Claire POV
- Vocês têm certeza de que querem fazer isso? – perguntei aos meninos.
No dia anterior, após gravar as três Tags e ir à praia, nós voltamos para casa, onde ficamos mexendo na Internet, comendo, gravando vines, editando vídeos, conversando, rindo, enfim, o de sempre. Foi quando os rapazes tiveram a brilhante ideia de fazer o “Desafio dos Nuggets”. Pensei que em algum momento da noite desistiriam de tal ideia, no entanto, já havia amanhecido e lá estavam eles mais uma vez insistindo nela.
- Sim, vai ser legal! – respondeu Cams.
- Meninas, vocês topam? – Jack J olhou para Tainá e Giulia.
- Vamos ter que fazer academia pelo resto da vida depois disso, mas tudo bem. – China aceitou.
- Isso se vocês comerem tudo, certo? – Gilinsky provocou, destacando o “se”.
- Tá duvidando da nossa gordice? – Giulia ergueu uma sobrancelha fina e loira para ele. Porém, não estava irritada. Era raro isso acontecer com Giu. Minha melhor amiga costumava estar sempre sorridente, e naquele momento não foi diferente.
- Não é isso, é só que... Você sabe... Vocês são... Garotas... – ela o fuzilou com os olhos. Pareceu que o mundo tinha congelado por um instante. Jack conseguira irritar Giulia. Jack. Conseguira. Irritar. Giulia.
- Cara, você não devia ter dito isso. – observou Aaron.
- Não mesmo. – concordou Tay.
- É assim, então? Meninos contra meninas agora! Eu contra você, Tainá contra o JJ, Claire contra o Cams.
- Eeeeei, pera um minuto, vamos com calma nisso aí, colega! – protestei. – Eu não concordei com nada disso. Tá vendo isso daqui? – apontei para minha barriga. – Vem de esforço, não de uma genética boa.
- Verdade, nossa genética é de obesos. – Nash assentiu.
- Ah, vai, são só cinquenta nuggets cada. – disse Tainá.
- Claire, esse abusado vem na sua casa, desrespeita você, suas amigas e todo o sexo feminino e você não vai fazer nada? – Giu questionou.
- Eu não quis ofender! – Jack interveio. – Mas garotas comem menos que garotos, isso é fato!
Porém, eu não prestava atenção nele. Eu não conseguia desviar os olhos do olhar azul e desafiador que Giulia me lançara havia pouco: - Você tá me desafiando, Leão?
- É, acho que tô, sim.
- Pois bem, então. – me virei para Cameron. – Prepare-se para perder, Dallas.
- Aaaaaah, essa é minha garota! – Cams me ergueu no ar.
- É isso aí, verás que um filho teu não foge à luta! – China me apoiou.
- E o que acontece se os meninos ganharem? – Jack J quis saber.
- Vocês não vão. – afirmei. - Sem animação, vocês não conseguem.
- Quem disse que não estamos animados? –JJ questionou. – Tipo, uhuuuu, vai, time! – ergueu o braço. Eu ri.
- Simples. – comecei a lógica. – Até lá, vocês não vão poder comer nada. Garoto com fome é sinônimo de garoto mal-humorado.
- Mas nós, fora dessa roubada, podemos comer. – disse Matt. – E vamos dar apoio moral pra eles.
- Fale por você. – Nash discordou. – Eu estou com as pequenas.
- Ooooooown, thank you! – nós três agradecemos em coro.
E então ficamos lá, discutindo para quem cada um torcia, quais as regras, como funcionaria etc, até que eu concluí:
- Bem, agora são meio dia e alguma coisa. Lá pras seis a Giu e eu vamos sair pra comprar os nuggets. Não comam nada até lá, hein? Mas bebam água. Isso sempre!
- Pode deixar! – responderam.
Dirigi-me de volta ao quarto, onde Shawn me esperava. Ele saíra enquanto nós discutíamos sobre o desafio, dizendo que precisava fazer uma coisa.
- Vida, vem cá. – me puxou pela mão até ele. – Você confia em mim, não confia?
- Acho que já disse isso muitas vezes, mas se você gosta de ouvir... Sim, confio. – me inclinei para lhe dar um selinho.
- Que bom. – Shawn sorriu. – Eu só queria dizer que estou orgulhoso de você. Você foi muito corajosa ontem enfrentando seu medo do negócio dos fãs e tal... Então, o que você acha de tentar superar outro medo hoje?
