Mean Boys – Primeiro Capítulo
— Caso tenha alguma dificuldade, fale com sua professora, certo? E faça vários amiguinhos, querido! Coloquei dinheiro na sua bolsa e tem um lanchinho na sua lancheira, o telefone está anotado na sua agenda, não perca! — Enquanto Mamãe falava, eu percebia estranhos olhares sendo direcionados para nós dois.
Okey, eu acho que não é assim que mães da Coreia do Sul falam com seus filhos de 17 anos e os pais não choram como se fosse seu primeiro dia de aula na creche ou coisa do tipo. Mas não os culpo, afinal, é minha primeira escola em toda a minha vida, sempre estudei em casa por ter morado na África a maior parte da minha vida. Entendo a preocupação dos dois, mas tenho que admitir que já estava começando a ficar com vergonha de tudo aquilo.
Nunca fui o centro das atenções – talvez só quando eu visitava as aldeias africanas com os meus pais e nós éramos os únicos brancos de olhos rasgados por ali – então, tudo aquilo me deixava muito receoso. Porém, eu não deveria me deixar levar pelas emoções, porque, se dependesse delas eu já estaria correndo pro carro da minha mãe de volta. E talvez, só talvez chorando igual um bebê.
Como eu já estava no Inferno, decidi por abraçar o Diabo: me despedi dos meus pais e adentrei aquela escola, que por sinal já estava lotada, com alunos circulando pelos corredores e conversando, indo para suas classes. Como um total novato, eu demorei um pouco para achar minha classe, e quando achei, a maioria dos lugares estavam ocupados, exceto um atrás de um garoto e outro atrás de duas pessoas que eu tive a impressão de serem do tipo que meus pais considerariam má influência.
Uma garota magricela e com roupas que minha avó – que possivelmente deve estar no céu, me observando e no mínimo rindo da minha cara – usaria estava na frente da mesa do professor, eu não gostava de ficar sozinho, então me aproximei minuciosamente e estiquei minha mão em forma de comprimento. — Oi! Eu sou Ji-min Park, prazer em conhecê-la! — Dei meu melhor sorriso, o mais caloroso de todos.
A garota me olhou dos pés a cabeça, e abriu a boca. — Fale comigo de novo e eu meto a mão na sua cara. — E simplesmente saiu, esbarrando com força no meu ombro, o que me fez quase cair de bunda no chão. Só com isso eu já percebi: aqui não é muito diferente da África, a escola é a selva, e os estudantes os animais.
Sendo da família Park, eu não iria me abater por uma coisa besta como ser repudiado. Nunca – eu só acho engraçado que... Ah, eu já estou reclamando desse lugar e não faz nem duas horas que eu estou aqui, Buda me acude, por favor! Caminhei pra primeira mesa que havia aparecido na minha frente, mas, antes que eu pudesse jogar minha mochila na carteira e enfim me sentar, uma menina estranha – aquela que parecia ser uma má influência – negou com a cabeça e apertou um sorriso fechado. — Não senta ai não, é ai que o namorado da Cao Lu fica.
Respirei fundo, o suficiente pra fazer meu inicio de impaciência se estabilizar. Não seria legal ter um surto psicótico nas primeiras aulas, certo? Fui para outra mesa, atrás de um gordinho esquisito, e o menino acompanhado da garota que tinha cara de quem fuma maconha na hora me alertou que o garoto tinha gases. Torci o nariz e como não tinha mais opção, joguei minha mochila atrás deles, na única carteira vazia descente que aparentemente havia na classe.
Eu não conseguia ficar quieto por muito tempo, então me levantei e fui rumando à entrada na sala, desnorteado e pensativo – a escola não poderia ser tão ruim assim. Perdido no meu mundinho particular, senti meu corpo entrar em contato brusco com outro, não foi um baque suficiente para me fazer cair, mas, me assustou. Meu ato involuntário e completamente pateta tirou gargalhada dos meus colegas o que me fez ficar envergonhado. — P-Por Buda... Desculpe!
— Não, está tudo bem, eu sou azarada. — Quando elevei o olhar, pude ver o que havia feito: Uma mulher que aparentava ser mais velha, provavelmente nossa professora, suja pelo copo de café que havia derramado no esbarrão, com a caixa de *tteok que carregava aberta e com algumas caídas no chão, juntamente dos papéis que ela estava levando. Rapidamente os recolhi e entreguei a ela, fazendo uma reverência envergonhada.
Encarei a situação “deplorável” que estava às roupas da tutora, antes que eu pudesse ajudar de alguma forma, ela ergueu as camisas que usava: consequentemente deixando seus peitos a mostra, naquela hora eu só pude abaixar o olhar, mas, ele seguiu até a porta, aonde, aparentemente o diretor se aproximava do lineal de entrada. — Professora Min-ji?
Pude ouvir o suspirar penoso dela e sua frustração. — Minha camiseta prendeu no suéter, não foi?
