Amanheci um tanto gripada hoje. Nariz escorrendo, dor de cabeça. Uma gripe comum nessa época do ano, mas o trabalho não pode parar, tem gente precisando de mim. Nada que um remédio não possa ajudar. Sai de casa sem me sentir mal, eu posso ir trabalhar normalmente hoje.
E aqui estou, servida de um chá para aquecer o corpo no meu pequeno consultório. Entre um paciente e outro, meus espirros não cessam, mas não posso para de trabalhar.
"Toc toc"
—Posso entrar, June-san?
—Sim, entre por favor Yaoyorozu. *Atchim*
—Está tudo bem? Parece gripada. -A jovem entra na sala receosa.
—Tudo bem, não se preocupe. *Atchim* —Sente, por favor.
—Ok!
Enquanto a consulta ocorria, parecia um tanto frio... Mas era uma bela manhã ensolarada. Meu nariz não dava sinal de paz, e o chá só amenizou meu espirro descontrolado. Meus sentidos não estavam normais, e eu sentia um cansaço pairando sobre meus ombros enquanto lutava para permanecer ativa. A jovem Yaoyorozu me olhava com um semblante preocupado com minha situação, não posso negar que estou um tanto gripada, mas não vou deixar que isso atrapalhe as consultas.
—June-san, tem certeza que está bem?
—Só estou com frio, mas estou bem. Respiro fundo, me encolhendo no meu blaser.
A morena não se dá por vencida.
—Você está ardendo em febre, senhorita Masami! - A jovem fala ao tocar minha testa. —Precisamos ir pra enfermaria, a senhorita não pode continuar desse jeito! Vem, vou ajudar a levar você até lá. —Não acho que seja necessário, é só uma gripe. Só preciso comer um pouco e tomar meu remédio. -Ela tenta me levantar com muito esforço, mas meu corpo mole não ajuda.
—Você tem febre, June-san! Já que não consigo levanta-la, vou pedir ajuda. Por favor, fique onde está!
A jovem sai em disparada sala a fora, rápida demais para que eu impeça seu esforço. Tento me levantar, meu corpo não me ajuda, minhas pernas estão fracas e a minha visão está cada vez mais sonolenta.
—Rápido, Aizawa-sensei!
Me sento de volta e minha visão apaga.
*Aizawa
O professor seguia calmamente até a sala dos professores, ansiando um cochilo, um descanso entre as aulas da manhã e da tarde. No fim do corredor ele notou que a vice-representante da 1-A corria com um semblante preocupado.
—Aizawa-sensei! -A morena respira fundo. —Me desculpe atrapalhar, mas eu preciso de ajuda. -Ela tenta retomar o fôlego —A senhorita Masami está mal e precisa ir pra enfermaria.
Sem mais palavras, os dois seguiram rapidamente até a sala de June, não muito distante de onde estavam. Aizawa não conseguia parar o sentimento de medo, em seu coração ele temia que June estivesse machucada ou ferida.
—Rápido, Aizawa-sensei! A jovem abriu a porta. —Ali está ela!
June estava desacordada sobre o sofá. Naquele instante a mente de Aizawa pensou no pior. Num piscar de olhos ele a segurava no colo, enquanto ele e Momo o seguiam temerosos rumo à enfermaria.
—O que houve com ela? -O professor fala tentando não ser emotivo demais na fala.
—Ela estava espirrando muito Sensei, e notei que ela estava ardendo em febre. Não consegui tira-la da cadeira e decidi procurar ajuda.
—Fez bem, Yaoyorozu. -A pele alva da branca ardia como brasa. O professor apreensivo da situação da baixa pensou o quanto ela deve ter sido teimosa em vir trabalhar doente.
Na enfermaria o professor tratou de acomodar a psicóloga numa cama, a embrulhando com um lençol, e a Recovery Girl logo veio avaliar a situação.
—Olá meus queridos. -A senhora falou amorosamente enquanto caminhava em direção à jovem. —O que temos aqui?
—A senhorita Masami estava muito gripada, acredito que tenha desmaiado de febre. -Aizawa disse enquanto se esforçava para parecer impassível.
