Por Katniss
Eu e Peeta ainda estamos jogados no sofá. O loiro morde meu lábio inferior, quando uma mão começa a descer até meu quadril. Ele puxa meu joelho para cima e sua mão lentamente avança para minha panturrilha. O ar que eu tinha acabado de inalar fica preso no meu peito, enquanto eu esqueço momentaneamente como respirar.
Eu não deveria deixar seu polegar se mover para cima e para baixo da minha perna assim. É um dos meus pontos fracos, que ele já descobriu.
Nesse curto tempo juntos, Peeta já sabe ler os meus movimentos, os meus sorrisos, os caminhos que meus olhos percorrem.
Cuidadosamente, eu seguro sua mão e movo-a para longe da minha coxa. Mas eu não a solto. Eu gosto da sensação que tenho ao tocá-la. É uma mão forte e, ao mesmo tempo, tenra.
Não satisfeito, Peeta abaixa a outra mão e aperta minha outra perna. Este homem está realmente testando minha determinação, mas ele não vai ficar impune.
Eu subo sua camisa, pressionando meus dedos nos músculos de suas costas. Ele geme na minha boca.
— Se você não parar com isso, nós seremos flagrados por seu irmão...
— É um bom argumento... Mas ainda não me convenceu a sair daqui, a não ser que... – Peeta começa a dizer contra os meus lábios, mas eu o interrompo.
— Cadê minha taça de vinho?
Seu gemido é mais frustrado desta vez, mas seus dedos não param de explorar meu corpo, que instintivamente responde ao seu toque.
Com o mais ínfimo contato de sua mão na parte exterior da minha coxa, minha cabeça cai para trás e ele aproveita a oportunidade para atacar meu pescoço com os dentes.
Peeta desliza o nariz até a pele da minha garganta. Levanto o queixo para lhe dar mais acesso.
Ele interrompe o movimento e nós nos entreolhamos, nossas caixas torácicas subindo e descendo com as respirações pesadas.
— Nunca pensei que você gostasse de mim dessa forma, desde a época da escola – confidencio.
— Achei que tivesse deixado algumas pistas. Mas nunca consegui me abrir completamente, considerando que minha paixonite aguda me deixava debilitado em minhas habilidades sociais de falar com você. – Ele parece envergonhado e até tímido nesse momento. — Vou providenciar o vinho! – Peeta disfarça seu embaraço, empurrando-se pra fora do sofá e indo até a adega.
Um sorriso bobo se instala em minha face. O apartamento está silencioso, ainda sem sinal de Brad. Eu ouço a porta de um armário se abrir e fechar e, em seguida, o tilintar de vidros se chocando levemente.
— Uma dose de coragem chegando!
Assim Peeta ressurge, com duas taças, a garrafa e o abridor de vinho nas mãos, que ele apoia sobre uma mesa próxima para servir a bebida. Sua camisa está ligeiramente amarrotada e o cabelo despenteado. Ele nunca esteve tão lindo.
Peeta segura as pontas dos meus dedos para me tirar do sofá e me entregar uma taça, inclinando a garrafa para completar o recipiente com o líquido escuro.
A maneira como ele me observa enquanto levo a taça aos lábios é mais inebriante que o vinho delicioso que ele serviu.
Após o primeiro gole, nossos olhares se cruzam por cima dos cálices e seu rosto está iluminado pela dose de álcool e por uma dose maior ainda de excitação.
Imagino que o meu também, pois as taças são logo abandonadas, já que não conseguimos manter as mãos nem as bocas longe um do outro por muito tempo.
Seus braços vão ao redor da minha cintura e ele me carrega para perto com determinação. Nossas bocas se juntam e minhas mãos encontram a parte de trás do seu pescoço, brincando com os anéis de seus cabelos.
Ele me beija como se estivesse tentando me absorver e me consumir, e eu estremeço com cada ataque de seus lábios.
Nós nos separamos uns instantes para bebericar mais um pouco do vinho e ficamos em silêncio, espreitando um ao outro, apenas com os dedos entrelaçados.
De repente, o ar parece carregado. Os olhos de Peeta refletem necessidade e anseio, fazendo meu estômago apertar. Então, ele se aproxima mais.
