Claire POV
- Jack, você é muito idiota! – Sarah soltou uma risadinha, empurrando-o de leve.
Assim que meus pés tocaram o piso, aquecido pelo sol que nele batia, da cozinha, fui recebida pelo som familiar da risada da loira, por uma leve brisa vinda da janela aberta e pelo agradável cheiro de panquecas. E – algo extremamente esquisito – a visão de meu irmão ajudando Giulia a preparar o café.
- Panquecas, Chéri rindo... – observei, e então parei. – E, espera, Nash na cozinha?!
Ele riu: - Pois é. Quando cheguei aqui, a Giulia tava fazendo tudo sozinha, então decidi ajudar até você vir pra cá. – explicou. – Mas chegastes tarde, maninha. – colocou um prato com panquecas de M&M, as favoritas da Tainá, em cima da mesa. – Já terminamos tudo aqui. – Nash se virou para Giu, sorriu e estendeu a mão para que fizessem um high five.
Além deles dois e de mim, apenas Sarah e os Jacks estavam na cozinha, jogando o que reconheci como sendo pôquer em plenas onze da manhã. E, como as massas circulares repletas de chocolates coloridos me fizeram lembrar de minha esposa, questionei: - Gente, cadê a China?
Nash apontou na direção da sala de estar. O primeiro andar da construção tinha um layout aberto, de modo que você ia e vinha da sala para a cozinha sem nenhuma parede para te impedir. Havia uma porta de vidro próxima aos sofás que dava acesso à piscina. Voltando-me naquela direção, pude ver Taylor sendo empurrado por Matt e caindo na água, ao passo que Carter levantava Tainá e a passava por seu ombro, fazendo minha amiga se debater quando seus cabelos castanhos e cumpridos tocaram o chão ao ficar de ponta cabeça e seu rosto encontrou a pele das costas nuas dele. Foi possível ouvir o grito que ela deu assim que Cartah se jogou com a mesma na água e as risadas que compartilharam ao voltar para a superfície.
Abri um sorriso: - Esses dois hein... Sei não. – passei os olhos por cada um dos presentes no local. Todos me retribuíram o sorriso carregado de malícia, com exceção de Jack J, que ficara calado mexendo na ponta da carta de baralho como se esta fosse mais interessante do que qualquer outra coisa ao redor. Tratei de mudar de assunto: - E então... Pôquer de manhã?
Acho que eu nunca antes vira pessoas no meio de uma partida de tal jogo não fosse durante a noite.
- É, deu vontade, então cá estamos nós. – Gilinsky deu de ombros, e então perguntou: – E aí, loira? Qual o veredito?
Sarah deu duas batidinhas na mesa, indicando que queria “mesa”. Johnson fez o mesmo, assim como Jack G. Aparentemente, estavam sem sorte naquela rodada.
No intuito de não desconcentrá-los ou atrapalhar o jogo deles de alguma maneira , me juntei à Giulia e a Nash e fiquei comendo e conversando com eles. Depois de bastante papo, uma pergunta me fez finalmente recordar do que mais eu faria naquele dia.
- E então, como anda o processo de superação dos medos? – Giu indagou.
- Bem. Nós terminamos todas as temporadas de American Horror Story. A última eu vi sozinha. – informei. – Agora Shawn acha que já está na hora de ver um filme de terror. Péssima ideia, eu sei... Mas, fazer o quê? – comecei a levantar. – Tô indo lá, gente bonita.
- Ok. Bom filme.
Rapidamente lavei meu prato e saí da cozinha. A última coisa que eu ouvi foi Sarah fazendo um All In - ou seja, apostando todas as suas fichas - e Johnson a acusando de estar blefando, sem acreditar que as cartas dela pudessem estar tão boas assim ao ponto de arriscar tudo.
Subi as escadas até o segundo andar da casa, que tinha um corredor estreito e um monte de portas. Acho que nunca antes eu vira uma moradia com tantos quartos. Entrei naquele em que eu dividia com Shawn. Ele se encontrava jogado em nossa cama escrevendo algo em um caderno, e estava com o maravilhoso cheiro de alguém que tomara banho recentemente. Joguei-me ao seu lado, tentando dar uma espiada nas palavras que escrevia, mas fui impedida quando ele puxou o caderno mais para si.
- Oi, vida, tudo bem, posso ver? – zombou ele. Abri o tipo de sorriso que abria quando minha mãe me pegava comendo doce antes do jantar aos cinco anos de idade.
- Posso? – perguntei.
O sonho de Shawn era ser cantor, e vez ou outra o víamos escrevendo canções por aí. Também era vez ou outra que ele nos deixava ler. No meu caso, eu já tivera tal privilégio duas vezes, e esperava ansiosamente pela terceira.
