— Você não pode confiar em qualquer um só porque viu essa pessoa uma vez.
Aquela frase permaneceu martelando na cabeça da delegada, porque sentia que tinha uma ideia muito importante ali. No fim, todo esse caso se resumia a um fator muito delicado e tão complicado de se explicar e de se estabelecer: confiança. Por que as vítimas confiaram no assassino? A resposta parecia bem óbvia para todos, porque eram pessoas enfrentando problemas pessoais e desordens da saúde mental, que precisavam de um ombro amigo e apoio emocional, e que se tornavam presas fáceis ao serem manipuladas. Mas na verdade, duvidava que fosse algo tão simples assim: por que essas pessoas procuravam ajuda na internet, em primeiro lugar?
Responder que era por dificuldade no acesso à profissionais como psicólogos ou psiquiatras seria uma resposta preguiçosa, não era apenas isso; se fosse só isso, vítimas como Karin e Ino poderiam ter ido procurar ajuda de amigos e familiares, que seriam muito mais indicados para oferecer conforto emocional. Entretanto, elas decidiram buscar a ajuda de desconhecidos por outro fator: a privacidade. O não conhecer a pessoa do outro lado da tela e ainda sim confiar tantos detalhes íntimos, suas maiores tristezas e maiores medos, era uma contradição muito importante para esse caso. Muitas vezes, as pessoas que convivem conosco pouco sabem sobre nós, enquanto completos desconhecidos nos desvendam por completo. Há uma certa segurança em poder falar tudo que deseja e saber que não importa se você algum dia verá essa pessoa na vida real ou não: esses segredos não poderão ser usados contra você porque um desconhece a identidade do outro.
Confiar no desconhecido, desconfiar do conhecido. Ela sabia que havia uma mensagem ali, que talvez entregasse o próprio assassino.
De repente, uma mensagem chegou em seu computador, surpreendendo-a. Era um perfil de Facebook desconhecido, mas que de alguma maneira a encontrara e decidira falar com ela: — Está dormindo?
Intrigada, Konan resolveu responder: — Quem é? — o nome do perfil era uma sequência aleatória de letras, e não havia outras informações no perfil, o que atiçou sua curiosidade.
— Um amigo. — a pessoa respondeu.
Aquilo não lhe cheirava bem, evidentemente. — Amigos têm nomes, sobrenomes, endereços…
— Alguns têm apenas um perfil na internet. Tome cuidado, delegada.
Nesse momento, a outra pessoa desconectou-se, e não conseguiu mais mandar mensagem alguma para responder, era como se o perfil sequer existisse. Por um momento, a delegada chegou a duvidar se aquela experiência havia sido real, mas decidiu tomar como prova da veracidade os prints que tirara daquela conversa para lá de esquisita.
Ela voltou para a cama, onde Pain dormia sonoramente, e tentou se convencer de que talvez fosse apenas algum desconhecido qualquer que tentou mandar uma mensagem para a pessoa errada, ou algum engraçadinho que queria deixá-la assustada. Mas não pôde evitar pensar que talvez o perigo estivesse muito mais perto do que imaginava.
(...)
Quando a delegada e o investigador Sato chegaram à delegacia na manhã seguinte, encontraram-na completamente pintada de vermelho exteriormente; portas, janelas, paredes, tudo… E essa não era a pior parte, e sim a grande pichação em tinta branca com o rosto de Pennywise na parede lateral do prédio, que chamava a atenção dos transeuntes.
Aproximando-se de Suigetsu, um dos policiais que coordenava a equipe de limpeza, eles perguntaram o que ocorrera a ele. — Hozuki-san, você sabe me explicar que diabos é isso? — Pain questionou, muito irritado.
— Olha, ao que parece é tinta lavável, então em umas três horas vamos conseguir limpar tudo, senhor… — Suigetsu respondeu.
— N-não, ele não quis dizer desse jeito, enfim... Queremos saber o que aconteceu, quem fez isso? — a delegada perguntou.
— Ainda não sabemos, senhora, parece que alguém desligou todo o sistema de segurança da delegacia durante a noite, então as câmeras não filmaram nada.
— E alguma coisa foi roubada?
— Estamos conferindo os arquivos, mas parece que não.
— Tudo bem, continuem a limpar, vamos dar um jeito nessa situação. — Konan disse, de maneira muito segura. É claro que alguém teria que ter desligado as câmeras de segurança e os alarmes antes de tudo, não poderia esperar menos de TurtleMaster, ela pensou amargamente. Se tivesse alguma fé no sobrenatural, poderia jurar que esse assassino não é humano, mas o seu ceticismo era muito maior, e teve a certeza de que humano ele deveria ser, era apenas muito escorregadio. No entanto, sabia que ele não iria escapar, ao menos no que dependesse de seus esforços.
No meio da confusão, eles encontraram Itachi e Hinata, e ela parecia estar em péssimo estado, até que entenderam, ao chegarem mais perto, que ela estava chorando e Itachi tentava acalmá-la. — Vai ficar tudo bem, nós vamos pegar esse cara e eu juro por tudo que é mais sagrado, ele não vai encostar em um fio de cabelo seu, entendeu? Nada vai te acontecer. — percebendo a presença dos dois, o Uchiha falou, discretamente, sem soltar a Hyuuga do abraço — Deem uma olhada no necrotério e vocês vão entender.
Não foi preciso dizer mais nada. Descendo as escadas apressadamente, notaram uma aglomeração ao redor da porta, e conseguiram passar depois de algum tempo, entrando no recinto. Sobre uma das mesas de trabalho, havia uma pequena banheira de plástico, grande o suficiente para caber uma boneca Barbie, e dentro dela, foi isso que encontraram. Ali dentro, encontrava-se uma Barbie morena, com os olhos pintados de um lilás pálido, completamente submersa em uma água suja, tingida de vermelho carmesim.
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