⛩️˛ 05 䪢
⎿ Você não pertence a este estabelecimento ،، ♔
Hoje, meus pensamentos estão distorcidos demais. Você, eu, seu cabelo recém tingido, minha curiosidade, as manchas no tecido escuro da sua bermuda, minha vontade de beber vinho de arroz, seus amigos cretinos… e quando fico assim, só a um lugar onde posso ir. Mas, dessa vez, definitivamente não posso matar alguém no beco sujo atrás da sua universidade em plena noite de domingo. Mas esse é o charme de um assassino, afinal, camuflar nossos desejos psicológicos por coisas que parecem normais na superfície externamente elegante que possuímos, é uma boa maneira de matar o tempo. E 7:45 é a hora. O horário em que seu amigo Hoseok troca de expediente na loja de conveniências, em Yeoksam-dong, quase em frente ao seu prédio. Meus tênis brancos estão sujos, cadarços desamarrados, estão soltos enquanto cruzo a rua e não quero me curvar para amarrar. Mas quero ficar bêbado demais para conseguir ficar de pé, sentado, deitado, ou com as pernas esticadas na parede. E o único modo disso acontecer é se seu amigo Hoseok não estiver mais naquele buraco de loja, na esquina, ao lado do pet shop, que fica ao lado do Sex shop. O que me deixa muito confuso, porque cachorros não compram lubrificante, mas humanos compram coleiras para por em seus próprios pescoços.
A loja de conveniência fica vazia às 7:50, mas você tinha que estar lá apoiado atrás do balcão, perto do freezer, usando o cotidiano colete verde de uniforme? Porquê drogas você está lá? Você tinha que estar em casa dormindo ou em qualquer outro lugar que não fosse a loja minúscula de conveniência da esquina. E a única outra pessoa nesse buraco, é o seu amigo cretino, e ele está em outro planeta, repondo lámen nas prateleiras, cantando: “Enquanto a noite me cega. Você entra novamente sem ser notada". Ele canta essa música sem parar, alto, mas você está com a cabeça enfiada no telefone, e você só digita, fica em pé e escuta a agressão musical dele ao mesmo tempo. Você continua digitando — quando eu entro na loja — e eu continuo me perguntando porque você está atrás desse balcão. Você não pertence a este estabelecimento. É um campo minado de latas de kimchi, embalagens de lámen picantes, bebidas baratas que alguém sempre quer comprar, e ainda tem o estranho-cretino-cantor. As coisas que você faz por um amigo são realmente ridículas e refutáveis, como se isso provasse que suas amizades são pé no chão, “reais”, mas o que você não se dá conta é de que estaria melhor sem seus amigos, sem as latas de kimchi e sem o soju batizado com álcool industrial.
Vou direito até a geladeira com porta de vidro, no fim da loja, onde ficam as bebidas. E você digita. De novo. O cretino, enquanto isso, não para de cantar “Você sussurra em meus ouvidos enquanto estou dormindo. Então, você ri”, abrindo caixas de kimbap, e também não parou de cantar para fazer isso. Esse cara simplesmente continua cantando e arrumando, cantando e arrumando. E você aperta os olhos para ele e rosna, mas ele está em outro planeta, Jimin. E não é culpa dele ser anormal. E a coisa babaca é que se alguém visse nós três, bem, a maioria das pessoas pensaria que eu sou o esquisitão. Justamente porque estou parado em frente a geladeira de bebidas a seis minutos e não sei se escolho vinho de arroz ou arroz com vinho. E esse é o problema desta loja, tudo é organizado errado e a comida fica dentro da geladeira de bebidas e não na prateleira de embalagens. E parte do problema é seu amigo cretino, que se importa apenas em cantar "Sua voz sussurra sem parar" e não percebe que os produtos deveriam ficar nas prateleiras corretas. Foda-se o Hoseok. Eu queria arremessá-lo no asfalto e tomar vinho de arroz enquanto espero que um caminhão o esmague.
Há uma razão pra minha irritação, e há uma razão para você estar aqui nessa loja de conveniência, numa noite de domingo. No fundo você sabe que estaria melhor em outro lugar, sem ter que ouvir ele cantar. Nada de bom sai da boca dele. Você não vê? Não, você não vê. Do contrário, trataria ele como o cretino que é. Você o teria colocado em segundo, terceiro, vigésimo sexto plano. Não ficaria aqui se ocupando com o trabalho dele e lhe dando seu dinheiro para que quitasse a dívida da moto. É, a merda da moto. Eu realmente gostaria que você o jogasse no asfalto, tomasse um gole da minha garrafa de vinho de arroz, virasse a cabeça, olhasse para mim e dissesse: “Eu sou um sociopata como você?” E eu iria te puxar pra fugir, correr pra longe da cena do crime, e nossa música seria “Oh, você é a assassina no pesadelo. Você continua me possuindo e me chamando.”
