Mary Stuart
Dois dias se passaram desde que Catherine mandou uma carta convidando Lorde Darnley a corte francesa, ela escreveu uma carta muito convincente sobre apoiar nossa união e eu concluí, dizendo estar ansiosa para conhecê-lo, mesmo que a verdade seja totalmente inversa.
- Que tal esse? - Lola me mostra um vestido branco rendado, mas não é isso que quero. Quero que Lorde Darnley não me veja somente como uma noiva de uma aliança política, algo arranjado, quero que ele realmente se apaixone por mim, quero esquecer Francis, conseguir seguir com a minha vida sem olhar ou lembrar do que já passou, preciso, pelo meu país.
Logo Lola pega um vestido preto longo com uma fenda que vai até metade da coxa e um decote extremamente revelador, deslumbrante e sedutor, perfeito. - Será esse. -
- Pensei que não quisesse mais saber de Francis. - Lola diz por causa da minha escolha de vestido.
- Pois não me vestirei para impressionar Francis, nunca mais. -
- Pois saiba que até o homem mais puritano da corte não conseguirá tirar os olhos de você. - Lola diz, o que me faz rir. Rir pela primeira vez desde que Francis me deu a notícia sobre a gravidez de Olívia.
- Espero que esteja certa, preciso impressionar um homem um tanto difícil de ser conquistado, pelo o que soube... -
- Se ele não estiver se arrastando pelos seus pés depois de te ver nesse vestido, poderemos ter certeza de que ele não gosta de mulheres... - Lola é uma grande amiga quando realmente preciso, e é uma das poucas que consegue realmente me fazer ver o lado bom das situações, mesmo quando já não há nenhum.
Ainda me dói muito ter que olhar pra Francis, conviver no mesmo castelo que ele, vê-lo com Olívia, participar dos eventos da corte, não quero me casar com Lorde Darnley pela Inglaterra, e sim, pra sair o mais rápido possível da corte francesa.
Catherine me acompanhará no recebimento de Lorde Darnley. Por ele não ser um monarca, não é necessário uma apresentação formal para toda a corte e o Rei, somente um membro da família real é o suficiente e já tenho a Rainha da França.
Após minhas damas me auxiliarem a me vestir e a escolher as melhores jóias, saio de meus aposentos e vou até os aposentos de Catherine...
- Como eu estou? - Digo após me permitirem entrar nos aposentos de Catherine.
- Uma Rainha pela qual qualquer homem morreria... - Ela diz e sorrio no mesmo segundo, é bom ter alguém que pelo menos aparenta querer me ajudar, mesmo com as minhas damas, depois de tudo o que aconteceu, nunca me senti tão sozinha em solo francês.
Descemos as escadas juntas, e antes que chegássemos até a porta do castelo, já conseguimos ver uma carruagem se aproximando, e em questão de segundos, um homem moreno, alto, de cabelos castanhos escuros saí...
- Podemos concordar que os filhos de vocês serão lindos... - Catherine diz, o que me faz revirar os olhos. Sei que deveria olhá-lo com mais interesse, realmente investir, sendo que por mais que eu esteja usando esse vestido ousado, ainda assim me sinto como se estivesse acorrentada e sendo arrastada até esse homem...
- Majestade... - O sorriso de convencimento e ousadia é estampado nos lábios do moreno a minha frente. Suas vestes são luxuosas, e sua aparência de tirar o fôlego, mas não me parece o homem certo para usar uma coroa, a coroa do meu país.
- A casa de Valois lhe dá as boas vindas, Lorde Darnley. - Catherine diz em meio a um sorriso.
- Encantado, Majestade. - Primeiramente ele beija suavemente a mão de Catherine e depois direciona a atenção até mim, sem nem ao menos disfarçar olhar para o meu decote.
- Majestade... - Ele faz uma reverência, mas felizmente não se aproxima, não saberia como agir se ele fizesse tal coisa.
- Lorde Darnley... -
- Mandarei levarem suas bagagens até o quarto de hóspedes, ficará em um quarto ao lado do de Mary. - Catherine diz e fico sem palavras com tal comentário. A última coisa que quero agora é me envolver intimamente com outro homem antes do casamento.
- Agradeço por ter conseguido chegar em tão pouco tempo. - Digo enquanto acompanho Lorde Darnley até seus aposentos.