— Você fica uma graça com a face corada depois de beber vinho – balbucia ele, delineando meu rosto com a mão com que segura a taça. — Eu quero tanto você, Katniss.
Minha respiração é interrompida por essa admissão.
Agora estou cara a cara com ele, olhando em seus olhos e é espantoso o quão segura Peeta pode me fazer sentir.
Mesmo que eu já tenha duvidado muito das palavras dele anteriormente, é impossível não reconhecer que, de alguma forma, agora eu sei que é tudo verdade.
O mais incrível é perceber que eu não precisaria ouvir isso dito em voz alta. Seus olhos me revelam tudo.
Os cálices são esquecidos de vez sobre a mesa. Esse sorriso perfeito dele é o equilíbrio exato entre urgência e paciência.
— Peeta – falo num suspiro. — Eu também quero muito você.
Suas mãos descem para minhas pernas e entendo o gesto como um convite para envolvê-las em torno de sua cintura.
Não demora muito, Peeta está nos arrastando para fora da sala, sem mais interrupções por causa dos meus receios.
Ele faz rapidamente o percurso até seu quarto. O cômodo já está numa leve penumbra pelo cair da noite.
Ao entrar, ele me leva para trás para fechar a porta, até minhas costas grudarem na madeira que providencialmente nos isola do mundo inteiro.
Sinto espasmos de calor inundando meu corpo, quando sou pressionada contra a superfície dura e ele enterra o rosto na curva do meu pescoço.
Recoloco meus pés no chão para que eu possa segurar bem a bainha de sua camisa, puxando-a até que esteja livre dela, para deixar minhas mãos vagarem pela amplitude de seu peito musculoso. E, então, sem esperar, dedilho a fivela de seu cinto, atrapalhada, mas continuo a trabalhar rapidamente até retirá-lo.
— Impaciente? – brinca ele, erguendo uma sobrancelha. — Preciso fazer uma coisa antes.
Ele me vira de costas e desce o fecho do vestido, escorregando suas mãos por meus ombros até que o tecido leve tombe aos meus pés.
— A tatuagem completa é magnífica. – Peeta admira o desenho no meu ombro e na minha omoplata em sua inteireza. — Só não tanto quanto você.
Ele se reclina, plantando pequenos beijos por todo o traçado da tatuagem.
Estendo as mãos para trás para segurar e guiar as dele sobre minha pele até que as palmas mornas cubram meus seios. Seu polegar os acaricia, e eu fecho meus olhos, deixando escapar um suspiro suave, ao mesmo tempo em que equilibro meu peso em seu tronco protetor.
Meus joelhos tremem e seu aperto em mim fica mais firme.
Eu me arrepio quando suas mãos tracejam minha barriga. Inclino a cabeça para trás e seus lábios se movem para o meu ouvido. Sua respiração quente atinge minha orelha, enquanto ele sussurra:
— Você não tem ideia do efeito que causa em mim.
Então, as pontas dos seus dedos correm ao longo da minha coluna, seguindo para meus quadris, puxando-me para perto dele com um aperto suave. Ele começa a descer as mãos vagarosamente até que seus dedos estão puxando o elástico da minha calcinha.
Ele engancha o polegar sob o cós, empurrando-a para baixo e soprando uma risada leve em meus cabelos, quando a peça sedosa gentilmente cai no chão.
Eu instintivamente separo minhas pernas, dando-lhe passagem à minha intimidade. Suas mãos deslizam por minha pele úmida e o trabalho seguro e constante de seus dedos me proporciona uma sensação deliciosa, que me acerta em ondas de prazer. Eu me sinto impotente para segurar meus murmúrios de satisfação e ele se delicia com cada som que emito.
Tudo o que posso fazer é me entregar à intensidade do gozo que me invade em torrentes até o seu final glorioso.
Quando eu finalmente me encontro de volta em terra firme, estou arfando e minhas bochechas estão quentes.
Peeta deixa seu fôlego suave na minha nuca, o que me faz arrepiar.
Eu estou respirando novamente, mas cada inspiração é superficial demais para me recuperar. Então, antes que eu possa normalizar meu alento, ele me vira para ficarmos frente a frente.
