Eu estava com minhas palmas espalmadas no para peito da sacada, olhando diretamente para a casa de Louis por entre as outras casas a dois quarteirões. Era fácil identificar sua casa, ela era grande e de dois andares, afinal a família de Louis era grande, além dele havia mais quatro garotas.
A aposta ainda estava clara em minha cabeça, que doía por tanta idiotice:
– Acho melhor você não fazer isso, pois não irá ganhar. - Louis joga seu corpo para trás relaxando na cadeira.
Nós ainda estávamos naquela coisa de aposta imbecil.
- O que foi Louis? Está com medo? - Dou o mais falso sorriso que posso, ele arqueia as sobrancelhas e me dá a língua, enquanto esfrega as palmas das mãos, outra mania.
- Acho melhor não fazer isso Louis – Liam se pronuncia, olhando de Louis para mim e vice versa, com o semblante sério e calmo. – Alysson é bonita, qualquer garoto iria querê-la.
Ele sorri para mim e eu sorrio de volta.
- Ouviu isso... O que?! Espera, você me acha bonita? – Arregalo os olhos surpresa, olhando parra Liam que assente e dá de ombros, sorrindo.
- Isso não vem ao caso – Louis tampa a boca de Liam com uma das mãos, me olhando com o que presumo raiva e inquietação – O caso é o seguinte: você quer apostar quem consegue alguém primeiro?
- Sim, irei mostrar para você que fico muito bem sem ti. - Digo firme, ficando ereta na cadeira.
Eu estava de frente para ele e o mesmo de frente para mim. Louis rapidamente se endireitou e umedeceu os lábios finos e rosados.
- Ok, mas seu eu ganhar você terá que me dar um tênis de futebol novo. - Disse, com o típico sorriso vencedor no rosto.
Louis achava que iria ganhar, seria divertido mostrar-lhe que estava errado.
- Feito! E seu eu ganhar você irá assumir que eu sou melhor que você - Digo, estendendo a mão, Louis arqueia as sobrancelhas novamente e suspira.
Eu não precisava de nada material vindo dele, apenas o sentimento de perceber que estava errado.
- Só isso? - Perguntou, tocando minha mão com a sua. Sua mão era quente e macia.
Fazia algum tempo que eu não tocava a mesma, era bom toca-la novamente.
- Sim – Ele sorri e aperta minha mão, eu retribuo o aperto mais forte, olhando para ele de forma desafiante, enquanto o mesmo parecia petulante e determinado. E lindo.
- Feito. - E lá estava novamente o sorriso vitorioso e o corpo relaxado como se ele já tivesse ganhado.
- Isso não vai dar certo – Liam balança a cabeça, suspirando. Eu apenas franzo o cenho para ele, que me olha pelo canto de olho. Ele é o mais maduro, provavelmente o único.
- Deixa, isso será divertido. – Zayn dá um tapa de leve nas costas dele, sorrindo, e o mesmo suspira novamente encolhendo os ombros.
- Que a sorte sempre esteja a seu favor, Alysson Mackenzie – Diz Louis sorrindo, enquanto novamente esfrega as palmas das mãos.
Olho intensamente para ele, que retribui o olhar. Eu quero faze-lo engolir aquelas palavras e estrangulá-lo, mas ao mesmo tempo quero apertar suas bochechas que eu senti bastante falta.
Respiro fundo e dou um sorriso cínico, piscando ao dizer:
- Digo o mesmo, Louis Tomlinson.
Louis havia me oferecido uma carona, estávamos no segundo ano e ele já dirigia um carro desde o começo do ano. Eu recusei, pois não estava a fim de escutar ele tagarelar sobre a aposta, que era o que ele realmente iria fazer.
Eu o conheço muito bem, ele adora estar certo, adora ganhar e esfregar o seu triunfo na cara das pessoas. Isso era o que eu não iria deixa-lo fazer, não dessa vez.
Mas por mais que Louis seja assim, ele é uma boa pessoa. Ele é igualzinho a mim, ambos somos determinados e ousados, temos essa alma competitiva e vontade de triunfo. Era por tantos motivos que eu Louis nos dávamos tão bem, afinal éramos iguais. Essa coisa de que oposto se atraem é baboseira. Eu não iria gostar de ter como um amigo que não gosta de diversão, que prefere ficar em casa e é tímido, que não aceita um desafio, que não pensa do mesmo jeito que eu. Isso iria me fazer me sentir sozinha, irritada e com tedio, muito tedio. Louis era o certo para mim e agora eu teria que provar o contrário.
