História MemoryCard - Nove - O segredo número 58

Depois daquela maratona de animes em minha casa, cedi minha cama para Jisung e passei a noite em um colchão ao lado do móvel. Não cheguei nem a dormir. Toda vez que eu me virava para o lado, deparava-me com a imagem do loiro, sentia minhas bochechas esquentando e, droga! Park Jisung era uma criatura extremamente fofa e o acontecimento de mais cedo não saia de minha cabeça.

Sem mais o que fazer além de ficar acordado, decidi tatear o piso ao meu lado em busca de meu celular. Lee Donghyuck seria a única pessoa capaz de me ajudar naquela situação.

eu *-*

dongdong

me ajuda

dongdong <3

quié

eu*-*

eu beijei o Jisung

ai meu deus eu acho que tô gostando dele

visualizado!

lee donghyuck me responde

eu tô sem dormir

eu não consigo olhar pra cara dele sem ficar vermelho

a a a

dongdong<3

te vira

os sentimentos são seus, vai ter que aprender a lidar com eles

assim como eu tô aprendendo a lidar com o que eu sinto

se eu consigo

vc também consegue

eu*-*

valeu donghyuck

não ajudou muito mas mamãe me ensinou a ser educado

dongdong<3

de nada <3

se deixar o pirralho triste eu juro que quebro a sua cara

eu*-*

mas ué

não era vc que não gostava dele?

dongdong<3

longa história

outro dia eu te mostro tudo no meu caderno da Krystal e da Amber

eu*-*

tá

dongdong<3

eu vou dormir, falou

vai dormir também, gafanhoto

vê se não fica admirando o menino, eh perigoso ele acordar e pensar q tu eh um doido

eu*-*

mas eu sou

dongdong<3

🙄

tchau

Bloqueei o celular e olhei para o teto. Eu podia fazer o que quisesse a madrugada toda até que eu sentisse sono. Mas a única coisa que fiz foi levantar rumo à cozinha, para beber um pouco de água.

Chegando lá, enchi meu copo e escorei-me no balcão da cozinha. Entre um gole e outro, refletia sobre como perder um — nem tão — simples cartão de memória havia mudado a minha vida de um dia para o outro.

Um sorriso involuntário apareceu em meu rosto ao passo que algumas memórias invadiam minha mente. Um beijo trocado com Donghyuck, as palavras de Jaemin para o mesmo na biblioteca, Jisung e eu fugindo para não sermos pegos pelos dois, a nossa tarde de animes, e o beijo mais cedo.

Suspirei. Droga, porque eu estava tão mexido por culpa de um beijo?

Do nada, alguém acendeu a luz e eu acabei por derrubar o copo no chão. Dei graças a Deus por ter pego o copo de plástico e não o de vidro. Era Doyoung hyung procurando por comida no armário. Meu susto chamou a atenção do ruivo, fazendo com que ele olhasse diretamente para mim.

— Minhyung! Te assustei?

— Credo, hyung, parece uma assombração. Depois eu é que sou a alma penada da casa.

— Me desculpe, 'saeng. Juro que não foi a minha intenção.

— Tudo bem, tudo bem. Vou voltar para o meu quarto. Cuide do Taeyong hyung e sem barulhos, por favor.

Doyoung apenas me lançou um olha indignado antes que eu adentrasse meu quarto outra vez. Um de meus passatempos favoritos era encher o saco dele e de Taeyong hyung, ele deveria ter se acostumado.

Encostei a porta de meu quarto lentamente e me deitei no colchão amanhã. O sono estava começando a tomar conta de mim. Decidir fazer a única coisa que me pareceu plausível: dormir. Mas dormir com o leve pressentimento de que amanhã seria um longo dia.

…

— Hyung, eu preciso te dar uma coisa, mas você tem que jurar que só vai verificar tudo antes de ir para o colégio na segunda, ok? — disse Jisung antes de entrar no carro de sua mãe.

— Ok. Eu juro.

— Tome. Lembre-se de ver a gravação mais recente.

O loiro tirou um pequeno objeto de seu celular e eu mal pude acreditar​ que aquele o meu tão amado cartão de memória. Park Jisung estava mesmo me devolvendo ele? Droga, agora eu estava curioso demais, o que seria aquela gravação mais recente?

Eu havia jurado que não ouviria antes da segunda feira chegar e a minha palavra é fortíssima —  ao menos para mim.

Mas aquilo não me impedia de estar totalmente curioso.

…

— Oi Mark hyung. — a doce de Jisung soou em meus ouvidos através do fone —  Se você está ouvindo isso é porque eu tomei coragem e vergonha na cara para te dizer tudo o que tinha que dizer. Sim, esse é o seu cartão de memória e desde o início eu não tinha intenção alguma de te prejudicar. Renjun precisava de um cartão de memória novo e foi comprar naquela loja que eu indiquei. Bem, eu não fazia ideia que você trabalhava lá e quando os cartões de memória foram trocados, a oportunidade não passou em branco. Esse plano veio quase de imediato na minha cabeça, me desculpe pelas minhas atitudes de antes, ok? Fazia tudo parte do.plano. Mas agora você se pergunta: que plano? É simples, hyung. Eu sou perdidamente apaixonado por você desde o primeiro dia em que botei os pés naquele colégio. Nunca fui um aluno de chamar a atenção dos professores ou de seus colegas. Minhas notas não eram muito boas nem ruins demais. Eu não tinha nenhum talento nem nada de especial e também não era lá a pessoa mais agradável do mundo. Provavelmente, a primeira vez que você prestou a atenção em mim foi quando conversamos pela primeira vez, nos fundos do colégio. Não se sinta culpado, por favor. E se não se sentir culpado, de qualquer maneira, ignore o que eu disse nos últimos segundos. Bem, o propósito do meu plano era esse: virar seu amigo e me declarar depois. O que eu sentia antes por você era só um crushzinho básico e eu achava que se o plano desse certo íamos trocar uns beijinhos e pronto. Eu não esperava que fosse acabar me apaixonando assim por você, Mark Lee. Me apaixonando por cada um dos seus detalhes e tudo o mais. Lembra que eu disse que sabia muito sobre você quando eu peguei seu cartão de memória? Então, naquela época eu não fazia ideia de que você fosse muito mais do que eu imaginava. Muito mais do que o canadense por quem eu tinha uma quedinha e muito mais do que qualquer um é capaz de pensar. Você é tão complexo, Minhyung. Eu não sou capaz de fazer nada além de te amar. Bem, acho que é só isso. Te amo, Mark Lee. Muito mais do que você pode imaginar.

Quando aquele áudio chegou ao fim, derrubei meu celular no chão sem querer. Por Deus — Alá, Hades, Zeus e todos os outros deuses existentes no mundo — quando eu iria imaginar que aquilo tudo aconteceria e que Jisung era, no fundo, perdidamente apaixonado por mim?

Peguei meu celular do chão, tirei os fones e abri o gravador de voz.

— Segredo número 58, Mark Lee falando. Eu acho que estou apaixonado por Park Jisung.