Ajudava o menor a pendurar seus desejos no ornamento, levantando-o do chão quando se mostrava necessário. Katsuo erguia os braços e de bom grado o levitava. Havia retornado para casa logo após o beijo, ainda se sentia transtornado com a receptividade do ruivo e, muito mais afetado por ele. Acreditou por muito tempo que se o tivesse nos braços aquela loucura iria cessar, mas só aumentara.
-Dai, você pode pendurar esse no topo? - Seu irmão lhe entregara o pequeno papel o qual prendera no lugar desejado. Os olhos do mais novo pareciam brilhar, eram tão parecidos fisicamente. Quando tinha idade dele seus pais o levavam para celebrar o festival, havia uma aura harmoniosa naquele evento que o encantava. Os sorrisos, as cores, a esperança de que seus desejos fossem atendidos.
-Você acha que vai dar certo? - O garoto questionara com uma expressão ansiosa.
-Eu sei que vai. - Respondeu antes de pendurar o último tanako. O olhou de relance, movimentando-se na inconstância do ar. Já havia proclamado todos seus desejos, e realizado um bocado deles em toda sua trajetória, mas naquela fração de segundos almejou poder alterá-los. Não que se arrependesse de algo que houvesse escrito, mas talvez não tenha sido sábio o suficiente para transpassar o que realmente necessitava.
-Acho que o de chocolate é o meu favorito, eu deveria ter pedido outro... - O garoto remexia os dedos nervosamente. Arqueou uma das sobrancelhas na direção dele. Seu irmão parecia estar envolvido em outras discussões.
Abriu a boca para questioná-lo, mas ouviu o som da fechadura da porta de entrada ser aberta. -Alguém para me ajudar? - A mulher de estatura mediana agora fechava a porta com a ajuda do próprio pé, enquanto equilibrava as sacolas de compras nos braços.
Pegou os dois pacotes maiores dos braços de sua mãe. -Okaerinasai! - Disse em conjunto com sua versão em miniatura, que ajudava a matriarca com as remanescentes.
A mulher lhes ofereceu um afável sorriso, chaveando a residência e os acompanhando no trajeto até a cozinha nos fundos do imóvel. -Estão com fome? Trouxe o necessário para fazer uma deliciosa sopa de tofu... - A mulher retirava os condimentos das sacolas enquanto conversava, ignorando por completo as expressões e os resmungos de desgosto dos outros dois. -Quem sabe até faço um bolo de chocolate se comerem direito.
-Isso! - Ouviram o barulho das palmas do menor em contato com o granito das bancadas. -Obrigada Dai, você tinha razão. - Katsuo agarrara sua cintura agradecendo-o. Trocou um olhar com sua mãe que parecia questionar o que estava acontecendo com seu caçula. Deu de ombros, as vezes era realmente difícil compreender seu fraterno. Afagou os fios azulados e o observou sair do cômodo logo após.
A ajudou organizar o resto dos suprimentos. Sua prestatividade era de se espantar, nunca fora tão solicito em todos esses anos, mas estava tão absorto com suas próprias questões que suas ações eram robóticas.
Colocou o celular no modo silencioso depois que saíra correndo como um verdadeiro covarde, porque não queria ouvir seu próprio desespero. Passou a ponta da língua sutilmente sobre o lábio, na esperança de que o gosto dele pudesse estar gravado em si.
Shiori sabia que o outro escondia algo, qualquer ser que convivesse o mínimo que fosse com Aomine Daiki saberia que aquele adolescente de quase dois metros de altura que encarava fixamente uma lata de bepsi cola por mais de dois minutos, não estava em seu melhor estado. Pigarreou tentando chamar a atenção dele, não obtendo sucesso.
A situação era ruim.
-Se você não vai tomar, ao menos coloque de novo na geladeira... - Falara em um tom mais alto do que o de costume, ganhando um suspiro do outro que logo tratou de abrir a lata fazendo o som do lacre ressoar pela cozinha. Ótimo, agora tinha conquistado a atenção dele. -Pensei que você fosse se prolongar no parque...
Aomine a olhara sem ânimo, bebericando o líquido gasoso. Se aproximou, sentando-se de frente para a mulher, do outro lado da bancada. -Eu fiquei entediado. - Deu mais um gole, ignorando a cara de descrédito que sua mãe lhe dera pela mentira esfarrapada.
-Hum... - A matriarca cortava com precisão o que utilizaria no cozimento, sob o olhar do outro. -Quando você saiu de casa hoje pela manhã, me disse que iria se encontrar com alguns amigos para passarem o festival. Pensei que fosse encontrar Satsuki e o seu amigo, aconteceu algo?