Merda eu estava ferrada!
Agito minha cabeça, tentando tirar os olhos azuis petulantes e atrativos de Louis. Eu precisava me concentrar na aposta e de um namorado que caísse do céu. O que seria difícil de acontecer ou impossível. Não que eu não tenha amor próprio, isso eu tenho de muito, sou perfeita, OK, não é pra tanto, mas eu me amo e isso que importa. O problema é que as pessoas não me olham do jeito que eu realmente sou.
Por dentro uma menina simples, engraçada, divertida, que gosta de coisas radicais e intensas. Diferente do jeito que as pessoas querem que eu seja, que normalmente seria uma garota adorável, meiga e fofa, com um rosto angelical, santa e responsável. Mas eu não consigo ser assim e o modo como fui criada, as pessoas com quem convivi, não me deixaram ser assim.
As meninas que vivem no padrão da sociedade, perdem o maior tempo de suas vidas se preocupando com o que as pessoas vão achar delas, se estão bonitas para os meninos, se vão ser líderes de torcida ou ser nomeadas rainhas do baile. Eu não tenho nada contra essas meninas, até as admiro porque elas fazem alguma coisa, esperam alguma coisa, sonham com alguma coisa, diferente de mim que apenas tenho o mesmo cotidiano várias e várias vezes, sem dar tanta importância assim para o futuro.
Digamos que sou um pouco despreocupada com a vida e está aí o problema, garotos não querem meninas assim, já basta eles, eles querem a garota perfeita, o que não é o meu caso, não para eles.
Devido a minha convivência pouca com minha mãe e muita com meu pai, eu tive mais tolerância as coisas masculinas. Como minha irmã era a preciosa da mamãe, meu pai dedicou-se totalmente a mim.
Eu me interessava mais para as coisas de meninos, pois eram mais radicais e interessantes. Praticamente só tive amigos meninos, eles eram mais liberais e loucos, faziam mais o meu tipo. Por isso meninos não me veem como a garota certa para se namorar, eles me veem como um amigo deles, um garoto no corpo de uma garota, e isso não seria certo.
Eu não sou transexual, não me sinto um menino ou coisa assim. Eu até desejaria ser garoto, seria mais fácil, mas me aceito do jeito que sou, garota. Eu só gosto de algumas coisas que a sociedade refere-se a masculinas.
Esse é o grande problema, eu só podia ter batido a cabeça para fazer uma aposta com Louis, eu não iria conseguir alguém mais rápido que ele ou sequer irei conseguir alguém. Louis com certeza irá ganhar de mim nessa aposta, ele é o típico galã de novela, é só ele gritar no pátio "quem quer me namorar" que vai sair gente até do inferno.
Mas eu não estou disposta a perder. Faz um tempo que eu e Louis não apostamos, é bom repetir a dose. Por mais que ele seja meu amigo, as vezes ele consegue ser totalmente irritante e orgulhoso. Se tem algo que eu odeio em Louis é como ele fica quando ganha algo, ele joga na sua cara durante um mês e se deixar durante um ano, já aconteceu isso uma vez não irá acontecer de novo. Só preciso de determinação, uma coisa que eu tenho, e acreditar em mim mesma, coisa que é praticamente impossível.
- Ah eu não conseguirei, definitivamente não dá – Murmurei, olhando novamente para a casa de Louis ao longe. Suspirei e voltei para o quarto, me sentando na cama - Alysson relaxe, vamos lá.
Inspiro e expiro, repetindo várias vezes, a fim de me acalmar.
– Quem é? – Digo ao ouvir batidas na porta, nesse horário ninguém costuma ficar em casa. Meu pai provavelmente trabalha, minha mãe vai na casa das amigas ou compras, e minha irmã alguns anos mais velha fica na casa do namorado.
- Aly, está tudo bem? – Ouço a voz de meu pai vindo atrás da porta, ela está calma e preocupada.
-Sim está. – Passo a mão nos cabelos, respirando fundo, mas não adianta – Não, não pai, não está.
Me levanto e vou até a porta. Abro a mesma e eu pai me olha com a cabeça inclinada.
- O que foi meu anjo? – Ele sorri fracamente, entrando no quarto. – Você não desceu para almoçar nem falou nada, achei estranho.
- Pai eu sou muito burra – Volto a me sentar na cama, mordendo o lábio. Não queria olhar para os olhos questionadores do meu pai.