Sem demora, sua língua desce pelo vale dos meus seios. Eu arqueio minhas costas, porque o contato é insuportavelmente maravilhoso.
No entanto, também quero compensá-lo pela profusão de sensações com que me presenteou e meus dedos começam sua descida demorada até que eu tenha atingido novamente o botão de sua calça.
Peeta para por um momento e segura minha cintura, deixando-me abrir seus jeans, nada mais. Eu raspo levemente a pele de seu torso com meus dentes, saboreando os sons guturais que ele involuntariamente faz ao ser tocado, ainda que por cima do tecido grosso.
Ele rapidamente remove seus calçados e os jeans. Suas calças são jogadas de lado e ele me retribui o gostinho de despi-lo de sua boxer.
Eu mal tenho tempo de largar a peça de roupa. Quando me dou conta, minhas costas estão pousando no edredom e Peeta está em cima de mim, a pele clara dele cobrindo a minha pele cor de oliva.
Com a mão livre, sinto que ele alcança a mesa de cabeceira. A gaveta desliza para ser aberta, em seguida, é fechada novamente e, por fim, um pequeno invólucro plástico com um preservativo é colocado em minha mão.
Ele se afasta o suficiente para que eu cubra seu membro rígido. Tento fazer isso languidamente. No entanto, ele tem pressa para alinhar seu corpo ao meu. Nossos estômagos se tocam e eu capturo a sua boca.
A atração crua entre nós parece uma força incontrolável, que provavelmente deveria ser domada, embora não tenhamos tempo nem vontade para fazer isso.
Peeta deixa os meus lábios e começa a degustar as curvas do meu corpo. Ele faz uma pausa para sugar cada mamilo, dando aos meus seios apertos firmes, mas cuidadosos, que fazem meus pés se contorcerem.
Então, ele começa a traçar um caminho mais para baixo, através do meu abdômen e ao redor do meu umbigo, deixando um rastro de beijos leves e cheios de calor.
Embora seja nosso primeiro encontro, tudo é familiar e natural. A língua dele experimenta cada polegada do meu corpo e não tenho certeza se são minutos ou horas que passam, porque perco todo o sentido do tempo. Apenas sei que me entrego completamente a ele, deixando seus lábios e suas mãos passearem livremente pela minha pele.
Ele não precisa que eu diga o que está se passando comigo e o que precisa fazer. É como se ele conhecesse meu corpo melhor do que eu. Respondo a todos os seus movimentos e ele atende a todos os meus caprichos silenciosos.
E assim como ele desvenda meu corpo, eu descubro os pontos sensíveis dele.
Depois de nossa intensa troca de carícias, Peeta roça a linha da minha mandíbula com o nariz. Devolvo por instantes seu olhar impetuoso e cerro os olhos, meu corpo implorando para ele me completar.
Então, ele se posiciona bem acima de mim e, quando estou prestes a agarrá-lo, forçando-o a se apressar e me tomar por inteiro, isso acontece num delicioso movimento, que flui perfeitamente, porque a umidade do meu corpo e meu desejo bruto por ele permitem que eu aceite cada centímetro dele prontamente.
Observo seus músculos tensos relaxarem com a sensação de estar dentro de mim, o que é uma representação visual perfeita de como me sinto neste momento.
Peeta faz uma pausa, completamente dentro de mim, e me encara. Nossos olhos se perdem no olhar do outro.
— Eu amei você no passado. Eu amo você no presente – diz ele.
— Peeta... – murmuro.
Ele cola seus lábios nos meus e não me deixa continuar. Ele se afasta e seu torso paira sobre mim.
— Não disse isso para ouvir uma resposta sua... Você está aqui. Isso já significa tanto.
— Eu também amei você. E amo agora – confesso, ainda olhando profundamente nos olhos dele. — É esse o significado de estar aqui.
Talvez isso explique mesmo o motivo de estar nessa situação insana e tão diferente de como me comporto em meus relacionamentos, fazendo algo impulsivo e impensado, mas que parece completamente certo.
— Fala de novo – sussurra ele em meu ouvido.
— Eu amo você – repito sem hesitar.
Antes que eu possa terminar minha frase, ele desliza novamente dentro de mim. Mordo seu ombro, tentando abafar meus ruídos, enquanto ele se lança mais uma e outra vez.