- Não, não vou assistir filme de terror. De jeito nenhum. – neguei com a cabeça.
- Filme de terror não. American Horror Story sim! A série não me dá medo, mas imagino que em você deve dar... Então pensei que seria um bom jeito de começar. – me explicou.
- Shawn, não quero...
- Vida, enfrentar medos é importante. E, se você pensar bem, eu estou te dando uma ótima oportunidade: uma série levinha, em plena luz do dia, e minha mão pra segurar. – percebi que ele não desistiria de tentar me convencer.
Eu suspirei: - Tudo bem. Então tem mais esse desafio pra hoje. – Shawn sorriu animado. – Mas eu não me responsabilizo por qualquer tipo de reação que eu possa ter.
- O que você quer dizer com isso?
- Que há possibilidades de eu gritar que nem uma retardada e chorar que nem um bebê.
Shawn riu: - Vida, é só AHS, não “Hora do Pesadelo”.
- É claro que não é. Se fosse, eu não ia só gritar e chorar, como também morrer.
Ele só riu mais: - Tudo bem, drama queen. Não se preocupe, vou cuidar pra que nada de mal aconteça com você. - se deitou com o notebook no colo, e me puxou para si. – Pronta pra uma tarde preguiçosa de superação?
- Não muito...
(...)
ATENÇÃO – SPOILERS COMEÇAM AGORA
Não havia se passado nem um minuto desde que o episódio começara, e eu já estava com medo. “Vocês vão morrer” uma garotinha bizarra disse para os gêmeos, e eu automaticamente paralisei. Shawn percebeu e segurou o riso.
- Quer segurar minha mão?
Eu não pensei duas vezes. Logo meus dedos já estavam entrelaçados nos seus. Então, os dois garotos – bastante inteligentes, por sinal – entraram na casa. Depois de andarem pela residência e fuçarem um pouco, um deles desapareceu.
- Ai meu Deus, Shawn, ele morreu... – sussurrei, minha mão já pronta para tirar a circulação sanguínea da sua de tanto apertar quando aparecesse o cadáver.
- Não podemos ter certeza, vai que alguém vai usar ele de refém e pedir pra esse outro “passar a grana”. – brincou, na tentativa de me acalmar. Porém, logo o garoto apareceu morto, e meu coração começou a pulsar freneticamente. – Tá, não foi bem isso... Mas prometo que o começo é sempre a pior parte. Agora é a abertura e depois vai pros dias atuais, que já é mais de boas.
- Ok...
E Shawn estava certo. Pelo resto do episódio não teve nada muito assustador. Nós até rimos algumas vezes, pois tinham umas partes engraçadas (ou pelo menos foram engraçadas pra gente). E tinha também putaria. Muita putaria. Ele bem que podia ter me avisado sobre isso antes.
- E aí, quem é muito corajosa e quer ver o segundo episódio? – Shawn perguntou, mas não me deu tempo para responder. – Eeeeu! – levantou e sacudiu minha mão, me fazendo rir.
- Vai ter putaria desnecessária? – eu quis saber.
- Você vai ter que assistir pra saber. – disse ele. – Vamos lá, tarde preguiçosa de superação #Parte2!
Esperamos um tempo até que carregasse e, novamente, não começou nos dias atuais. Havia uma garota e uma enfermeira na casa, e um homem queria matar as duas. “Eu aceito com alegria, meu Deus, todo o sofrimento e dor da morte que desejar pra mim” a adolescente ficava repetindo algo do gênero, amarrada, sem ter como fugir da morte. Então, o cara saiu de cena, e passou a ser mostrada apenas ela: deitada, atada, rezando... E, de repente, ela começa a ser esfaqueada.
- AI MEU DEUS AMADO JESUS MARIA JOSÉ! – escondi meu rosto no peitoral de Shawn, enquanto o mesmo acariciava meu cabelo.
- Ela disse que aceitava com alegria...
E o resto da tarde foi assim: eu morrendo de medo e Shawn rindo de mim e tentando me acalmar.
- E aí, mais um episódio? – indagou.
- Não, já está quase na hora de comprar os nuggets... – comecei a me sentar.
Ele fechou o notebook e o deixou de lado.
- Viu, eu te disse que não era nada muito pesado.
