Senti minha cabeça latejar fortemente, um enjôo horrível no estômago e um gosto nojento em minha boca, além de um leve desconforto em meu corpo, principalmente na região de meu braço. Abri meus olhos, sentindo minha cabeça latejar ainda mais, e me virei, me deparando com Melanie dormindo com a cabeça apoiada em meu braço e um de seus braços em cima de meu peito. Foi impossível evitar o sorriso que adornou meus lábios de imediato assim que todas as memórias da noite passada se fizeram presente em minha mente, já que apesar de todas as minhas idiotices e todas as coisas rudes que disse a ela, Melanie ficou ao meu lado e me apoiou. Ainda que eu não fosse lá muito merecedor.
-Você é demais, esquisitinha. – sussurrei a encarando.
Me virei um pouco e retirei meu braço debaixo da cabeça de Melanie, me esforçando o máximo possível para não acordá-la no processo, e me levantei caminhando lentamente até o banheiro. Abri meu armário de remédios e peguei uma cartela de comprimidos para dor de cabeça, ingeri o comprimido rapidamente e bebi um pouco de água da pia.
Me encarei no espelho e arregalei os olhos ao notar meu semblante cansado. Olheiras escuras adornando meus olhos, o cabelo desgrenhado, lábios rachados... Completamente acabado.
Escovei meus dentes rapidamente, para dissipar o gosto de morte em minha boca e em seguida tomei um banho curto, na tentativa de dissipar um pouco do cansaço e da sensação de exaustão. Após terminar meu banho, amarrei uma toalha azul escura em minha cintura, pegando outra e a usando para secar um pouco meus cabelos, enquanto caminho até o quarto para pegar uma roupa.
-Caralho! – esbravejei ao pisar sobre um dos vários cacos de vidro espalhados pelo quarto.
Ouvi a morena soltar alguns resmungos e me virei de imediato para encara-la, dando uma risada breve ao vê-la me fitando confusa, com o rosto completamente amassado e os cabelos bagunçados.
-Quem ‘tá morrendo? – ela perguntou com a voz arrastada.
-Bom dia para você também, esquisitinha. – caminhei até a borda da cama e me sentei, pegando em meu pé para ver se havia machucado muito. Felizmente fora apenas um arranhão.
-Qual a razão de você ter me acordado aos berros e vestindo apenas uma toalha? – perguntou ainda sonolenta, se espreguiçando.
-Pisei em um desses cacos de merda, doeu ‘pra caralho. Sinto muito se acabei te acordando, não foi minha intenção. – a encarei me sentindo levemente culpado. Além de ter sido um bosta com ela ontem, eu ainda a acordei de um jeito bem ruim.
-Está tudo bem, é melhor eu ir embora mesmo, não estava em meus planos passar a noite aqui. – fitou meu lençol com o olhar tímido. – Acabei dormindo mais do que devia
-Não vai, toma um banho aqui e come alguma coisa, eu te empresto uma roupa minha e peço o que você quiser para o café. É o mínimo que posso fazer por você depois de tudo o que aconteceu ontem... Eu fui um idiota e mesmo assim você voltou, eu te devo essa. – minha fala saíra incerta e baixa, não é de meu feitio me desculpar ou ser insistente com frequência, mas parece ser algo que estou sempre fazendo com a morena.
-Eu realmente não acho uma boa ideia, eu só voltei a pedido do Braun, nada mais. Sem contar que você está pelado e... – me aproximei de Melanie, tocando sua bochecha e a encarando com intensidade. Ela engoliu em seco e me fitou fazendo uma expressão engraçada, quase como uma careta.
-Eu estou tentando te agradecer, seria muito rude da sua parte recusar minha tentativa de me recompensar com você, não acha? – sorri sincero, tentando não deixar o clima com um ar sexual ou lascivo, o que eu menos preciso agora é fazê-la pensar que quero tirar proveito da situação para transar com ela.
-Eu realmente não tenho muita certeza de que seja algo racional aceitar o seu convite depois de tudo isso, mas eu estou com tanta fome que sou incapaz de recusar comida fresquinha e da minha escolha. – sorriu minimamente e retirou minha mão de sua bochecha, levantando-se da cama e caminhando até meu closet. – Vou tomar um banho no outro quarto, acho melhor você se vestir logo e dar um jeito nessa bagunça toda antes que acabe se machucando ainda mais. – ela murmurou enquanto revirava minhas roupas em busca de algo que a agradasse.
-Mais alguma ordem, imperatriz? – perguntei debochado, caminhando até ela e pegando uma roupa para vestir.
-Eu quero bolo de chocolate e morango, mlkshake também, agora sai logo de perto de mim. – me empurrou pelos ombros, enquanto eu ria anasalado e andava até o banheiro para mudar de roupa.
...
