Pela localização do celular do Jimin, ele estava no hospital de Busan. Não me questionem que eu tenho o número dele, nenhum residente possui, mas eu consegui, às vezes ser bom em tudo, e popular tem suas vantagens.
Desci do ônibus, e peguei o próximo para ir até o hospital, as horas já estavam se passando e quase dando dia 10 de agosto, meia noite, e eu aqui chegando em Busan só para ficar calado ao lado do homem que estava sofrendo um luto por alguém que ele dizia odiar. O ponto do hospital esvaziou o ônibus, incrível como hospitais escondem pessoas, e mais incrível que paredes de hospitais tenham escutado mais confissões do que igrejas, todo mundo tem sua luta e se você desce ao ponto de um hospital, ou você trabalha ali, ou sua vida está ali, nenhum dos dois lados é fácil.
Olhei a localização, Jimin parecia estar no refeitório do lado de fora, o céu estava até que bonito para uma noite de luto, como conhecia o hospital, eu fui direto até o local. Subo as escadas, atravessei a passarela, e consigo ver o médico loirinho cretino, no canto mais isolado dali, bem próximo a lixeiras, ele estava de cabeça baixa, e vejo os ombros dele se sacolejando. Andei devagar só para não assustar o dito cujo, mas acho que ele nem vai, porque consigo ouvir os gemidos e soluços.
— Jimin? — O chamei e ele se virou rapidamente. Primeiro que meu coração já doeu só de vê-lo assim, os olhos bem vermelhos, inchados, e o rosto dele estava magro, as olheiras fundas.
— Jungkook, você veio?! — Jimin correu e me abraçou, eu apertei o menor contra meu peito, e ele balançou ainda mais seus ombros em suspiros. — Porque veio? Você veio pra que? — Ele choramingou e escondeu seu rosto contra meu peito.
— Só pra ficar em silêncio. — Respondi e deixei ele ali, até quando precisasse, mesmo que estivéssemos em pé, e meus pés estavam me matando.
Jimin não parou de chorar, e nem acredito que vá parar tão cedo. Então, eu só andei com ele até o banco, e me sentei, sem tirar meus braços dele.
— Você veio idiota. — Ele resmungou, retirou o rosto do meu peito, e limpou as lágrimas. Agora me olhar me doeu ainda mais, os olhos quase fechados de tanto que chorou. — Ele morreu Jungkook.
— Sinto muito. Eu estava lá quando deram a notícia ao Yoongi.
— Meu irmão está bem?
— Hoseok e o Taehyung estão cuidando dele. — Respondi e toquei seu rosto.
— Porque veio?
— Porque precisa de alguém. Abraçar, sentir conforto. Me conta como foi esses dias.
— Péssimos. — Respondeu baixo, e mordeu os lábios, eu me afastei um pouco, abri a minha mochila e tirei dali uma marmita que eu trouxe.
Quando abri, Jimin forçou um sorriso, e agradeceu mas só segurou em seu colo. Ele estava chorando sem nem mesmo perceber.
— Minha mãe me obrigou. Contei para ela que eu estava gostando de você, e não da forma como amigo. — Falei e ele me olhou — Estou apaixonado por você, me desculpe se esse é um momento frágil, isso significa que você pode me usar o quanto quiser, eu não ligo, eu aguento a dor. Ela meio que fantasiou uma vida inteira juntos.
— Ela é uma fofa. — Ele disse abaixando os olhos. — Como que está apaixonado, só fizemos sexo.
— O sexo pra mim, foi…algo mais que incrível. Fiquei bem curioso pra olhar você, e enxergar o que tanto tinha que fazia todo mundo lamber seus pés, e te colocar num pedestal.
— Eu não sou tudo isso.
— O lado profissional é, nunca escondi que eu sempre observei você e que imito a maioria das vezes, você é um bom médico, Jimin, se nunca te disseram, eu estou dizendo.
— Se apaixonou pelo profissional. — Ele pegou um kimbap, e mastigou como se fosse a última coisa no mundo.
— Me apaixonei por você depois de olhar o que tanto gostaram. Gostei também.
— Pare de dizer besteiras. — Engoliu e depois olhou para a marmita, os olhos distantes, então me calei, sabia que não era recíproco, nem de longe vai ser. Ele não é o tipo de cara que se apaixona por alguém, se fosse, ele não usaria esse método que tem.
— Tudo bem.
