Jisung
Um sorriso brotou em meus lábios após aquela ideia maléfica surgir em minha mente. Eu iria dar um jeito de me aproximar mais ainda de Mark hyung e daria um jeito de fazê-lo gostar de mim. Levei minha lapiseira até meus lábios, pensando numa maneira de fazer meu plano dar certo quando meus olhos flagraram involuntariamente, Jaemin e Donghyuck conversando.
— Hyung, hyung! — disse baixinho, até que sua atenção estivesse sendo direcionada á mim — aqueles ali não são o Jaemin e o Donghyuck conversando?
Apontei minha lapiseira para o canto isolado da biblioteca em que eles estavam. Pareciam estar discutindo através de sussurros, o que pareceu intrigar Minhyung. Nossos olhares se encontraram, e por um momento, foi como se nossas mentes fossem uma só.
— Vamos segui-los? — nossas vozes se uniram e acabamos por sorrir juntos pela nossa sincronia não proposital e totalmente invejável — vamos!
Juntamos nossas coisas em nossas mochilas rapidamente, para irmos andando lentamente até o local onde os dois conversavam.
— Que história é essa de você confessar seus sentimentos para o Minhyung, Donghyuck? Que sentimentos? Você está louco? — pude ouvir Jaemin sussurrando o mais baixo possível, por mais que parecesse estar se segurando para não gritar com o ruivo.
— Eu gosto muito dele, Jaemin. Pensei que já soubesse, justo você, meu melhor amigo. — o Lee cruzou seus braços, fingindo estar decepcionado com o moreno.
— O meu melhor amigo morreu no dia em que você decidiu virar essa pessoa que você é hoje, Donghyuck. Desde quando você é o tipo de pessoa que finge gostar de outra só pra prejudicar uma terceira pessoa? Acha que eu não ouvi aquela sua conversinha com a Lalisa? Ela é outra coitada que caiu na sua lábia, eu peço á Deus todo dia pra ela abrir os olhos e ver quem você é e em quem ela se transformou depois que te conheceu.
— Você está com ciúme.
— O que?
— Está com ciúme porque eu comecei a andar mais com ela do que com você! Está com ciúme porque eu me declarei pro Mark, e não para você como você sempre esperou que fosse acontecer. Por favor, Na Jaemin, isso tudo que você acabou de falar é um discursinho que você fez pra achar que tem razão de alguma coisa, mas é só um ciúme bobo que você tem de mim por causa de uma historinha de criança que tivemos há quase dez anos que eu estava quase esquecendo. Me poupe desse seu mimimi e me poupe de ouvir qualquer coisa que saia da sua boca enquanto você não tiver me esquecido.
Eu pude ver o queixo de Mark cair no chão, e talvez até atravessar o subsolo inúmeras vezes. Ele estava tão chocado quanto Jaemin ao ouvir todas aquelas palavras de Donghyuck.
Uma descarga de 220v de pura realidade pareceu atingir Donghyuck após tudo aquilo que disse para o Na assim que ouviu os soluços deste. O ruivo levou suas mãos á sua boca, tapando-a.
— Oh meu Deus, me desculpe, eu juro que não disse tudo isso por querer, Nana.
— Você não é mais o Donghyuck que eu sou apaixonado desde que éramos pequenos Devolva o meu verdadeiro Donghyuck antes de pensar em olhar para mim outra vez.
O moreno saiu correndo dali, deixando Lee Donghyuck com a expressão de um sentimento que ele nunca havia deixado transparecer. Medo. Os lábios do ruivo tremiam, denunciando que ele choraria á qualquer momento. Se nesse mundo houvesse um prêmio de uma coisa que eu provavelmente nunca mais iria ver em minha vida, esse prêmio iria para a seguinte cena:
Donghyuck começou a chorar. E saiu correndo atrás de Jaemin logo em seguida.
Olhei para Mark, que balançou a cabeça afirmando uma pergunta que eu ainda nem havia feito. Fomos atrás de Donghyuck. Por mais que espionar pessoas (até onde minha mãe havia me ensinado) fosse errado, nós já havíamos ouvido metade daquela história, e nunca é bom ouvir uma história pela metade.
Paramos no laboratório, onde Donghyuck tentava conversar com Jaemin. Após várias tentativas de arranjar um bom esconderijo, eu e Mark hyung conseguimos nos esconder atrás de alguns esqueletos (de mentira, claro) usados nas aulas de ciências.
— Vá embora, Donghyuck. — a voz de Jaemin fez-se presente, um tanto abafada por estar cobrindo o rosto com seu moletom azul do Mickey Mouse.
Você mudou?
(Você mudou?)
Ou eu mudei?
(Ou eu mudei?)
Eu odeio até este momento que está passando
Acho que mudamos
Acho que é assim que as coisas são
— Eu não vou embora, Jaemin. Não até você me desculpar por eu ter me tornado essa pessoa horrível e deplorável que eu sou hoje. Você acha que foi fácil lidar com a sua falta? Com quase dez anos sem o meu melhor amigo? O que eu sou hoje... É uma consequência. Uma sequela, Jaemin. Uma sequela do que o tempo fez comigo.
