Mei pov.
Que sensação estranha é essa?
Acordar no conforto de uma cama maior que meu corpo, regida a lençóis e travesseiros fofos como veludo, de meu quarto extenso, cortinas contornavam as grandes janelas e servas abriram-nas desejando-me “Good Morning!”, pela primeira vez eu entendia aquela língua.
Meu corpo estava pesado há momentos atrás, agora estava leve, sentia-me flexível e tive vontade de praticar diversos exercícios, porém eu ainda tentava entender tudo em meu pequeno silêncio, observei bobamente o teto recheado por imagens de anjos, me lembrava e muito as catedrais católicas que eu via em imagens de jornais do ocidente.
Tentei chegar a uma conclusão sobre o que estava acontecendo, relembro-me da noite anterior, eu estava à beira da morte, sendo tocada por algo que me irritava e me drogava ao mesmo tempo, acho que fiz alguma loucura e acordo estranhamente em uma situação reversa.
Meus olhos, piscam e doem à ardência, os raios solares me incomodam nitidamente e meu corpo parece frio embora eu estivesse cheia de energia, minha cabeça dói toda vez que tento pensar na noite de ontem ou em algo a mais.
Neste momento vejo as serviçais estremecerem e formarem uma saudação, inclinando-se levemente para frente, ouvi o barulho de uma porta sendo aberta e vejo-o entrar com um sorriso amistoso, um jovem de cabelos lisos azulos e trajado a roupas luxuosas, uma blusa branca e um blazer azul-acizentado lhe adornava o corpo junto a calça de mesma cor e sapatos pretos rescém engraxados, sua blusa estava desabotoada até a altura do peito, despertando-me certa curiosidade,porém eu o reconheceria à quilômetros.
_Como está senhorita Mei? Gostou do seu quarto? – ele perguntou alegre, embora estivesse claro a falsidade.
_Estava gostando...até você entrar nele. – as servas me prestaram a atenção como se eu tivesse cometido o pior ultraje do mundo, realmente me senti relaxada naquela grande cama, encostei-me no mastro sentadinha enquanto escorava meu braço ao joelho, sem perder qualquer contato visual. – Panthomhive... – respondi me contendo o ranger dos dentes – Eu me lembro de tudo.
_Sei que se lembra...eu deixei que lembrasse. – disse completamente tranquilo.
_Fez algo comigo... – afirmei olhando para minha mão.
_Lhe dei a chance de ver as coisas pelo modo que realmente são...agora você pode obter toda a verdade. – o encarei novamente.
_O que está insinuando?
_O que você tem vontade de fazer? Neste exato momento, não é justamente voltar para sua casa?
_Meu lugar para retornar não é um lugar em si, mas atende por uma pessoa... – respondi nostálgica, fechei meus olhos mordendo meus lábios.
_Será que ela pensa o mesmo? Durante todo este tempo você deve ter percebido sinais duvidosos a respeito de quem ela realmente gostasse.
_Está se divertindo com a minha cara?
_Minha cara, é a de alguém que está se divertindo? – olhou-me em profunda seriedade, olhos que transmitiam o carmesim sedento por vingança.
_Está me manipulando...e eu estou visivelmente caindo.
_Veja com seus olhos e o poder que eu lhe dei...aí sim poderá dizer se estou do seu lado ou não. – ele levantou-se, pensei por alguns segundos e fui atrás dele, eu não queria perder mais nada, estava disposta a me afundar de vez e saber o que estava acontecendo comigo, e que tipo de poder era esse que ele me deu.
Mei. Pov off
Tsunade pov
Insegurança, era o que eu sentia, profunda raiva também, mas me contive a seguir adiante com tudo, deixando o hotel ao qual passei a noite, vesti minha manta após acordar antes mesmo do sol nascer, e rumei para o centro daquela cidade, tentei passar por ruas escuras e sombrias justamente para que ninguém me notasse, mas não escapei alguns olhares, felizmente não mexeram muito comigo então apenas ignorei.Percebi o ambiente ficar pesado a cada passo que eu seguia adiante, um aglomerado de pessoas se formou mais à frente na única passagem em sentido frontal que existia, algo me dizia que os bastões e correntes que estavam nas mãos dos maus encarados, não significaria boa coisa para mim.
Sorri feito uma lunática, não me intimidando por todos ali, levantei minha mão estalando meus dedos perto de minha face, eles correram em minha direção, eu puxei força das pernas e levantei a perna direita, pronta para dar um estalo no chão que era um golpe meu que tanto me orgulhava por fazê-lo, entretanto surpreendo-me por um vulto que segura a ponta de meu salto com toda a força que eu invoquei, não há ser humano na face da terra que conseguiria deter um golpe meu em fúria desse jeito, surpreendi-me por vê-lo ali cometendo aquele ato e rapidamente pondo meu pé ao chão.