- Não foi tão ruim, mas também você fala como se fosse Barney. – eu disse. – E isso tá bem longe de ser Barney.
Shawn riu: - Então você realmente ficou com medo?
- Claro que fiquei! – eu não era como ele. Enquanto Shawn assistia a tudo como se fosse só mais um programa de TV infantil qualquer, eu me sentia assustada, meu coração batia forte e o pânico crescia em mim, assim como a necessidade de ter alguém comigo para me dizer que tudo ficaria bem, que nada daquilo era real. Minha mente para aquele tipo de coisa era a de uma criança. Eu definitivamente não fora feita para ficar assistindo séries e filmes dos gêneros horror e terror.
- Awn, vem cá. – ele me tomou em seus braços. – Não precisa ter medo, estou aqui com você.
- Não estou agora. – lhe assegurei. - Mas vou ficar na hora de dormir.
- E eu vou estar lá e vou te encher de carinho. – me garantiu.
- Obrigada. Você é o melhor, Shawn. – sorri e selei meus lábios com os dele. Minha vontade era de ficar ali com ele para sempre, mas isso acabou não sendo possível.
- Pessoas bonitas, hora de ir! – Giulia avisou, do lado de fora do quarto.
- Já estou indo! – gritei de volta, tentando me soltar de Shawn, mas ele não estava com intenções de me deixar ir. – Me encontra no carro?
- Encontro sim! – Giu respondeu.
- Vida, preciso ir... – eu tentava dizer entre os beijos que ele me dava.
- Mas eu não quero que você vá...
- Mas eu preciso...
Demorou um pouco até que eu conseguisse fazê-lo ceder, mas eu consegui. Levantei, calcei meus sapatos, prendi o cabelo e fui ao encontro de Giu.
(...)
- Trezentos nuggets? – a mulher do caixa sorria educadamente, apesar de que em seu olhar estava claro o quanto ela achava tudo muito estranho.
- Trinta caixas com dez. – Giulia esclareceu.
- Certo... É, ahn... Bebida? – nos perguntou.
- Não, obrigada, é só isso mesmo.
- Já está saindo. – a atendente informou.
- Só isso? – ergui as sobrancelhas.
- Só. – minha melhor amiga piscou para mim, e nós rimos juntas.
- Mas pra quantas pessoas? Trinta, né? – continuávamos zoando.
- Ahn, deixa eu fazer as contas... – fingiu pensar. – Ah, seis pessoas! – rimos juntas outra vez.
(...)
- Pelo amor de Deus, alguém me ajuda! – Giulia chegou em casa gritando.
- Ah, qual é, eu nem sou tão pesada assim. – ri e desci de suas costas.
- Acontece que não é só você, meu bem, são você e mais trezentos nuggets.
- Aqui, deixa que eu te ajudo. – Danny se aproximou de nós e pegou os sacos de papel do McDonalds das mãos dela.
- Ai meu Deus, amor, você tá aqui! – Giu se jogou nos braços dele.
- Não, bae, ele tá na Itália. Sabia não? – ironizei, descarregando sacolas na mesa. Giulia me fuzilou com os olhos. Ok, Giulia Leão irritada duas vezes no mesmo dia, que macumba era aquela? TPM, só pode. Ou fome extrema. Ou as duas coisas.
- Vamos combinar uma coisa? Eu não atrapalho seus momentos de reencontro do casal e você não atrapalha os meus, ok?
Eu ergui as sobrancelhas; um sorriso divertido surgindo em meu rosto. Giu era uma gracinha quando irritada.
- Não liga não, pequena, ela só tá meio chateada porque você não quer conceder a carta de alforria dela. – Daniel piscou para mim e eu caí na gargalhada.
- Gente, nós não falamos a língua dos fanáticos por história... – observou Tainá.
- Carta de alforria era um documento que fazia a pessoa passar de “escravo” pra “homem livre”. – expliquei.
- Ah, sim...
- Mas você não vai mais ser escrava, minha linda, vou começar a te pagar com chocolate. – dei um beijinho na bochecha de minha melhor amiga. Se minha intuição estivesse certa, e quase sempre estava, Giulia se encontrava com uma cólica daquelas.
- Que bom, eu ia gostar disso. – ela afirmou, sorrindo.
- E então, partiu gravar? – questionei, me virando no intuito de passar os olhos por Cameron, Tainá e os Jacks.