- Eu que agradeço o fato de ter sido escolhido pela Rainha da Escócia, é uma honra poder ser o seu Rei... Por mais que eu estranhe o fato de Don Carlos ter rompido a aliança e recusado se casar com Vossa Majestade. -
- Só Mary, por favor. Acho que não consegui agradá-lo, ele é um homem muito poderoso, provavelmente esperava uma mulher mais... - Lorde Darnley me interrompe
- Você é a mulher mais deslumbrante que já vi, Mary! Acho que nem mesmo o herdeiro do trono espanhol poderia dizer o contrário. -
- É muita gentileza sua, Lorde Darnley. -
- Só Darnley, por favor. -
Ainda não tínhamos entrado nos aposentos, estamos conversando no corredor e antes mesmo que eu percebesse, Francis se aproxima de nós, estávamos tão distraídos que nem ao menos percebo sua presença.
- Vossa Alteza... - Darnley o vê primeiro que eu, e prontamente faz uma reverência.
A última coisa que queria era passar por isso novamente, Francis deveria estar com Olívia ou cuidando de assuntos de Estado com o Rei Henry, mas aqui estava ele e não posso tratá-lo com indiferença na frente do Darnley, não posso deixar que mais um pretendente perceba que temos algum envolvimento, ou melhor, já tivemos.
- Esse é Lorde Darnley, Alteza. - Digo formalmente, mas sem nem ao menos olhar para Francis. - Ele veio a corte a convite da Rainha. -
- Mas, me parece que ele se interessou por outra Rainha... - Francis diz olhando simultaneamente pra mim, e quando achei que Darnley ficaria sem jeito em meio a situação, ele diz.
- Exatamente, Alteza. Até porque fui solicitado a comparecer para me casar com a Mary, e mesmo se não fosse com esse propósito, sei que seria impossível tirar os olhos dela enquanto estivesse na corte francesa. -
- Tem toda a razão. Agora, com licença. - Francis fica encabulado tanto quanto eu, com o que Darnley acabará de dizer e entra na sala do trono no mesmo segundo. Sendo que isso mostrou que o inglês a minha frente está disposto a se casar tanto quanto eu, e não será o Delfim da França que impedirá que isso aconteça.
- A vejo mais tarde? - Darnley diz.
- Claro. Adoraria que me acompanhasse em uma cavalgada pelos arredores do castelo. - Digo em meio a sorriso, realmente tentando fazer dar certo, tem que dá.
- Será uma honra. Mary. - Ele diz e segura uma de minhas mãos, levando-a até a altura de seus lábios, onde a beija enquanto me encara, como se quisesse ver que reação provoca em mim, e a verdade é que não consigo desviar o olhar. Darnley é ousado, sabe o que quer, e tão pouco se intimida, o que faz dele o pretendente perfeito.
Francis Valois
Após a reunião na sala do trono, entro em meus aposentos e constantemente a lembrança de vê-los juntos me vem a mente... Estou tão possesso que derrubo a mesa de madeira que há documentos oficiais no chão, o que faz o som de vidro quebrado ecoar pelo quarto, mas pouco me importa.
Na minha própria corte, aquele insignificante ousou falar comigo daquele jeito?! E saber que ele é protegido pela minha mãe, me deixa ainda mais frustrado.
- Alteza, precisa ser anunciado... - O guarda de minha mãe diz antes que eu entrasse em seus aposentos sem avisar, mas o ignoro.
- Você convidou aquele plebeu a nossa corte?! Ele não chega nem aos pés da Mary, só está se aproveitando da situação para se tornar rei da Escócia, e você sabe disso! -
- Mary precisa se casar, e depois do envolvimento de vocês, ela não tem muitas opções. E não fui eu quem convidei, ela que me pediu pra convidá-lo. - Minha mãe diz, e sei quando ela mente, sendo que agora vejo nitidamente que ela diz a verdade.
- Tem o arquiduque da Áustria, o príncipe herdeiro do trono português, o príncipe da Dinamarca. Ela não precisa de um rico em ascensão, precisa de um homem que lhe proverá segurança! -
- Sabe quanto tempo demoraria pra que eles chegassem até a corte? Lorde Darnley tem direito legítimo ao trono inglês, isso fortalecerá a Mary e a Escócia. Não fiz isso com o propósito de prejudicá-la, Francis. E além disso, ela sabe muito bem o que está fazendo. Deixe ela ir, meu filho. -
Com todas as minhas forças tento esquecer dela... Mas, pensar que outro homem poderá tocá-la, poderá tê-la, me faz perder o controle. Minha vontade é de acabar com esse noivado antes que ele comece, mas significaria acabar com mais uma chance que Mary tem de se casar, e não posso fazer isso.
Mary Stuart
- Parece que eu ganhei outra vez. Ou está me deixando ganhar, Darnley? - Digo um tanto ofegante após dar uma pausa da cavalgada que fizemos aos arredores do castelo francês.