Seu ritmo diminui, quando ele se inclina para me beijar.
— Meu amor – diz ele, pressionando os lábios nos meus. — Você é minha, como eu sou seu. Verdadeiro ou falso?
O mundo inteiro parece se abrir nesse momento. Ou talvez tenha desaparecido. Eu não posso dizer. Tudo o que sei é que agora todas as partes do meu ser sentem esse amor transbordando de todas as partes dele.
— Verdadeiro.
Minha voz sai bem suave. Tenho medo de quebrar o momento... Medo de ser raptada de volta à realidade. Isto só pode ser um sonho, afinal de contas.
Peeta toca sua testa na minha, ainda emocionado por minhas declarações, e começa a se mover dentro de mim, lenta e deliberadamente. Cada gesto parece servir como uma lembrança do que dissemos um para o outro.
Ele me ama. Eu o amo.
Mal trocamos outras palavras. Elas não são mais necessárias, quando nossos corpos respondem por nós em cada toque, cada suspiro e, principalmente, nos olhares que não se desconectam.
A única vez que nós quebramos o nosso olhar é quando ele aproxima seu rosto para me beijar, de modo longo e profundo, assim como seus movimentos.
Minhas unhas exploram sua nuca e minha boca exigente se une à dele sofregamente. Nossos corpos espelham o perfeito encaixe de nossos lábios.
É a primeira vez que nos amamos, mas é algo além de uma descoberta, pois não parece haver segredos ou pudores entre nós. E, embora eu ainda esteja sob o efeito do orgasmo que ele acabou de me oferecer, posso sentir outro se construindo.
Só que este parece alimentado por um fogo diferente, que nunca vivenciei antes.
As investidas de Peeta começam a ser mais rápidas e seus impulsos se tornam mais insistentes, empurrando-se com mais força.
Algo pujante e poderoso começa a se formar dentro de mim, incendiando minhas células.
Meu interior implacavelmente se contrai com as convulsões de prazer e Peeta estremece. Sua respiração está tão irregular quanto a minha.
Meu peito ofega, tentando puxar ar, tanto quanto possível. Peeta alivia seu peso sobre minhas costelas, fazendo-me choramingar, por não querer nenhum milímetro de distância entre nós.
Eu seguro suas costas e o trago para perto. Peeta afunda cada vez mais dentro de mim, enquanto suas arremetidas aceleram.
Posso sentir seu prazer prestes a desbordar e o meu ápice se precipitando para ser atingido junto com o dele.
Em poucos minutos, nossos corpos estão excitados ao máximo. Meu êxtase vai se construindo em cada gesto, em cada troca e, quando a tensão se acumula no meu ventre, ela extravasa vigorosamente.
Peeta fecha os olhos por um momento e sua cabeça pende para frente, enquanto ele produz um grunhido rouco, então os abre de novo.
Assim, contemplamos um ao outro no momento mais sublime, enquanto nos doamos e nos recebemos mutuamente. O arrebatamento é recíproco. Em seu rosto, eu posso ver meu próprio deleite. Peeta é a minha fantasia e a minha realidade.
Ele cai em cima de mim, arquejando com o esforço e o alívio, nossas peles escorregadias de suor.
Apesar da exaustão, nossos músculos ainda trêmulos se aferram mais um ao outro.
A intensidade que existe entre nós é o que eu desejaria ter com qualquer dos meus relacionamentos anteriores, se eu soubesse o que era. Mas eu sei o que é agora.
Estar com Peeta é estar com alguém que parece ter nascido com a missão de me tocar como nenhum outro, com a capacidade de me conduzir ao que eu imaginava ser o auge do prazer e me mostrar que não existe tal limite.
Ele rola para o lado e, então, põe seu braço em volta de mim. Jogo minha perna sobre as dele.
Peeta toma meu rosto em suas mãos e me faz olhar pra ele.
— Você não se sente mais como se estivesse traindo a si mesma?
Junto minhas mãos sobre seu peito e apoio meu queixo nelas. E, então, eu olho em seus olhos.
— Não, Peeta... – Eu sinto minha voz começar a falhar, a felicidade pelo que aconteceu me acertando pela primeira vez. — E não é apenas pelo que acabou de acontecer. Mesmo com os nossos altos e baixos, a maior parte de nossa convivência me mostrou que você é uma pessoa incrível, em todos os sentidos.
