— Não lembrava de Konoha ser tão fria.
Apressando o passo para seguir o ritmo da caminhada da ninja de Suna, Ino abraçava o próprio corpo, arrependida por ter dispensado colocar ao menos um casaco fino por cima do vestido preto de crepe e sem mangas que usava naquela noite.
— Acho que você já está acostumando com o clima de Suna. — Disse a Sabaku, esboçando um meio sorriso enquanto observava os tons escuros do céu azul de Konoha. — Ou com os braços quentes do meu irmãozinho!
A Yamanaka sentiu o rosto queimar diante as palavras cheias de terceiras e quartas intenções, Temari nos últimos dias estava ainda mais impossível em seus comentários. Passara-se um pouco mais de uma semana desde o fatídico dia em que fora beijada pelo Kazekage sobre o telhado de sua casa e, seguindo os conselhos da Sabaku mais velha, ambos decidiram seguir o fluxo e deixar as coisas fluírem naturalmente. Apesar de bastante discretos, porém, os irmãos do ruivo estavam cientes - e contentes - do relacionamento que se desenrolava.
— Você não deveria falar isso assim alto, Temari! — Ino ralhou, recompondo-se.
— Ué, por que?
— Não pega bem pro Kazekage ser alvo de fofocas em outras vilas. — A kunoichi da folha torceu o nariz, estando ciente de que, na verdade, já estavam rolando fofocas com o seu nome na Areia. E não era por menos, ninguém precisava ser muito inteligente para se dar conta que estava se envolvendo com o líder daquele país.
Desde que podia se lembrar, nunca importara-se com a opinião alheia. Principalmente quando regadas por despeito e o incômodo de pessoas que não conseguiam lidar com a efusividade de sua personalidade expansiva. Mas os motivos agora eram outros e, nem que tentasse, não conseguia ficar indiferente.
No dia em que deixara Suna na companhia de Temari, a kunoichi da folha resolvera entregar pessoalmente os últimos relatórios da semana acerca de sua missão e, visto que sabia que Gaara teria uma reunião oficial com conselheiros, passou no prédio oficial do governo do País do Vento a fim de vê-lo antes de partir. Não precisou passar por dois corredores para que sentisse sobre si o incômodo de alguns pares de olhos lhe encarando em desgosto e uns poucos - e corajosos - murmurinhos. Sabia como deveriam enxergá-la: uma diversão para o Kazekage vindo diretamente da Vila da Folha.
Ela, porém, sabia que aquele não era o caso. Os atos de Gaara em todos aqueles dias mostravam o homem que era.
O que incomodava seus nervos era saber o que aquelas kunoichis concluíam de si e do próprio Kage. Resumiam aquilo que sentiam como um caso fugaz regado a sensações baratas de uma profundidade tão rasa quanto uma poça d’água após três minutos de chuva fina. O que não era o caso.
— Ino, não tem como fugir dos comentários maldosos, o Gaara é um homem público. — Temari a despertou de sua introspecção, virando ligeiramente o rosto para o lado a fim de olhá-la. — Mas tenha certeza que o povo de Suna parece contente ao ver o Kazekage ao lado de alguém que o faz feliz. Essas fofoquinhas idiotas é dor de cotovelo de umas kunoichis que gostariam muito de estar em seu lugar.
A Yamanaka suspirou, agradecida por ter alguém como Temari por perto. Talvez aquilo fosse estar apaixonado, ela pensou. Mesmo alguém cheio de si, como ela, acabar caindo na insegurança. Ino inspirou fundo, trazendo para seus pulmões o ar frio de Konoha e ajeitando sua postura. Empinando o nariz e retornando sua pose altiva, ela comentou:
— Mas é claro que gostariam de estar no meu lugar! Eu sou linda e loira e seu irmão é mesmo um gato!
A kunoichi de Suna rolou os olhos, balançando brevemente a cabeça. Ino e sua inconstância de humor era mesmo problemática.
— Vamos logo, sim? — Temari apressou o passo, dizendo em meio a um riso. — O Shikamaru já deve estar lá e se demorarmos mais vamos chegar só no seu aniversário.
— Vamos, vamos. O pessoal todo já deve estar lá...
— É isso que estou dizendo. Se bem que só tem uma pessoa que você queria ver, não é? — A Sabaku falou, dando uma leve cotovelada no braço da amiga.
Suspirando pesadamente a loira da folha assentiu com a cabeça. E logo as duas apressaram o passo a fim de chegarem logo ao Yakiniku, onde haviam combinado de comemorar o aniversário do Nara e da Yamanaka.
Após mais alguns minutos de caminhada as loiras atravessavam a porta do restaurante dando de cara com vários rostos conhecidos. Como já estavam há alguns dias em konoha trocaram apenas alguns comprimentos e felicitações, e logo estavam todos sentados esperando os pedidos chegarem.
☀
Após uma longa e cansativa viagem, o ruivo atravessava o portão da Vila da Folha surpreendentemente ansioso.
