Nagoya é tão fria durante essa época do ano... Como eu gostaria de você aqui para me aquecer. Meu vôo foi cancelado de última hora e agora não poderei voltar para Tokyo antes do fim da temporada de nevascas. Conclusão: passarei o Natal e o Ano Novo longe de todos.
Me mudei para cá no início de dezembro já que minhas aulas começam em cerca de dois meses. Fiquei triste em deixar Bokuto para trás, mas ele sempre insistiu para que eu seguisse em frente com meu sonho, mesmo que ficássemos separados por um certo período. Os últimos vinte e quatro dias foram torturantes, ficar sem vê-lo depois de tanto tempo juntos é quase impossível.
Não planejo voltar para o apartamento tão cedo. Afinal de contas, o que farei sozinho? Optei simplesmente por andar pelas ruas, olhar as decorações e imaginar como tudo está correndo em minha cidade. Como ele deve estar neste exato momento? Talvez em frente a uma lareira e com chocolate quente em mãos, trocando presentes e cantando músicas típicas.
Meus pensamentos ocuparam longos minutos e meu café acabou esfriando. Olho meu reflexo no líquido escuro e me perco novamente. Nunca pensei que uma data como essa seria tão entediante... Eu daria de tudo para ouvir seu clássico “Hey, hey, hey!”, ou talvez um “Agaashee!”. Penso que meu dia seria bem mais alegre com essas simples palavras.
– Com licença, senhor. Nós vamos fechar em poucos minutos pelo horário especial – um homem de cabelos negros e roupa também da mesma cor veio até minha mesa para solicitar minha retirada indiretamente. Acenei positivamente com a cabeça e me levantei para pagar a conta que não era tão alta assim. Acho que nem mesmo cheguei a comer algo, apenas a cafeína me sustentou. Saí sem pressa e passei a admirar as ruas iluminadas pelos enfeites e pela neve que caía há horas.
– Todas as lojas já estão fechando as portas – pensei alto. Acho que meu plano de não voltar para casa foi por água abaixo. Droga! Eu não comprei comida para fazer a noite. Minha próxima parada será o mercado, sem sombra de dúvidas.
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– Por que as coisas são tão caras? Eu deveria ter ido para a faculdade de Kyoto. O custo de vida lá é muito mais baixo do que aqui! – disse andando entre os corredores do hortifruti. Peguei apenas alguns legumes, verduras e um pouco de carne. Serei apenas eu, então não tem a necessidade de comprar em excesso, não é mesmo?
Quase caí para trás ao ver o valor final da compra. Apenas passei o cartão e fui embora com o coração apertado. A estação de metrô é próxima e, por sorte, o ponto final é apenas uma rua de distância de onde moro, com isso estimo que chegarei até lá em cerca de quarenta minutos. Além disso, ele está vazio e esse fato é de extrema importância para alguém que não quer passar um longo tempo em pé.
Assim que eu ia entrar, avistei uma loja com alguns artigos de vôlei. Isso me lembra muito a época em que jogávamos na Fukurodani e estávamos grudados vinte e quatro horas por dia. Será que tem algo que vai agradar ao Bokuto ali? Talvez uma bola nova, uma camiseta, ou joelheiras.
– Boa noite. O senhor precisa de ajuda, ou procura algo em específico? – uma moça de cabelos curtos e ruivos chamou minha atenção assim que cheguei. Ela parecia nervosa, possivelmente esse é seu primeiro dia.
– Boa noite. Vocês tem algo relacionado ao Ace dos times de vôlei? É para o meu namorado. – a garota ajeitou seus óculos e fez um sinal para que eu a seguisse. Rapidamente chegamos até uma parte separada pelas posições do esporte – onde os produtos eram personalizados.
– Temos algumas novidades como: moletons, calças, camisetas e garrafinhas também! Nós podemos gravar o nome no que escolher, fica pronto em apenas alguns minutos! – olhei sobre as araras e escolhi um casaco que era perfeito para ele. Não tinha nada de especial, mas tinha a palavra “ACE” escrita na manga e também era do tamanho exato de Koutaro.
– Gostaria que escrevesse “Bokuto” atrás, por favor. Você poderia fazer o contorno de uma corujinha no peito também? – perguntei entregando a roupa para a menina.
– Claro! Se quiser, já pode acertar o valor no caixa. Ficará pronto em cerca de vinte minutos – retirei o cartão de crédito novamente e vi a vendedora sumir entre as diversas prateleiras existentes. Eu estava esperando para comprar o presente de Bokuto assim que voltasse para Tokyo, mas como minha viagem não sairia antes do final do ano, acabei optando por já deixá-lo guardado.
– Boa noite. O produto será pago no crédito? Gostaria que embrulhássemos para presente?
– Sim, por favor! – entreguei o objeto achatado que logo foi devolvido juntamente da nota fiscal que comprovava a compra.
Eu já deveria ter chegado até a capital essas horas. O plano era comemorar na casa do Oikawa e do Iwazumi com nossos amigos, mas não poderei estar presente para isso. Se frustração matasse, eu com certeza já estaria morto.
