"A vida é um eco."
Grace Walker Point Of View
Levantei quando o relógio despertou exatamente às oito e meia da manhã. Ao deparar-me com a janela de cortinas entreabertas, tive visão do céu que parcialmente nublado disparava pequenos e finos raios solares. Era final de inverno, e as águas a essa temperatura ofereciam muitos animais descendentes da migração.
Arrumei-me às pressas, vestindo-me socialmente com uma calça jeans preta em contraste da camisa social azul bebê que eu escondi a barra por dentro da cintura alta de minha calça, deixando um toque de elegância em minha aparência. Em meu cabelo, optei por fazer um rabo de cavalo soltando fios laterais em minha orelha, onde completei com brincos de pérola pequenos. Sorri de lado, admirando minha imagem no espelho.
— Voltarei logo. — Disse a Thor, me abaixando para beijar sua cabeça.
Seus lábios grossos me beijaram lambendo minha bochecha em sinal de afeto. Sorri com o carinho, deixando que meu cachorro deitasse em minha cama sobre a coberta especialmente comprada para ele. Verifiquei sua ração e água, saindo logo após.
O tempo apesar de nublado deixava que a brisa quente acompanhasse o vento pela cidade. Quando já estava no centro de Boston, meu corpo demonstrava certo cansaço pelo calor gerado não só por mim, mas pela temperatura que aos poucos esquentava. Respirei fundo. Maldito aquecimento global!
Quando cheguei no departamento de Edgar, meus olhos já familiarizados com o edifício reconheceram a recepcionista em seu lugar. Pisquei para ela, sorrindo em cumprimento ao andar rapidamente para dentro do elevador. Era um dia normal, como os outros em meu trabalho. Diferente deles, hoje eu precisava adiantar certos papéis em minha mesa que ainda não tinha criado coragem de lê-los, entretanto era preciso para, além do adiantamento de trabalho e melhoramento da empresa, eu ter uma atividade extracurricular para a faculdade.
O estágio final se aproximava e logo o TCC necessitava ser apresentado. Eu estava nervosa, e como! Mas estava ciente de que, essa não era hora de entrar em desespero.
— Bom dia.
Ao sentar em minha mesa, depois de meus olhos saudarem as diversas pastas ali presentes, eu olhei para cima, acompanhando os passos do homem que pouco a pouco se aproximava de mim e esticava-me um copo com alguma bebida dentro, a qual eu supus ser café puro pelo cheiro.
— Você sabe que eu não bebo. — Lembrei, vendo Dylan rir em seguida.
— Me confundi.
Ele recuou a mão, voltando com a oposta e entregando outro copo. Quando olhei dentro, notei ser chocolate quente.
— Disponibilizaram na mesa do café da manhã mais cedo, mas os bolinhos já acabaram.
— Não tem problema. — Ri nasalado, pegando do copo e bebendo alguns goles de olhos fechados.
Notei alguns pedaços de morango, que foram batidos e deixados com semente na bebida.
— Entretanto, esse eu preparei especialmente para você pois sei que você gosta assim.
— Já falei para você que não vamos namorar.
Ele riu, lembrando-me de nossas conversas. Quando eu terminei de beber outro gole, foquei-me em pegar as pastas mais importantes e de conteúdos mais atrasados para começar o trabalho.
No começo de primavera, existe maior concentração de peixes existentes nas águas do litoral de Boston por causa da migração ocorrida pelos peixes que precisavam se reproduzir, sendo assim, os filhotes que sobreviveram - e que não são poucos por sua grande variedade de espécies - produz maior pesca ambiental, seja ela ilegal ou permitida.
Isso me exigia tempo, pois no meu trabalho a minha função era exatamente essa, analisar se tudo estava ocorrendo da maneira certa.
— Muito trabalho? — Brinquei, chegando perto de Dylan para pegar os papéis que saíam da impressora.
— Você não sabe o quanto. — Ele suspirou, assinando em algum canto da folha.
Dei uma espiada por sua mesa, percebendo que se tratava do separamento de resíduos que a empresa adquiria.