— Você acha que é fácil assim desculpar você? Justo você, uma parte do meu passado e das minhas melhores lembranças. Uma das pessoas que eu mais amo e a pessoa que mais me decepcionou nessa vida. Acha que eu vou ser capaz de fazer isso de uma hora para a outra, Lee Donghyuck?
— Acha que eu ligo para o tempo, Jaemin? Contanto que você seja capaz de me perdoar algum dia, o tempo que se dane. Já esperei mais de nove anos, posso esperar quanto tempo for preciso. Desde que você me perdoe.
É, eu te odeio
Desde que você partiu
Não houve um dia
Em que eu tenha te esquecido
Jaemin destampou seu rosto, agora vermelho (imagino que seja de chorar, mas pode ser que seja vergonha, né? Nunca se sabe) e abriu seus dois braços, como um pedido silencioso de um abraço. Haechan não demorou para atender o pedido do outro, logo iniciando um abraço e a cena de uma talvez reconciliação no mínimo extremamente fofa.
Quanto açúcar, meu Deus do céu eu vou virar diabético assim.
Foi ali que o destino resolveu começar a conspirar conosco. E com conosco eu quero dizer Mark hyung e eu.
Senti meu celular vibrar no bolso da minha bermuda e eu rezei pra que ele estivesse no silencioso. Por que se não estivesse, eu poderia dar adeus pra minha vida, e para tudo o que Donghyuck havia acabado de dizer para Jaemin. Afinal, se ele descobrisse que Mark e eu estávamos espionando os dois, tenho toda a certeza do mundo que todo o seu arrependimento iria para o ralo e ele ia incorporar a pior versão de Lee Donghyuck existente na face da terra para me matar.
Já podia até imaginar a matéria que sairia no jornal:
“Jovem é assassinado no laboratório de ciências com pedaço de esqueleto após ouvir conversa de arrependimento e pedido de desculpas de Lee Donghyuck”
E então, para assinar minha sentença de morte, ouvi o toque do meu celular começar.
Yeah alright
1, 2
Dangdanghi neon gogaereul deulgo nareul bwa
Yeoksi Rookie rookie
My super rookie rookie boy
Joha bol ttaemada jinjja neon nae Type
Yeoksi Rookie rookie
My super rookie rookie boy ha!
Fechei meus olhos, mentalizando o momento em que Haechan interromperia aquele abraço e faria do braço do esqueleto acima de mim a arma do crime.
Mark olhou assustado para mim, e agarrou a minha mão, para corrermos o mais rápido possível.
Sabe quando tudo para, e a sua vida passa diante dos seus olhos em câmera lenta? Foi isso que aconteceu. Mas o estranho é que ao invés de tudo ao meu redor parar, foi como se eu estivesse numa daquelas cenas de um filme de romance em que algo importante vai acontecer e a mocinha corre com o protagonista em slow motion. E no caso, eu era a mocinha e Mark hyung o protagonista.
Itorok geosen jonjaegam nan imi
Hoksina haneun jakeun uisimjocha mot hae
Jeulgineun cheok haha nan useo bwa aesseo
Maltukkaji ne apeseon machi Icegatji
Bulssuk deuleowa neon beolsseo nal beolsseo nal
Witaerobge deo hollyeo nwa hollyeo nwa
Natseon neoui beonhokkaji
Hanbeone nan oewobeorin geoya Why?
Jakkuman wae nal wae nal heundeulkka neon
Bajjak dagawa
Geurae olhji olhji Boy ha!
— Tem alguém aqui! — ouvimos a voz de Haechan, porém, já estávamos longe deles. Por que graças ao Mark hyung, conseguimos atravessar a porta que separava o laboratório do corredor do segundo andar antes que fôssemos vistos.
Nós dois corremos tanto, mas tanto, que eu quase botei os meus pulmões para fora. Depois de uma distância considerável, eu os sentia queimando, e eu já ofegava.
Se a omma estivesse aqui, aposto que ela diria algo como:
“Isso que dá não fazer nenhum esporte” ou “Quem manda ficar com a bunda grudada no sofá o dia todo?”.
Após um bom tempo correndo, paramos em um dos bancos perto da secretaria. Minhyung sentou-se ali primeiro, e eu, com um ato de rebeldia, (e de uma pessoa cansada também) deitei-me no banco pouco me importando se eu estava com a cabeça no colo de meu hyung ou não. Estava mais preocupado em recuperar o meu fôlego do que em qualquer outra coisa.
— Jisung... Me diga uma coisa.
— Digo sim, hyung. — respondi com os olhos fechados, enquanto tentava respirar melhor.
— Você é... Bolo fã?
Eu não aguentei, tive que olhar bem pra cara dele antes de começar a gargalhar. Será que era tão óbvio assim que eu idolatrava Red Velvet vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana e trezentos e sessenta e cinco dias por ano?
Bom, eu espero que pelo menos não seja óbvio que eu tenho um altar pra Joy e pra Irene, minhas rainhas.
O que eu disse?
Risca, apaga.
Insira aqui uma voz daqueles caras que hipnotizam as pessoas – vocês não leram nada, vocês não leram nada.
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