Mais um dia tinha se passado, e assim como o sol se despedia com seu calor a noite tomava forma, com seu vento gélido e a lua subia, avisando a aqueles com um amor que estava na hora de se declarar. A noite e a lua eram uma combinação bela e romântica na visão de Shinsou, que se sentava do lado de fora do dormitório olhando para as estrelas enquanto o frio fazia seus pêlos ficarem arrepiados. Seu pijama de nada servia contra o vento da madrugada.
Tomou mais um gole do café recém feito sentindo o líquido esquentar seu corpo pouco a pouco. Sabia que deveria estar na cama numa hora dessas, mas como sempre a insônia estava consumindo seu ser assim como a angústia que habitava no seu coração. Algumas vezes tinha vontade de rir da sua situação atual, olhando para o céu como um bobo apaixonado, mas era exatamente o que ele era: um bobo perdidamente apaixonado.
Por quem? Ah, isso era difícil de responder, como explicar que caiu aos encantos de um ser recado a arrogância? Certas noites culpava os cabelos loiros que pareciam tão macias, noutras culpava os olhos vermelhos que pareciam enxergar e julgar cada ponto da sua alma. De qualquer forma, essa noite culpava o sorriso, mas não aquele que fazia até um certo veneno escorrer pelos lábios rosados, e sim aquele tão raro e quente, tão acolhedor e charmoso. Maldito fosse Katsuki Bakugou e seu corpo que parecia clamar pelas mãos de Shinsou acariciando cada parte.
- Merda…- Estava enlouquecendo e sentia cada partícula sua avisar, o coração apertou forte e mesmo lutando contra tudo dentro do seu ser, mais uma vez se viu chorando com a lua como espectadora do seu amor.
Na manhã seguinte seu corpo pesava e sua cabeça latejava, consequências de horas de choro porém nada que já não estivesse acostumado. Era final de semana e tinha um tempo para se recuperar antes de voltar a se concentrar nas aulas, optou por ficar no dormitório e felizmente a grande maioria dos alunos não escolheram o mesmo que ele, não queria ouvir ninguém enchendo seu saco, não quando sua cabeça estava ao ponto de explodir.
Desceu calmamente as escadas respirando fundo umas 3 vezes, antes de sair do quarto até tentou ajeitar sua aparência mas só conseguiu deixar o cabelo mais bagunçado. Como previsto aquele cômodo se encontrava vazio, aquilo até fazia uma certa ansiedade crescer no seu estômago mas logo sumia. Estava preparando seu café calmamente quando começou a escutar passos se aproximando, suspirou torcendo para que a pessoa simplesmente ignorasse sua presença e fosse embora de uma vez, ficou de costas absorvendo o líquido negro, fingindo que outro ser não invadia o espaço.
- Ei seu figurante de merda, sai da frente você não é o único que quer tomar café não!- Não podia acreditar naquilo, de todas as pessoas daquela maldita escola, ele também tinha resolvido ficar nos dormitórios. Estava pagando os pecados.
Notando que estava de frente para a cafeteira, foi para o lado e se virou calmamente mantendo a plenitude que aprendeu a fingir com o tempo e pelos deuses, como ele teria que fingir. Katsuki estava só de calção e chinelo do seu lado, mostrando o peitoral definido, os braços grossos e fortes e as costas largas, a cintura meio fina que ficariam lindas com suas mãos contornando as mesmas e…
Antes que continuasse com seus pensamentos, um puxão em sua camiseta o fez voltar a realidade.
- EI, estou falando com você seu bostinha roxo, o que você tanto olha? Quer que eu exploda essa cara de pastel? - Perto, muito perto. Shinsou conseguia sentir o cheiro dos cabelos e o calor da pele do loiro. - VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?
Aquele grito, as mãos fortes sacudindo o mesmo e o barulho da sua xícara se espatifando no chão trouxeram-o para a realidade, onde o mesmo estava prestes a levar um soco. Por pouco conseguiu desviar, abaixando sua cabeça e jogando seu corpo para trás, ficou os pés no chão e ajeitou a postura olhando para Bakugou e do Bakugou para seu café sujando o chão. Como podia gostar de um ser como aquele?