— Dá para parar de cantar? — Você rosna, mas o cretino do seu amino nem sequer o ouve por causa dos fones, cantando e arrumando, e você gira a cabeça rápido demais, e, maldição, você não precisa se inclinar para frente assim, mas você se inclina e eu vejo seus mamilos pelo vão da camisa — Ele está me enlouquecendo — você diz, e tampa os ouvidos porque não quer mais ouvir “Você diz que me conhece? Quem é você para invadir desse jeito? ”
O cretino cantarola como se fôssemos um incômodo que ele tenta abafar com “Você encobre as verdades. Eu me desprendo dos sonhos vazios”, você tampa os ouvidos e resmunga. E estou ficando impaciente, e quero ir embora antes que chegue outro cliente nesse cubículo, e por que você está tornando isso tão difícil? Jimin…
— Dá pra adiantar? — Pergunto, e você concorda.
Você olha para mim, minhas compras, seu amigo. E agora vejo uma parte sua que é novidade para mim, uma parte que quer cometer homicídio doloso, e acho que você nunca quis matar tanto alguém, como quer agora. E você não diz nada, e eu não digo nada, e ambos sabemos que você está me testando, testando o mundo, testando a si mesmo. Você não saiu de "Azul é a cor mais quente" atoa. Você é Adèle, tentando enfrentar os desafios da maturidade, mas também é Emma, começando uma intensa relação de descobertas e prazeres carnais. Você quer lutar, gritar, gozar. Você não é fácil de ser controlado, mas sabe quando é preciso vestir a camuflagem e fingir ser decente. E eu sou paciente, e quando você está pronto para trabalhar, passa a mão nos cabelos cor de rosa, passa a língua nos lábios, passa o meu cartão na máquina e apenas está pronto para me atender.
— Vai dar uma festa? — você avança os dedos sobre o teclado do computador, e se debate, não sabe nada sobre computadores de lojas de conveniência.
— Não — digo simplista e seus olhos se abrem. Você olha para as 8 garrafas, depois para o computador, depois bem nos meus olhos.
— Sério? Vai beber tudo sozinho, Hyungnim? — você diz e quero te bater.
“Não me faça cuspir o veneno.”
Eu concordo.
— Dá pra ver que você é do tipo de cara que sabe beber — Você suspira e eu resmungo por você tentar transformar isso em alguma espécie de conversa complacente e intencional, e como é divertido ver o brilho de ódio cintilando nos seus olhos toda vez que olha de soslaio para o cretino entre a seção de lámen e absorventes.
— Pois é — digo.
Você está convencido de que de algum modo sabe mais sobre mim agora. Você disse a palavra proibida segundos atrás, disse "hyungnim" e disse que "dá pra ver" que sou esse tipo de cara. Que bebe, que vira todas, muitas goladas, completamente sozinho. Me pergunto agora se você se diverte com a minha solidão ou se é você que curte ficar solitário.
— Bom, aqui está — você diz, empurrando as sacolas com as bebidas na minha direção e engole a saliva, morde o lábio, ruboriza.
— Obrigado — Sussurro sem qualquer vontade de agradecer, e você olha pela janela da loja, para a rua, e então para mim. Você acena com a cabeça, ansioso, nervoso, agita aquelas mãos. Mãos tão fodidamente pequenas.
Dou um laço apertado na sacola e prendo com nós duplos de modo que não rasgue com o peso e que as garrafas não se espatifem pela calçada. Quando o sino da porta soa, alguém entra na loja, me viro e vou embora. Eu não tenho obrigação de lhe dizer um comprimento de partida e posso ver em seus olhos brilhantes e sua pele suada que você sabe disso. Não somos conhecidos e certamente, o único modo que você quer me conhecer, é na sua cama. Gemendo, fodendo. Handsome e blow job. Sado e masoquismo. Você quer transar e me engolir por inteiro, e foder até a cama quebrar ou até a sanidade destruir nossos corpos e mentes. E estaria quente demais dentro do seu quarto, e frio demais do lado de fora. E não dá pra deixar as portas da varanda abertas, porque Gangnam cheira a Jjajangmyun, Bo ssam e boquete no meio da noite. E eu odeio Bo ssam. E calor. E o cretino do seu amigo Hoseok.
Então foda-se, Jimin. Foda-se, toda essa merda de domingo à noite.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.