História Meu Príncipe Francis ( Frary ) - O Plano

Mary Stuart

 - Ele disse o porquê de ter tomado essa decisão de repente? - Greer pergunta enquanto minhas servas preparam minhas malas pra voltar a Escócia, depois que Francis disse ser melhor eu ir e levar James e Anne, fiquei literalmente sem palavras. Não consegui questioná-lo, não quando fui eu que pedi tal coisa, mas sem imaginar que ele acataria meu pedido.

- Pedi isso a alguns meses... Estava precisando de um tempo, depois de tudo o que aconteceu. Não conseguia nem ao menos olhar pra ele. -

- E o que sente agora? -

- Eu não sei... - Suspiro fundo ao falar, realmente não compreendo a atitude de Francis, mas também não sei dizer como me sinto, nos último meses ele se mostrou ser o homem pelo qual me apaixonei, mas não é tão simples, não somos mais dois jovens perdidamente apaixonados... Ele tem se distanciado, e eu nem ao menos sei como me aproximar novamente.

- James tem perguntado muito o porquê de vocês estarem assim. - Agora é Lola quem diz.

- Ele é tão inteligente. Não conseguirmos esconder nada dele. - Digo em meio a um sorriso bobo ao pensar em James, que agora está na aula de piano.

- Queríamos poder ajudar de alguma forma... - Kenna diz e só consigo sorrir em meio a um agradecimento, não saberia o que fazer caso não as tivesse ao meu lado por todos esses anos.

A porta do quarto está aberta, em uma tentativa quase inútil de esperar que Francis apareça, mas logo reparo alguns de seus servos carregando suas bagagens pelo corredor. - Francis sairá do castelo? - Digo e logo Greer levanta, ela para um dos servos e pergunta do que se trata todas as bagagens.

- Me desculpe, madame... Mas, não posso lhe dar tais informações. -

- E será que eu posso saber pra onde meu marido está indo? - Estou farta de ser discreta, de agir como se tudo estivesse bem, de encenar em todos os segundos do dia...

- Podem ir. - Nem ao menos percebo a aproximação de Francis em meio ao corredor. O servo ficou sem voz ao me ouvir, e depois que Francis apareceu, ele saiu acompanhado de outros servos que carregavam o resto das bagagens.

- Deixaremos vocês a sós. - Kenna diz e todas saem do meu quarto, o que me faz respirar fundo. O fato de estarmos afastados, não permite que ele aja como se fôssemos meros estranhos.

- Respondendo a sua pergunta, irei para Inglaterra. Minha presença é requisitada lá, agora que Elizabeth foi decapitada e seu conselho privado desfeito. -

- Não acha que eu também deveria ir? -

- Disse que tinha assuntos a serem tratados na Escócia. Não estou lhe afastando, Mary... Só temos responsabilidades que não podem esperar. - Ele diz friamente, sem nem ao menos olhar pra mim.

- Tem razão. - Fico cabisbaixa ao falar, suspirando fundo, levanto o rosto depois de alguns segundos, mas Francis já estava prestes a sair do quarto, o que me faz perder a coragem pra dizer que não queria ter que ir embora, não quero estar a dias de distância, não mais. O que ele fez, nunca conseguirei esquecer, mas tomei decisões das quais não me orgulho também, mas sempre pensando no bem estar daqueles que amo... Acho que temos isso em comum, simplesmente nos arriscamos, sem nem ao menos parar pra pensar nas consequências. Ele poderia ter casado com Elizabeth, seria o Rei da Inglaterra e da França, e não teria um país em colapso nas costas. Ele me escolheu, agora eu devo fazer uma escolha.

Minhas damas retornam ao meus aposentos... - E então? Pra onde Francis vai, Mary? - Kenna pergunta visivelmente indignada com a situação.

- Ele vai para Inglaterra... E eu também vou. -

- Então, vocês se entenderam?! - Greer pergunta com um sorriso estampado nos lábios.