- Qual. é. a. porra. do. seu. problema? - Perguntou pausadamente se aproximando do corpo do loiro, sua paciência estava mínima e não seria porque amava aquele arrogantezinho de merda que deixaria ele agir de qualquer maneira com ele.
- O meu problema? Qual o SEU problema? Não enche a minha pouca paciência, extra! - Podiam ser vistas pequenas explosões saindo das mãos do outro, indicando que o mesmo estaria preparado para uma luta a qualquer momento, pena que ele cometeu um errinho básico. Ele respondeu ao Shinsou.
Tendo isso em mente, Hitoshi não deixou de sorrir. Estava cansado, estressado, com sono, amando e com o coração apertado. Nada de bom poderia sair disso.
- Ah, Bakugou. O que você tem de bonito, você tem de burro. - Ao ouvir tal provocação e ignorando a parte do bonito, Katsuki tava prestes a pular em cima daquele que ele julgava ser só mais um ser para encher cenário, mas antes de conseguir cumprir seu objetivo de explodir aquele sorriso debochado seu corpo travou ao ouvir as palavras do arroxeado - Parado bem aí!
Ao ver o corpo do outro obedecer sua ordem, uma ideia surgiu na sua mente. De qualquer forma, sairia daquele lugar antes de apanhar, então porque não aproveitar um pouco dessa oportunidade. Mesmo que isso fosse totalmente antiético e que provavelmente se arrependeria no segundo seguinte. Ele necessitava daquilo. Só uma vez, por um instante.
Ignorante totalmente os berros e xingamentos que saiam daquela boca tão bonita e as explosões que quase destruiam a cozinha, Hitoshi se aproximou de Bakugou e olhou sério para o mesmo que só faltava salivar de raiva. Parecia um animal.
- Bakugou, me escute, você não vai usar sua individualidade contra mim por 15 minutos nem sair desse lugar por esse período de tempo, vai parar de gritar e xingar. Não vai recusar o que vou fazer agora e vai retribuir. - Como aquilo doía, como aquele olhar assustado e de ódio quebrava o coração já tão machucado. Não queria que fosse dessa maneira.
Shinsou se aproximou de Bakugou e colocou suas mãos na cintura do mesmo, sentindo como aquela pele era macia e quente. Seu rosto se encaixou no pescoço do outro e assim inalou aquele cheiro que deixava seus sentidos desnorteados, sua mão esquerda subiu para os cabelos espetados e loiros, comprovando a maciez daqueles fios. Ao fundo podia ouvir os questionamentos de Bakugou mas não tinha coragem de olhar naqueles olhos vermelhos. Foi subindo o olhar só até a boca do mesmo e quando quase encostou seus lábios, seu coração apertou de uma forma que se viu novamente naquelas noites chorando para a lua. Só que dessa vez o espectador era o seu próprio amado.
Se afastou cobrindo o rosto com as duas mãos, as lágrimas desciam como cachoeiras e os soluços formaram sua sinfonia de desespero, o outro encarava a situação surpreso, sem saber o que falar. Shinsou estava desolado, se em algum momento sonhava em se aproximar do colega, aquelas chances se tornaram mais negativas ainda.
- Eu não posso fazer isso….me desculpe Bakugou, por favor me perdoe. Eu não deveria ter feito isso, eu só queria por um momento….porra...por que eu tenho que te amar? Você estará livre daqui 3 minutos. - Dito isso, deixou um Katsuki chocado e paralisado para trás. Saiu do dormitório e dos arredores da escola. Onde estava com a cabeça para cogitar fazer aquilo? Ele era o que? Um assediador ou pior, um estuprador?