- Vocês trouxeram meu precioso barbecue, né? – perguntou Tainá, vindo da sala para a cozinha.
- Sim. – Giulia assentiu. – Além de ketchup, mostarda, ranch, agridoce e uns outros...
- Aí sim, hein!
- Gente, mas antes... Esse vídeo vai pro canal de quem? – eu quis saber.
- Pro dos Jacks, claro, eles que deram a ideia! – disse Cameron.
- Ah, isso significa que a gente vai ter que editar? – os dois questionaram. Nós assentimos, fazendo-os soltar barulhos de lamento. Os meninos não gostavam muito de editar os vídeos.
- Gente, posso ser o camera man? – Nash pediu. Nós assentimos outra vez.
- Hey, guys, Jack and Jack here! Hoje temos a participação especial do Cam. – gesticularam para o mesmo. – E dessas três garotas muito adoráveis: Giulia, Claire e China. – começou Gilinsky.
- E nós vamos fazer um Desafio dos Nuggets Meninos contra Meninas! Eu contra a Tainá, Jack contra a Giulia e Cam contra a Claire. – continuou JJ. – O certo seria nós termos vinte minutos pra comer cinquenta nuggets cada, mas, como nós não apoiamos o desperdício de comida, vamos comer até falar chega. E, obviamente, cortar umas partes pro vídeo não ficar tão longo. – nós rimos. – E com “umas” quero dizer “muitas”.
- Então, se duas ou três meninas desistirem primeiro, os meninos ganham. E se dois ou três meninos desistirem primeiro, as meninas ganham. – concluíram.
- Vamos começar!
Cameron começou a atacar a comida, ao passo que eu comia bem devagar. Deste modo haveria mais chances de ele desistir antes de mim.
Já na terceira caixinha de nuggets, nós não aguentávamos mais nada. Eu levantei da mesa e caminhei até a cozinha para pegar água.
- Ei, será que eu ouvi um arrego? – chamou Matthew do seu lugar atrás das câmeras onde assistia a tudo.
- Não, eu já estava voltando. – joguei um pouco do líquido incolor em sua cara antes de me sentar mais uma vez. Ri da careta que ele fez.
- Cara, eu não consigo mais... – dizia Tainá. Ela também estava na terceira de cinco caixinhas.
- Está oficialmente desistindo? – Carter indagou dos bastidores.
Eu tampei a boca dela antes que a mesma pudesse afirmar: - Não, você vai continuar comendo!
- Mas, Claire...
- Eu não vou engordar sozinha, pode ir comendo!
- Tudo bem... – suspirou e voltou a comer.
- Uhuuuuuuuu, quarta caixinha se foi! – Giulia comemorou. – Toma na cara, Jack, fica subestimando minha gordice! – nós rimos.
- Deus do Céu, eu desisto! Me dá sua água. – Cams pegou o copo de minha mão.
- Yaaaaay, ponto pras meninas!
- Ah, então eu posso sair também. Tô desistindo! – Tainá anunciou. – Decisiva entre Giulia e Gilinsky! – informou, já que estava um ponto para nós pela desistência do Cams e um para eles pela desistência dela.
Giulia e Jack continuaram comendo por mais um tempo.
- Acabei! – gritaram juntos.
- Ai
- Meu
- Deus
- Isso significa que deu empate!
- Não, na verdade, isso significa que... – Nash tirou Cameron de sua cadeira e se sentou nela, cruzando as pernas sobre a mesa. – Os verdadeiros vencedores são aqueles que não competem. – pegou uma caixa de nuggets e começou a comer, nos fazendo rir.
- Que ótima lição de vida, hein? – Aaron brincou.
- Vou até anotar no meu bloquinho. – Shawn completou e nós rimos novamente.
Os meninos que não estavam com o estômago completamente cheio comeram o resto dos nuggets (desperdício de alimento aqui? Nunca!) e nós, que participamos do vídeo, começamos a arrumar a bagunça que fizemos no processo, começando também nossa queima de calorias.
Algumas horas depois...
Já era de madrugada e quase todos estavam em seus quartos, com exceção de Shawn e eu (na cozinha, comendo morangos), Carter e Matt (terminando uma partida de tranca naquela mesa que fora a primeira em que eu já jogara) e China e Jack J (causando por aí).