- Ahn... Pode. Mas espera que tem outra melhor. – começou a folhear.
- Oba!! – me remexi ansiosa na cama.
- Aqui. – entregou o caderno em minhas mãos. Quando terminei de ler, ele questionou: – E então, doce garota, o que achou?
- Meu Deus, vida... Eu acho que precisamos achar uma gravadora pra você, tipo, pra ontem. Sabe por quê? – ele ergueu as sobrancelhas como se dissesse “Por quê?”. – Porque eu vejo progresso. Muito progresso. – comentei. – Essa música arrasou, como todas. Estou orgulhosa. Bate aí. – fizemos um high five. – Mas ainda estou esperando pela minha música.
- Quem disse que essa não era pra você? – Shawn levantou a hipótese.
- Sério? Pera, então deixa eu ler de no.. – minha fala foi interrompida assim que o caderno foi puxado de minhas mãos. – Vida!
Ele riu: - Desculpa, seu tempo acabou. Quem sabe outro dia, doce garota.
Suspirei: - Enfim, vamos ver os filmes ou não?
- Claro! – essa foi a vez dele de se animar. – Por favor, senhorita, acomode-se. – puxou o edredom para que eu entrasse em baixo.
- Você escolheu uns bem levinhos, né? – o primeiro longa-metragem nem havia começado e lá estava eu já ocm medo.
- Claro. – assentiu. – Levinhos.
E o medo só cresceu mais ainda. O que exatamente ele considerava “leve”?
(...)
Foram seis horas de filmes e mais uma de conversa. Agora estávamos todos reunidos na sala: Tainá, Cams, Nash, Giu, Taylor, Aaron, Carter, Sarah, Matt, os Jacks, Shawn e eu. Eu estava tão encolhida ao lado do meu namorado que de vez em quando alguém me olhava estranho com um olhar do tipo “Tá tudo bem?”.
Fora terror demais para uma tarde só. Eu sentia que estava melhorando, mas ainda era bastante medrosa. Inclusive, American Horror Story se comparada aos filmes que vimos naquela tarde era uma história de princesas da Disney. Provavelmente eu era a única pessoa no mundo que sentia medo ao assistir tal série. No entanto, por algum lugar eu precisava ter começado, não é?
Mas enfim, a questão era que, apesar de ter progredido, eu ainda tinha mentalidade de criança quanto àquele tipo de coisa. Era como se, em uma escala de 0 a 100, eu tivesse ido do 1 para o 20. Era uma evolução grande, mas ainda era pouco de um modo geral. E era por isso que eu estava abraçada com Shawn como as pessoas se agarravam a mesas durante tornados, assustada como nunca antes. E eu não me sentia pronta para soltá-lo nem tão cedo.
O lado bom era: o fato de ter uma adolescente de dezesseis anos encolhida junto a ele como uma criança de quatro não o incomodava.
- Nossa, cara, saudades da Mahogany... – comentou Tay.
- Verdade. – concordou Giulia. – Você bem que podia chamar ela pro seu aniversário, né? – voltou-se para Tainá.
China abriu um sorriso: - Já chamei.
- Quando é seu aniversário, Chinatown? – Cameron quis saber.
- Dia 31. – respondeu ela. – Daqui quatro dias.
- Nossa, nem avisa pra gente poder ter tempo de comprar um presente! – indignou-se Matt.
- Quantos aninhos, pequena? – Aaron indagou.
- Dezessete.
- Já tá na hora de tirar a carteira de motorista, hein? – lembrou JJ.
- Sim, e a pequena Clary também. – completou Gilinsky.
- Gente, já falei, só vou tirar com dezoito. – insisti.
- Por que só dezoito? – Carter parecia confuso. Acho que ele não estava presente quando nós falamos sobre isso, alguns dias antes. Provavelmente estava por aí beijando Tainá.
- No Brasil dezoito anos é a maior idade. Quando você pode beber, tirar sua carteira de habilitação, ter sua própria casa etc. – expliquei. – Meu pai foi criado assim, e eu fui criada assim. Portanto, tirar carta e morar sozinha só depois dos dezoito. Ponto.
- E filhos só depois dos vinte. – todos voltaram sua atenção para Giulia. – O quê? – questionou ela. – Não é nenhuma lei, mas acho importante lembrar.
- Acho que idade não tem nada a ver nesse caso. – opinei. – Se fosse por essa lógica, então quer dizer que ano que vem a Sarah já estaria madura o suficiente pra ter um filho?
- Chéri, pra sua informação, eu sou muito madura. – respondeu a loira.
