— O que são aquelas luzinhas no céu? — perguntou Luca, deitado no topo da torre ao lado de Alberto, as mãos descansando sobre a barriga.
Eles tiveram mais um dia incrível e ensolarado de diversão, e então descansavam perto do fogo.
— São anchovas. Elas dormem lá.
Luca franziu as sobrancelhas, duvidoso de que fosse verdade. Mas Alberto falou delas com tanta confiança e sabedoria que ele acreditou em cada palavra da conversa que se seguiu.
De pé apoiados no parapeito, eles olhavam para o vilarejo humano com olhos sonhadores, com o coração sendo puxado naquela direção assim como um peixe era puxado pelo anzol.
Até que uma centelha amarelada à sua direita chamou a atenção de Luca, e ele olhou curioso na direção da luz. Mas ficou confuso quando não viu nada que pudesse indicar a origem dela, sacudindo os ombros e voltando a olhar para o vilarejo.
Até que aconteceu outra vez, e ele soube que não estava apenas imaginando coisas. O ponto de luz estava mais baixo desta vez, quase na grama lá em baixo, e ele decidiu ir verificar o que era.
Caminhou para as escadas, pulando os degraus com pressa.
— Luca? Já está indo embora? — veio a voz de Alberto atrás dele, os passos do garoto o seguindo escada abaixo. — Nem vai me dizer tchau?
— Não é isso. Eu vi uma coisa.
— Viu o que?
— Eu não sei, mas sei que vi uma coisa.
Quando seus pés tocaram a grama, ele correu até o local onde viu a luz pela última vez, Alberto parando curioso ao seu lado. Aquele local da ilha estava mais escuro do que os demais, por ficar na sombra da torre e já não haver luz solar para iluminar qualquer coisa, algumas árvores e arbustos altos impedindo que a luminosidade das anchovas no céu chegasse até ali em sua totalidade.
Eles estavam quase completamente mergulhados no escuro e de repente Luca já não se sentia mais tão tentado assim a descobrir o que tinha visto.
Até que algumas luzinhas se acenderam ao redor deles e Luca arfou em susto, se aproximando de Alberto e agarrando o braço dele.
— Alberto, o que são essas coisas? — cochichou, e assim que falou as luzes se apagaram.
— Ah... Er... — Alberto cochichou de volta, ainda mais baixinho. — São anchovas bebês. É, isso.
— Anchovas bebês?
Luca pulou de susto outra vez quando as luzes se acenderam em lugares diferentes de onde estavam na última vez.
— É, isso. Elas... São novas demais para irem lá pra cima, então... Ficam aqui embaixo até estarem grandes o bastante, e aí nadam até o céu para ficar com as outras.
— Ooohh...
Luca sorriu, vendo-as se apagarem de novo, soltando o braço de Alberto ao sentir o medo ir embora.
Isto é, até que piscaram mais uma vez e Alberto começou a correr em círculos.
— Ela entrou no meu nariz! Entrou no meu nariz! — ele gritava, balançando os braços freneticamente. — Luca, tira isso de mim! Tira!
— O que eu faço?!
— Só tira!
— Então fica parado!
Luca tentava correr atrás de Alberto para ajudá-lo, mas o garoto mais velho sempre foi mais rápido que ele, então estava tendo dificuldades naquela tarefa.
Até que Alberto tropeçou e caiu na grama, e Luca ria enquanto se aproximava dele. A pequena anchova brilhou outra vez e, com a luminosidade, Luca viu-a pousada gentilmente na ponta do nariz de Alberto, o rosto do menino contraído e os olhos fechados com força.
Luca aproveitou que ele estava parado e pegou a anchova lentamente nas mãos, fechando-as em concha para que não escapasse.
— Pronto — avisou, e Alberto se sentou com um suspiro aliviado.
— Me salvou, cara — ele murmurou, e Luca riu outra vez.
Ele olhou para dentro de sua mão e sorriu quando a anchova brilhou novamente, quase simpática, então a deixou livre para nadar. Ela subiu no ar ao redor deles e de repente parecia que muitas outras haviam se juntado ali, pois eram tantas e brilhavam tão intensamente que quase podiam iluminar toda aquela parte da ilha.
Luca olhava para elas com fascinação, girando em torno de si mesmo para contemplá-las com um sorriso encantado no rosto. Era algo muito melhor do que olhar as anchovas no céu, porque ali ele se sentia mais próximo delas.
Alberto olhou para aquela cena e sentiu algo engraçado no peito, mas talvez fosse só a beleza das luzinhas que piscavam acima de sua cabeça.
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