Andou pelas ruas chorando tudo o que tinha no seu coração, estava perdido, estava com dor, estava com medo. Provavelmente aquele cara o mataria sem nem pensar duas vezes. Porra, nem sabia se Bakugou gostava da fruta! Ia mesmo forçar ele? Quando estava começando a escurecer, seus passos incertos o levaram para o único lugar que sabia que teria apoio, sem perguntas. Sua casa. Adentrou a mesma e logo seus pais vieram, surpresos ao ver ali. Foi só sua mãe aconchegar o corpo trêmulo que o choro começou novamente.
Seus pais respeitaram seu silêncio e o deixaram ficar o tempo que quisesse. Passou o final de semana chorando, com o coração partido, só saia do quarto para comer e ir ao banheiro. O resto do tempo ficava olhando pela janela, culpando a lua. Quando o final de semana passou ainda não se via preparado para enfrentar as consequências dos seus atos, não estava pronto e sequer tinha forças. Decidiu ficar aquela semana em casa, seus pais avisaram a escola, dizendo que o mesmo não estava bem de saúde. Logo mensagens de seus colegas perguntando de seu estado começaram a surgir no seu celular, todos devidamente ignorados.
Era quarta-feira, metade da semana e mesmo se sentindo um lixo orgânico, a sensação de estar punindo seu futuro como herói era sufocante. Então no turno da tarde, com uma mochila nas costas e o uniforme devidamente vestido, Shinsou entrou na sala. Estava tudo normal, não ousou olhar mais a fundo na sala e só se sentou na mesa da frente, prestando atenção no que Aizawa dizia.
O dia passou rápido, conversou pouco com algumas pessoas e logo já estava novamente sentado nas escadarias do dormitório, com uma xícara de café entre as mãos. A lua estava cheia. Fugiu da presença do loiro como o diabo fugia da cruz, não que achasse que o mesmo procurasse por si mas não aguentaria ficar muito tempo no mesmo ambiente que ele. Estava novamente tão imerso nos pensamentos que não notou que outra pessoa se encontrava acordada. Só se deu conta quando notou alguém sentando do seu lado na escada, ao levantar o olhar seu coração quase sair pela boca.
- B-Bakugou? O-o que você…? - Sua voz falhava e seu corpo inteiro tremia. Mesmo que o outro parecesse calmo, ainda não se surpreenderia se recebesse um soco no meio da fuça, até achava que merecia.
O outro continuou em silêncio olhando para o céu, seus cabelos balançavam conforme o vento e sua expressão era séria e tão bela. Seu corpo estava relaxado e coberto por um pijama quentinho. Ficaram assim por 2 minutos, até que Bakugou pega seu celular escreve algo, logo passando para Shisou.
“Promete não usar sua individualidade dessa vez? Só quero conversar, não vou te matar.”
Até sentiu vontade de rir, mas a lembrança do que fez ainda machucava. Suspirou e devolveu o celular para Katsuki, ainda sem olhar para seu rosto. Levou a xícara até sua boca, usando o café como uma forma de afastar as lágrimas. Parecia um bebê chorão.
- Eu prometo. - olhou para suas mãos e viu que as mesmas ainda tremiam, ouviu um “ótimo” sair da boca do loiro e seu corpo se arrepiou com a rouquidão daquela voz.
- Na verdade não sei o que falar, a alguns dias atrás queria explodir sua cara em mil pedaços e jogar aos porcos. Aquilo que aconteceu foi...uma merda, uma situação de merda. - Bakugou falava aquilo de forma séria, olhava para Shinsou se incomodando que em momento algum o mesmo retribuiu o olhar, porra, estavam tendo uma conversa ali”
- Me perdoe por aquilo, Bakugou. Não sei o que deu em mim, estava estressado e você não parava de falar. Sei que nada disso justifica o que eu fiz, o que eu tentei fazer. Eu sou um idiota. Me perdo- antes de terminar suas desculpas, sentiu duas mãos em suas bochechas e seu rosto sendo virado bruscamente em direção de olhos vermelhos, pela primeira vez desde tudo aquilo olhou nos olhos do cara que dominou seu coração. Eram lindos, sérios e profundos.