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– Aqui está, espero que goste! Me desculpa pela demora – a sacola foi entregue e eu apenas sorri em resposta. Agora preciso correr antes que eu perca o próximo horário!
Senti uma vibração em meu bolso e retirei o celular que eu nem mesmo lembrava que estava ali.
-BOKUTO-SAN <3-
"Agaashee, onde você está?"
"Em Nagoya, Bokuto-san. Eu disse que não conseguiria chegar a tempo. A temporada de nevascas aqui acaba no início de janeiro."
"Estou com saudades ☹"
"Eu também."
Logo estaremos juntos, eu prometo! <3"
"Kaashi, só pra saber... Qual é mesmo o seu sabor preferido de recheio do onigiri?"
"Carne, por quê?"
"Por nada, hehehe. Preciso ir, estou meio perdido ☹"
"Onde você está?"
"Tchau, amor! Preciso ir, ou vou perder o próximo metrô. Te amo e até mais tarde! <3"
"Até mais tarde?"
"A-ah, nada não. Tenho que ir!"
Ele está estranho desde que comentei sobre a minha estadia aqui. Será que ficou magoado ou algo do tipo? Eu queria estar com ele agora, mas o cancelamento do vôo não é culpa minha. Conhecendo Bokuto como eu, sei que deve ter preparado algo especial e agora seus planos foram destruídos por conta do clima.
Me sentei em um dos lugares vagos, coloquei meus fones de ouvido e fechei os olhos para descansar um pouco. Minhas pernas estão doloridas de tanto que andei, eu só preciso da minha cama.
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Próxima parada: Chikusa-ku
- Quando foi que eu dormi? – perguntei a mim mesmo, enquanto levantava e estalava todos os lugares possíveis do meu corpo. Peguei as sacolas e saí do trem em seguida. A faculdade é perto e, consequentemente, meu dormitório também. Na verdade, só preciso atravessar a rua e já estarei no conforto do meu lar.
Subi a rampa da estação e já retirei as chaves do meu bolso para destrancar o portão de acesso dos moradores do prédio. Atravessei a avenida e cheguei até onde desejava, finalmente!
Agora que eu percebi que não decorei as minhas janelas como os meus vizinhos, mas se bem que eu pensei que não estaria aqui para isso, então não seria necessário.
Droga! Sério que o elevador está quebrado de novo? Já estou morto de tanto cansaço e ainda vou precisar subir as escadas. Sabe quando dizem que o Natal é época de alegria e coisas boas? Então, hoje definitivamente não é meu dia de sorte! Onde eu estava com a cabeça quando escolhi alugar o penúltimo andar? São, literalmente, quinze lances de escada! Será que nada de bom vai acontecer?
E se eu comemorar com o porteiro? Pelo menos não precisarei enfrentar todo esse longo percurso... Não, Akaashi. Você só precisa ir e vai ficar tudo bem. Pense que lá está a sua bela cama para você deitar e não acordar antes do dia acabar!
- Isso – pensei alto. Comecei a caminhar com pouca força por causa de tanta exaustão, mas mesmo assim continuei. Acho que vou deixar a comida para amanhã de manhã, posso simplesmente pedir uma pizza e assistir alguns filmes como se fosse apenas mais um dia comum.
Parece que a maioria dos moradores saiu para comemorar fora daqui. Geralmente os residentes de cidades grandes vão para o interior em festas como essa, mas mesmo assim recebem muitos visitantes pelos grandes espetáculos e apresentações.
Apertei o passo pois já estava quase onde queria chegar e no fim de tudo, acabei mais rápido do que eu esperava. Tirando o fato de que quase não sinto mais os meus pulmões e estou suando como um atleta de maratona, está tudo certo.
- Finalmente em casa! – destranquei a porta e coloquei as compras sobre a mesa. Vou cuidar disso depois, antes de tudo eu preciso de um banho mais do que nunca!
∆
Nada como um banho gelado para relaxar os músculos e esfriar a cabeça... Ahh, meus olhos já não conseguem mais se manter abertos. Posso simplesmente me jogar aqui e esquecer desse dia terrível. Bom, isso era o que eu pensava antes de ouvir uma notificação vinda do meu telefone.
-BOKUTO-SAN <3-
"Agaashee, o que você está fazendo agora?"
"Estava indo dormir, por quê?"
"Mas hoje é Véspera de Natal! ☹"
"Não tenho com quem comemorar ☹"
"Bom, tecnicamente você tem…"
"Quem?"
"É só você abrir a porta pra mim! ;)"
"Como assim???"
"Está frio aqui fora, quero ficar com você! ☺"
Me levantei em uma velocidade impressionante e corri até a entrada. Isso só pode ser alguma brincadeira de mau gosto, não é? Como ele viria até aqui com esse tempo?
– Surpresa, Agaashee! – o garoto de cabelos bicolores disse jogando seu peso sobre mim, o que quase resultou em nossa queda. Não é possível... Ele realmente está aqui!