- Madura o suficiente pra um filho? – ergui as sobrancelhas para ela. A mesma abriu a boca para dizer algo, porém logo se calou.
- Claire, apenas siga a regra-não-oficial. Não entendo por que está se opondo. – disse Giu. – Quer contar alguma coisa pra gente?
- Ah, claro. – brinquei. – Shawn? – chamei com a voz e a expressão carregadas em drama, erguendo meu olhar até o dele.
- Sim? – respondeu no mesmo tom.
- Tô grávida.
Ele levou a mão até minha barriga: - Katherine ou Peter?
Lentamente ergui minha mão até que pudesse tocar seu rosto e, de jeito mais dramático impossível, afirmei: - Ambos.
Metade das pessoas no cômodo caiu na gargalhada, enquanto a outra nos chamava de idiotas com um sorriso de canto nos lábios. E teve ainda Nash, que declarou:
- Vou mandar esse vídeo pra mamãe e ver o que ela acha.
- Nash, não! – corri para tirar o celular dele, e então iniciou-se uma perseguição que demorou para acabar. Esses meninos tinham que parar com essa mania de gravar vídeos de nós dois sem que percebêssemos.
- Ah, vai, deixa ele mandar! – pediu Matt.
- É, eu quero ver qual vai ser a reação dela! – completou China.
Procurei pelo olhar de Shawn, para saber qual sua opinião sobre o assunto. Ele não demonstrou oposição, então eu cedi: - Tá, tudo bem. Mas manda no grupo da família. Quero ver o que o Will e o Johnnie vão dizer também.
- Ok. – meu irmão enviou o vídeo.
- Mas, então, falando em maturidade da Sarah... – começou Cams. – Quando você vai pegar suas coisas que, num ato muito maduro, deixou pra trás em Nova Iorque? – perguntou à minha amiga.
Ela suspirou: - Não sei... Não quero ver o Victor nunca mais.
- Hey. – Jack J tocou o ombro dela. – Você quer xingar ele? Se quiser, vai em frente. Ajuda.
- Sim. – concordou Jack G. – E, você sabe: amigos que xingam unidos, permanecem unidos.
Sarah riu: - Não sei...
- Confie em mim, você vai se sentir melhor. – Tay lhe garantiu. – Sei por experiência própria.
- Tudo bem, tudo bem... – a loira se rendeu. – Ele é um puto.
- Isso é o pior que você consegue? – questionou Matt. – Vai, mina, pode falar! – ele se colocou por trás de Sa e segurou as duas mãos dela, balançando-as num gesto irritado, como se fosse ela falando: - Arrombado do caralho!
- Cuzão! – apoiaram os meninos.
- Little shit! – ecoaram as meninas.
E ficamos lá a matando de rir como havíamos feito com Tay alguns dias antes, até Nash interromper gritando: - Gente! Gente! Eles responderam!
- O que eles responderam? – Shawn indagou.
- O Will falou pro Shawn aproveitar seus últimos dias como um homem inteiro. O Johnnie disse pra vocês pesquisarem no Google o que é camisinha. E a mamãe disse “#PartiuSerAvó”. – mais uma vez, nós caímos na gargalhada. Desde que eu explicara à minha mãe o que significava “partiu” e Nash explicara o que era uma hashtag, ela usava muito ambos.
- Fala pra ela: “Não, mãe, não é brincadeira, é sério”. – disse Aaron.
Nash assim o fez, e logo obteve uma única palavra como resposta: "decepcionada".
(...)
- Shawn, não quero dormir agora... – falei manhosa deitada no peito dele em meio à escuridão do nosso quarto. Contudo, aquilo não era verdade. Meus olhos estavam pesados e não conseguiam ficar abertos por mais de dois segundos. O que eu não queria era ter pesadelos. – Tô com medo... E tô triste...
- Por que triste? – questionou, acariciando meus cabelos.
- Porque mesmo depois de tudo que nós fizemos pra eu superar meu medo, eu continuo sendo a garota mais medrosa do mundo. – eu dizia afagando a mão dele que não estava em minha cabeça.
- Mas você melhorou bastante. Sabe o que eu vejo, Grier? – neguei com a cabeça. – Eu vejo progresso. Muito progresso. – me imitou.
Eu sorri fraco: - Ok... Vou dormir então... – minha voz era igualmente fraca, em razão do sono. – Cuida de mim enquanto eu durmo, ok? Não deixa nenhum boneco assassino vir pra cima da gente, tá?
Seu tórax e abdome se mexeram um pouco quando ele riu: - Pode deixar.
- Agradecida. Boa noite, vida.
- Doces sonhos pra você, doce garota. – respondeu, depositando um beijo suave no topo de minha cabeça. -- Doces sonhos pra você.
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