- Ainda não, mas não irei para Escócia. -

- E Francis sabe disso? Quero dizer... Você pretende ir para Inglaterra sem um aviso prévio? Sabe que carruagens estão sendo saqueadas na estrada, assim como navios, não pode ir sem segurança. E convocando os guardas, Francis saberá com antecedência. - Lola diz.

- Precisarei da ajuda de vocês... Francis não pode saber que irei para Inglaterra. -

- Enganar o Rei da França... Hmmm... Acho que conseguimos. - Sou literalmente obrigada a rir quando ouço Kenna falar.

- Sei que vai ser difícil, mas preciso ir. E não quero ter que explicar a Francis o porquê. -

- Sabemos que quer fazer uma surpresa, Mary. - Lola continua a falar. - Mas, quer dizer que está disposta a perdoar? Sabe que lhe apoiaremos em qualquer decisão. -

- Finalmente compreendo o porquê dele ter feito o que fez. Eu cheguei tão perto de me casar com Condé, de renunciar meu próprio casamento, me tornar protestante, e tudo pela segurança de James... Eu faria tudo pelos meus filhos, e também pelo Francis. Não posso continuar julgando-o por ter feito o mesmo. -

Queria ir até Francis agora mesmo, impedir que ele entrasse no navio para Inglaterra, mas as responsabilidades e deveres sempre serão um obstáculo. Ele precisa ir... Mas, não quer dizer que eu precise esperar.

- Preciso colocar um ponto final nisso. Precisamos recomeçar. - Digo em meio a um suspiro, pensando que estamos literalmente presos um ao outro e tentar mudar isso, só nos provocou sofrimento. Eu o amo... E quero acreditar que possamos ter uma segunda chance, preciso acreditar. Preciso tentar.

- James e Anne vão com você? -

- É muito arriscado levá-los para Inglaterra. Não pretendo chamar atenção com guardas, então não posso levá-los. -

- Está mesmo cogitando a possibilidade de ir sozinha, Mary?! Isso é loucura! - Lola diz e se levanta da cama onde todas estão sentadas.

- Levarei alguns guardas de confiança, ficarei bem. -

- A Rainha da França, Escócia e Inglaterra em um navio com apenas alguns guardas? É muito arriscado. -

- Preciso correr esse risco. -

- Ou pode deixar que melhorarmos o seu plano. - Agora é Kenna quem diz e continua. - Francis ainda embarcará, ele deve estar chegando no porto ainda, tempo suficiente pra a que você pegue um atalho e chegue junto com ele. -

- Ele saberá que sou eu. -

- Não poderá usar suas vestes da realeza, nem jóias, nada que o faça te reconhecer. E quando chegar ao porto, iremos garantir que consiga entrar escondida no navio. - Kenna concluí e fico sem palavras.

- Vai dar certo. - Agora é Lola quem diz.

- E o que irei vestir? - A ideia é brilhante, mas não temos roupas "que não são da realeza", mesmo as minhas damas possuem vestidos de alta costura, é quase impossível que eu passe despercebida em meio aos servos que estarão no navio.

- Precisamos de uma de suas criadas. - Lola diz em meio a um sorriso.

- Mesmo com as roupas de uma serva, não irei passar... Meu cabelo... -

- As servas deixam os cabelos soltos, ou com algum penteado comum. Teremos que deixá-la o mais simples possível. - Kenna diz e se levanta junto com Greer, enquanto Lola chama Sarah e pede pra que lhe traga uniformes limpos das servas da cozinha, já que o plano é fazer Mary se passar por uma cozinheira.

- Já providenciei a carruagem, não deve levar seus pertences, ou chamará atenção. - Lola diz ao retornar ao quarto.

Quando vejo meu reflexo no espelho, fico sem reação... O vestido é branco e longo, o mais simples possível, acompanhado de um espartilho de couro marrom escuro que fica por fora, exposto na frente, algo totalmente diferente dos vestidos aos quais estou habituada. Meus cabelos estão soltos sobre os meus ombros e uso uma bota de couro no mesmo material do espartilho.