- Não querida, você não é burra, você pode ter uma dificuldade de compreender as coisas. – Ele brinca. Meu pai lida comigo dessa forma e eu adoro isso.
- Pai... - E por mais que eu goste, não iria funcionar.
- O que houve? – Diz serio ao perceber que realmente havia algo importante acontecendo.
Ele se senta ao meu lado e eu respiro fundo antes de falar:
- Fiz uma aposta com Louis. - Conto, não havia segredos entre mim e meu pai, pelo menos as vezes.
- Que tipo de aposta? – Suas sobrancelhas estão arqueadas, e seu semblante é de irritação. Meu pai já estava acostumado com apostas entre mim e Louis, mas ainda sim se preocupa.
- É complicado – Falo baixo, engolindo em seco. Meu pai não era o tipo bravo ou mandão egocêntrico, mas as vezes ele ficava bem puto.
- Alysson, pare de drama – Ele me dá um leve soco no ombro, revirando os olhos. – Vá direto ao ponto.
- O Louis... – Suspiro, tentando encontrar o ponto de tudo aquilo. Depois de respirar fundo solto tudo: – O Liam disse que eu e Louis daríamos um belo casal, Louis ficou indignado e fez deboche, eu fiquei mais indignada ainda e me descontrolei fazendo uma aposta. E nessa aposta eu tenho que conseguir alguém primeiro que ele, se não, terei que comprar um par de tênis novos para o idiota.
Me sinto um pouco aliviada, mas sei que não é o suficiente.
- Calma menina – Meu pai agora parecia confuso. – Deixa eu ver se entendi. Você fez uma aposta com Louis e agora você tem que conseguir um namorado primeiro, se não irá ter que comprar um tênis novo para ele? – Fiz que sim com a cabeça. – Isso já é burrice, Alysson!
- Eu sei pai! – Me levanto e começo a andar pelo quarto, roendo as unhas. – O pior é que não posso abandonar essa aposta, não posso deixar que o ego de Louis aumente, muito menos me mostrar fraca. Eu nunca desisti antes, não vou desistir agora, mas...
- Isso é verdade, pelo o que eu o conheço, Louis adora vencer, e como eu te criei, você não irá perder. – Ele acompanha com os olhos meus movimentos, sorrindo divertido com a situação.
- Como Pai? Me diga? – Paro, finalmente o encarando em seus olhos iguais aos meus.
- Hum... – Ele pensa um pouco, muito para a minha paciência. – Isso será difícil, já que você é um pouco burrinha – Ele zomba, me fazendo rir.
- Pai, estou falando sério – Tento conter a risada o que não deu certo. Sorrio para ele, estava ficando mais relaxada e descontraída.
- Simples, querida, seja você mesma - Ele levantou-se e colocou as mãos em meu ombro me olhando nos olhos. Revirei os meus.
- Pai, eu sempre fui eu mesma e nunca consegui ninguém. – Falo, fazendo careta, ele me imita.
- É porque ninguém é bom o suficiente pra você - Continua, sorrindo.
- Você é meu pai, precisa falar isso. - Suspiro, dando um leve tapinha em seu braço.
- Mas é verdade, seja você mesma – Reforça.
- Se fosse assim eu estaria feita.
Ele solta um longo suspiro antes de pensar por alguns segundos.
- Então seja como sua mãe, eu não sou bom em conselhos, mas como sua mãe fala, mostre o que uma mulher é capaz – Ele beija o meio da minha cabeça e se afasta indo em direção a porta - Você é mulher certo?
Zomba novamente, me fazendo revirar os olhos.
- Sim, eu sou. – Dou uma risada que o mesmo retribui com um sorriso, fechando a porta em seguida assim que sai do meu quarto.
Meu pai sempre era bom em me deixar feliz, mesmo quando é praticamente impossível me fazer rir ele consegue, isso é uma das melhores coisas nele. O engraçado é que ele me lembra alguém, alguém que eu estou tentando vencer, mas ainda não sei como.
Mostrar o que uma mulher é capaz. Essa frase foi repetida em minha mente várias e várias vezes e nada em resposta. Estou certa de apenas uma coisa, não irei perder para Louis Tomlinson, não sei como irei ganhar, mas farei de tudo para conseguir faze-lo admitir que eu sou melhor que ele e muito bem sem ele, mesmo eu não tendo certeza disso. Mas vou mostrar o que eu sou capaz.
Eu definitivamente não irei perder para Louis Tomlinson.
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