- Seria desrespeito não deixar uma Rainha ganhar, ainda mais se tratando da minha futura Rainha... -
- Ainda mais desrespeitoso é não admitir honrosamente a derrota... - Digo e ambos rimos enquanto voltamos lentamente até a corte.
Antes mesmo que tivéssemos a oportunidade de sair da floresta que há em frente a corte francesa, uma tempestade se inicia... Com os cavalos encharcados, fica sendo ainda mais difícil cavalgar, por causa do solo instável.
- O que iremos fazer? - Pergunto sem conseguir localizar o caminho de retorno a corte.
- Estamos mais perto da cidade do que da corte, Mary. Desse jeito não conseguiremos atravessar a floresta, é arriscado perdermos os cavalos. - Darnley diz, e infelizmente sou obrigada a concordar. Não estamos usando vestes tão luxuosas a ponto de nos reconhecerem como membros da realeza, e depois que a chuva passar voltaremos para a corte, com os cavalos já alimentados e dispostos para cavalgar.
Cavalgamos até o vilarejo próximo, e logo me dou conta de que não estou com nenhuma moeda sequer, não é costume andar com isso, não precisamos.
- Darnley, não trouxe moedas ou ouro, nada. -
- Então, dentro desse seu espartilho farto tem o que? - Ele diz em meio a um sorriso, o que me faz revirar os olhos e acabar rindo.
- Estou falando sério. Como iremos pagar pela estadia? -
- A sorte é que não sou membro da realeza, e por isso sempre tenho ouro, caso algo me aconteça... Como agora, por exemplo. - Ele diz e logo entramos na hospedaria, um lugar cuja o odor fétido de cerveja me deixa até um pouco enjoada.
- Um quarto, por favor. Estávamos seguindo viagem e fomos pegos de surpresa pela tempestade, foi muita sorte acharmos esse vilarejo... - Darnley começa a falar com o dono da hospedaria, e quando o ouço dizer "um quarto", fico sem entender.
- Vocês formam um belo casal... -
- Formamos mesmo. - Darnley diz antes de subirmos as escadas até o quarto, mas antes mesmo que chegássemos até o corredor, digo.
- Não mesmo, Lorde Darnley. -
- O que houve, Mary? -
- Peça outro quarto, não podemos ficar juntos assim, em um quarto. -
- Não há nenhum membro real aqui para julgá-la, e não iremos dormir. A chuva cessará em breve e logo voltaremos, só não acho que iria querer ficar na companhia dos bêbados do vilarejo. - Darnley diz ao olhar pro primeiro andar, onde há várias mesas cheias de homens bebendo, rindo e literalmente berrando.
- Sem dormir, então. - Subimos as escadas, e entramos em um quarto cuja o tamanho é o suficiente para a cama de casal e uma lareira...
- É aconchegante... - Tento não deixar que fiquemos mais desconfortáveis com a situação, porque eu nem consigo imaginar o que pensariam caso soubessem que estamos sozinhos em um quarto.
- Acho que essa tempestade veio em boa hora... -
- E por que acha isso? -
- Pois agora temos a oportunidade de nos conhecermos melhor, sem olhares e insinuações paralelas. - Sei que ele pensou em Francis quando mencionou isso, mas espero que ele não me pergunte o porquê do Delfim da França estar tão incomodado com o nosso noivado, pois não sei se conseguirei dar uma resposta convincente.
- Então, porque quer ser o Rei da Escócia? - Ele nunca visitou a Escócia ou mostrou se importar com o povo, mesmo que eu não tenha muita escolha, precisei perguntar.
- Não é somente pelo desejo de poder, ser um governante implica em ser amado pelo povo, e é isso que eu quero. Quero mostrar que posso ser mais, ser um homem que outros admiram. Mas, acha que serei um bom Rei? -
- Se estiver sendo sincero, acredito que sim. - Digo em meio a um sorriso.
- Mas, você poderia ter qualquer pretendente que quisesse. Príncipes coroados, duques... Até ouvi dizer que a França gostaria de fazer uma aliança... -
Respiro fundo quando ele menciona a França, sei que ele se refere a Francis e provavelmente percebeu que ele sente algo por mim...
- Alianças com países grandes costumam ser demoradas e extremamente burocráticas, não é tão fácil, mesmo que seja pra se casar com uma Rainha. Além disso, você não é tão ruim... - Sorrio enquanto o encaro ao falar, precisava mudar de assunto o mais rápido possível.
- Você é uma mulher surpreendente, Mary... Não digo isso por ser uma Rainha... -
- Com tantos elogios, não sobrará nada pra noite de núpcias, Lorde Darnley. -
Ele morde o lábio inferior ao me ouvir, e tenta se aproximar no mesmo segundo, o que faz com que em um impulso, eu quase levante da beira da cama em que estamos sentados, mas o sinto segurar uma de minhas mãos, impedindo que eu me levante.