Após eu me vestir devidamente e Melanie tomar um banho, nós descemos até a sala e tomamos café juntos, sentados sobre o sofá espaçoso do cômodo. É visível o esforço dela para me distrair do assunto Selena e eu agradeço imensamente por tê-la ao meu lado neste momento extremamente delicado. Com toda certeza já teria destruído minha casa por inteiro caso estivesse sozinho
-Você... Recebeu alguma notícia sobre ela? –perguntou sem me encarar diretamente, talvez ponderando entre perguntar ou não sobre Selena.
-Ainda não... Tudo o que recebi foi uma mensagem de Braun dizendo que vai me matar por conta do meu surto em frente ao hospital.
-Espero que ela esteja melhor. – mordeu o último pedaço de seu bolo de chocolate e colocou o prato sobre a mesinha. – Algumas revistas de fofocas fizeram alguns artigos bastante maldosos sobre o que acham que pode ter acontecido.
-Aqueles montes de ratos não conseguem respeitar ninguém, se aproveitam de cada mínima oportunidade para fazer fofocas e ganhar dinheiro à custa dos outros. – rangi meus dentes furioso, desejando poder voltar até ontem e causar um estrago ainda maior no rosto daquele paparazzo atrevido bostinha.
-Tente não pensar nisso agora, se continuar se irritando com tanta facilidade, você apenas irá dar a eles a atenção que querem. – aproximou-se minimamente de mim e tocou meu ombro, eu a encarei dando um sorriso pequeno e levei minhas mãos até seu rosto, acariciando lentamente suas bochechas com meu polegar.
Ela entreabriu os lábios e seu rosto foi tomado por sua costumeira expressão confusa/assustada, sua mão continuou em meu ombro, mas agora depositando um aperto sobre o mesmo.
Antes que pudesse tomar qualquer atitude, o toque de meu celular se fez presente no cômodo, nos assustando e voltando a minha atenção a realidade. Melanie desvencilhou-se de minhas mãos em seu rosto e correu até as escadas, gritando que precisa trocar de roupa para ir embora. Peguei o aparelho e o atendi com certa raiva por ter sido interrompido.
-Alô. – murmurei o mais desanimado possível.
-Justin, ela está acordada. – arregalei os olhos ao ouvir as palavras falhas de Braun. – Selena acordou, moleque.
Senti meu coração acelerar e fiquei alguns instantes boquiaberto, voltando a realidade apenas quando ouvi Braun me chamando repetidamente da outra linha.
-Ela quer te ver, sugiro que você venha o mais rápido possível.
-Vou colocar uma roupa, já estou indo. – ele murmurou um tudo bem e disse estar me esperando, desligando o telefone logo após.
Meu coração continuou a martelar sem descanso, e me senti suando frio, ainda assimilando a notícia que acabei de receber.
-Está tudo bem? Você está mais estranho que o normal. – Melanie disse me encarando assustada, já vestida com a roupa que viera ontem e os cabelos arrumados. – Quer que eu pegue uma água? Você não parece bem.
-Selena acordou... – sussurrei, fitando-a com melancolia.
-Você vai até lá agora? Se sim, não precisa se preocupar comigo, já estava de saída de qualquer forma. – pegou a alça de sua bolsa azul bebê e a colocou sobre o ombro, fazendo menção de ir embora quando me levantei de forma abrupta e a abracei, completamente desesperado.
Depositei minha cabeça sobre o ombro da anãzinha e reprimi as lágrimas que queriam sair, ela tocou meus ombros e perguntou se estou bem enquanto devolvia meu abraço desajeitado.
-Vá comigo... – sussurrei, a apertando com mais força contra meu corpo. – Não vou conseguir ir ao hospital sozinho, preciso de você comigo.
-Eu não posso, tenho alguns compromissos mais tarde e...
-Por favor. – levantei a cabeça de seu ombro e passei a encarar seus olhos ,dedilhando sua bochecha com carinho. – Vá comigo.
-Tudo bem, mas não posso ficar mais de duas horas e você vai me levar para casa depois. – murmurou em quebrar nosso contato visual.
Eu sorri e depositei um breve selar em seus lábios, assuntando ambos com minha ação. Melanie me encarou confusa, ainda com os braços rodeando meu corpo e eu acredito estar com a mesma expressão pateta.
-Vou trocar de roupa, já volto. – disse desfazendo nosso abraço e sorrindo quando a esquisitinha assentiu ainda me encarando com aquela expressão de surpresa e confusão.
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Parei em frente a porta do quarto de Selena e engoli em seco, num conflito interno entre adentrar ou não o quarto.
-Você não pode passar o resto da vida encarando a porta como um retardado. – tocou o início de minhas costas.-Vamos logo, ela está esperando por você do outro lado.
-Eu não consigo, parece que meus sapatos estão grudados no chão. – continuei a encarar a porta, minhas mãos começando a soar frio.