— Eu … recebi uma carta dele, do meu pai, e depois um advogado me procurou, com o testamento dele. Yoongi vai ser responsável por administrar a nossa herança e dividir os bens, mas o que ele disse, me quebrou em todas as partes.
— Se quiser dizer, diga, eu só vou ouvir.
— Quando cheguei no dia do acidente, eu estava muito atordoado, eu precisei tomar uma medicação para me acalmar, porque não consegui processar nem o que a residente falava, eles a princípio, pensaram que eu fosse o medico dele, por meu número estar como prioridade, aliás, como você conseguiu o meu número?
— Eu roubei. — Respondi e ele encarou meu rosto confuso. — Continua.
— Não tem muito. Eu me acalmei, entrei na sala de recuperação com ele sedado, levou doze horas só para ele abrir os olhos, e quando abriu, ao me ver, ele chorou, segurou a minha mão, e chorou novamente, pediu para tirar o tubo, mesmo comigo dizendo que não deveria, mas por alguma razão, obedeceram a ele. Ele quase teve uma parada, teve que ser colocado em máscara com fluxo alto de oxigênio, e no final, ele só segurou a minha mão, e pediu perdão, ele pediu perdão e morreu.
— Perdoou ele? Ele sabe que você o perdoou?
— Eu não consigo dizer até agora. — Jimin chorou, as lágrimas estavam caindo no Kimbap. — Depois que eu fiz o protocolo se reconhecimento e tudo, me deram os pertences dele, o celular, e … tem uma pasta no celular dele, com meu nome, na verdade, para cada um de nós, tanto meus irmãos, quanto a minha mãe. Eu não consigo abrir, ele me quebrou só com o sopro sussurrado pedindo perdão.
— Está com o celular ai? Me dê, eu abro para você.
— Não…! — Jimin me olhou como se fosse uma criança muito magoada. — E se ele deixou textos me dizendo o quanto eu o decepcionei, o quanto ele odiou ser meu pai?
— Ele te pediu desculpas, não pode ter coisas tão ruins aí. — Falei fazendo carinho em seu rosto, e ele assentiu.
Jimin puxou o celular do bolso, colocou a senha, e me deu no aplicativo citado. Era uma pasta como bloco de notas, direcionada apenas a ele, Jimin. Os caracteres eram maiores comparados aos das outras pastas. Abri, e ele só deitou no meu ombro, deslizou a mão esquerda para segurar a minha mão direita, e entrelaçou os dedos ali.
Só preciso se forte, porque se ele me usar estando tão frágil assim, eu to bem fodido, porque ele vai extrair o meu melhor em dar carinho, amor e colo para alguém.
— Se tiver coisa ruim, você pode inventar outra coisa boa?
— Não. — Falei — vou começar.
“ Ah meu querido cisnei branco, o quanto me dói escrever essas palavras e enxergar o quão cruel e frio eu fui. Jimin-ssh, meu filho querido, não tenho outra forma de começar a não ser pedir perdão, e farei isso pelos meus restos dos dias, esteja no inferno ou no limbo. Eu sei que não mereço o seu perdão, e não espero que me dê, mas eu pedirei mesmo assim.
Eu tinha um futuro distante, um futuro que eu planejei a você e seus irmãos, e não estive preparado para os imprevistos que a vida costuma dar. Embora eu esteja habituado a ver isso todos os dias, eu simplesmente não consegui prever a minha própria família. Eu ganhei a família dos sonhos, uma esposa linda, médica e inteligente, dois filhos perfeitos, e um a caminho, o que eu poderia pedir de melhor para a vida?
Eu sabia que Yoongi iria seguir os passos de Go Ra, ela, como uma mãe dedicada, também o influenciou para isso, então, meio que ne senti rejeitado, o meu primeiro filho escolhendo a mamãe, tudo bem, eu a escolhi também. Então, você veio, chegou na minha vida, com a sua doçura e tamanha gentileza e carinho. Você é carinhoso, cativante, que me conquistou todos os dias, eu não poderia perder tal oportunidade certo?
Sempre sonhei em estar num palco, envolvido com música, mas eu decidi viver os sonhos dos meus pais, porque estranhamente pessoas tem preconceito com amantes de música, ou, a sociedade costuma definir demais quem somos então, imagine a minha surpresa, ver seus olhinhos brilhando no dia que me pediu para pagar aulas de dança, se balé, eu obviamente fui criticado,porque um filho de um juiz de renome faria do seu nome uma vergonha? Imagine, eu tenho o maior orgulho de ter tido um filho como você.
