DULCE MARÍA
Uma semana se passou desde que descobri a gravidez. Os enjoos continuam, porém, estão ficando menos frequentes. O médico me passou um remédio para aliviar os sintomas. A minha vida virou um caos. Me sinto desnorteada, em uma montanha russa de emoções. Minha cabeça está uma bagunça, abalando o meu psicológico. Ainda não caiu a ficha de que eu serei mãe. Uma mãe jovem, solteira e sem o apoio do pai da criança.
Tenho tentado entrar em contato com Christopher, mas o telefone dele sempre está indisponível. Ou o mesmo só fica desligado ou o número foi trocado. Preciso falar com aquele imbecil. Aliás, desgraçado! O bebê dentro da minha barriga não veio parar aqui sozinho. A responsabilidade é tanto minha quanto é dele. Choro todos os dias e todas as noites, me lembrando dos momentos em que nós passamos juntos.
Dulce ― Você realmente se afastou de mim porque quis, Christopher. {Penso alto enquanto olho fixamente para o tapete no chão} ― Por que me convenceu a aceitar o que eu sentia por você? Só pra jogar tudo no lixo depois? {Murmuro chorosa e deixo as lágrimas banharem o meu rosto}
Acabei de acordar. Estou deitada de lado na cama, com as mãos embaixo do rosto e a cabeça em cima do travesseiro, buscando algum tipo de conforto ou consolo dentro de mim mesma, ou simplesmente, uma mínima sensação de paz. Quero descobrir uma maneira de criar forças pra passar por tudo isso sozinha. Eu me sentia uma mulher forte, mas agora me sinto frágil, vulnerável como jamais me senti antes. As coisas aconteceram tão rápido, tão de repente. Protegi o meu coração com unhas e dentes, para no fim, ser fraca e acabar entregando-o ao primeiro cafajeste que apareceu.
O meu pai conseguiu provar que não ameaçou Christopher. Agora não sei mais no que acreditar. Não sei mais o que pensar. Sinto-me completamente sem rumo. Como passei quase duas semanas sem falar com o senhor Fernando (nem mesmo por telefone, pois ignorei todas as suas ligações), recebi uma carta ontem:
"Filha, volte para casa. Estou sentindo muita saudade. Sei que a qualquer momento você vai acabar indo embora da fazenda, mas não fique sem falar comigo. Eu te amo! O que preciso fazer para que acredite em mim? Ou melhor, o que devo fazer para te convencer de que não chantageei ninguém? Faço o que quiser.
Confesso que peguei a caixa da joia no quarto da sua irmã e dei ordens ao Dominic para colocá-la dentro do armário do seu namorado, mas ele ainda não tinha feito o serviço. A minha ideia, a princípio, era que Barton fosse pego em flagrante quando Dominic vasculhasse os armários de todos os funcionários. Mas como você disse que encontrou uma carta de despedida daquele sujeito, achei o momento propício para acusá-lo.
Mantive a joia em minha posse no escritório, até que Anahí desse falta dela. Uni o útil ao agradável e nem foi necessário implantar a joia no armário. Minha intenção era ter uma justa causa para demitir Barton e também fazer com que vocês se afastassem, colocando em dúvida o caráter dele. Juro que a última coisa que quero é te ver infeliz, filha. Lamento por tudo. Se quiser se arriscar e continuar se encontrando com aquele homem, a decisão é sua. Mas na fazenda ele não será mais bem-vindo. Tenho os meus motivos. Um beijo."
Dulce ― Pai, eu pensei muito sobre tudo o que disse na carta. {Depois que li, liguei para ele pra lhe fazer uma proposta} ― Realmente está disposto a fazer qualquer coisa pra provar a sua inocência? {Minha mão livre segurava o papel}
Fernando ― Exceto ser forçado a conviver com o Barton. Não vou proibir seu namoro com ele, mas também não me obrigue a aceitá-lo em minha casa. {Disse em tom calmo}
D ― Ok. De acordo. {Balancei a cabeça} ― O que vou pedir que você faça não tem a ver comigo e nem com Christopher, de qualquer forma.
F ― Como assim? {Imaginei o seu semblante confuso}
D ― Quero que o senhor quite a hipoteca do sítio dos Pelegrin Perroni, passe a escritura da propriedade para eles e dê permissão para Christian namorar Maitê.
F ― Você.. você ficou louca, Dulce María?! {Exclamou atônito, como se eu tivesse exigido que ele construísse um foguete espacial}
D ― É esse o simples preço pra que eu acredite em você e volte a falar com você, pai.