Deixara claro que teria compromissos e não poderia comparecer à comemoração do aniversário do futuro cunhado e da loira que rondava insistentemente seus pensamentos. Pensamentos estes que não o deixavam trabalhar ou dormir em paz.
E, após três dias, o questionamento que fez a si mesmo, no dia em que Shikamaru fora embora de Suna, fora esclarecido: Ele sentiu muito a falta de Ino.
Tinha saudade de sua risada alta, que ecoava por todos os cômodos da casa. Saudade de seus cabelos e olhos tão reluzentes quanto a luz do sol. Saudade de seu aroma de flores, que constantemente inebriava-lhe e confundia os sentidos. E, principalmente, saudade de seus toques delicados, que preenchiam-lhe o peito.
E também havia aquela bola de pêlos, que ficava o dia todo roçando em seus tornozelos. Sabia que o bichano sentia igualmente a falta de sua dona.
Depois de uma exaustiva batalha interna sobre seguir suas responsabilidades ou seus sentimentos, o Kage de Suna deixou - mesmo com a consciência latejando - seu país aos cuidados de Kankurou, instruindo-o de tudo o que havia a ser feito. Confiava no irmão e sabia que, mesmo com aquela aura de brincalhão e inconsequente, o moreno era bastante responsável no que dizia respeito à Vila.
Um miado estridente fez o ruivo voltar sua atenção para uma bolsa que carregava pendurada em um dos braços, onde um felino branco repousava.
— Oh, certo. Você já está sentindo o cheiro da sua mãe? — Disse para o gato, soltando uma leve risada. — Bem, vamos achá-la.
Assim, o Kazekage rumou ao restaurante onde seria a comemoração dos dois aniversários, já que sua irmã havia o informado de todos os detalhes. “Esperta”, pensou. Parecia que Temari previra que não aguentaria ficar longe da florista.
☀
— Então logo teremos mais um casamento? Dattebayo! — Um loiro sorridente exclamava para seu amigo e conselheiro.
— Sim, daqui alguns meses. — O Nara respondeu calmamente, levando mais um pedaço de carne à boca.
— Mas você demorou para pedir a Temari em casamento, Shikamaru! Achei que esse dia nunca chegaria! — Naruto disse em meio a uma risada, recebendo um olhar entediado do outro.
— Dê os créditos à mim, Naruto! — A voz de Ino soou, logo ao lado da noiva do melhor amigo. Ela então apontou para si mesma, ostentando sua aura convencida. — Eu que dei o empurrãozinho para ele propor!
— Verdade! — Temari pronunciou-se, cruzando os braços e olhando de esguelha para o noivo. — Se não fosse a Ino, acho que nós nunca casaríamos.
— É tão bom ver vocês aproveitarem o fogo da juventude! — Rock Lee exclamou, erguendo um dos braços.
— O bolo chegou! — Kiba apontou então para a entrada do restaurante, por onde Sakura passava com uma torta de morango em mãos.
A rosada colocou-o no centro da mesa, onde todos os amigos da época da academia se reuniam em volta, e então disse:
— Vamos cantar parabéns?
Assim, todos abriam a boca para começar a cantar, mas som algum saiu de suas bocas ao avistarem, com os olhos arregalados em surpresa, uma figura conhecida parada na porta do restaurante.
— Sasuke?! — Naruto e Sakura exclamaram em uníssono, levantando-se em um pulo e correndo até a porta de entrada para receber o companheiro de time.
—- Como vocês têm passado? — O Uchiha perguntou, sem receber uma resposta, pois fora bombardeado instantaneamente por perguntas dos dois amigos.
Logo após acalmarem os ânimos com a chegada do moreno de volta à vila, cantaram parabéns. Não demorou para que o relógio marcasse a meia noite e todos recomeçaram as congratulações, desta vez para Ino.
— Vamos logo comer o bolo! — Chouji disse animadamente, ganhando um olhar mortal de Karui.
— Vamos sim, Chouji! Vou cortar os pedaços! — Ino adiantou-se, pegando a faca que Sakura deixara ao lado da bandeja do bolo.
Entretanto, um vislumbre rubro passou por seus olhos, fazendo-a levantar a cabeça e visualizar a figura do Kazekage parado próximo à mesa onde estavam. Ele a olhava, com um sorriso divertido despontando de seus lábios.
— Você veio… — Disse em um murmuro, saindo correndo quase que instantaneamente ao encontro do ruivo, pendurando-se em seu pescoço.
Os amigos acompanharam a loira com o olhar, ficando sem reação ao repararem na pessoa que abraçava - e que a retribuía - tão intimamente.
Temari soltou um riso curto, fazendo os olhares curiosos voltarem-se para si.
— Ah, eu sabia que ele não iria aguentar.
— Gaara e Ino? — Sakura disse em retórica, com seus olhos verdes arregalados em descrença. — Aquela porca não me contou nada!
— Eles querem discrição por ora, só eu e Kankurou que sabemos.
