"Cause i don't wanna lose you now, i'm lookin' right at the other half of me"
Narrado por Ella.
— Me solte — Eu peço, sem alterar o tom suave de minha voz. Ele obedece. — Agora saia daqui.
— Eu não vou sair.
— Você prefere que eu comece a gritar?
— Você não faria isso — Abro minha boca e ele imediatamente a tapa com a palma de sua mão, ele cheira a hortelã. — Ok, agora eu sei que você fará, mas eu preciso que você diga que também gosta de mim.
Solto uma risada seca e reviro os olhos.
— Eu não gosto de você Jack.
— Mas eu disse que gosto de você!
— Você disse que acha que gosta de mim — O corrijo. — E mesmo que tivesse certeza isso não mudaria nada. Jack — Eu vacilo, suspiro. — Eu estou apaixonada por outra pessoa.
Jack trava o maxilar e seus olhos fogem dos meus, ele parece mais confuso do que nervoso por ter sido rejeitado. Ele procura meu olhar, meio desajeitado ele sorri.
— Você está me dando um fora... Ninguém nunca me deu um fora — Nós dois rimos.
— Há sempre uma primeira vez para tudo — Dou os ombros.
— Não faz sentido você me dar um fora, tipo olhe para mim.
— Você não faz o meu tipo.
— Ah sim, e um fracassado faz? — Ele ri e eu não quero acreditar que ele esteja se referindo a Justin. Eu fico séria.
— Acho melhor você ir embora agora, Aubrey não vai gostar de te ver aqui.
— Mas nós ainda...
— Terminamos por aqui Jack.
Ele não está satisfeito e eu muito menos, mas pela primeira vez ele resolve fazer o que eu peço e me deixa novamente sozinha em meu quarto.
Eu continuo lá sozinha por um bom tempo, tento esquecer todo o assunto de meu pai e o acidente com a minha mãe e foco apenas no que eu iria apresentar para minha professora. Isto me fez pensar na possibilidade de ficar sem ver Justin, já que praticamente estávamos proibidos de nos ver — pelo menos perto da Juilliard. Jogo minha cabeça no travesseiro e suspiro cansada, não queria ter que pensar nisso, eu só queria que Justin estivesse no meu lado nesse exato momento.
Narrado por Justin.
Meus punhos doíam devido a série de socos seguidos que eu treinava, já fazia mais de uma hora que eu estava treinando e ainda me sentia extremamente fraco. Jaxon estava do outro lado do cômodo, encarando a tela do celular e Chaz tentava me trazer de volta ao foco, mas eu não conseguia me concentrar totalmente e isso me deixava cada vez nervoso.
— O que está acontecendo, Justin? — Chaz me chama atenção, enquanto eu dou alguns passos para me afastar. — Foco!
— Vá se foder, eu estou tentando.
— E fracassando miseravelmente — Ele bufa. — Vamos outra vez.
Então nós continuamos e eu falho por mais umas duas vezes até finalmente conseguir pegar o jeito da coisa. Eu soco o saco de pancadas milhares de vezes e em algumas vezes não sinto mais dor em meus punhos, sinto que eles foram feitos para isso e eu fui feito para conseguir destruir qualquer pessoa em meu caminho.
Chaz tinha me arrumado uma luta extra e eu ainda tinha mais uma neste final de semana, que era basicamente uma revanche que o pai de Ella tinha me dado. E a propósito isso ainda parece extremamente anormal para mim, ainda não consigo acreditar que o pai da minha bailarina é o meu chefe, é alguém que assim como eu gostar de derramar sangue. Balanço a cabeça e foco em meu objetivo, porque aquilo acaba me distraindo.
Nós terminamos o treino e imediatamente voltamos juntos para casa, Christian está lá jogando videogame e nós todos aproveitamos para jantarmos juntos antes da luta. Hoje seria a primeira vez que Christian nos acompanharia e ele estava eufórico com isso, como se estivéssemos levando uma criança ao seu parque preferido.
No caminho eu só sabia pensar em Ella e como seria perfeito estar em sua companhia, me lembrava de seus doces lábios e toda sua teimosia que me deixava completamente irritado e com medo, porque as vezes Ella me parece uma caixinha de surpresa em que você acha um presente incrível, mas lá no fundo também tem uma encrenca e ela vem justamente na hora errada. Quero mandar uma mensagem para ela, quero ligar e dizer que estou com saudades, queria dizer a ela que ela era a única coisa que me acalmava, mas eu não podia porque ela me deixava tão manso e aquilo me desconcentraria ao máximo e eu teria que socar Chaz por falar tanta merda. Então me mantive quieto e abraçando minha garota somente em meus pensamentos.