- Olha para mim quando estiver falando comigo, principalmente se estiver se desculpando, seu bosta. - Dizia irritado, mas ainda mantendo a calma. Aquilo era algo inédito quando falamos do homem bomba da escola. Voltou com suas mãos ao seu colo e continuou a falar. - Eu não posso dizer que entendo ou que simplesmente vou perdoar o que você fez porque chorou meia dúzia de palavras. Mas também não o que acontece comigo nesse momento, fiquei confuso com sua declaração e seus toques. Então para eu esquecer o que houve, te perdoar e nós dois seguirmos nossas vidas como antes, você precisa tentar sem antes me controlar. Quero entender o que senti.
- Como ...assim? - Aquilo não fazia o menor sentido.
- Olha Shinsou, eu não te amo, não sinto nada por você. Isso deve doer mas devo ser sincero com você. Mas até então eu olhava para o espelho e me dizia hétero, agora estou confuso pensando em como seria beijar um homem e sentir o toque de um. Então assim como você ia me forçar a algo, eu vou usufruir disso para acabar com minha curiosidade. - Katsuki dizia aquilo com naturalidade e sem mudar sua expressão, enquanto Hitoshi quase morria no seu canto. Aquelas palavras entraram como canivetes em seu coração, tinha levado um fora e um beijo. Ele estava pedindo para beijá-lo, para beijá-lo!
- Eu não sei se isso é uma boa ideia, Bakugou….- Seu coração ao mesmo tempo que batia forte com a possibilidade de beijá-lo ainda doía pelo fora recebido. Queria ignorar aquela dor no momento, depois lidaria com ela.
- Só uma vez, os dois saem ganhando…- Via o corpo a sua frente se aproximar cada vez mais de si, seu coração batia forte demais, não duvidava se em algum momento passasse mal.
Shinsou até queria falar algo, mas estava vidrado no olhar que estava ganhando, na boca rosa se aproximando da sua e o corpo de Katsuki quase colar no seu. Um último suspiro saiu dos seus lábios antes desses serem selados com os do outro. Eram macios, constatou, e após alguns segundos levou suas mãos calmamente até os cabelos loiros, se estava no inferno abraça o diabo, não era esse o ditado? Pois bem, o abraço foi um carinho no couro cabeludo, e o inferno ele conheceu quando ambos abriram as bocas e as línguas enfim se encontraram. As mãos de Bakugou seguraram de leve sua cintura, as línguas dançavam suavemente dentro das bocas, estava tudo calmo, os dois aproveitavam o momento da melhor forma possível.
A lua vigiando tudo aquilo até parecia mais brilhante, assim como as estrelas que pareciam sair de detrás das nuvens para visualizar melhor aquele momento.
Logo o ar se fez falta, e a boca de ambos se encontrava dormente, terminando com alguns selinhos ambos encostaram suas testas. Não ousaram se olhar, não ousaram falar nada, aquele momento deveria ser eternizado como algo bom e único.
A noite terminou sem mais emoções, cada um para seu quarto, o loiro ainda com uma confusão e o arroxeado com o coração em frangalhos, mas feliz. Sentia dor mas sabia que com o tempo conseguiria superar aquilo, superaria aquele sentimento. Aquele beijo machucou, mas foi doce. Pensava o mesmo que não se importaria de recolher os pedaços do seu coração mais algumas vezes se pudesse sentir aqueles lábios algumas vezes mais.
Duas noites após aquilo, quando estava em seu quarto se preparando para fazer seu café foi surpreendido ao encontrar um Bakugou em sua porta, disposto a quebrar seu coração mais uma vez. E na outra noite também, e na próxima e na próxima.
Shinsou não estava se importante de reconstruir seu coração quantas vezes fosse necessário, se Bakugou aparecesse toda noite em seu quarto para quebrá-lo com seus beijos. Algum dia iria superar, iria amar alguém e ser retribuído, até lá a lua veria seu sofrimento doce e sua felicidade amarga.
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