F ― Mas o que está me pedindo é um absurdo! {Alterou o tom de voz}
D ― Por quê? O senhor me deu a sua palavra de que faria... {Fui interrompida}
F ― Filha, entenda: o seu irmão não pode namorar aquela moça. {Notei certa preocupação nele}
D ― Não pode? Por qual motivo? Me dê uma justificativa plausível, que não seja o fato de ela não ter o dinheiro que nós temos! {Comecei a ficar irritada}
F ― Por favor, não complique, Dulce. {Soltou um suspiro} ― Você não pode me exigir uma coisa dessas.
D ― É pegar ou largar. O senhor sabe que eu sou uma pessoa de palavra. Essa aqui pode ser a nossa última ligação. {O desafiei}
Meu pai ficou quieto durante alguns segundos, acho que por quase um minuto.
F ― Seu irmão disse que aquela moça tem quase trinta anos. Ela é muito velha para ele. Esse é um dos motivos pra eu não aprovar... {Minha vez de interrompê-lo}
D ― O que?! {Fiquei chocada} ― Maitê tem vinte e quatro anos. Chris vai fazer vinte e dois. São apenas dois anos de diferença entre eles. De onde o senhor tirou essa maluquice? {Indignei-me}
F ― Escutei sair da própria boca dele. Ele estava com uns amigos aqui em casa e falou que estava namorando uma mulher de quase trinta anos, bastante experiente e madura.
D ― Garotos! {Passei a mão pela testa e neguei com a cabeça} ― É óbvio que Chris disse isso só pra se gabar. Garotos da idade dele adoram se exibir uns para os outros. Se estiverem saindo com uma mulher mais velha, é tipo uma prova do quanto são gostosões. {Revirei os olhos}
F ― Você tem certeza do que está dizendo, Dulce? Christian está apaixonado pela filha mais nova de Lucy Perroni?
D ― Tenho plena certeza. Maitê não tem quase trinta anos. Quem tem é a Belinda, irmã dela. E que eu saiba, Christian nunca se interessou por ela. Aliás, essa desculpa de idade também é ridícula, pai!
Ele ficou em silêncio de novo. Essa última parte da nossa conversa me deixou confusa e intrigada. Meu pai deu a entender que a diferença de idade entre May e Chris era o que o fazia ser contra a relação deles. Por que isso é tão relevante? Qual seria o problema, se de fato o meu irmão tivesse se apaixonado por uma mulher bem mais velha do que ele?
F ― Tá bem. Vou fazer tudo o que me pediu. Assim, você acredita que eu não chantageei o seu namoradinho?
D ― Acredito. Espero que cumpra a sua palavra. E nunca mais volte a chantagear o meu irmão! Ele só quer ser feliz também.
F ― Só te peço uma coisa, filha: tome cuidado com o Barton. Se ele fizer qualquer coisa que te desagrade, eu o farei se arrepender de ter nascido. {Disse em tom ameaçador}
D ― Sei me cuidar.
A partir dessa nossa conversa, eu pude comprovar que Christopher me deixou por vontade própria, e não por qualquer chantagem que o meu pai tenha feito.
[»»»]
Maitê ― Eu não acredito, Dul! {Põe a mão na boca} ― I-isso... isso está mesmo acontecendo? {Seus olhos se arregalam} ― O senhor Fernando finalmente não vai mais se opor ao nosso namoro? {Olha para Christian, que sorri feito um bobo}
Vim até o sítio para contar as novidades à minha amiga e também chamei o meu irmão pra vir junto.
Christian ― Quer que eu te belisque pra ver se não está sonhando, gatinha? {Beija a bochecha dela}
M ― Não é pra tanto, seu engraçadinho! {Eles riem e se abraçam}
D ― Meu pai também vai quitar a hipoteca do sítio e passar a escritura para o nome dos seus pais. {Sorrio}
M ― Mas isso não é necessário, Dul. {Fica sem jeito}
D ― Eu exigi como se fosse uma garantia pra ele nunca mais usar isso como chantagem. Esse sítio é de vocês e ninguém pode ameaçar tomá-lo assim de maneira tão covarde.
M ― Obrigada, amiga! {Vem até mim pra me abraçar} ― Eu e a minha família nunca vamos poder te agradecer o suficiente.