Embora eu tenha o decepcionado muito, tenho lá as minhas razões, e elas não são justificáveis, eu não encontrei forças para permanecer, porque doeu tanto, tanto que eu não suportei a ideia de perder você.
Ver meu filho acamado, sem poder dar seus passos de dança, me doeu tanto, tanto! Ver você em seu nível de dor mais elevado que alguém que se quebra inteiro, me corroía a alma. Ouvir dos médicos que haveria apenas 9% de chance de um dia você conseguir se levantar, me quebrou, e se levantasse, seria por meio de próteses ou cadeiras, bom, eu não consegui ouvir os seus sonhos serem jogados no lixo, porque também sonhei com você, não suportei ver a dor da sua mãe, e o meu filho entrar em depressão profunda, a ponto de eu o chamar de viciado, esse dia me doeu tanto!
Eu só queria que você se levantasse, sorrisse para mim, em suas roupas brilhantes e dançasse no palco com outros bailarinos, que eu seria aquele que estaria lá no meio da plateia com uma câmera nas mãos, talvez uma camiseta com seu rosto, e gritaria que você é o meu maior orgulho e meu filho. Desculpe por vê-lo hoje e seuqer conseguir olhar em seu rosto, os seus olhos buscando por uma resposta minha, desculpe só me curvar como um desconhecido, eu não consegui lidar com reação se eu me dirigisse a você como antes. Tipo, você me aceitaria? Me chamaria de papai novamente? Eu tirei meu nome do seu, como se descartasse toda a nossa trajetória e ligação, tudo porque eu ouvi xingamentos e não queria que sofresse, imagina a minha dor ao ver as pessoas falando mal do filho do juiz Min Dae He, só porque dança e gosta de homens, qual o problema das pessoas? Perdoe por ter feito isso, não sabia que fosse magoar tanto você, não sabia que perderíamos aquilo que nós tínhamos. Ah eu amo tanto vocês! Mim Joon possui a sua doçura, o jeito marrento de Yoon, e a genialidade da minha esposa, ela pediu divórcio sem nem mesmo pensar duas vezes, eu teria feito o mesmo se soubesse que eu teria tanta covardia, afinal de contas, o nosso “saúde e doença” não funcionou.
Te ver hoje, me deu lembranças ruins, do quanto ruim eu fui para você, o quanto eu o abandonei. Olhei seu rosto e queria saber, Jimin-ssh, você está bem? Porque desistiu da dança? Gosta da medicina? Em qual especialidade você está atuando? É a mesma da mamãe? Você já se casou? Gosta de alguém? Eu quero conhecê-lo, eu farei seu casamento se não estiver casado, decidiu se vão ter filhos? Eu gostaria muito de ser avô, sonho com isso, todos os dias, como anda as histórias? Seus amigos, sua saúde está bem? Eu te vi em um jaleco branco, meu coração disparou e senti aquele frio na barriga que todo pai sente quando vê um filho caminhar pelas próprias pernas, poxa! Que honra saber que meu filho é um dos melhores médicos do hospital de Seul, foi o que o meu cliente disse, eu estufei meu peito, e enchi de orgulho.
Eu não me importo que trocou as sapatilhas por par de luvas estéreis, eu só preciso saber, você está bem? Vai viver por longos anos?
Me perdoe, eu te amo”
Até mesmo eu chorei quando terminei de ler a carta, funguei disfarçado porque o soluço do Jimin estava mais alto, ele deixou a marmita cair no chão, e só se debruçou no meu colo, a mão apertando minha coxa, tento afagar suas costas, e seu choro mais profundo de uma dor insana que rasgava seu peito. O cara amava os filhos e a família mais que ele mesmo, eu li depois o que ele escreveu para o Yoongi e o Min Joon e ainda pra mãe deles, eu li enquanto o Jimin chorava, e chorei que nem um condenado, porque o juiz não teve ninguém além deles, e tudo que ele queria, era poder estar de volta na família. Compreender o que ele sentiu, eu compreendia, ninguém é obrigado a suportar dor de um filho, ele não conseguiu, não consegui ingerir quando o médico disse que Jimin teria apenas nove por cento de uma chance de vida, e se esses nove fossem garantidos, a qualidade era muito ruim. Jimin foi o que consideramos milagre da medicina, pena que nesse trajeto, a família e ele foram tão magoados porque um médico não deu a notícia boa, e um pai não conseguiu ficar.
— Meu pai….se foi, ele se foi.
— Tudo bem Jimin, eu fico.
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