- JJ, para, me devolve! – Tainá pulava de modo a alcançar seus fones de ouvido, que ele erguia acima da cabeça. – Você sabe que eu sou baixinha e que isso não é justo comigo!
Jack riu: - Se eu te devolver, você me dá um beijo?
- Beijo é o caralho. – Carter se intrometeu, conseguindo pegar os fones, e os estendeu para minha amiga. – Aqui, China.
Tainá abriu seu belo sorriso para ele: - Obrigada, Carter.
- Nossa, Cartah, o que foi isso? Ciúmes? – Johnson questionou.
- Não, é só que ela não é obrigada a te beijar se não quiser! – respondeu Cartah.
- Quem disse que ela não queria? – retrucou Jack.
- China, você queria? – os dois se viraram para ela.
- Então, né... Eu preciso ir. – veio correndo até a cozinha.
- Hmm... Quer dizer que tem dois homens brigando por você agora? – um sorriso sapeca se formou em minha face. Eu apenas perguntara porque sabia que eles não podiam me ouvir de onde estavam.
- Para com isso, o JJ é só meu amigo.
Shawn e eu ficamos boquiabertos:- E o Carter não? – meu namorado indagou.
China só então se deu conta do que havia dito. Se eu tivesse que adivinhar, diria que ela pensou “Nossa, Tainá, que ótimo momento pra deixar coisas escaparem!”. Ela cruzou os braços e olhou para Shawn com irritação: - Quem foi que te chamou na conversa?
Ele se encolheu como se tivesse levado um soco: - Desculpa... Morangos? – estendeu um pote com vários dos frutos avermelhados, tentando deixar o clima mais leve. Tal ato, porém, só serviu para piorar a irritação dela.
- Quem é que está tentando envenenar quem agora? – foi a última coisa que Tainá disse antes de subir as escadas e ir para o quarto que dividia com Giulia.
- Tá, essa eu não entendi. – o olhar dele procurou pelo meu.
- Vida, a China é alérgica a morangos... – lhe informei.
Shawn afundou o rosto entre as mãos: - E a cada dia eu só fodo mais as coisas com ela.
Eu me aproximei dele, o envolvi em meus braços e depositei um beijo em seu rosto: - Mas as coisas comigo a cada dia você só melhora. – tentei consolá-lo. Pareceu funcionar.
Shawn sorriu e me apertou mais contra ele: - Pois é, pelo menos isso eu sei fazer. – e então nós selamos nossos lábios num beijo calmo e carinhoso, como geralmente eram nossos beijos.
Tainá POV
- Uhuuu, qual é a moeda brasileira? Real, tuts tuts, real! – Giulia celebrava a canastra real que fizera no jogo de cartas quando entrei no quarto.
- Parabéns, tesouro, você está cada dia melhor nesse jogo. Estou orgulhoso de você. – Danny sorriu com ternura para Giu.
- Preciso estar à sua altura, né? – ela também sorriu e se inclinou de modo a beijá-lo.
- E eu preciso desabafar. – joguei-me na cama que um dia já fora da avó de Claire, e que estava desocupada já que os dois jogavam no chão.
- O que foi, baby girl? – me perguntou Daniel.
- Abra seu coraçãozinho pra turma. – Giulia incentivou.
- Acho que estou apaixonada.
- AIMEUDEUS! – ela automaticamente se aproximou de mim, faminta por detalhes. Giulia era muito romântica. Se eu tivesse que descrevê-la em apenas três palavras, muito provavelmente estas seriam: romântica, bem-humorada e linda. – Quem é o sortudo? Algum dos meninos?
- Sei que isso vai parecer meio idiota, tipo, nós só nos conhecemos há uma semana, mas... Teve alguns dias que eu acordei no meio da noite e fui beber água... E, bem, o Carter normalmente estava na cozinha... Aí nós ficamos conversando... E ele é tão legal e engraçado! Não sei o que está dando em mim... – revelei.
- Não parece idiota não, pequena. – discordou Daniel. – Eu já fiquei encantado por essa garota maravilhosa aqui desde a primeira vez em que a vi. – Giulia sorriu, e ele se aproximou no intuito de lhe dar um selinho. – E, pelo que a Claire me contou, com ela e o Shawn os sentimentos também se manifestaram bem rápido.
- Argh, nem me fale desse babaca. – ouvir o nome dele fazia com que meus ouvidos doessem.