– B-Bokuto-san, como você chegou até aqui? E a comemoração com os meninos? – perguntei, tentando me recompor do susto e da imensa necessidade que eu estava de abraçá-lo e beijá-lo até não conseguir mais.
– Eu decidi vir hoje de manhã quando você me disse sobre o cancelamento do seu vôo. Eu comprei a minha passagem o mais rápido possível e nem mesmo pensei duas vezes! Os meninos entenderam e disseram que não tem problema, afinal eles sabem como você estava me fazendo falta… – seu tom de voz abaixou e o aperto ao redor da minha cintura aumentava cada vez mais.
– Kou, você é doido! Como conseguiu encontrar minha casa?
– Eu pedi o endereço para a sua mãe. Confesso que apanhei um pouco para andar no metrô daqui, mas fiquei mais tranquilo e acabei me acostumando. Acho que eu deveria ter chegado 17h00, mas acabei me perdendo e indo para o lado completamente oposto, acredita?
– Acredito sim – disse rindo e beijando seus lábios lentamente. Um mês longe de todo esse carinho e toques me fez uma falta enorme.
– Eu trouxe os onigiris! Quer dizer... Eles estão um pouco amassados, mas eu tentei encontrar o que você pediu – falou com um sorriso amarelo enquanto me entregava a bandeja com os bolinhos achatados. Acho fofa sua ideia, pois no fim das contas, o que realmente vale é a intenção.
– Muito obrigado! Se não fosse por você, eu provavelmente passaria fome. Estou tão cansado que não consigo se quer olhar para uma panela!
– Não me importo de ficarmos abraçados a noite inteira apenas matando nossa saudade! – disse Koutaro distribuindo diversos selares por todo o meu rosto.
– Eu também não me importo nenhum pouco... Por falar nisso, eu te comprei um presente, só não esperava que entregaria hoje! – fui até a mesa e puxei o maior para me acompanhar. – Aqui está, espero que goste! – entreguei a sacola e vi seus lindos olhos dourados brilharem como pedras preciosas. Isso! Parece que acertei na mosca!
– Kaashi, ele é muito lindo! Tem o meu nome e também uma coruja como as nossas tatuagens! – Bokuto apontou para os desenhos em nossa pele que fizemos no ano passado. Foi uma forma de comemorar nossa união. Quem olhar não vai saber, mas o que de fato importa é o significado que apenas nós dois conhecemos.
– Que bom que gostou, Bokuto-san. Fiquei com medo que não fosse gostar...
– Isso é impossível! Se você me der um chiclete mastigado, eu provavelmente vou guardar ele para o resto da minha vida! – disse com seu mais belo sorriso estampado em seu rosto – Por falar nisso, preciso te contar uma coisa...
– Aconteceu alguma coisa que eu não fiquei sabendo? – perguntei preocupado pela sua expressão totalmente diferente daquela de minutos atrás.
– Aconteceu... Na verdade, é que...
– Você está me preocupando assim!
– EU PASSEI NA FACULDADE DE NAGOYA! – fiquei estático durante segundos para processar a informação. Se ele passou, isso significa que ficaremos juntos de agora em diante?!
– Não acredito! Kou, parabéns! Eu estou tão feliz. Não consigo acreditar nisso! – me apoiei no bicolor e ambos caímos no chão, ainda rindo por tamanha felicidade.
– Vamos poder ficar juntos de novo! Será que tem algum apartamento nesse prédio que eu possa alugar? Quero ficar o mais próximo possível de você, Kaashi!
– Como assim? Você não precisa morar separado de mim... Nós podemos dividir o apartamento!
– Sério? Como pessoas casadas?
– E-eh, quase isso... – afirmei com as bochechas avermelhadas e quentes pela suposição feita. Seria um grande passo para o nosso relacionamento, mas será que estou adiantando muito as coisas? – Desculpa se fui muito apressado, é só que nós somos namorados e achei que isso seria bom, sabe? – gesticulei com minhas mãos em frente ao meu rosto, demonstrando meu claro nervosismo.
– Não! Digo, eu quero muito morar com você, muito mesmo, Keiji. Esse é o meu sonho! Eu só tenho medo de te atrapalhar de vez em quando...
– Kou, não diga uma bobagem dessas! É óbvio que você nunca me atrapalharia. Pelo contrário, tenho certeza que meus dias seriam muito melhores se você estivesse comigo! – nos viramos assim que ouvimos alguns disparos pelo céu e também vimos as luzes que coloriam o cômodo. Os fogos... Já é Natal!
– Acho que já é dia vinte e cinco.
– Parece que sim, Bokuto-san.
– O que você gostaria de ganhar de presente, Akaashi?
– Gostaria que você nunca mais ficasse longe de mim!
– Mas isso não é um presente de verdade...
– Mas é o que eu quero!
– Ainda vou te comprar algo... Um par de alianças de noivado, talvez? Mas se o seu primeiro pedido for me ter para sempre, pode ter certeza que ele já se realizou! – juntei nossas bocas novamente em um beijo necessitado e carinhoso, por incrível que pareça.
- Feliz Natal, Kou!
- Feliz Natal, meu amor!
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