- Me desculpe, não deveria. Não queria assustá-la. - O moreno diz um tanto desconfortável com a situação, provavelmente pensando que eu retribuíria já que estou agindo como se quisesse, mas ainda não estou pronta pra isso.
- Só não acho que seja adequado nos envolvermos antes do casamento. -
- Então, porque está ofegante? Porque não desvia o olhar nem por um segundo? - Ele sussurra e eu suspiro.
- Sei que precisa de um homem que lute ao seu lado e que faça sacrifícios pra mostrar que quer você, sei que devo ser só mais um pretendente, mas quero que saiba que não é nenhum sacrifício me dedicar inteiramente a você, Majestade. - Nem me dou conta do quão próximos estamos enquanto o ouço falar, mas logo algumas batidas na porta me fazem despertar.
- ABRAM A PORTA EM NOME DO REI! -
- Estava demorando pra realeza nos interromper... - Darnley diz ao revirar os olhos. - Alguém deve ter se preocupado muito com Vossa Majestade e mandou nos procurar. -
Francis... Não acredito que ele fez isso...
Abro a porta e ao invés de me deparar com um dos guardas, me deparo com Francis, a expressão de seu rosto é de desespero, como se achasse que realmente tivesse acontecido algo comigo.
- Mary! Você está bem?! Vocês não voltaram a corte, achamos que... -
- Eu estava cuidando muito bem dela, Alteza. - Darnley interrompe e se aproxima por trás de mim, abraçando-me pela cintura. Não posso acreditar que ele está fazendo essa cena...
- A tempestade impediu que retornássemos a corte... - Digo e tiro os braços de Darnley que estavam em torno da minha cintura antes que Francis fizesse algo imprudente, e logo saio do quarto, passando em meio aos guardas, não posso mais participar disto.
- Mary! - Ouço a voz de Francis, mas o ignoro, até sentí-lo segurar um dos meus braços. - Estava preocupado com você, se algo tivesse acontecido... -
- Eu e você sabemos exatamente o porquê de você ter vindo até aqui, quando deveria estar cuidando da sua noiva que espera um filho seu. Darnley garantirá minha segurança no retorno a corte, não precisa se preocupar. - É só o que digo antes de me afastar e subir em um dos cavalos.
Francis Valois
Encontrá-la em um quarto de uma hospedaria qualquer com aquele plebeu que por acaso teve alguma ascensão na vida, não consigo acreditar que ela está realmente interessada por ele...
- Fiquem com a Rainha Mary, voltarei a corte. - É só o que digo para guardas antes de subir no meu cavalo, sem que Mary nem ao menos olhe pra mim.
Chegando no castelo em poucos minutos, é como se tudo estivesse desmoronando, não tenho controle sobre nada, não posso decidir nada e ainda sou obrigado a aceitar vê-la casar com aquele desgraçado arrogante! Deveria mandar açoitá-lo por desrespeito.
Subindo as escadas, necessitando beber algo pra tentar me acalmar ou sentir o corpo de uma mulher, qualquer coisa pra tentar esquecer da Rainha da Escócia.
Entrando nos aposentos de Olívia
- O QUE SIGNIFICA ISSO?! - Entro no quarto tão atordoado que só ouço os gemidos de Olívia alguns segundos depois, que é quando me deparo com ela debaixo de um dos nobres da corte, porém, não consigo reconhecê-lo de imediato.
- Francis! - Ela grita e o homem para de penetrá-la e saí de cima da cama.
- O FILHO NÃO É MEU, NÃO É MESMO?! -
- Francis, por favor, me deixe explicar. -
- Enganou o Delfim da França, deveria mandar enforcá-la por traição! - Digo e logo o homem tenta se aproximar de mim, o que faz com que eu empunhe a minha espada. - Você já vai morrer, então não me faça matá-lo agora mesmo. - Meu ódio não é por Olívia estar com outro, e sim, por ter me enganado, por ter feito eu desistir de Mary.
- Francis... Eu fiquei desesperada! Não podia voltar pra casa com um filho bastardo, por favor, entenda... Por favor... - Olívia diz em prantos, soluçando, sem nem ao menos conseguir falar direito, mas nada disso surte sentimentos em mim.
- Eu quero você fora da minha corte! Nunca mais poderá por os pés na França! Esse será meu ato de misericórdia! - Chamo os guardas que levam o homem pra fora do quarto e logo saio em seguida, sem conseguir nem ao menos olhar pra Olívia, o que ela fez foi o ato mais baixo e egoísta possível.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.