Já era tarde da noite quando chegamos e o lugar estava coberto de pessoas, era um lugar diferente, mas eu sentia que o reconhecia. Christian estava animado com tudo o que via, Chaz achava aquilo engraçado e Jaxon meio assustador, mas não se importava em estar ali.
Quando eu subi ao ringue já era meia-noite e Chaz me disse para que eu esperasse o pior, mas acabei me deparando com alguém que era extremamente pior.
O meu oponente era três vezes maior que eu e seus músculos eram tão grandes que suas veias ameaçavam explodir. Seu corpo brilhava e o suor escorria por suas diversas tatuagens e seu rosto brutal, ele me olhava como se eu fosse tão simples de destruir, como se eu fosse uma casa de palha e ele um furacão furioso prestes a se aproximar. Eu não sabia o que pensar, só sei que naquele caso pensei que nem Deus poderia me ajudar, só respirei fundo e o encarei feio quando o sinal bateu.
Ele parecia ser esperto demais para começar a me atacar logo no começo, nós dois ficamos rondando o ringue analisando um ao outro enquanto os gritos imploravam para que começássemos a guerra. Decidi atacar primeiro e de surpresa lhe acertei um soco estrondoso, não dei tempo para que ele digerisse a informação e acertei mais um soco do outro lado de seu rosto e um na parte inferior de seu queixo, o que o fez cambalear para trás, mas não o feriu tanto quanto eu gostaria. O homem rosnou alto e socou sua própria mão, me encarando como quem dissesse que meu fim estava próximo — e eu realmente achei que estava. Ele gritou quando voou até mim e me prensou contra a grade, seus enormes punhos socaram meu estômago e rosto, quando meu corpo abaixou-se, ele sem piedade nenhuma me acertou três joelhadas na boca do estômago. Eu gritei de dor e tentei o empurrar com o pé, mas ele o agarrou e me fez voar para o outro lado do ringue.
Não demorei para me levantar e ele não demorou para partir para cima e me acertar um soco no nariz, propositalmente cambaleei para trás e usei minha perna novamente para acertar sua barriga, foi uma ótima distração para que depois disso ele me permitisse livremente acertar seu rosto com mais alguns socos fortes no rosto. Eu rosnei e continuei acertando seu rosto até que ele segurou meus pulsos e me deu uma cabeçada tão forte que jurei perder a consciência por um milésimo de segundo.
Enquanto tentava fazer minha cabeça parar de rodar, uma de suas mãos segurou meu rosto e com a outra me acertou um soco forte no meio do rosto e eu caí no chão. Quando a única coisa que eu conseguia ver era a luz, eu pensei nela.
Narrado por Ella.
Na manhã seguinte acordei sentindo-me radiante. A apresentação tinha sido perfeita e melhor do que minha nota foi ver o rosto de Jack se contorcendo em uma decepção ao me ver entrando no palco e apresentando meu trabalho. Sentia-me orgulhosa e muito bem comigo mesma, voltei a frequentar a aula e percebi que Klaire tinha voltado agora, mas ela só falava com Leelah e quando nossos olhares se cruzavam ela se encolhia e parecia se esconder de mim.
Parte de mim estava disposta a perdoa-la, ainda não consigo acreditar que ela tenha sido capaz de me sabotar, sempre ouvi falar do que as pessoas eram capazes para ganhar, mas aquele fazia mais o tipo de Jack do que o de Klaire.
Aubrey me contará que tinha dormido com Chaz, mas aquilo a deixou mais chateada do que contente, disse que Chaz continuava ligando para ela, mas ela não queria atender de jeito nenhum. Enquanto isso eu ainda não tinha notícias de Justin. Ontem pensei em mandar uma mensagem, ligar para ele e contar sobre como tinha sido minha apresentação, queria dizer que tinha pensado nele enquanto dançava e em como eu queria que ele estivesse ali me vendo dançar. Então eu me lembro de quando ele me resgatou no dia da apresentação e em como ele estava elegante e cheiroso. Juro que sinto seu cheiro nesse exato momento, eu abraço o travesseiro desejando que fosse ele. Aubrey murmura uma risada.
— Ligue logo para ele.
