, e você não poderia nem mesmo estar aqui.
- Kara... - se sentou na cama e levou uma das mãos ao meu rosto - eu sinto muito por ontem, por tudo que eu fiz, sei que ainda está magoada e em dúvida, mas Lena não significa nada para mim - suspirou - eu fiquei louco de ciúmes do Adam também, mas eu posso esquecer isso. Vamos ficar bem, sei que ficou com medo por Adam quase nos flagar, mas podemos ter mais cuidado daqui em diante.
- Existe um "daqui em diante" para nós Mon-El? Ainda tem Adam, ainda tem Lena, ainda tem milhares de problemas e possíbilidades pela frente - tentava segurar o choro, mas era em vão.
- Escuta aqui... - levou a outra mão ao meu rosto e me encarou de forma decidida - eu não vou abrir mão de você, nem por Adam, nem por Lena, nem por nada nesse mundo. Que tudo dê errado então, mas eu continuarei lutando por nós. Isso não é uma aventura pra mim, é algo real, você é tudo o que eu tenho, e eu te amo - me beijou.
- Por favor, você precisa ir - pedi o afastando em alguns segundos e ele me encarou perplexo.
- Não tem nada para me dizer? - Perguntou entristecido.
- Por favor Mon-El - repeti.
- Tudo bem, como você quiser - disse se dando por vencido e saindo apressado, claramente magoado por tudo aquilo.
(...)
- Sempre o melhor lugar não é? - Kal quebrou o silêncio entre nós enquanto liamos na biblioteca. Aquilo era tão comum quando eu ainda morava em Krypton, passavamos horas exatamente daquele jeito. Eu deitada no sofá e Kal-El sentado no chão por perto, simplesmente aproveitando a presença um do outro e falando algo vez ou outra. Era minha desculpa para ler, enquanto estava com meu irmão não se preocupavam tanto com o que eu estava fazendo.
- Sempre - sorri - lá no palácio em Daxam temos uma como essa, mas eles não tem muito costume de ler.
- Você provavelmente a explorou inteira - ele supôs e minha cabeça viajou por todas as coisas que já haviam acontecido naquela biblioteca.
- De formas que você nem imagina - suspirei.
- Qual o problema em? Você não parece bem, e ter me chamado para virmos aqui com certeza foi uma tentativa de fuga, mas de quem? - Me encarou ao fechar o livro.
- De tudo, e de todos - dei de ombros - eu estou bem, só não queria ter que ficar no quarto recebendo visitas a manhã toda.
- Por que eu acho que tem algo a mais? - Questionou desconfiado.
- É tudo tão complicado - suspirei - mas eu juro, estou bem.
- Okay - assentiu - parece que tem mais alguém querendo a sua companhia - disse e logo vi Lena adentrar a biblioteca.
- Kal-El você está sendo convidado para um treino com o papai, tio Zor-El, Adam, e Mon-El - ela avisou - se eu fosse você se apressava.
- Nunca dão descanso a um futuro rei - balançou negativamente a cabeça - se importa Kara?
- Claro que não, eu a farei compainha enquanto assistimos vocês - Lena respondeu por mim e eu assenti permitindo que ele fosse.
- Está melhor da queda? Todos estavam tão preocupados que eu achei que nem pudesse mais andar - debochou enquanto nos encaminhávamos a saída.
- Estou ótima, não foi nada - respondi.
- Ótimo, assim eu me sinto menos culpada para contar sobre minha noite excelente com seu cunhado - disse empolgada.
- Vocês se divertiram? - Perguntei tentando soar o mais natural possível.
- Se nós nos divertimos? - Riu ironicamente - você não faz ideia do quanto Mon-El pode ser engraçado e conquistador.
- Não faço mesmo - forcei uma risada - me conte mais.
- Ele me falou sobre Daxam, sobre sua família, me contou sobre seus planos para o futuro - não segurei a risada, Mon-El fazendo planos para o futuro? Só Lena mesmo para acreditar nisso - qual é a graça? - Questionou confusa.
- Nenhuma, estou me divertindo com a história continua - incentivei.
- Ele parecia tão interessado em tudo que eu dizia, ficou super curioso sobre Smallvile - contou - perguntou sobre meus irmãos, minha mãe - até agora só me parecia simplesmente que Mon-El esteve tentando não ficar desconfortável perto dela. Tudo certo - eu confesso que fiquei entediada com o tempo, e por um momento até achei que ele pudesse ser como seu marido... - a interrompi.
- Qual o problema com Adam? - Perguntei.
- Você sabe, ele não é muito interessante nas conversas pelo que eu vi - deu de ombros. Era inacreditável o quanto ela podia ser crítica.
- Continue a história Lena - pedi impaciente.
