Eu ODEIO J-Hope. Estou começando a acreditar que a missão dele aqui na Terra é transformar minha vida em um verdadeiro inferno. Eu odeio o modo como ele torna minha vida mais difícil com a sua excentricidade ou com os seus sorrisos (quase maléficos) que surgem antes de ele soltar alguma sentença que provavelmente vai colocar o meu emprego à prova. Eu consigo odiá-lo ainda mais do que eu odeio prazos. Falando assim, parece exagero da minha parte, mas não se precipite, contarei tudo o que ele me fez passar até aqui, e você, certamente, entenderá o meu lado.
Tudo começou quando me tornei estagiário como assistente editorial na Jung Edições, era tudo o que eu mais sonhava: entrar em uma editora renomada e de grande porte para conseguir fazer carreira no mercado editorial e contribuir com publicações de obras que, de alguma forma, ajudariam a transformar o mundo, afinal, é isso que os livros são capazes de fazer, não é mesmo? As cinco primeiras semanas trabalhando na editora não foram um mar de rosas, claro, até porque sou um estagiário, ou melhor dizendo: um escravo remunerado. Fazia de tudo, desde ajudar na preparação de um original até a servir café aos meus superiores e retirar o lixo do escritório. Mas eu não estou reclamando disso, até porque esse estágio veio como uma dádiva divina, precisava dele para continuar pagando a minha faculdade, já que minha mãe não estava dando mais conta disso, fora que é um emprego na minha área, que sempre sonhei em ter desde que me apaixonei pelos livros. Mas estou começando a ter pensamentos de que isso foi uma péssima escolha, graças à J-Hope.
Estava retornando do intervalo do almoço quando Jin hyung me chamou ao seu escritório. Jin era o chefe do departamento editorial em que eu trabalhava, era só alguns anos mais velho que eu e, apesar da nossa relação chefe e funcionário, nessas semanas que estou trabalhando por aqui, ele me acolheu muito bem, insistiu para eu não o chamar mais de Sr. Kim SeokJin e tratá-lo como um hyung.
Me sentei de frente para ele. Olhei para a sua mesa, onde se encontrava a plaquinha que continha seu nome completo e seu cargo “Kim SeokJin – Chefe do departamento editorial de literatura”. Logo EU teria uma dessa na MINHA própria mesa e em MEU próprio escritório. Desculpe, sou um ambicioso em questões profissionais!
Sou tirado dos meus devaneios quando Jin se manifesta:
– Tae, acho que hoje será um ótimo dia pra você! – Ele falou de forma tão alegre que comecei a me empolgar! Eu, Kim TaeHyung, já ganharia uma promoção em tão poucos dias de trabalho? Sério mesmo?
– Sério, hyung? – Disse e ele chacoalhou a cabeça para cima e para baixo tão exageradamente que as suas madeixas castanhas escuras subiam e desciam acompanhado o ritmo da sua cabeça. Eu ri baixinho, acho engraçado quando ele faz esse tipo de coisa que não condiz nem com a idade e nem com o cargo que tinha, era muito fofo.
– Sim, meu querido estagiário! Precisamos da sua ajuda mais do nunca, lançaremos um autor em breve, ele não é experiente com o mercado editorial, eu diria, mas tem talento. Ele entrou em contato conosco e temos que publicar essa obra o mais rápido possível.
– Uau, ele é tão talentoso assim, para vocês terem que publicá-lo... assim... tão rápido? – Dei ênfase no “terem”, geralmente é muito difícil uma editora de grande porte lançar novos autores que não sejam aclamados pela mídia ou que não seja um best-seller estrangeiro. – Ele, por acaso, é coreano?
– Sim, é coreano, publicaremos um livro nacional! – ele bateu palminhas e riu, mas parecia mais uma risada de nervoso – Bem, não sabemos muito bem se ele é tão talentoso quanto ele diz...
– Espera... – não o deixei terminar, fiquei chocado com o que ele acabara de me dizer – quer dizer que a editora lançará a obra sem ao menos ter avaliado se é boa, se vale a pena, se é relevante? É isso?
– Bem, sim, fazer o que? Eu sigo ordens. Bom, mas é aí que você entra! Você ficará encarregado de preparar a obra dele. Se ele for talentoso quanto dizem, você não terá muito trabalho, mas se não... bom, você lapidará o texto, como se faz com os diamantes. A editora quer lançar o livro ainda nesse semestre.
– Ok... – assinto incerto, nada está fazendo sentido na minha cabeça movida à manivela. “Mas, ainda estamos em fevereiro, isso significa que, até o fim do semestre, teremos tempo, certo? ”. Era isso que o pobre Tae aqui estava pensando e se iludindo antes de conhecer o J-Hope. – Qual é o publisher* que está em contato com ele para eu possa pedir o original? – Continuei me iludindo...
– Pois é, ele não tem publisher ou agente, você ficará encarregado de fazer isso também – ele fez um biquinho como se sentisse pena da minha situação, mas logo o desfez quando continuou a explicar – mas não irá te sobrecarregar, é só conhecê-lo para que vocês possam discutir sobre a obra e ele te entregar o original para você começar a preparar, simples assim!
– Sim, tudo bem, eu dou conta! – Sorri. Aquilo estava soando perfeito e estranho demais, afinal era só conhecer um autor supostamente talentoso e que a editora estava investindo muito nele sem ao menos ter feito um contato para analisar a obra e depois corrigir todos os lapsos que ele pode ter cometido no texto, mas tudo bem, eu confiava no Jin (eu ainda confio, mas não tanto quanto antes) e na minha própria capacidade, fazer isso seria um grande passo para a minha tão esperada promoção! – Aceito!
Jin levantou da sua cadeira em um pulo, deu a volta na mesa chegando até a mim. Abriu os braços, sabia que ele estava esperando que eu o abraçasse, logo, levantei e o fiz. O abraço dele era tão confortável e cheiroso!
– Tae, muito obrigado, sabia que podia contar com você – ele disse sem cortar o abraço. – Vou te passar o telefone e o endereço do J-Hope!
– J-Hope? Isso é alguma cafeteria? – Jin gargalhou escandalosamente, balançando os ombros. A risada dele era engraçada e me fez rir também. Ele me soltou e explicou:
– Não, esse é o nome do autor. J-Hope! Não é o nome verdadeiro dele, é só um pseudônimo. Não me pergunte o nome real dele, eu não sei.
“Você também não sabe de nada, né chefinho?” Resisti ao ímpeto de perguntar isso a ele, Jin era tão dócil que eu não seria mal-educado com ele nem se ele não fosse meu chefe que tem o poder de me demitir em mãos. O mais velho andou até sua gaveta, a abriu e retirou de lá um catão de visitas um pouco amaçado e me entregou.
– Aqui estão os contatos dele. Boa sorte! – Ele me puxou novamente para um abraço e me conduziu até a porta, me transpondo para o corredor, e a fechando logo em seguida, quase que me expulsando, sem ao menos me deixar perguntar o que porquê ele ter me desejado boa sorte e o motivo de o cartão de visitas estar tão velho e amarrotado para um novo autor que a editora nada sabe sobre a obra dele.
Respirei fundo, olhei mais uma vez para o cartão antes de guardá-lo em meu bolso da calça e fui em direção à sala que compartilhava com outros estagiários em busca do aparelho telefônico para ligar para o tal J-Hope, o autor misterioso.
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