A WCC - Water's Company Clean - era responsável pela limpeza dos rios e lagos presentes em grande parte de Boston, assim como na concentração do litoral de cinco das inúmeras praias de Massachusetts. Sendo assim, era um peso para nós termos certeza de que tudo estava em boas condições.
— Posso te ajudar se você quiser.
— Mais tarde nós conversamos sobre isso, aliás, o que vai fazer na hora do almoço?
— Infelizmente, não poderei comer com você. — Ri, voltando para minha mesa com alguns papéis que ele me entregou e me sentando.
Grampeei as folhas que imprimi e assinei as que Dylan tinha me entregado, grampeando junto e devolvendo ao moreno para que ele pudesse terminar os documentos e enviar ao comitê.
— Preciso estudar para uma prova que vou ter na sexta, e vou terminar minhas anotações para o TCC. Preciso entregar o relatório sobre ele até amanhã.
— Se quiser ajuda, já sabe.
— Bem que preciso mesmo, Microbiologia não é minha praia.
— Lembro de quando eu fazia. — Ele riu, e eu olhei para ele terminando de beber meu chocolate quente. — Eu também não me dava muito bem nessa matéria, era essa e genética. Cara, eu tive que pagar algumas aulas sobre genética porque faziam parte dos trabalhos de Aquicultura que eu apresentava, só faltou eu chorar na faculdade.
— Ainda bem que você me entende. — Ri baixo, voltando ao meu trabalho.
Eu ficava no departamento até as duas da tarde, quando eu saía e descansava um pouco em casa antes de ir para a faculdade. Meu curso de Biologia Marinha era das quatro e meia da tarde até às nove e meia da noite. Sendo assim eu tinha alguns minutos com meu cachorro.
Quando cheguei em casa, preparei sua coleira e bebi uma vitamina com algas marinhas e leite de coco, descendo pela garganta em poucos minutos e saindo com Thor de casa. O tempo estava mais quente, e eu andei pela calçada para que meu corpo fizesse a digestão do líquido gelado que ingeri minutos atrás. Quando o relógio em meu pulso apitou, eu comecei a acelerar sendo levada por Thor que corria na minha frente sob meus comandos pela calçada vazia.
Apesar da temperatura um pouco abafada, não tinha muitas pessoas no bairro onde eu morava, o que facilitou minha corrida pelos prédios até chegar no centro. Diminui os passos, controlando a respiração em inspirações e expirações devagares, que eu soltei pela boca. O vento batia quente em meu rosto, mas quando voltei a correr pela calçada, era possível sentir partículas geladas do inverno que ainda resistiam pelo céu aberto.
Quando chegamos ao porto, eu passei a andar mais devagar, observando acostumada aos olhos receosos e assustados por medo de um ataque surpresa vindo do meu cachorro. Era comum sentir medo de cachorros como pitbull, mas o meu pastor alemão por mais que a cara esteja sempre brava e atenta, ele não era capaz de pegar nem mesmo uma mosca, já que nunca o incentivei a tal coisa. A passeata durou mais alguns minutos, e eu olhei meu relógio percebendo que era quase duas e quarenta. Cumprimentei com a cabeça pessoas que eu reconheci pelo caminho, e ao chegarmos onde eu queria, atravessei alguns funcionários e andei com Thor até o barco que balançava pela água. Me abaixei, amarrando a coleira de Thor em uma corda que eu tirei da cintura e sustentei em um tronco de madeira grosso que segurava as barras também de madeira onde nós estávamos.
Inspirei fundo, sentindo respingos da água salgada pingarem em meu braço e causarem certa coceira. Eu evitei olhar, sabendo que o líquido transparente chamava-me para dentro.
Não estava na hora.
Thor ficou sentado, e eu aproveitei para ir até o pequeno barco e cumprimentar Clare, minha colega de faculdade que visitava o litoral com seu marido naquele momento.
— Tudo certo por aqui?
— Tudo. — Ela sorriu, já esperando por minha chegada.
Após abraçá-la e cumprimentar John, eu observei os papéis que ela tinha trazido para mim.
— Espero que te ajude.
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