História Manual de Sobrevivência em um Mundo Danmei - Um bom extra é aquele que sobrevive

Segunda regra do "Manual de Sobrevivência em um Mundo Danmei": Um bom extra é aquele que sobrevive! Fuja do roteiro até o fim e jamais ofenda o protagonista.

O céu estava impecavelmente limpo naquela linda noite morna de primavera. Jaerlysson pôde constatar isso animado, enquanto se esgueirava com cuidado em direção aos portões do fundo da seita. 

Mesmo que a lua não estivesse totalmente cheia, as estrelas brilhavam tão intensamente, que ele nem precisou de uma lanterna para ajudar a iluminar o caminho, o que era de grande ajuda, já que assim ele não chamaria nenhuma atenção. Claro, o fato de todos estarem dormindo também ajudava e muito, mas obviamente, Jaerlysson se considerou incrivelmente sortudo por causa disso.

Se as coisas já começavam bem assim, isso significava que o seu futuro calmo e feliz, longe de todo esse roteiro mal feito estava a apenas um toque de suas mãos. Ele até já conseguia se enxergar balançando em uma cadeira de varanda, enquanto observava o pôr do sol tranquilo de uma cidadezinha do interior. Sem se preocupar em morrer cedo e miseravelmente, sem ter que ficar fugindo a cada instante de um protagonista sem vergonha que poderia acabar com a sua raça com apenas um estalar de seus dedos... 

A sua vida seria tranquila e monótona como realmente deveria ser. 

Afinal, Jaerlysson não poderia negar, ele odiava multidões e correria desnecessária. Dormir, na sua opinião, era a segunda melhor coisa do universo, lógico, porque comer era a primeira melhor coisa do universo. 

― Juro que vou passar um mês inteiro acordando apenas depois do meio dia, só para compensar esses dois anos de puro estresse. ― Despejou decidido, sorrindo logo em seguida ao se ver, por fim, em frente aos enormes portões de ferro cobertos por musgo e galhos secos. 

Aparentemente poucas pessoas iam até aquela parte do território da seita, não só por causa do enorme "penhasco sem fim" que havia ali ― do qual o verdadeiro Qin LiWei havia sido jogado ―, como também por ser uma área que levava direto a floresta da escuridão. Jaerlysson não tinha muita informação sobre esse lugar, uma vez que não leu toda a história, mas ele tinha conhecimento que era um local perigoso, repleto de monstros assustadores e bestas demoníacas.

O mais interessante disso tudo? Estaria finalmente livre apenas se seguisse pela estrada lateral, que poderia ser considerada segura em noites sem uma lua cheia.

― Porra, dessa vez eu venci, dessa vez eu realmente venci esse roteiro inútil, ah! 

Jaerlysson obviamente não poderia gritar para comemorar, mas diante da excitação que estava sentindo naquele momento, ele teve que extravasar de alguma forma. Como resultado, apenas começou a cantar baixinho, balançando os quadris de um lado para o outro, não se importando de rebolar mais do que deveria com aquele corpo. Afinal, não era como se alguém estivesse o vendo agora de toda forma.

― Tem cabaré essa noite… Tem cabaré essa noite… 

E essa não era uma má ideia. Ele certamente deveria procurar um cabaré, ou melhor dizendo, um bordel para comemorar apropriadamente assim que se visse bem longe daqueles portões velhos e acabados. 

Um bordel naquele universo deveria ser bem interessante, Jaerlysson nunca foi em um em seu mundo, mas admitia que tinha certa curiosidade de ver como eram os das novels que lia.

― Vejam só, esse pequeno irmão marcial além de covarde, agora ficou louco também? 

Uma voz zombeteira tirou-o de seu estado eufórico, fazendo-o congelar no lugar quase na mesma hora. 

Três rapazes então pararam na sua frente de repente, todos trajando o uniforme em tons azuis da seita. Claramente tinham pulado o portão de volta, uma vez que uma leve fragrância adocicada de vinho se fez presente no ar.

― Espero que não seja contagiante. ― Insistiu na provocação, sendo acompanhado pelo som das risadas dos outros dois que estavam ao seu lado.

E que desgraça.

Talvez não estivesse com tanta sorte assim quanto pensava.

O que aqueles três filhos de chocadeira estavam fazendo acordados e perambulando fora da seita uma hora daquelas? Aquilo não era contra as regras, não? Ou será que tudo não passava de um esquema do roteiro que apenas não queria o deixar fugir assim tão fácil?

Ah, isso era muito injusto...

 ― Wang-xiong, o que faz por aqui? ― Jaerlysson desconversou se recompondo, precisava manter a calma no momento, não era como se eles soubessem que ele iria fugir, de toda forma. ― Eu estava fazendo um novo exercício de relaxamento muscular que inventei.

― Você chama isso de exercício? ― Wang Zhao revirou os olhos. 

Dos três que estavam na sua frente, Jaerlysson conhecia apenas esse irmão marcial mais velho, os outros dois até tinham rostos familiares, mas como metade da seita normalmente o ignorava, ele não sabia seus nomes.

― É muito bom para soltar a cintura. ― Sorriu dando de ombros, então acrescentou uma pequena mentirinha, já estava falando besteira mesmo. Perdoe-me protagonista, mas você tem mais cara do que eu. ― Shixiong Luo gostou muito desse exercício.

