Era dia vinte e um de dezembro.
Faltava um dia para a final do Fluminense contra o Manchester City. Exatamente um dia para talvez ganharem um título que mudaria totalmente a história do clube carioca.
Mas também faltava quatro dias para o tão esperado Natal, onde Marcelo iria passar em Lisboa junto a família do namorado.
Estavam no último treino antes da grande final na cidade de Jidá, na Arábia Saudita. As palavras que Diniz havia dito mais cedo para influenciar os jogadores do time de cor grená rondavam a mente do camisa doze.
Ganhar, ganhar, ganhar.
Era somente naquilo que pensava para o jogo contra o clube inglês, precisava ganhar para fazer parte da história do clube e terem o melhor ano possível.
Estava tão concentrado com a bola que estava em seus pés que só depois de cinco minutos foi olhar para quem estava no CT falando com seu técnico, Fernando Diniz: Cristiano Ronaldo, seu namorado.
Não entendia o porquê dele estar ali, combinaram que só iriam se ver no fim de semana, no Natal.
Bom, Cristiano estava morando na Arábia Saudita por causa do novo clube, isso é verdade, mas do mesmo jeito, não esperava aquela visita, que foi totalmente inesperada.
— Cris! — exclamou ao se aproximar do português, que levou seu olhar para si, com um sorriso no rosto — Por que está aqui?
— Não posso dar uma visita no treino do meu lindo namorado? — perguntou de sombrancelha arqueada, logo recebendo o brasileiro com um abraço e um selinho em seus lábios.
— Pode, eu só não esperava — explicou ao sair do abraço do maior, percebendo seu técnico ao lado deles, mas agora com o olhar sobre os outros jogadores, não prestando atenção nos dois — 'Tava falando o que com o Diniz?
— Sobre você — sorriu com aquele sorriso que Vieira sempre se derretia ao ver — Ele te elogiou muito.
— É, ele gosta bastante de mim — o cacheado respondeu sem jeito, o que fez Ronaldo achar graça da situação — Você não tem jogo amanhã, amor?
— Pego outro vôo hoje a noite, só vim te dar um oi antes do Natal. Estava com saudades demais, não me aguentei.
Marcelo sorriu genuinamente, percebendo que a presença de seu namorado o agradava mais do que ele queria.
Percebeu que Cano estava o encarando, como se estivesse tentando entender o porquê do brasileiro não ter voltado para o treino até agora, afinal, tinham um jogo grande nas próximas vinte e quatro horas.
Um jogo enorme.
— Agora anda, você tem que voltar a treinar 'pra amanhã, vou estar te observando daqui — o português deu um tapinha em sua nuca, o fazendo acordar do seu transe — Logo depois do meu jogo amanhã eu te prometo que ligo a televisão para ver a transmissão de vocês contra o City.
O mais novo assentiu com a cabeça e voltou para o treino da equipe, buscando se esforçar mais dessa vez já que seu namorado estaria o observando com cuidado.
⏰
A partida tinha acabado, o Fluminense Football Club foi vice-campeão do Mundial de Clubes de dois mil e vinte três.
Havia terminado em quatro á zero, e sofreram um gol aos primeiros quarenta segundos do jogo por culpa de Marcelo, que logo após o jogo foi para o vestiário se desabar em lágrimas.
Mesmo seus companheiros de equipe falando que eles jogaram bem e mais mil discursos motivacionais para si, ele não conseguia não se culpar por isso.
Não gostava do Manchester City.
Ele odiava aquele clube maldito.
Eliminou seu antigo time, Real Madrid, da Champions League, e agora tirou o título inédito de seu time, e pelo mesmo placar de antes.
Só queria a companhia e um conchego de seu namorado naquele momento, mesmo sabendo que para ir até onde ele estava era uma hora de vôo.
Olhava para o chão, não tendo ninguém do time carioca em sua vista, só aquele piso sujo do vestiário que mal conhecia.
Sentiu uma presença se sentar ao seu lado, o que imaginava que era Germán. Não o encarou, estava sem forças para isso ou qualquer coisa parecida.
— Não 'tô muito afim 'pra conversa agora, perdão — respondeu com a voz fraca, ainda não movendo seu rosto do lugar buscando ver quem estava ao seu lado.
A mão do suposto homem que permanecia ao seu lado foi de encontro aos seus cachos escuros, sendo um, hipoteticamente, ato de carinho da parte de quem quer que esteja ao seu lado.
O brasileiro sorriu com a ação que havia sido feita em seus cabelos.
Ele simplesmente adorava quando passavam a mão em seu cabelo, e eram apenas os amigos mais próximos que sabiam dessa sua preferência.
Mas Cano não era um deles.
Ao reparar nisso, a curiosidade despertou dentro de Vieira, que levantou o rosto devagar, tentando não fazer a pessoa ao seu lado largar a mão calma de seu cabelo, o que não deu certo.
E ao finalmente levantar o olhar para ver quem estava ao seu lado, era quem mais queria, mas também quem menos esperava.
Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro.
— Eu tenho muitas perguntas rondando a minha cabeça neste momento — o cacheado falou depois de uns doze segundos encarando o camisa sete ao seu lado que estava com um sorriso radiante em seus lábios.