- Nem nós estamos te reconhecendo. - Greer diz, o que me faz rir.

- Será mesmo que vai dar certo? - Digo um tanto insegura.

- É claro que sim. Já avisei a Bash, ele cuidará de James e Anne até retornarmos ao castelo. - Kenna diz.

- Preciso me despedir deles primeiro. -

- Está bem, iremos trazê-los aqui. - Elas falam e saem do quarto.

Alguns minutos depois...

- Mas, o papai também foi embora, você vai embora também? - James diz segurando uma de minhas mãos como se fosse um pedido pra que eu fique.

- O tio Bash vai estar aqui com você, a vovó Catherine, Lola, Greer e Kenna. E eu prometo que não irei demorar, eu prometo, meu amor. - Abraço James, e sinto ele me alertar com toda a força que consegue.

Odeio ter que fazê-lo passar por isso, mas não posso levá-lo, mesmo em outras circunstâncias, Lola tem razão, levar James e Anne para Inglaterra seria muito arriscado mesmo com guardas nos acompanhando. O mar é instável e eles ainda são muito jovens.

Mesmo que ainda não entenda muito bem ainda, Anne já fala algumas palavras básicas, e a cada dia mais consigo ver claramente que ela se parecerá muito comigo quando crescer... As babás dizem que ela é difícil de lidar, um tanto teimosa, elas falam.

Após dar um beijo na cabecinha de Anne, respiro fundo e peço pra que James cuide bem dela, é um pedido na intenção dele nunca esquecer que sempre terão um ao outro e que devem sempre ficar juntos. – Está bem, mamãe. – É só o que James diz, visivelmente frustrado com a minha partida. – Eu te amo muito. -

- Você precisa ir agora, Mary, cuidaremos de tudo quando voltarmos, Catherine já foi avisada. – Lola diz, mas somos obrigadas a sair pela ala leste do castelo, escondidas de todos os olhares insinuantes.

- Agora sou eu quem digo... Isso é loucura. – Digo em meio a uma breve risada após entrarmos na carruagem, não é algo que Rainhas estão acostumadas a fazer, a verdade é que estou arriscando muito a minha segurança, e deixar James e Anne sozinhos. – Deveríamos voltar. –

- Francis demorará quase um mês para retornar, Mary. – Greer diz, e penso que preciso fazer isso. Não é o jeito mais fácil, mas é o jeito que encontrei.

- Estamos quase chegando. – Kenna diz e no mesmo segundo visto uma capa de cor laranja, colocando o capuz, em questão se segundos a carruagem para, e mesmo que seja a última coisa que eu deva fazer, abro discretamente parte da cortina que esconde a janela da carruagem, conseguindo ver Francis falar com um dos comandantes.

- Vamos. – Lola diz.

- Ei, ei, ei... O que vocês estão fazendo aqui?! Por acaso são acompanhantes dos marujos?! – O capitão diz ao ver minhas damas, e fico literalmente sem reação, ele está bloqueando a passagem da entrada dos servos.

- Viemos dar um recado ao Rei Francis. – Lola se coloca a frente delas, e logo o homem que emana um odor fétido de cerveja se afasta da entrada dos servos e vai em direção até onde Francis está.

- Boa sorte. –

- Cuidem do James e da Anne, por favor. – Digo literalmente aos sussurros antes de entrar as pressas no navio, tirando o capuz na intenção de tentar me localizar, afinal, não é por essa entrada que passo quando entro em um navio. As cabines da realeza ficam próximas ao convés, mas quando estava prestes a subir...

- Onde pensa que vai, gracinha? – Uma mulher enorme surge na minha frente. – Vá ajudar as outras, logo serviremos o desjejum do Rei, não quero moleza! –

- Sim senhora. – A resposta saí quase que automaticamente dos meus lábios, é óbvio que ela não me reconheceu. Kenna estava certa, dificilmente alguém me reconhecerá com essas roupas, mas será que Francis será a exceção?