— Sim… — Abaixei a camiseta da mulher, que me agradeceu com um aceno de cabeça, e voltou seu olhar para o diretor. Os sussurros nada discretos se instalaram na sala – principalmente os garotos que estavam babando por causa dos peitos inchados da mais velha. Urg, até parecem animais no cio.
— Sim, diretor Lee? — Disse a tutora, de maneira educada.
— Está tudo bem por aqui, professora Min-ji? — O homem se aproximou, deixando um pequeno sorriso transparecer em seu rosto. — Como foi o verão?
— Eu me divorciei. — A agora nomeada “Professora Min-ji” disse sem muitos rodeios, e eu pude sentir o ar um tanto quanto pesado se firmar entre ambos.
O homem alto ergueu a mão que estava enfaixada e soltou um risinho sem graça. — Ah, minha tendinite voltou. — Ele dizia como se fosse algo “incrível”, realmente, esse cara não sabe conquistar uma mulher – deve ser por isso que deve estar sozinho ou coisa parecida.
— Ah, eu ganhei. — A professora disse, não dando muita bola para o que ele havia dito, começando a se secar com lencinhos. Logo após essa dispensada indireta, o diretor virou-se para a turma. Parecia meio desnorteado, até eu ficaria assim caso me respondessem daquela maneira, mas, não importa.
— Apenas vim avisar que temos um aluno novo vindo da África. Por favor, o tratem bem. — Agora ele emitia um ar profissional, o que me fez tomar a mínima atitude de prestar atenção – como se eu já não estivesse por estar ouvindo a conversa dos dois – no que ele dizia. Afinal, estava pra comentar sobre mim.
A atenção decaiu em direção a professora pouquinho tempo depois. — Seja bem-vindo! — Ao invés de me cumprimentar, como achei que faria, Min-ji fez um sinal em direção a um garoto de pele bronzeada – o que achei vagamente um ato racista. Fingi não ligar para isso.
— Cara, eu sou de Busan. — Um bufar foi emitido pelo aluno, seguido de um “ah” da professora que parecia um pouco envergonhada com o comentário dita por si mesma. Rapidamente o diretor pegou um pequeno bilhete do bolso, talvez, meu nome estivesse ali, o mal entendido seria sanado com a minha apresentação afinal.
— O nome dele é Ji-min, Park Ji-min.
“Sou eu...” sussurrei brevemente, levantando a mão em um aceno acanhado. — É você? — A professora direcionou seu olhar para mim, e eu apenas assenti. — Seja bem-vindo. Sente-se, pode sentar-se na carteira atrás de Tae-min. — Apontou para a cadeira atrás da garota e do rapaz com cara de meliantes, Buda, será que eles vão me oferecer drogas?
Mas eu, como um bom aluno, fui até lá e sentei-me ali. Porém, no momento que sentei minha bunda na cadeira, um barulho de pum foi emitido e a menina me encarou com uma cara de capeta. E toda a classe se colocou a rir.
Eu não acredito que fui pego no bait da almofadinha de pum logo no primeiro dia. Minha reputação que nem existia foi pro ralo. Afundei minha cabeça no meio dos braços, me comprimindo o máximo possível, de tanta vergonha eu decidi apenas me focar em olhar pra mesa com cheiro absurdamente sufocante de material de limpeza. Tudo bem, tudo bem, nos filmes os mocinhos sempre sofrem no começo, mas, no final as coisas melhoram, pense positivo Ji-min!
Ou no pior dos casos eles morrem no final, o que eu espero muito que não aconteça.
O resto do dia foi uma bagunça total, o que apenas comprovou minha hipótese de que o colégio é como uma selva.
Ou até mesmo pior.
Dei glória a Buda quando o sinal tocou, fui ligeiro para fora daquele inferno, sendo um dos primeiros a sair pelo portão, à brisa estava fresquinha e zarpava em direções aleatórias, o vento batia no meu rosto, me sentindo de novo em filme – de comédia, porque acabou vindo parar um jornal na minha cara, entretanto, ignoremos essa ocasião.
Quando cheguei em casa, Mamãe e Papai perguntaram como havia sido meu dia e se eu tinha feito algum amigo, parecendo como se eu tivesse acabado de voltar da creche no meu primeiro dia, sabe? Mas enfim, eu fui o mais sincero o possível quanto a minha resposta. Afinal, eu não sou de mentir pras pessoas que me colocaram no mundo.
— Sinceramente, não foi muito diferente do que estar na África, além de que não tem árvores e os animais são racionais, mas agem irracionalmente. E não, na verdade.
Simplesmente me afastei, subi as escadas do meu novo lar e fui para meu quarto ler algum livro ou ver alguma série envolto no meu cobertor, tomando um pote de sorvete enquanto lamento não poder continuar estudando em casa.
*Tteok: é um bolinho doce de massa de arroz recheado de pasta de feijão doce azuki.
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