—Gripe, hum. Não posso usar minhas habilidades de cura na jovem teimosa, mas posso passar alguns medicamentos para ela melhorar logo.
A pequena médica injetou remédios para aliviar a febre e a gripe forte. O moreno não queria admitir pra si mesmo, mas detestava ver a branca naquela situação, pálida, doente, acamada. No fundo ele desejava que ela acordasse voltasse a sorrir.
—Desculpe Sensei, eu preciso ir pro treino. Espero que a senhorita Masami melhore logo. Aizawa apenas acenou e a aluna partiu. Estava sentado na poltrona ao lado da cama, esperando ansioso para que June acordasse.
—Não se preocupe Aizawa, ela deve acordar em breve. -Recovery Girl achou a cena um tanto peculiar. Nunca tinha visto o professor olhar daquela maneira pra ninguém; os olhos deles refletiam preocupação genuína, apesar da mascara da indiferença estar sob o rosto do moreno.
Sozinhos, Aizawa começava a duvidar do efeito do remédio. Fazia certo tempo que ela tinha recebido a medicação e nada. Continuava em sono profundo.
Quase inconsciente da sua atitude, ele se levantou e segurou a mão da pequena. Estava menos quente, pelo menos era um bom sinal. Ficou segundos segurando a mão delicada, até que a mulher se mexeu na cama, um tanto desnorteada.
—Uh. -Ela se despertou. Esfregava as mãos no rosto um tanto perdida. —Ai...Aizawa? Hm... O que houve? -Ela falava com a voz embargada de cansaço.
—Yaoyorozu me pediu ajuda depois de te ver doente, e eu te trouxe desmaiada até aqui.
—Oh... Desculpe o transtorno. Estou... estou melhor.
—Vejo que acordou, mocinha!
—Hã, sim. Melhor que antes.
—Que bom, mas vai pra casa melhorar ainda mais. -Recovery girl disse com um sorriso largo enquanto se aproximava com alguns remédios.
—Não, não, está tudo bem. Foi só uma indisposição.
—Indisposição nenhuma faz a pessoa desmaiar no meio da sala, doçura! Tome, aqui os remédios para tomar nos próximos dias.
June suspirou derrotada. É verdade que estava doente mas não achou que iria ficar tão mal em poucas horas por causa de uma gripe.
—Se amanhã ainda não estiver bem, não ouse vir trabalhar meu bem!
—Tudo bem, obrigada... -A branca disse num sorriso amarelo. Não queria ter dado tanto trabalho pra tantas pessoas. Suspirou pesado. Aizawa ainda estava ali do seu lado, a encarando. June não sabia como interpretar a imagem que o rosto de Aizawa refletia.
—Me desculpe mais uma vez, Aizawa, pelo que aconteceu.
—Tudo bem.
A mulher se levantou da cama, sentindo o peso da doença sobre seu corpo; era desconfortável, mas dava pra aguentar até em casa.
*Atchim*
—Obrigada pelo que fez por mim Aizawa. -Ela disse fungando e limpando o nariz. —Foi muito gentil. -Um sorriso agradecido brotou no rosto da branca e o mais velho sentiu uma leve sensação de conforto tomar conta de si.
—Tsc. Tudo bem. Vem, vou te levar pra casa.
—Hã, não não, tudo bem, eu estou melhor! *Atchim*
—Não seja teimosa, vamos.
Com muito esforço pra sair da cama, a mais nova tentou andar, mas a cabeça doía tanto que seus sentidos estavam danificados. Deu passos desorientados, mas não se dava por vencida e tentou seguir em frente. Aizawa achou graça disso; mesmo tão abatida, ela tentava ser resiliente. Sem falar nada, ele puxou ela pra perto e pousou a mão na cintura fina da mais nova. Um tremor gostoso percorreu o corpo da mais nova com esse toque inesperado, mas ela não ousou sair do lado dele.