— Eu me preocupo com o que você pensa de mim, porque você é incrível. – Ele fica em silêncio por um tempo, correndo os dedos por meus cabelos. — E linda.
Nossos olhos se encontram, sonolentos e embriagados.
Alinho meu corpo ao dele para beijá-lo, quando ouço o estrondo de uma voz grave do outro lado da porta:
— Peeta?
A maçaneta se mexe e a porta começa a se abrir. Com reflexos aguçados, Peeta gira meu corpo para baixo e se joga em cima de mim, prendendo-me no colchão.
Por sorte, o lençol nos cobre parcialmente.
— Brad, quando você vai aprender a bater à porta?
— No dia em que você aprender a trancar com... Ah, foi mal – diz Brad ao perceber que Peeta não está sozinho. Há uma pausa prolongada. — Essa é a... Katniss?
— Sim, é ela. Agora saia.
— Oi, Brad! – Minha voz sai abafada, por causa do peso de Peeta.
— Katniss? – Uma conhecida voz feminina pode ser ouvida atrás de Brad. — O que ela está fazendo aqui?
— O que você está fazendo aqui, Delly? – Peeta esbraveja. — Podem nos dar licença? Nós estamos no meio de uma partida de xadrez, não estão vendo?!
— Quem deu o xeque-mate, então? – Delly empurra a porta para abri-la ainda mais e o que ela vê não a constrange ou surpreende. Ao contrário, ela parece muito à vontade para conversar sobre qualquer assunto. — Brad prometeu me ajudar a corrigir as redações dos meus alunos do curso comunitário. Então, respondendo à sua pergunta, é por isso que estou aqui. Mas já estou saindo.
Ela se esquiva ao se deparar com a expressão zangada de Peeta.
Depois que Delly deixa o quarto, Peeta implica com o irmão:
— Oh, Brad, sempre tão bonzinho, fazendo caridade de modo tão desinteressado...
— Cubra seu traseiro antes de falar de mim, seu mal agradecido. Fiquei fora por tempo suficiente, como você pediu, não fiquei?
— Se você está plantado aí agora, é porque não foi o suficiente. Tchau.
— Ei! Calma! Não vim aqui à toa. Preciso saber onde você guardou o abridor de vinho! – Brad justifica sua presença inoportuna.
— No canto da mesa, em frente ao sofá – respondo por Peeta.
— E posso saber qual vinho deixou vocês assim tão à vontade?
— Vai embora, Brad – insiste Peeta.
— É pra eu servi-lo também! Vai que...
— A garrafa também está sobre a mesa – informa Peeta e Brad comemora.
— Posso fazer uma última pergunta?
— Cara, você ainda está aí? Não acha que já atrapalhou o bastante?
— Você não me disse que teria companhia. Apenas pediu pra eu não aparecer tão cedo. E foi o que eu fiz.
— Deixa o Brad fazer a pergunta, Peeta. Eu preciso respirar direito – imploro, já sofrendo com a pressão superprotetora de Peeta sobre mim.
Peeta finalmente se apoia nos cotovelos e eu consigo encher os meus pulmões com um pouco de ar. Os olhos dele se desviam de Brad para o meu rosto e ele sorri ao perceber que estou me divertindo com a situação.
— Fala logo, Brad – insiste Peeta.
O irmão mais velho recosta um pouco a porta e começa a sussurrar:
— Katniss, você ficou muito próxima da Delly nas últimas semanas... Você acha que eu tenho alguma chance?
— Sim. Todas as chances. Hoje é um dia propício para romances – respondo, voltando a olhar para Peeta.
— Obrigado, cunhadinha! E você, irmão, fico feliz por ter corrido atrás da garota dos seus sonhos. Eu vou correr atrás da minha.
A porta se fecha e Peeta resmunga:
— Ai... Eu jurava que havia passado a chave na porta. Mas não posso reclamar. Poderia ter sido pior. – Ele afasta-se de mim, para que eu volte a respirar normalmente. — Eles poderiam ter nos surpreendido de ponta cabeça.