_Lady, este é o distrito dos irmãos Broodley, se causar um estrago aqui eles a perseguirão até o outro lado do mundo. – essa voz, esse tom preocupado, eu não sabia o que fazer, nem mesmo o que falar, só vejo ele sumir de minhas vistas e deter aqueles homens que vinham na corrida, distribuiu chutes e golpes com o braço e com as pernas ao estilo teakwondo, deteve e deixou ao chão o primeiro montante de homens que estava lá, alertados pela grande torre de comunicação, mais mafiosos chegavam correndo ao fundo, antes de explodir de raiva, ele segurou minha mão e fomos correndo até um caminho que ele conhecia, sumimos na rua lateral à esquerda e demos adentrada já numa parte da quadra que dava para parte da cidade e vimos algumas pessoas excêntricas circularem em compras.
Me desvencilhei de suas mãos na primeira oportunidade que nos vimos em solo seguro, o olhei em descrença, ele do nada estava lá, eu não sabia se reunia minha raiva ou o que. Tentei alguma reação, pensei em Mei naquele momento e tudo o que aconteceu, e o mais irritante era aquele olhar pacífico dele.
_O que você quer? – disse me contento no meu pior timbre de voz.
_Lhe ajudar, veio em busca dela.
_EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NENHUMA PALAVRA QUE SAIA DE SUA BOCA! – gritei pondo o dedo na cara dele – Eu só quero a Mei de volta e espero que o Panthomhive esteja esperando a minha visitinha.
_Ele com certeza está... – continuei andando e ele voltou a andar atrás de mim.
_Eu não quero você, mas sim a seu dono, saia! – ordenei para que ele se afastasse.
_Ela não vai voltar para você... – me parou e me fez virar para encará-lo – não da maneira que ela está...
_O que ele fez com ela?
_Acho melhor você mesma comprovar...
_É o que farei. – andei adiante.
_Não saberá chegar ao local.
_Deve estar maluco se acha que vou lhe implorar alguma ajuda!
_É por esta razão que a ofereço de bom grado! – pôs a mão em meu ombro me sorrindo ao lado, me desvencilhei novamente.
_Por que será que sinto que isso parece ser uma armadilha?
_Não é...meu amo escolheu um caminho sem volta...eu escolhi o meu... e você me conhece lady... – revirei a cara, não queria mais este demônio invadindo meus pensamentos e me tirando o rumo do que fazer, até mesmo fazer o que ia contra minhas regras, me juntar ao inimigo para derrubar o chefe deles.
_Me leve até eles...depois acerto as contas com você! – seguimos correndo pelo caminho em que ele me guiava. Eu percebia que ele tinha muito à falar, e por incrível que pareça, eu também tinha.
_Ela precisa de sua ajuda... – me disse em meio a corrida, de tom cálido e sério, eu sentia o peso de suas palavras e o que ele sabia.
Tsunade pov off.
Sebastian pov.
Flashback on.
O quarto do boochan estava devidamente arrumado, a louça do período matinal já estava polida e as xícaras secas em montagem com seus respectivos jogos de pratos. Dirigi-me até a sacada da bela varanda que adornava o contorno do jardim da mansão, e vi à beira de uma pequena piscina, ela estava sentada em uma cadeira reclinável clara, estava pensativa e olhava à margem da piscina e suas ondulações refletidas na luz. Sem nem mesmo me olhar, notou minha presença.
_Ora se não é o ser que mais odeio? – disse sem emoção alguma, remexeu as pernas se debruçando na mão esquerda do braço esticado. - A que devo o desprazer?
_Terumi-san...não deveria estar aqui...tampouco em condição similar à minha.
_Ah então você já sabe? – virou seu rosto de lado, me olhando diretamente.
_Impossível não notar...diferente de mim e do boochan, sua aura ainda é instável...me pergunto como ele conseguiu realizar o ritual.
_Pergunte a ele, não me lembro.
_Optou por isso? Ou foi ameaçada?
_Eu não tenho que lhe responder nada! – se irritou elevando o timbre de voz e ira às suas orbes.
_Entendo...tenha cuidado Terumi-san.
_Digo o mesmo... – levantou-se e foi até minha direção, chegou ao meu lado esquerdo e mirou meu ouvido. – Se acabar se metendo no meu caminho...creio que Tsunade perderá seu demônio preferido. – se retirou seguindo de onde vim.
_Ainda não entende... – arfei ar, concluindo minhas especulações, é claro e certo de que alguma coisa ela vai fazer, e sob as ordens e manipulação do boochan, com certeza será levada à fazer algo insano, e a maior atingida disso tudo...eu já posso pressentir...
...ela está vindo.
Para sofrer novamente pelo meu pecado.
Flashback off
Eis que aqui vejo minhas predições se realizarem, esse joguinho maquiavélico venho acompanhando por séculos, sempre soube onde tudo isso iria dar...mas a imprudência da Terumi...é algo que vai me fazer agir...diferente do que eu previa. E agora tenho minha única fraqueza correndo ao meu lado em direção à sua morte. O que fazer? Quais possibilidades? Mesmo eu tendo a resposta, nunca me pareceu fugir tanto à certeza.
_Não vai perguntar para onde estamos indo? – perguntei para cortar o silêncio e talvez obter alguma atenção.
_Não preciso! – me respondeu fria.