No táxi, a caminho do apartamento de June, ela dormiu sobre o peito do Professor. Foi inconsciente da parte dela, dormia um pouco afastada antes, mas quando ela virou e repousou, Aizawa não fez questão de tira-la de lá. A respiração leve e tranquila da branca também o tranquilizava. Seu coração batia calmo, e sua mente não queria saber de outra coisa que não fosse a imagem daquela mulher tranquila sobre si.
Não demora muito para que ambos cheguem até o apartamento da psicóloga. O lugar era simples e um tanto apertado, mas era ao gosto de June. Uma sala aconchegante compartilhava espaço com a pequena cozinha, e um corredor estreito dava até o banheiro e o quarto. O destaque ia pra varanda, sem dúvidas. A pequena hortinha de June tinha hortaliças verdejantes na luz do sol, com a luz da paisagem pairando diretamente nas plantas.
Logo que eles entram, uma pequena bola de pêlos se espreguiça no sofá e vai de encontro aos visitantes.
*Miaw* A gata laranja se atira aos pés da dona.
—Feliz por eu ter chegado mais cedo, Bandit?
—Não sabia que gostava de gatos. O mais velho diz enquanto acaricia a barriga da gatinha dócil.
—Sempre fui apaixonada. Vou tomar um banho, tudo bem?
—Sim.
—Fique a vontade. E não se iluda, essa gatinha é traiçoeira.
Aizawa continuou a acariciar a gatinha peluda, que estava esparramada no chão, ronronando contente com o carinho do mais velho. Fazia certo tempo que o professor não curtia a companhia de um gatinho dócil.
Até que a gata decidiu morder a mão dele. Ela o faz sem dó, como um aviso para parar.
Derrotado, Aizawa decidiu que era hora de ir, e foi de encontro com a branca. Iria se certificar que ela estava bem antes de retornar à UA.
A porta entreaberta do quarto revela uma visão que não seria fácil de esquecer. A branca ainda vestia suas roupas, e Aizawa pôde deslumbrar a vista do corpo alvo da jovem, vestida de um sutiã rosa rendado e delicado, enquanto ela terminava de vestir o short de moletom cinza.
De imediato o moreno deu um passo pra trás com a visão da branca na mente, quase semi-nua. Involuntariamente o rosto dele se tornou rubro, e outra coisa ficou animada em ver ela daquele jeito.
Inerte, Aizawa se sentou no sofá, pensando o quanto foi errado entrar na privacidade dela. Por um segundo ele também pensou como seria sentir o corpo dela contra o dele. Bufou afastando os pensamentos, e June logo apareceu. Totalmente diferente do que ele estava acostumado a ver; com a camisa preta e folgada cobrindo quase todo o short moletom cinza.
Ela se senta ao lado dele, um tanto tímida ao ter que receber Aizawa em sua casa.
—Tudo bem com você? Parece que viu um fantasma.
—Eu tô bem.
—Agradeço de novo o que fez por mim -June se senta ao lado dele, e o mais velho pode notar o frescor do perfume dela próximo a ele. —Foi muito gentil da sua parte, não precisa fazer nada. *Atchim*
—Você tem certeza que está bem? Acho melhor ir ao hospital. -Ele fala tocando a testa da branca. —A sua febre voltou.
—Vou ficar bem, eu juro. Recovery Girl me deu remédio suficiente pra curar duas gripes.
—Então descanse. E não ouse chegar amanhã doente.
—Sim senhor capitão!
Uma sombra de sorriso apareceu no rosto de Aizawa, mas ele não permitiu que ela transparecesse. O professor se despediu da branca com o coração apertado, algo nele gritava parece que ele ficasse e cuidasse dela.
...
Durante todo aquele dia de trabalho, a cada hora ele se perguntava se ela estava melhor, se precisava de algo; sentia um calor no seu corpo quando pensava nela naquela bentida hora que ele inventou de ir no quarto dela.
Aizawa não era idiota para saber o que era tudo isso. Ele gostava dela. Mas tinha tanta coisa na frente desse sentimento, ele não tinha certeza se ela sentia o mesmo, e se sentisse, como seria o trabalho dos dois? Inviável, concluiu ele.
"Estou perdido." Pensou ele. Definitivamente perdido.
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