D ― Dinheiro para o meu pai é o que não falta. Quem mandou ele se meter no que não devia? Agora vai ter que, literalmente, pagar pelo prejuízo. {Dou uma risadinha}
C ― Mana, conta pra gente como foi que conseguiu convencer o Don Corleone.
Fiz um resumo do que conversei com o meu pai ontem. Maitê e Christian também acharam muito estranha a desculpa esfarrapada que o meu pai deu, sobre não aprovar a diferença de idade que ele achava que os dois tinham.
Maitê ― Então, você disse que estava saindo com uma mulher mais velha, seu safado? {Dá um tapinha no braço dele} ― Ou estava mesmo saindo com outra? {Levanta do sofá}
C ― Juro que não, amor! {Se mostra indignado} ― Eu só quis me gabar para os meus amigos. Eles ficavam se achando, dizendo que estavam pegando mulheres bem mais velhas.
D ― E você não quis ficar pra trás, né? {Reviro os olhos}
C ― É... {Coça atrás da cabeça e sorri sem graça}
M ― Bobo. {Fuzila Chris com o olhar e nega com a cabeça}
A porta da sala é aberta e nós vemos Belinda passar por ela.
Belinda ― Ora, ora. Reunião dos Três Mosqueteiros, é? {Sorri debochada}
C ― Isso aí! Já vou avisando que vou ficar para o jantar pra pedir a mão da May em namoro aos pais dela. Vamos oficializar tudo, não é, minha morena? {Pega a mão dela e deposita um beijo}
B ― Conseguiu mesmo fisgar um milionário, né, maninha? {Senta na poltrona e cruza as pernas} ― Deve ter nascido com o traseiro virado para a lua.
M ― Chris sabe que eu não dou a mínima para o dinheiro dele. {Maitê rebate e a encara com desprezo}
C ― Ao contrário de você, não é, loira oxigenada? Morra de inveja! Todos aqui sabem o quanto você é uma interesseira.
D ― Interesseira e oferecida. {Complemento}
B ― Diz isso só porque eu dei em cima do Christopher? {Joga a cabeça para o lado} ― Gosto de grana, mas não nego. Ao contrário daquele idiota. Por que acha que ele preferiu você, hein, Dulce María? Eu não tenho o que você tem. {Esfrega o polegar no dedo indicador}
D ― Ele não é ambicioso.
B ― Sabe onde eu o encontrei esses dias atrás? Na boate Aurora's, dando em cima de umas dançarinas de pole dance. {Se põe de pé e sorri sarcástica} ― O seus galhos já devem estar batendo lá nos satélites. {Gargalha e aponta a mão para o teto}
Provavelmente Belinda não sabe que Christopher me deixou.
D ― Não caio nas suas intrigas. {Engulo em seco}
B ― Uma coisa eu te digo: ele não é o homem que você pensa que ele é. Quando descobrir, vai ser um choque. Se prepare. {É a última coisa que ela diz antes de se retirar}
M ― Belinda não cansa de se meter na vida alheia. É pura inveja porque Christopher preferiu ficar com você, Dul.
Embora eu já saiba das intenções de Belinda, fico pensativa sobre o que ela acabara de dizer. O que a loira sabe a respeito de Christopher? Dessa vez, eu senti sinceridade em suas palavras. Não posso negar o quão estranha foi a atitude dele, igualmente com aquele bilhete sem nexo que me deixou.
[»»»]
Após sair do sítio de Maitê, decido ir até a fazenda pra falar com o meu pai. Como Chris vai ficar para o jantar, vou caminhando sozinha até chegar lá. Meu coração dispara quando vejo Christopher na portaria, discutindo com um segurança. Fico perplexa. Uma onda de choque percorre o meu corpo, fazendo com que meus músculos se enrijeçam. Uma enxurrada de pensamentos e sentimentos me atingem.
Ucker ― Não estou pedindo pra entrar. Só quero falar com a Dulce! {Exclama impaciente}
― Mas eu já disse que a senhorita Saviñón não está mais morando aqui. {O segurança responde}
U ― Pensa que acredito? O senhor Espinosa mandou que vocês me dissessem isso, não é? {Vejo-o pegar o celular e colocá-lo na orelha em seguida} ― Estou ligando pra ela.
Sinto meu celular vibrar dentro do bolso da calça. Eu o deixei nesse modo porque não aguentava mais escutar o aparelho tocar com as inúmeras ligações diárias do meu pai.
D ― Christopher. O que você quer? {Digo após atender}
U ― Dulce, e-eu te liguei várias vezes hoje. {Sua voz sai emotiva e surpresa} ― Preciso te ver e te explicar tudo o que aconteceu. {Exaspera-se} ― O verdadeiro motivo por eu ter me afastado de você.