- China, por que você odeia tanto o Shawn? – Giu quis saber.
- Giulia, por que você não odeia? – rebati. – O filho da puta traiu sua melhor amiga!
Claire POV
Carter e Matt já haviam terminado sua partida de tranca e subido para o quarto, assim como Jack J. Shawn fizera o mesmo, e eu prometi a ele que logo iria também, mas que primeiro iria desejar uma boa noite a todos os meus amigos. Eu estava prestes a entrar no antigo quarto de minha avó, quando a menção do meu nome me fez parar com a mão na maçaneta. Era o que Tainá chamava de “Teoria das Portas” ou, simplesmente, “TP”: a porta abafa o som, mas não o impede de passar.
- Pelo que a Claire me contou, com ela e o Shawn os sentimentos também se manifestaram bem rápido. – dizia Daniel.
- Argh, nem me fale desse babaca. – protestou Tainá.
- China, por que você odeia tanto o Shawn?
- Giulia, por que você não odeia? O filho da puta traiu sua melhor amiga!
Aquelas palavras tiveram um efeito paralisante sobre mim. Assim que chegaram aos meus ouvidos, fizeram com que eu congelasse por alguns instantes. Fui atingida em cheio por uma onda enorme de arrependimento e infelicidade. Meu coração doeu de um jeito terrível; sensação que se espalhou por todo o meu corpo, chegando até os meus dutos lacrimais. Meus olhos marejaram. Precisei levar as duas mãos à boca para não gritar.
Oh, não, era tudo culpa minha! Minha melhor amiga odiava meu namorado, e era tudo culpa minha!
Desci correndo até o primeiro andar. Entrei no quarto que eu dividia com Shawn, fechei a porta atrás de mim, me encostei nela e comecei a derramar as lágrimas mais culpadas de toda a minha existência.
- Vida, o que aconteceu?
Shawn POV
- Eu... Eu descobri por que a Tainá não gosta de você. – Claire começou a caminhar até mim, sentado na ponta da cama de casal em que dormíamos. Mas ela não se sentou ao meu lado, nem no meu colo. Apenas parou de frente para mim, afundou o rosto entre as mãos e continuou em prantos.
- É mesmo? O que é? – questionei, analisando minha namorada, e me perguntando onde um carinho cairia melhor naquele momento.
- É que ela sabe... Sobre Nova Iorque...
- Aconteceu muita coisa em Nova Iorque, princesa, seja mais específica. – pedi no tom mais gentil que consegui.
- O shopping... Ela sabe sobre o shopping... – esclareceu, entre lágrimas e soluços. – Me desculpa, Shawn, me desculpa... Eu não ia contar pra ninguém... Mas eu tava sofrendo e precisava da Tainá pra me acalmar... Eu não falei nem pro Nash, nem pro Cams, nem pra minha mãe... Porque eu não queria fazer ninguém ficar bravo com você... Mas foi exatamente o que eu fiz... – eu nunca antes vira Claire chorar tanto; e olha que eu já a vira chorar muitas vezes.
- Hey, minha linda, tá tudo bem... Olha pra mim... – levantei seu queixo até que seus olhos azuis transbordando dor e culpa encontrassem os meus. – Está tudo bem... Você não tem pelo que pedir desculpas. Eu errei e agora estou arcando com as consequências.
- Mas é culpa minha... Fui eu quem contou pra ela... É tudo culpa minha... – ela desabou, caindo de joelhos ao pé da cama. Eu fui para o seu lado no mesmo segundo.
- Não, vida, não é culpa sua. Você não fez nada de errado. Eu te fiz sofrer e você precisou da sua amiga. Fui eu quem errou. – era duro admitir, mas aquela era a verdade. No entanto, Claire parecia não ouvir o que eu dizia, pois continuava a chorar culpada e incontrolavelmente. – Princesa, vem cá, deixa eu te fazer carinho... Você vai se sentir melhor...
- Não! Eu não mereço seu carinho, não mereço... – ela afastava minhas mãos de seu corpo, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Claro que merece, vida, você merece tudo de melhor nesse mundo... – eu continuava a tentar tranquilizá-la.
- Não, não mereço... Eu estraguei tudo... Qualquer chance que você e a Tainá tinham de ser amigos, eu estraguei...