Eu rio.
— Queria vê-lo — Confesso.
— Então vá.
Viro-me para ela.
— Você precisa me ajudar — Eu começo, ela me dá mais atenção e sorri. — Se você for comigo ninguém vai desconfiar de nada, vamos só sair sozinhas, duas amigas...
— Já entendi — Ela ri e levanta-se animada. — Vamos.
Visto meu cardigã e calço o primeiro par de tênis que vejo. Aubrey como sempre se veste como se estivesse sempre pronta para uma festa e nós nos atrasamos um pouco.
Aconchego-me no banco do carro e minha amiga liga o rádio que toca uma música melancólica, não me importo em continuar escutando, pois meus pensamentos só conseguem focam em Justin e em seu cheiro reconfortante. Penso em beija-lo e abraçar seu corpo, penso em como estou feliz e quero que ele esteja feliz também.
Chegamos em frente ao prédio e Aubrey estaciona o carro na garagem, ela não quer me acompanhar, mas promete que ficara me esperando e então eu sigo meu caminho sozinha.
Você já sentiu como se seu coração batesse tão forte que te machuca? Você já se sentiu perdendo o chão com o simples pensamento de que você verá a pessoa que você gosta? É patético o jeito que as coisas funcionam, não parece ter sentido quando você ouve falar e nem ao menos quando você sente, mas quando você está com a pessoa que deseja estar, seu coração simplesmente se acalma e você não sente nada além de um assustador alívio e segurança.
Mordi meu lábio antes de bater duas vezes na porta, minhas mãos suavam.
Jaxon atende a porta.
— Ella!
— Olá Jaxon — Eu sorrio, tento me manter normal. — Estou procurando seu irmão, ele está?
— Sim, mas ele não acordou ainda... Que tal fazer uma surpresa? — Ele sorri e pede para que eu entre. — Você sabe o caminho?
— Sei sim, muito obrigada — Lhe lanço um sorriso antes de caminhar pelo corredor até seu quarto.
Bato fraco na porta, mas a resposta minutos depois ainda é silencio e eu não desisto e bato novamente e ainda não tenho uma resposta. Suspiro fundo e calmamente abro a porta.
Narrado por Justin.
Eu acordo com Ella me encarando imóvel na porta do quarto, quando a vejo imediatamente sorrio, mas ela não faz o mesmo. Sinto meu braço dormente e viro minha cabeça para olhar o peso nele, é uma garota. Eu repito isso para mim mesmo umas dez vezes e mesmo assim não consigo me lembrar do que aconteceu, de como ela veio parar aqui, mas pelo cheiro forte da bebida em nossos corpos sem camiseta, posso supor a merda que fiz.
Ella está aqui, ela está vendo isso.
Ela fecha a porta e eu imediatamente me afasto daquela desconhecida. Quando abro a porta do quarto, Ella está com as mãos na boca e olhos marejados, encostada de costas na parede.
Eu não sei o que dizer, me sinto sujo e um completo imbecil.
Seus cabelos caíram em seu rosto enquanto o mesmo se abaixava. Ela estava silenciosa e eu queria que ela dissesse algo porque todo aquele silêncio estava me corroendo, eu queria que ela começasse a gritar ou me xingar, não me importaria pois ela tem total razão. Abracei-a o mais forte que pude, cheirei seu cabelo que tinha sempre um cheiro tão bom e beijei seu pescoço.
Eu não queria machuca-la, meu Deus...
— Me solte — Ela pede, sussurrando.
— Não vou te soltar, eu não posso te soltar.
— E por que não?
— Porque se eu te soltar você vai embora.
Ela ri sem vida.
— É o mínimo que eu posso fazer.
— Ella — Afasto nossos corpos e a olho nos olhos. — Eu não me lembro do que eu fiz, eu só sei que eu jamais quis te machucar... Por favor me entenda...
Os dedos dela me interrompem, passando suavemente por meus lábios como se estivesse os desenhando. Ela fica silenciosa tocando cada parte do meu rosto, toca alguns machucados nele e os olha com mais atenção, não sei o que ela está fazendo, mas me traz uma sensação ótima. Seus dedos dedilham até meus olhos e ela os fecha, tocando-os com os dedos indicadores.
— Já tenho uma solução para aquele nosso problema — Ela sussurra e eu imediatamente abro os olhos, assustado. — Não, feche os olhos.
— Por que?
— Porque eu estou indo embora.
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