Wang Zhao gargalhou mais alto ao escutar aquilo.

― Grande coisa, Luo WuFeng é tão idiota quanto você. ― Ele despejou com desdém.

Oh!

Jaerlysson arregalou os olhos assustado.

― Não diga uma coisa dessas tão levianamente, pode me chamar do quiser, Wang-xiong, mas não ofenda o irmão Luo!  ― Wang Zhao realmente não tinha amor pela própria vida. Sua sorte era que Luo WuFeng não estava ali, ou era certo que sua morte já estaria com data e hora marcada para acontecer. ― Luo-xiong é incrível, muito forte e tem um coração enorme. Ele até se ofereceu para me proteger, já que minhas habilidades são ruins.

E aos olhos dos ali presentes, certamente estava agindo como um perseguidor ridículo, que não só era um covarde, como também era um aproveitador barato. Mal sabiam, que Jaerlysson na verdade estava sendo generoso em os livrar de um fim terrível, isso sim.

― Claro, todo mundo sempre fica do lado do lótus branco, Luo WuFeng! ― Wang Zhao rosnou dando um passo em sua direção, ficando perigosamente mais perto de si. ― Para mim ele não passa de um órfão pobre que não tem onde cair morto, e vai morrer cedo por ser bonzinho demais. E quer saber de mais uma coisa, pequeno irmão marcial?  Se quer agarrar umas coxas para sobreviver, melhor procurar as de alguém mais importante.

― Importante como Wang-xiong, que não passa de um duas caras? ― Jaerlysson não pôde evitar revidar, se aquele garoto burro não aprendesse a controlar sua língua, iria se ferrar. ― Sempre achei que era amigo de Luo WuFeng, mas na verdade é como todos os outros que o menosprezam…  

Jaerlysson balançou a cabeça com pesar.

Nesse ponto, ele até entendia o protagonista. Sempre desprezado por todos, não importava os seus esforços, por ser um órfão sem nenhum apoio poderoso por trás, sempre era visto com olhares de desdém e nojo. 

Todos que ousaram lhe desprezar no passado, ou foram mortos pela sua espada, ou pararam em sua cama, simples assim, não tinha uma terceira opção.

Wang Zhao certamente seria enquadrado na primeira se não fechasse sua boca.

E sim, ele dropou aquela história, mas ainda assim procurou por spoilers. O julguem se quiser!

― Luo WuFeng vai conquistar a terra e os céus com seus punhos, Wang-xiong deve apenas aceitar que mesmo tendo nascido de uma família rica, é o irmão Luo que os deuses favoreceram. ― Jaerlysson acrescentou, no instante seguinte, levantando os dois braços na frente do corpo. 

Certamente levaria uma surra depois de dizer tudo isso, mas pelo menos ele não quebrou sua segunda regra: 

"Jamais ofenda o protagonista". 

Ele estava com a consciência limpa.

― Seu insolente…

Wang Zhao fechou a mão em punho, pronto para socar aquele pirralho fedido. Contudo, antes mesmo que tivesse tempo de erguê-lo na direção de Qin LiWei, um dos rapazes ao seu lado o deteve.

― Irmão Wang, podemos resolver isso amanhã no treinamento, se Qin LiWei começar a gritar e chamar a atenção de algum ancião, estaremos todos com problemas. 

Wang Zhao demorou alguns segundos para ponderar.

― Está certo. ― Respirou fundo e se acalmou. ― Qin LiWei, agradeça ao irmão Fai, graças a ele você terá mais um dia com seus ossos inteiros.  

Ele então deu meia volta e saiu dali.

Jaerlysson soltou o ar que estava segurando por aqueles breves minutos e então correu para se esconder atrás de um arbusto. Observando os três se afastarem enquanto riam da sua ação, certamente achando-o um covarde e ao mesmo tempo confiantes de que lhe dariam uma bela lição no dia seguinte.

― Fodam-se todos vocês, nunca mais vão me ver em suas vidas! ― Murmurou, esperando até que os três estivessem longe o suficiente, para só então pular aqueles malditos portões.

Definitivamente ele precisava de um bordel naquela noite.

Mesmo que não fizesse a mínima ideia do que seria de fato, um bordel em "O Soberano dos Quatro Reinos".

Quando finalmente se separou de Wang Zhao e a sua sombra, o irmão Fai esperou apenas mais alguns minutos para não levantar suspeitas, antes de voltar a sair de seu dormitório.

A noite bem iluminada por brilhantes estrelas voltou a lhe dar boas vindas, como se fosse uma velha amante sendo coquete. Ele teve que sorrir, aspirando o ar puro e primaveril, então caminhou em direção aos fundos da seita novamente.  

Como bem suspeitava, Qin LiWei já não se encontrava mais escondido entre os arbustos, assim como seus rastros claramente indicavam que ele não havia retornado aos dormitórios

Ele realmente tinha pulado os portões da seita.

― Pequeno coelhinho, o que você está planejando? ― Irmão Fai sussurrou curioso.

No instante seguinte, usando apenas dois movimentos graciosos, seguiu os passos de Qin LiWei e também pulou.