- Hey, princesa, não chore... – Tainá se abaixou ao meu lado. Seu toque fez com que Claire se acalmasse no mesmo segundo. Espera, de onde ela tinha surgido? E por que eu não podia ter essa incrível capacidade de fazer Claire se sentir melhor instantaneamente que ela tinha? Com mais algum tempo de convivência e prática, quem sabe... – Minha princesa é linda demais pra chorar. – ela secava as lágrimas da amiga. – Shawn e eu podemos tentar ser amigos. Não podemos, Shawn? – seu olhar verde pairou sobre mim.
Tainá POV
(alguns minutos antes)
- Eu só odeio o que ele fez com ela, odeio! – declarei. – Ele foi o primeiro dela, ela confiou nele, e ele a traiu! Esse garoto é um imbecil! Ele não merece a Claire!
- Mas, China, a Claire não é idiota. Se ela perdoou ele, provavelmente foi porque ele mereceu. – argumentou Daniel.
- Danny, ele traiu ela! T-r-a-i-u! Traiu a Claire, Claire Grier, conhece? Aquela garota doce, inteligente, simpática, linda, deusa grega de tão linda... Esse menino só pode ter merda na cabeça, só pode! Por que mais ele faria uma coisa dessas?
- Acho que isso você vai ter que perguntar pra ele.
Daniel e eu ficamos nos encarando por alguns instantes. Seu olhar dizia “Você sabe que eu estou certo” e o meu dizia “Mas eu não quero falar com ele”. E então o seu rebatia “Faça isso pela Claire” e eu finalmente cedi. Suspirei pesadamente, levantei, saí do quarto e desci até o primeiro andar. Já na sala, eu pude ouvir o choro dela. Ah, que ótimo. O filho da puta está fazendo ela sofrer de novo. pensei. No entanto, ao me aproximar mais um pouco eu pude ouvi-la. Era a famosa “TP” ou “Teoria das Portas”: a porta abafa o som; não o impede de passar.
- Não! Eu não mereço seu carinho, não mereço... – Claire falava. Eu franzi o cenho.
- Claro que merece, vida, você merece tudo de melhor nesse mundo... – respondeu Shawn. Agora sim você tá entendendo como a banda toca, né, querido.
- Não, não mereço... Eu estraguei tudo... Qualquer chance que você e a Tainá tinham de ser amigos, eu estraguei...
Meu coração se apertou. Ver minha melhor amiga sofrer era uma das piores sensações do mundo. Quando acontecia, eu jamais esquecia. Eu nunca me esqueci da expressão de Claire no enterro de sua avó, quatro anos atrás. Nunca me esqueci de sua dor quando seu gatinho morreu, um pouco depois. Nunca me esqueci de como ela ficou quando o médico lhe disse que não havia chances para o seu pai. Também não me esqueci de como Claire chorou no velório dele. E não me esqueci do seu sofrimento que era palpável mesmo via Skype na noite em que seu primeiro namorado a traiu.
Eu girei a maçaneta e entrei no quarto que ela dividia com Shawn, o quarto em que seu pai costumava ficar, e a vi de joelhos no chão, com seu namorado ao seu lado tentando acalmá-la, sem sucesso. Eu me ajoelhei ao lado dele e enxuguei as lágrimas dela.
- Hey, princesa, não chore... Minha princesa é linda demais pra chorar. Shawn e eu podemos tentar ser amigos. Não podemos, Shawn? – eu olhei para ele. Estava disposta a fazer qualquer coisa para que ela se sentisse melhor.
Shawn olhou para Claire. Nos olhos dela, assim como em toda sua expressão, uma emoção surgia: esperança.
- Sim. – Shawn concordou. – Sim, podemos.
Claire abriu um sorriso enorme.
(...)
- Você tinha que ver como a Claire falava de você. O quanto você era legal, lindo, incrível... O quanto ela tinha sorte por um cara como você gostar dela... Ela via a si mesma como uma ganhadora de loteria. E eu só via minha melhor amiga se apaixonando por um cara que já a traiu e magoou. Você não merece o amor dela por você.
Shawn e eu havíamos ido para os fundos da casa, perto da piscina (onde eu estava com muita vontade de empurrá-lo, mas não o fiz pois Claire não iria gostar nada disso) e a deixado no quarto com a esperança de que nós dois finalmente nos entenderíamos. Eu estava tentando ser forte e prender minhas lágrimas, mas depois daquele momento, não consegui mais. Doía demais pensar em Claire se apaixonando por ele, confiando nele, se entregando a ele, enquanto Shawn a traía, a machucava, a fazia sofrer.
