"O melhor modo de vingar-se de um inimigo, é não se assemelhar a ele. O que é ruim se destrói sozinho." - Marco Aurélio
Point of View of Anitta Greene
Eu não sabia como reagir. Quer dizer, o que você faria se o cara que você gosta desde os 10 anos de idade te chamasse pra ir ao quarto dele no meio da madrugada? Eu realmente não sabia qual era a forma certa de prosseguir.
Claro que, aquela era uma oportunidade única de ficar sozinha com Thomas, algo que quase nunca acontecia. Mas eu não sei se, aos 15 anos de idade, estava preparada para concordar com as coisas que ele iria propor.
Sentindo meu coração bater num ritmo completamente descompassado, arrumei minha camisola de seda branca e fiquei feliz por ter escolhido ela e não meu pijama masculino. Depois de escovar meu cabelo rapidamente e apertar minhas bochechas para diminuir minha palidez, sai do quarto com as pernas relativamente bambas.
Caminhei pelo corredor da Cabana lentamente, tentando arquitetar quais poderiam ser as razões para Thomas me chamar em plena madrugada. Hm, não sei se isso é bom. Talvez seja algo importante. Talvez ele esteja se sentindo sozinho. Argh, Anitta, respire!
Com as mãos trêmulas, abri a porta do quarto em que Thomas estava. Quando entrei, fui recebida por um Thomas de pijama xadrez azul e com o cabelo desgrenhado, sentado na beirada da cama. Ele sorria para mim. Soltei o ar que não percebi que estava prendendo. Aquelas malditas pintinhas convidativas ainda iam me matar do coração.
- Anny... – murmurou ele, enquanto eu o encarava, com um olhar provavelmente de obcecada. – Fecha a porta. – emendou, com um sorriso malicioso.
Fiz o que ele pediu rapidamente. Thomas fez um sinal com a mão, pedindo que eu fosse até ele. Engolindo a seco e esperando não estar ruborizada, caminhei lentamente até ele. Um. Dois. Três passos. Era difícil manter o equilíbrio no curto trajeto até sua cama.
- Por que me chamou? – perguntei, soando mais grossa do que o desejado. Sentei-me ao lado dele, passando as mãos pelo cabelo. – Quero dizer, não podia esperar até amanhã? – reformulei, querendo me afundar num buraco e nunca mais sair dali.
- É importante. – falou, com um meio sorriso no rosto.
- Diga, então. – emendei, a voz trêmula de ansiedade, enquanto brincava de enrolar meu cabelo em meus dedos.
Ele se aproximou mais de mim, e colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. Enrubesci e baixei o olhar para minhas pernas desnudas. Jesus, como foi que eu vim aqui só com isso?!
- Você fica linda corada. – disse ele, pegando meu queixo e forçando-me a encarar seus olhos castanhos claros.
Com um nó na garganta, senti meu corpo esquentar com aquele único toque. Ele se aproximou lentamente. Tudo que eu podia fazer era notar meu coração acelerar e desejar não enfartar logo agora que as coisas estavam acontecendo.
Thomas se aproximava lenta e gradativamente. Quando enfim meu cérebro processou o que ia acontecer, fechei meus olhos, desejando que aquilo não fosse um sonho. Finalmente, Thomas roçou seus lábios nos meus, arrancando-me um suspiro.
Eu podia sentir seu sorriso. Ele beijou meus lábios delicadamente e depois pediu passagem com a língua. Sentindo meu corpo queimar, cedi, deixando que sua língua explorasse minha boca. Foi como se tudo evaporasse. Eu e Thomas estávamos num mundo só nosso, onde ninguém poderia entrar.
Ela me beijava calmamente, sua língua brincando com a minha, me provocando, me instigando a desejar mais. Uma de suas mãos estava enterrada em meu cabelo ruivo e a outra descia e subia por meu antebraço, causando-me uma série de arrepios deliciosos.
Eu estava tão envolvi em retribuir o beijo e absorver todas as sensações maravilhosas nas quais eu estava imersa, que não notei que Thomas havia me deitado na cama e que estava por cima de mim. Ele mordeu meu lábio inferior levemente, e então passou a beijar e chupar meu pescoço.
Eu comprimia meus gemidos, sentindo que aquilo era exatamente o que eu queria, mas não ali e não naquele momento. A língua de Thomas brincou com o lóbulo de minha orelha esquerda, para depois passear por meu pescoço e por minha clavícula, até chegar aos meus seios.
- Não. – falei, empurrando-o. Thomas tombou para o lado, com uma cara de indignação. Mas logo a expressão dele mudou.
No lugar dos olhos arregalados e confusos, surgiu um sorriso debochado.
- Ora, por que não, Anny? – perguntou ele, a voz rouca.
Engoli em seco. Eu não podia dizer que ainda não estava pronta. Que não queria continuar com aquilo e depois me arrepender. Eu desejava ele, de verdade, mas ainda não queria me entregar dessa forma. Eu queria ter tanta coisa com ele antes daquilo...
- Só... Não, Thomas. – falei, me levantando, arrumando minha camisola e passando a língua pelos lábios.
Thomas se ajoelhou na cama, os olhos castanhos cintilando. Eu comecei a andar para trás, e me arrepender profundamente de ter ido até ali. Certo que até o momento tinha sido tudo maravilhoso, mas não quero que Thomas pense em mim como uma garotinha assustada.
Porém, nesse momento aconteceu uma das piores coisas da minha vida: Eu senti um líquido extremamente gelado e grudento me atingir, sujando minha camisola e ensopando todo o meu corpo. Com um grito de surpresa, percebi que era tinta preta.
- Mas o que... - gemi, sentindo meus sentimentos colidirem dentro de meu peito. Olhei ao redor e vi ninguém menos que Charlotte, a prima de Thomas, com uma câmera na mão.
Ela ria descontrolada, zombando da minha reação ao disparar mais alguns flashes na minha direção. Encarei Thomas, sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos. Ele gargalhava tanto quanto ela. Saí correndo dali, me sentindo um lixo. Um nada. Ainda pude ouvir Charlotte gritando – Corra bebezinho da mamãe! Vá chorar SO-ZI-NHA no quarto. A vergonha te espera segunda-feira na escola Anny!
Para variar, tudo era somente mais uma brincadeira de Thomas e da prima dele. O beijo, as palavras, tudo era ensaiado. Senti meu coração se fragmentar em milhões de pedacinhos. Entrei no meu quarto e tranquei a porta.
Sentanda dentro do box do banheiro, arranquei minhas roupas e abri o chuveiro, deixando a água quente me lavar. Eu estava me sentindo a pessoa mais idiota do mundo. As lágrimas não paravam de rolar por meu rosto.
Eu não sabia o que dizer, o que pensar, muito menos o que sentir. Eu só queria sumir, desaparecer. Ainda dominada pelas lágrimas tristes que brotavam pelo meu rosto, punindo-me por ainda sentir o gosto de Thomas entre meus lábios, tive uma única certeza após esfregar com raiva minha boca, afastando o cheiro dele impregnado em mim: eu iria me vingar.
Agora eles tinham mexido no meu ponto fraco. Haviam ferido o meu orgulho.
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