— Vou responder a que eu acho que deve ser a principal que 'tá nessa sua cabecinha: logo depois do meu jogo, me apressei para pegar um vôo 'pra cá — o mais velho explicou com tranquilidade, o que sempre fazia o outro querer se apaixonar mais por ele — Me atrasei um pouco, claro, quando eu cheguei já estava no intervalo, dois a zero.
— Você nem me avisou — reclamou, o que fez o outro dar uma risadinha, voltando a acariciar seus cachos — Ainda bem que você não viu o primeiro tempo, eu fiz uma merda tão grande, nossa.
— Pois saiba que a culpa não foi totalmente sua, mesmo se você não tivesse feito aquilo, ainda seria três a zero 'pro time do mal — tentou confortar o namorado, o que não deu muito certo, já que o mais novo o encarava com um olhar que não sabia decifrar, mas não era bom — 'Tá, desculpa, desculpa! Mas pelo menos você, o Luka e o Toni perderam de quatro a zero para eles! Continuam conectados.
— Meu Deus, você realmente não sabe confortar alguém — Marcelo falou em um tom brincalhão, logo abrindo um sorriso no rosto, aquele em que Ronaldo sempre adorava ver, ainda mais quando era ele quem causava aquilo.
— E você me ama do mesmo jeito — foi o que Cristiano respondeu, convencido, igual ele sempre era.
— Amo mesmo! — deu um selinho no maior, que ficou desnorteado com o tão simples ato.
— Por isso que você vai aceitar casar comigo um dia — o português disse de forma brincalhona, e os dois sabiam que aquele era o maior sonho do casal: casamento.
Mesmo que a mídia fosse os julgar até a morte, queriam aquilo para suas vidas, serem finalmente apresentados como marido um do outro.
— Vou mesmo — o brasileiro respondeu com um sorriso enorme em seu rosto. Ele adorava sorrir, e seu sorriso era lindo, para compensar.
— E então, casa comigo? — o camisa sete soltou de repente.
— Quê? Você 'tá brincando comigo?
— Casa comigo? — ignorou a segunda pergunta.
— Eu não entendi, Cristiano.
— Aqui 'ó — enfiou a mão dentro de seu bolso, puxando uma caixinha de alianças de casamento douradas — Casa comigo, Marcelo?
Aquele não era o local adequado, nem o horário adequado, e muito menos a situação adequada.
Ainda tinham vários companheiros de equipe de Vieira no vestiário, mesmo que muitos nem estejam prestando atenção nos dois, mas o camisa doze queria que fosse em uma situação mais especial.
Afinal, ainda estava com o uniforme que estava usando em campo, e estava fedendo a suor.
Mas quem disse que Cristiano se importava com alguma dessas coisas?
— Caso com você, Cristiano.
Deu um selinho demorado naquele de cabelos lisos, que sorria igual uma criança boba naquele contato.
— No Natal que vamos ter com a minha família lá em Portugal, eu quero te apresentar como meu noivo — o português disse após o beijo, segurando nas mãos quentinhas do cacheado — Posso?
— Pode, mas eu vou querer casar no Rio de Janeiro — rebateu, logo tendo os dois apertando as mãos, como se tivessem feito um acordo.
Mas esse acordo estava feito já faz meses.
Marcelo sempre comentou que queria se casar na praia de Ipanema, é claro que Ronaldo, como o egocêntrico que era, falava que queria se casar em sua terra natal.
Mas depois de muitas manhãs com o mais novo insistindo em terem um casamento no Brasil logo no café da manhã, acabou cedendo, apenas para conseguir comer sua panqueca em paz sem ter um brasileiro listando em seu ouvido todas as vantagens de se ter um casamento no Rio De Janeiro.
Mas era isso que fortalecia aquela relação, as discussões bestas sobre as coisas mais insignificantes do mundo, as apostas em jogos no qual não se importavam e as visitas inesperadas. Era tudo o que fazia o amor entre um português egocêntrico e um brasileiro engraçado crescer mais e mais.
Marcelo não poderia mentir, ficou com medo do namoro chegar a um fim quando o camisa sete saiu do time merengue, mas ele tentou ao máximo fazer um relacionamento a distância durar, o mandando mensagens e ligando para seu número sempre que podia.
E não é que conseguiu?
— Eu não sei muito bem o que eu devo falar agora. São raras as vezes em que eu fico sem jeito — o português coçou a própria nuca — Mas, enfim, não se culpe pelo jogo, você é ídolo do Real Madrid e desse Fluminense aí, um dia eles vão ganhar um mundial, mesmo se for daqui cinquentena anos, a culpa não foi sua.
— Obrigado, gatão — respondeu com um sorriso enorme em seus lábios. Ele sabia que aquele apelido era o favorito do outro.
— Eu comprei um presente de Natal que eu acho que você vai amar!— o maior comentou depois de um tempo, fazendo o brasileiro o encarar curioso.
— Outro?
— Como assim “outro”? Quando que eu te dei um presente? — agora era Cristiano quem estava curioso com a fala do outro.
— Eu considerei essa aliança um presente — respondeu simples, o que fez o homem que estava a sua frente abrir outro sorriso e dar um tapinha em seu ombro.
— Você é besta demais.
E mesmo Ronaldo não estando embaixo de uma árvore, ou enrolado em papel de presente, com certeza aquele novo vínculo que estava por vir era melhor do que qualquer presente que Marcelo iria ganhar no dia vinte e cinco.
Tanto que até esqueceu da derrota de minutos atrás, apenas por ter o que chamava de moradia ao seu lado.
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