Dou risada, puxando o lençol para cima, para o caso de Brad se esquecer onde outra coisa está guardada.
— Isso foi muito interessante – ironizo. — Quer dizer que você tinha um plano?
— E estava sendo perfeitamente executado até meu irmão aparecer.
— Quer dizer também que sou a garota dos seus sonhos?
— Sempre foi. Eu só era covarde demais pra admitir. Mas você me inspirava, e me inspira ainda.
— Quero provas.
— Você me transformou numa pessoa melhor. Quer ver? Eu mesmo separo meu lixo para a reciclagem.
— Puxa! Salvei a sua alma. – Finjo estar impressionada e vejo um ar decepcionado tomar o rosto dele. — Tá legal. Você merece receber um elogio de verdade. E um beijo.
Levo meus lábios até a ponta do seu nariz.
Ele sorri discretamente, enquanto estica o braço para acender a luminária de mesa. A lâmpada ilumina o ambiente com suavidade.
— Olha ali. Os papéis separados no arquivo azul são para reciclagem.
Meu olhar pousa no objeto que ele indica, mas percorre também o restante do cômodo.
O quarto tem uma decoração moderna, porém simples, e sem toques femininos: uma cama de casal enorme, uma TV imensa, roupas de cama e cortinas claras, uma mesa de trabalho, bancadas com artigos masculinos esparsos, quadros e porta-retratos. Nenhuma foto de Glimmer.
Minha observação não passa despercebida por Peeta.
— Quando me mudei pra cá, meu casamento já havia acabado, Katniss... Não há nada dela aqui. Você não precisa ter ciúme da Glimmer.
— Acho razoável ter ciúme de qualquer pessoa que teve você antes de mim.
Peeta me puxa subitamente para ficarmos face a face.
— Nunca fui de mais ninguém. Apenas seu.
Avanço sobre seus lábios, com toda a entrega que uma declaração dessas merece.
Do lado de fora, Delly grita:
— Brad, é arriscado fazer isso sem suas calças!
O som de algo se quebrando explode e Brad pode ser ouvido berrando palavras desagradáveis, enquanto a risada de Delly se espalha pelo ar.
— Ah, não. Ele está tentando conquistá-la com algum jogo que envolve tirar a roupa – deduz Peeta.
— Strip pôquer?
— Duvido muito. Pelo barulho, deve envolver algum malabarismo.
Agora é a voz de Brad que ouvimos:
— Poxa, Delly! Ainda não sabe o nome do filme?
— Ah, strip mímica – conclui Peeta. — Quer brincar também? Sem a parte do strip, porque é desnecessária no momento... Vamos ver se adivinha o nome do filme que estou pensando. Basta olhar pra você e saberá a resposta.
— Não sei.
— Uma linda mulher... Ganhei!
— Ah, não valeu. Preciso de mais dicas.
— Mais uma chance. O nome de um filme que tem a ver comigo e com esse momento que estamos vivendo.
— Um homem de sorte?
— Errou, sua convencida... Mas não é pra menos. Estava pensando em: P.S. Eu te amo.
Peeta rasteja sobre mim de novo, deixando um caminho de beijos no meu pescoço. A retomada de seus avanços é pontuada por uma exclamação de Delly nos bastidores:
— Já sei! O nome do filme é você: Meu malvado favorito.
— Eu sou? – espanta-se Brad.
— Meu malvado favorito? Sim, sempre foi! – É a frase final dela, porque depois não ouvimos mais nada.
— Acho que agora aqueles dois se entendem – sussurro no ouvido de Peeta.
Deixamos pra descobrir isso depois, já que Peeta volta a me mostrar coisas que nunca senti ou suspeitei que pudesse sentir antes.
Em meio a essa epifania, deixo para depois também a necessidade de considerar algo inquietante.
Estou apaixonada por Peeta. Como sempre estive. Não é um questionamento, é uma constatação.
No entanto, ainda temos que vencer alguns obstáculos.
Como se lesse meus pensamentos, Peeta remove o anel que ainda mantinha em seu anelar esquerdo.
— Perdão por não ter feito isso antes. Vou dizer à Glimmer que não posso mais esperar para oficializar o divórcio.
E, então, a aliança abandonada se perde no emaranhado de lençóis.
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