_Direi assim mesmo se não se importar...estamos nas ramificações do Palácio de Westminstrer, teremos que nos locomover em movimentos restritos, acompanhe meus passos pois vamos precisar nos camuflar, para transitar pelos arredores do palácio, só com credencial. Eu tenho a minha mas no seu caso...
_Não preciso dessas inutilidades.
_Não resolvemos as coisas aqui com tanta rebeldia, apesar de me fascinar tal qualidade em você...
_Fala como se eu fosse uma troglodita.
_Com certeza comigo seria. – consegui arrancar-lhe um sorriso, não teve como negar minhas palavras.
Avistamos muitas pessoas, era um dia típico para ambiente familiar, por isso vimos muitas famílias passeando pelas ruas do palácio como forma de lazer, tentamos ser o mais discretos possíveis diante da multidão, já avistamos ao longe o grande Big Bang e sua Tower Clock, faltava poucos minutos para o badalar do meio dia. As pessoas em pressa andavam em direção a lanchonetes e restaurantes, mas para isso precisavam passar pelo grande estabelecimento do centro comercial, o que mais parecia um grande shopping na língua dos plebeus.
Sebastian pov off.
Do outro andar do local, se localizavam pessoas peculiares, um homem de roupas galantes azuladas vinha andando até a mesa onde se localizava a mesa onde estava sentada uma jovem que bebera um chá e de pernas cruzadas perdia seu olhar na paisagem com árvores do outro lado da grande parede de vidro. Trajava um sobretudo vermelho-sépia que lhe estendia até as mangas, um vestido negro por dentro e um cinto alto que lhe envolvia a cintura, modelando-a e destacando suas curvas, suas pernas à mostra deixava-a sedutora, ainda que a intenção não fosse essa, aprecia estranha, estava calada de mais. O homem fez notar sua presença interrompendo o olhar da mulher, lhe jogou um documento na mesa.
_Aqui está...embarcamos hoje ao cair da noite... – parecia afirmar algum lugar que eles iriam. – O que foi? Não quer mais ir...vai desistir?
_Não! – afirmou em pressa – Vou até o final...é só que... – apertou a xícara com força, seus olhos retraíram-se ao chão, parecia mal... – Devo estar com medo de navios. – sorriu tentando desconversar, ela levantou-se e o jovem ardilosamente a confortara lhe estendendo o peito para um abraço, onde remexeu os fios morenos que à luz, brilhavam alaranjados.
_Está tudo bem...vamos? – recebeu consentimento da mulher, deram-se as mãos e foram até determinado ponto. Ciel parara por um instante, uma face mista lhe vinha ao rosto, sorria diabolicamente. – Vejamos se você quer mesmo ir...vou por outro caminho, se ainda quiser me acompanhar...esteja à rua atrás da Tower Clock, você tem vinte minutos e cinco fotógrafos nesse andar...cuidado para não se expor. – disse a seu ouvido, retirando sua mão da dela e seguindo mais a frente, Mei não entendera o que ele falava, mas olhou em outra direção, seus olhos procuraram algo mas não encontravam, voltou a olhar para Ciel e o mesmo tinha desaparecido.
Desceu as escadas de vagar, degrau por degrau, sua mente estava um turbilhão, cada barulho de seu salto no cimento, era um estalo que sua mente e corpo davam, tentava se lembrar de alguém, mas ao mesmo tempo sua mente se esforçava por esquecer. Escorando-se no corredor sentia que sua alma queimava por dentro e tentava lhe dizer coisas. Avistou-a ao longe...como seu coração deve ter parado de bater.
Seus olhos transmitiam um lapso de indiferença e quietude, tentava processar a informação por completo, gelou-se da cabeça aos pés... viu o homem todo de preto dizer palavras à sua amada e sair de perto dela, deviam ter se separado estando á procura de alguém, assim ela seguiu sozinha entre as pessoas que transitavam ali, até que o local ficara escasso de transeuntes.
Mei continuou em total coma “momentâneo”, só sabia que agarrava àquele mastro como se fosse a sua própria vida em prol de não escapar, e quando os olhos caramelados encontraram às vistas dos esmeraldinos, o choque do embate visual foi paralisante.
_Mei... – a loira disse num sussurro, seguido de um sorriso, preparada para correr em sua direção. A morena no instante seguinte, retornou sua locomoção, seu corpo e mente agiu estranho, conseguiu terminar o caminho pelos degraus e seguiu até mais próximo da moça que corria em sua direção.
_Pare! – não a encarava nos olhos, o que fez Tsunade parar e olhá-la em preocupação.
_O que foi Mei? Sou eu! – gesticulou.
_Não faço ideia de quem você seja... – olhou-a em profunda raiva, seus olhos despertaram em um carmesim mais vivo e oscilante, parecia sangue vivo escorrendo pelo contorno de sua íris.
_Mei...você é um... – não conseguiu ousar dizer a próxima palavra, seu coração doeu no mesmo instante, não conseguia acreditar no que via, seus olhos já se enchiam com tamanha descrença.
Continua...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.