- Eu entendo o porquê de você não gostar de mim e assumo que o que eu fiz foi errado, mas eu jamais tive a intenção nem de traí-la nem de magoá-la e vou ter que discordar da sua conclusão, porque aquela menina significa o mundo pra mim e eu levaria dez tiros todos os dias pelo resto da minha vida se fosse pra vê-la feliz, e eu mereço sim o amor dela. – Shawn discordou.
Eu estava prestes a respondê-lo de modo implicante, afirmando que ele não sobreviveria se levasse dez tiros, mas outra coisa em sua frase me chamou mais atenção.
- Como assim você “jamais teve a intenção de traí-la”? Até onde eu sei, ou você decide que vai trair alguém ou você decide que não vai. A não ser que você tenha sido drogado, o que eu acho que não foi o caso.
- Eu pensei que aquela garota era ela... – Shawn admitiu de cabeça baixa. – Eu não decidi trair Claire, mas foi o que eu fiz.
- Você pensou que era ela?! Você tem problema de visão, criatura?! Como você confunde aquele rosto? E aqueles olhos, como você confunde aqueles olhos?! Nem com óculos e na chuva dá pra confundir aqueles olhos! – eu estava incrédula.
- Eu vi de costas, e foi muito rápido... – ele explicou. – Enfim, eu sei que isso não torna o ato menos errado. Mas eu nunca decidi traí-la... Nunca quis magoá-la... Nunca quis ferir os sentimentos dela... – Shawn me olhou nos olhos. – Eu me importo com eles como se fossem os meus.
- Não vem dar uma de Tate pra cima de mim não! – rebati. – Você continua sendo um idiota.
- Na verdade, essa não é exatamente a frase dele. Eu não fiz a associação antes de falar. Só disse a verdade. – afirmou. – E eu posso até ser um idiota, mas não escolhi ser esse idiota.
Suspirei pesadamente pela segunda vez no dia, e então, finalmente, eu cedi: - Tudo bem. Mas se fizer minha amiga sofrer de novo, melhor se afastar de uma vez.
- Certo. Entendi. – ele abriu um sorriso maior que a cara. – Amigos? – estendeu a mão para mim.
- Duas pessoas que não nutrem sentimentos ruins uma pela outra. – o corrigi, apertando sua mão. – Vai precisar de mais que isso pra ser meu amigo.
- Tudo bem. Eu não esperava mesmo que fosse ser tão fácil assim. – nós começamos a voltar para dentro da casa. – Acho que vou pedir algumas dicas de como conquistar sua simpatia pro Carter.
- Você cala a boca! – o empurrei de leve, mas não consegui deixar de rir. Shawn riu comigo. Tá, ele até que não era tão insuportável assim. – Desculpa por dizer que suas piadas são sem graça.
- Sem problemas. Aquela não teve graça mesmo. – disse ele. – Desculpa por te oferecer morangos. Eu não sabia que você tinha alergia.
- Está perdoado. – nós finalmente chegamos à porta do quarto.
Claire estava sentada na ponta da cama de casal, com o braço apoiado na perna e o queixo apoiado em seu punho, fitando o piso e balançando os pés de forma inquieta. Eu sorri. Minha melhor amiga era uma graça. Eu olhei rapidamente para Shawn, e ele também estava sorrindo. Seus olhos tinham um brilho apaixonado. Aquele olhar me lembrou do jeito que meu primeiro namorado olhava para mim.
- Hey, nós voltamos. – ele chamou Claire. – E estamos numa boa.
Ela ergueu o olhar até nós dois, sorriu e veio correndo me abraçar: - Você é uma das melhores amigas que uma pessoa poderia querer. Eu te amo muito e agradeço muito sua preocupação comigo. Mas Shawn nunca quis me magoar. Ele é um namorado incrível e está cuidando de mim. Você não precisa mais se preocupar. – me disse.
- Também te amo, wife. – sorri, retribuindo seu abraço. Meu olhar encontrou o dele. – E que bom. Você merece mesmo um namorado incrível que cuide de você.
Shawn assentiu, entendendo meu recado mudo: “Se magoá-la de novo, já sabe o que acontece”.
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