D ― O que vai dizer? Que mentiras vai inventar? Você disse que não me ama. Não sei o que mais quer de mim! {Exclamo em tom irritado}
U ― Por favor, me escute... {Ele vira de costas e seu olhar encontra o meu. Sua mão que segura o telefone na orelha cai lentamente}
Christopher vem até mim e me abraça. Eu o afasto rapidamente.
D ― Me solte! {Esbravejo}
U ― Eu não vou embora daqui até você ouvir o que tenho pra te falar. {Me lança um olhar confrontador}
D ― Depois de tudo o que me fez, resolve aparecer aqui e diz que quer conversar? {O encaro com indignação} ― Tem ideia do quanto eu sofri por sua causa, Christopher? Hein? {Murmuro chorosa}
U ― Tenho! Porque eu também sofri. {Segura meu rosto com as mãos} ― Sofri muito. {Olha fixamente em meus olhos} ― Nunca sofri tanto na minha vida. Eu te amo! Eu te amo muito! Você é tudo pra mim. É a mulher da minha vida. {Seus olhos se enchem de lágrimas também}
D ― Se amasse, não teria me deixado! {Afasto suas mãos de mim e engulo o choro}
U ― Eu sei. Sei que errei. {Concorda com a cabeça} ― Mas eu só fiz o que fiz porque não queria ir pra cadeia. Seu pai me chantageou.
Não dá pra acreditar no que Christopher está alegando. Meu pai já provou que não o ameaçou.
D ― Mentira sua! Ele não te fez chantagem alguma. Eu pedi uma prova e ele me deu. Invente outra desculpa esfarrapada.
U ― Você não acredita em mim. {Sua afirmação sai em tom triste e decepcionado} ― Seu pai ia me acusar do roubo de umas joias de diamantes que eram da sua mãe.
Fico sem resposta. Se fosse mentira, como Christopher ia saber disso? Inferno! Isso tá me deixando completamente confusa de novo!
D ― M-mas ele, ele...
U ― Seu pai é um homem poderoso, Dulce. {Me interrompe} ― Eu sou um ninguém. Ele tem poder pra me acusar e me fazer apodrecer na cadeia. Ele não quer que nós fiquemos juntos. {Diz, desesperado}
D ― Por quê? Só por você ser pobre? Não faz sentido. {Nego com a cabeça} ― Maitê também é humilde e ele aceitou o namoro do meu irmão com ela...
U ― Por algum motivo o seu pai tem uma cisma comigo. O senhor Fernando me fez um monte de perguntas pessoais.
D ― Não sei o que pensar. {Minha cabeça começa a latejar}
U ― Ontem eu fui abordado. Seu pai me raptou e me fez mais ameaças. Mandou eu não voltar a te procurar e também me deu um ultimato pra deixar a cidade. Estou com medo. {Solta um suspiro} ― Não sei que tipo de ameaça ele vê em mim.
Mordo meu lábio e tento processar essas informações.
U ― Dulce, eu te amo e sei que você também me ama. {Segura minha mão e a beija} ― Tenho duas propostas pra te fazer. A primeira: venha comigo para Austin. O meu tio mora lá e nós podemos ficar na casa dele por um tempinho.
D ― Quer que eu saia de San Antonio com você? Por quê? Em que isso vai ser útil? {Fico confusa e pasma. Ele está me propondo uma fuga?}
U ― Assim teremos um pouco de paz, ficaremos sossegados e juntos, sem ninguém para tentar nos separar. O seu pai não vai conseguir nos encontrar lá. {Acaricia meu rosto}
D ― Mas eu já o chantageei. {Digo em tom fadigado} ― Eu disse que nunca mais olharia na cara dele enquanto ele não parasse de se meter na minha vida.
U ― E você acreditou? Fui raptado e ameaçado ontem, Dulce! O Dominic pode provar porque ele estava junto quando aconteceu.
D ― Preciso pensar. {Mordo meu lábio}
U ― Justo! Eu espero a sua resposta, mas não demore muito pra se decidir, por favor.
D ― Qual é a sua segunda proposta?
Christopher abaixa o corpo e apoia um dos joelhos no chão, em seguida, segura minhas mãos.
U ― Case-se comigo? {Pede, me pegando ainda mais de surpresa} ― Seja a minha esposa, Dulce María Saviñón.
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