-Não, está tudo bem... Eu só não quis permanecer naquele lugar. - Assentiu, até aí não era de se estranhar as atitudes do seu filho. Após a perda do pai, Daiki não gostava de participar efetivamente de muitos festivais. Algo parecia ter se quebrado, não somente para ele.
Havia se alegrado quando o moreno a avisara do evento, de que recebera um convite da amiga que iria acompanhada do namorado. Lhe alegrava muito o laço afetivo dele com Satsuki, claro que no início estranhara tanta proximidade – considerando a personalidade difícil de seu primogênito -, mas já se acostumara com a rosada transitando em sua casa. Acabara de certa maneira a adotando como sua filha também.
Sabendo que esse não era o ponto de tensão que pairava sob o azulado, decidiu prosseguir para o próximo tópico.
-E o seu namorado? - Continuou seu labor manual ignorando o olhar de espanto que o rapaz lhe direcionava. Daiki acabou se afogando com líquido, causando uma sucessão de tossidas.
-Meu Deus mulher, você quer me matar?! - Sua mãe apenas repetira o gesto que fizera anteriormente, dando de ombros para a questão como se não houvesse nada com o que se importunar. Nem parecia com a mulher que a poucos dias estava teorizando a respeito das possibilidades de alguma alma ruiva roubar seu precioso filho de seu lar.
Shiori por outro lado tinha consciência da delicadeza do assunto, ainda tinha algumas dificuldades em imaginar seu bebê com outro garoto, até porquê só o conhecia por nome; Kagami Taiga. Era uma das únicas coisas que Aomine a possibilitara conhecer, além da cor dos olhos, cabelo e do esporte que jogava. Como se o último fato lhe fosse uma novidade.
Claro que Daiki iria se encantar por alguém que compartilhasse consigo as quadras, pois tirando a escola, o basquete era o outro lugar do qual seu filho passava maior parte do seu tempo; e nunca o vira chegar em casa animado por alguma matéria acadêmica. Mas isso era outra questão que ainda seria a causa do seu colapso.
-Kagami Taiga, o nome dele, certo? Por que não convida seu namorado para comer conosco? Assim faremos as graças todos juntos. - Despejou o alimento que estava preparando na panela fervente.
-Ele não é meu namorado... - Viu de relance a careta que o garoto fizera antes de dar outro gole em sua bepsi. Bingo! Havia descoberto a questão. -E ele deve estar com o pai agora.
-Ótimo, chamamos os dois. - Ela se aproximara novamente do filho, debruçando-se sobre a bancada, utilizando um dos braços como apoio para seu rosto. Viu o rapaz negar freneticamente de maneira desesperada. -Calma Dai, calma. É uma brincadeira, respira. - Esperou o rapaz se recompor para continuar. -Você ainda não respondeu minha questão, como o seu namorado está?
-Nós não estamos namorando... Olha, é complicado. - O viu repuxar os fios da nuca em sinal de nervosismo. -Ele está bem. - O líquido gasoso acabara restando apenas a lata para distraí-lo.
-Deixe-me entender, você escreveu todos aqueles bilhetes e me contou que estava gostando desse garoto, mas até este momento ainda não teve coragem de se declarar ou convidá-lo para sair... - Levantou o dedo em riste na direção dele. -Não me venha dizer jogos de basquete, porque isso não é um encontro de verdade.
Viu o rosto dele enrubescer. Evitando o contato visual, o garoto argumentou em seu favor. -Bom, nós nos beijamos.
-Ele te beijou de volta? - O viu afirmar. -E você não o pediu em namoro? - Recebeu um som em negativa. -Eu não entendo, você gosta dele e ele gosta de você, por que não ficam juntos?
-Eu não sei se ele gosta, ele pode ter apenas beijado por impulso... - O garoto levantara, depositando a lata de alumínio na lata de lixo. -Não sei nem porque estou lhe explicando isso. Céus! Minha vida virou uma piada. - O observou suspirar. -Vou ver Katsuo.
Esperou que ele saísse do recinto, voltando-se para a refeição que borbulhava no eletrodoméstico próximo a si. Remexeu no recipiente, verificando que ainda lhe sobravam alguns minutos até o cozimento completo.
Considerava-se uma pessoa determinada, poderia dizer que com efetividade transmitiu essa característica aos seus herdeiros. Por esta razão, pegou o aparelho telefônico dentro de sua bolsa que até aquele momento encontrava-se pendurada em um dos ganchos na parede perto da porta que dava em direção ao quintal dos fundos da residência. Deslizou o dedo pela tela, discando em seguida a sequência numérica tão conhecida.
Shiori esperou três toques até o som estridente de múltiplas risadas e gargalhadas atingissem seus ouvidos.
-Shiori-sama, aconteceu alguma coisa? - A voz do outro lado aparentava apreensão.
-Satsuki meu doce, eu preciso de um endereço.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.