- Então acabamos bebendo um pouco mais de vinho e falando sobre nossos gostos - a encarei perplexa - eu falei sobre tudo que eu adoro, e descobri que temos tantos gostos em comum - parecia feliz por aquilo - rimos tanto descobrindo isso, depois ele me contou sobre como adora música, dança, e como ama ler - suspirou - achei estranho seu gosto pela leitura, mas em algum tempo eu tiro isso dele.
- Mal começou e já quer mudá-lo? Mon-El não permitiria isso - afirmei certa daquilo, torcia para não estar parecendo enciumada, mas acho que já não tinha controle disso a muito tempo.
- Kara eu não sou como você - me olhava de forma superior - não acabarei em um casamento onde o homem ditará todas as regras como o seu provavelmente é.
- Eu achava que você era a mulher perfeita para se casar, a princesa mais sensata e propensa a dar a um homem a vida dos sonhos, o orgulho da família como você adora enfatizar - ri a encarando - não é um pouco contráditório? - Perguntei.
- Sabe o que mais me orgulha sobre mim mesma Kara? - Perguntou e paramos de caminhar quando notamos nossa aproximação da área de treinos - eu sou e sei bem mais que todos imaginam - riu - se me pintam como a mulher perfeita okay, que eu seja ela, mas a realidade é que não conheceram alguém como eu antes, não fazem ideia de quem sou eu.
- Por que esconde tanto sobre si? - Perguntei - deve ser sufocante.
- Todos nós temos segredos Kara - sorriu sutilmente - eles tornam nossa confiança em nós mesmos mais sólida - tirou uma mecha de cabelo do meu rosto - posso garantir que você sabe disso, e até mesmo Mon-El - meu coração parou por um segundo temendo o motivo dela estar dizendo aquilo - ou Adam, ou meu pai - continuou gerando um certo alivio em mim.
- Vocês duas não se cansam de conversar? Vão perder o treino - minha mãe apareceu de repente chamando nossa atenção.
- Sabe como somos quando estamos juntas mãe - eu ri - impossíveis - Lena concordou notando a ironia e a seguimos para assistir o treino.
Nos sentamos para assistir do alto como de costume. Todos ainda estavam preocupados com meu bem estar, então ao meu minimo sinal de movimento alguém exigia que eu ficasse quieta. De qualquer forma estava tendo uma boa vista de tudo que acontecia. Mon-El estava sendo fantástico como sempre e fazia as vezes até mesmo Kal-El passar vergonha. Céus, mesmo com a bagunça de sentimentos e pensamentos em minha cabeça eu ainda achava brechas para me perder em meu desejo por ele.
- Ele é demais - Lena disse babando em algum momento enquanto Mon-El e tio Lionel se enfrentavam, ao redor meu pai lutava com Adam e Kal-El apenas assistia esperando seu momento - que pedaço de mal caminho.
- Tenho que concordar - falei ainda em transe. Tio Lionel estava pegando pesado e a imagem de Mon-El dando tudo de si e revidando era admirável.
- Está falando do Mon-El? - Lena se virou espantada.
- Claro que não, do meu marido - respondi como se fosse óbvio e ela voltou sua atenção para o treino.
- Lionel e Zor-El estão pegando pesado com os genros - minha mãe disse preocupada como sempre com tudo aquilo.
- Meus garotos aguentam - Rhea garantiu orgulhosa - vamos Mon-El, prove que é um bom partido - incentivou o filho e ele a olhou desconfortável retornando logo ao que fazia.
- Ele já me convenceu disso rainha Rhea, não se preocupe - Lena disse sorridente.
- Lena! - Tio Lionel chamou quando terminaram - você nunca vai estar em perigo com ele - disse ao bater levemente as mãos nas costas de Mon-El e ele sorriu sem jeito. Já havia conquistado pai e filha, estava bem óbvio pra mim como aquilo acabaria. Se obrigaram Adam, o filho preferido a se casar, facilmente fariam o mesmo com Mon-El. Mas talvez, julgando por suas recentes ações e por tudo que soube através de Lena, ele nem precisasse ser obrigado.
- Fico feliz por isso papai - Lena disse encarando Mon-El com um olhar sedento e eu poderia jurar que ele nem se deu o trabalho de desviar.
- Adam! - Chamei ao me levantar e logo seu olhar veio em minha direção lá de baixo - assim como eu você não pode exagerar, é melhor irmos - precisava de uma desculpa para sair logo dali então usá-lo não seria a saída. Ele pareceu entender dessa vez, pediu licença aos outros e logo se juntou a mim.
- Vamos? - Estendeu a mão para mim e eu a segurei.
- Com licença, vemos vocês em pouco tempo no almoço - avisei para elas que sorriram se despedindo.
- Está bem? - Adam perguntou ao rodear minha cintura com o braço enquanto caminhávamos de volta para nosso quarto.
- Claro e você? - Perguntei.
- Ótimo - sorriu - eu gosto da sua família - admitiu me surpreendendo - de verdade.
- Eu fico feliz - disse não evitando rir - e surpresa.
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