— ENTÃO ELES ESTÃO MESMO JUNTOS?! — Foi a vez de Naruto perguntar, praticamente gritando para todos os presentes no restaurante escutar, fazendo o casal inerte à conversa despertar do momento que compartilhavam.
A loira soltou-se do Sabaku mais novo, corando dos pés à cabeça.
— B-bem vindo a Konoha, Gaara… — Disse, recebendo do outro um sorriso em resposta ao seu cumprimento.
— Feliz aniversário. — Sussurrou próximo ao ouvido da florista.
Ino baixou então o olhar, visualizando a bolsa que ele carregava e que continua uma bolinha branca muito querida por ela.
— Oh! Você o trouxe! — Disse sorrindo, adiantando-se para pegar seu bichano no colo. Ela o abraçou forte, enchendo-o de beijos e acariciando sua cabeça. — Você veio ver a mamãe também?
— Não confio muito em Kankuro para cuidar dele.
— Imagino. — A Yamanaka deu uma leve risada.
— Gaara! — O Uzumaki se aproximou.
O ruivo, que estava concentrado nas reações esboçadas pela kunoichi, ergueu a cabeça e fitou as pessoas que os encarava ainda curiosos, vendo também o amigo que o cumprimentava. Assim que o Hokage aproximou-se, Ino voltou à mesa para apresentar devidamente Onigiri aos amigos.
— Como vai Naruto? Já faz um tempo que não nos vemos.
— Realmente faz tempo, tá até namorando a Ino! — Falou despreocupadamente, naquele seu natural tom exagerado.
Aproximando-se um pouco mais do amigo, o Kage de Suna disse em tom baixo:
— Ainda não estamos namorando oficialmente, mas pretendo mudar isso hoje. — Confessou.
— ENTÃO VOC-
— E você vai ficar quieto. — Interrompeu-o, fazendo o loiro se calar e concordar com um aceno de cabeça.
— Pode deixar! Agora vem, vamos cumprimentar os outros. — Naruto puxou Gaara por um dos braços, fazendo-o se aproximar da mesa. Chegando lá, viu algo que o fez sentir extremamente traído. — EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊS COMEÇARAM A COMER O BOLO SEM A MINHA PRESENÇA!
— O aniversário não é seu, dobe. — Sasuke disse, servindo-se de mais um pedaço.
— Mas eu sou o Hokage! — Naruto entesou irritado, apontando para si próprio.
— Isso não faz diferença nenhuma pra mim. — O Uchiha retrucou, começando uma discussão com o amigo.
Em um dos cantos da mesa, a Yamanaka ria alegremente com suas amigas enquanto acariciava o felino em seus braços. Vez ou outra trocava olhares rápidos, mas significativos, com o homem que se sentara ao lado de Naruto e era, sem dúvidas, o dono de seus pensamentos e também de seu coração.
☀
— Parabéns, Ino! — Hinata dizia mais uma vez, curvando levemente o torso a fim de despedir-se de sua amiga. Virou-se rapidamente para o ruivo que estava logo ao lado, despedindo-se também dele — Boa noite, Gaara-san.
— Boa noite, Hinata-san. — O Kazekage respondeu em igual educação e, após darem também tchau a Naruto, o casal mais benquisto da Vila da Folha seguiu rumo para casa.
— Porca! — A Haruno surpreendeu a amiga em um abraço apertado, que foi logo correspondido. Chegando próxima ao ouvido da Yamanaka, Sakura disse baixinho. — Amanhã você não escapa de me contar tudo.
— Tá bom, testuda. — Ino riu. — Boa noite!
— Boa noite pra vocês! — Sakura abanou, afastado-se.
Assim que se viu finalmente sozinha com o Kazekage em frente ao Yakiniku, que já fechava as portas, Ino virou-se para ele e, colocando as mãos atrás do corpo, perguntou despreocupadamente:
— Você vai ficar onde, Gaara?
O ruivo levou uma das mãos ao queixo, pensativo.
— Acho que vou para o hotel em que fico sempre que preciso permanecer em Konoha.
— Hmm… — A Yamanaka pigarreou, dando um passo para o lado a fim de diminuir um pouco mais a distância entre eles. — Você… pode ficar lá em casa se quiser.
Gaara arqueou de leve ambas as sobrancelhas, genuinamente surpreso com o convite. Na verdade, não havia sequer pensado sobre qualquer detalhe quanto a sua rápida estadia em Konoha quando partira de Suna há dois dias. Apenas seguiu seu caminho sem muitas paradas, tendo a loira como seu destino final.
Vendo que ele ainda ponderava sua sugestão, Ino acrescentou:
— Eu estou hospedada em sua casa em Suna. — Assinalou. — Acho justo que você fique em minha casa aqui em Konoha.
O ruivo sorriu, passando o braço direito pelos ombros da kunoichi, depositando um beijo casto em sua têmpora.
— Tudo bem. — Disse, por fim.
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