Ela revirou os olhos e, antes que pudesse impedi-la, girou a maçaneta dourada, abrindo a porta do quarto e me empurrando para dentro do mesmo. Uma cena quase cômica, se não estivesse nessa situação.
-Ficou maluca?! – perguntei a encarando, completamente descrente de suas ações.
-Justin, você veio. – me virei de imediato ao ouvir a voz de Selena. Sua fisionomia, embora frágil, me parece muito mais saudável e forte, o que me deixa tranquilo.
Ela sorriu abertamente para mim e ao notar a presença de Melanie na sala a encarou confusa.
-Eu vou deixa-los a sós... Com licença. – Melanie murmurou já nos dando as costas.
Antes que ela deixasse o quarto, eu agarrei seu pulso e grudei seu corpo ao meu, levei minhas mãos até seu cabelo e a encarei com um sorriso ameno.
-Eu não demoro, me espere, por favor, e, antes que me esqueça, obrigado por tudo. – disse alto o suficiente para que apenas ela me ouvisse.
Ela assentiu e deixou o quarto em seguida, se despedindo educadamente de Selena. Assim que que ficamos sozinhos no quarto, fui até a cama da mais velha e me sentei ao seu lado, eu a abracei com força, enlaçando sua cintura e depositando minha cabeça em seu ombro.
-Eu fiquei com tanto medo de te perder, nunca mais faça isso! – a morena riu com minha fala e devolveu o abraço, me apertando aindamais contra seu corpo.
-Eu não tentei me matar, Justin, só estava me sentindo desesperada e... Bem, acabei tomando mais remédios do que deveria, me desculpe por te preocupar. Não foi minha intenção. – sussurrou, sua voz ficando cada vez mais embargada e as mãos trêmulas tocando minhas costas. – Eu decidi me internar por um tempo, ao menos até que me sinta melhor.
-Acha mesmo necessário?
-Sim, eu posso acabar fazendo isso outra vez, tenho medo de acabar morrendo por conta da minha doença. O melhor para mim no momento é procurar ajuda. – afastou-se de mim e sorriu serena, com o rosto ainda banhado em lágrimas.
-Eu prometo te visitar sempre que puder e fazer o máximo para te apoiar.
-Eu sei que vai, e agradeço por ter me salvado ontem, Braun me disse que se não fosse por você, talvez não estivesse aqui agora. Obrigada.
Voltei a abraça-la fortemente, acariciando os cabelos negros e dando alguns beijos em suas bochechas.
-Tenho que ir agora, mas prometo voltar amanhã, ok? – perguntei, sorrindo quando a mesma assentiu para mim.
-Até amanhã, Justin. – acenou despedindo-se de mim.
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Eu e Melanie estamos em meu carro, estou a levando para casa como forma de agradecimento e estamos ambos em silencio. Desde que saímos do hospial, estou tentando agradecê-la verbalmente por tudo o que ela fez por mim, mas não estou tendo muito êxito.
-Melanie... Eu. – engoli em seco, totalmente desnorteado e sem saber o que dizer, sou realmente péssimo em me desculpar ou agradecer com os outros, mas sinto uma imensa necessidade em fazer isso, Melanie permaneceu ao meu lado o tempo inteiro e isso é o mínimo que posso fazer por ela agora. Tentar devolver a gentileza. – Eu agradeço muito tudo o que fez por mim hoje, eu sei que me comportei como um idiota com você várias vezes e não sou lá muito merecedor do que você fez por mim, mas mesmo assim você permaneceu ao meu lado. Obrigado, CryBaby.
Ela arregalou os olhos e ficou boquiaberta, parecendo processar o que havia dito.
-Eu não costumo ter esses momentos de agradecimento com muita frequência, sabe? Mas também não precisa ficar com essa cara de doida. – murmurei debochado, rindo quando Melanie abandonou a expressão de tédio por uma raivosa.
Parei o carro em frente a seu prédio e a encarei, anda sorrindo debochado.
-Você é realmente o maior idiota, narcisista, mesquinho e uma série de outros péssimos adjetivos, mas eu não poderia simplesmente te deixar daquele jeito destruído, não seria certo. Nós somos quase amigos. – deu uma risada breve.
-Sabe, eu até gosto de você. – sorri, cruzando meus braços e dando uma risada alta quando a morena me encarou, mais uma vez, com uma expressão incrédula. – Como “quase amigos”, entendeu?
-Ah! Claro, como quase amigos. – colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha, olhando para a janela do carro. – O que acha de mostrar toda essa sua gratidão e quase amizade me levando para comer alguma coisa ?
Sorriu abertamente e piscou os olhos inúmeras vezes, numa tentativa completamente falha de parecer fofa. Eu acabei rindo alto enquanto assentia, dando partida no carro e voltando minha atenção para a estrada.
Enquanto almoçávamos, a única coisa a se passar em minha mente eram os inúmeros obrigados pela presença dela.
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