"Isso não é real...Deus que seja um pesadelo por favor...", seu corpo tinha paralisado enquanto fitava o loiro parado um pouco distante de si, que assistia a reação que causava com divertindo e deboche.
Tinha que ser um pesadelo, as lembranças vinham sem aviso algum lhe causando um enjoo terrível.
Lembrança On
Suas pálpebras se abriram vagarosamente visualizando a parede cinza de concreto, demorou alguns segundos para focar sua visão que até então se encontrava embaçada, assustando-se ao se recordar dos acontecimentos recentes. Se levantou do chão, mas antes que pudesse sequer ficar em pé sentiu algo puxar seu pulso, e ao fitar o mesmo, viu nitidamente a algema prendendo sua mão e a corrente que se estendia até o chão, presa ao cimento da cela. E após o choque inicial começou a sentir uma tremenda falta de ar. "Isso não está acontecendo...cadê os outros?", olhou para o lugar que se encontrava. Era uma cela relativamente igual as outras que já ficará, mas o diferencial era que dessa vez estava sozinho. Não havia nenhum dos seus amigos ali, e o desespero surgiu como um chute no estômago. "Cadê eles...o Zeke não...não matou eles, não é possível...", se encostou na parede ao imaginar os corpos dos seus amigos sem vida, se lembrando dos disparos que ouvirá antes de desmaiar.
Não poderia ser verdade, eles não estavam mortos.
Um barulho de tranca despertou seus pensamentos bagunçados e sem rumo, olhando fixamente para a porta abraçando seu próprio corpo temendo pela pessoa que estava do outro lado.
- Olha, você já acordou. - Zeke entrou na cela com um sorriso de canto, olhando de cima a abaixo a criança no canto da parede - Desculpe-me dizer irmão, mas parece meio solitário. Gostaria de um gatinho ou um livro para se distrair? - A voz irônica deu lugar a uma gargalhada alta e escandalosa, arrepiando o garoto de olhos claros - Aí nunca me canso dessa piada, vai maninho...foi engraçada.
- Cadê eles? - Perguntou, criando coragem em seu âmago para a voz sair sem falhar perante a presença do homem alta de fios loiros.
- Eles? Quem? Oh seus amiguinhos? Bem, eles estão...descansando. - A última palavra causou uma sensação ruim na criança que se encolheu mais.
- Cadê eles Zeke? Eu quero meus amigos! - Gritou para o irmão, que fez uma cara de surpresa superficial - Quero ver eles!
Sua frase fez o mais velho sorrir com os dentes amostra, e por um segundo se arrependeu do que disse.
- Claro, seu desejo é uma ordem.
E tudo aconteceu rápido demais, Zeke foi em sua direção, abrindo as algemas e lhe arrastou para fora da cela com força, apertando seu braço com tamanha pressão que sentiu a marca dos dedos do homem em sua pele. Contudo passou por cima de todas as dores físicas, esqueceu dos cortes em sua pele, do machucado em seu rosto e do aperto da mão do irmão no braço. Só deseja rever seus amigos vivos, porém essa ideia ficava cada vez mais distante ao andar pelo corredor escuro e mal iluminado. Sentindo-se prestes a ter um colapso, e a calma que até então se fazia junto consigo se desvaneou por inteiro, ao parar em frente à porta de uma das suas antigas celas e ser jogado com brutalidade para dentro do compartimento.
Caiu no chão duro, impedindo a queda com seus braços. Demorou-se alguns segundos até voltar a fitar o local, e então sua respiração parou e seus olhos se focaram na cena que presenciava.
Os corpos de Tyler e Caroline estavam perto um do outro, seus rostos pálidos e cobertos de sangue junto com suas vestes. Ambos de olhos fechados e quase completamente virados para a parede, e sentiu o mundo cair sobre si de uma forma tão dolorida que a única reação que teve foi encarar os corpos, sem piscar e com a respiração nula, ao ponto de não existir. Sua mente ficou em branco, e não sabia o que pensar, o que falar, tudo aquilo era tão cruel. E mesmo distante, pode ouvir a voz do irmão.
- Se serve de consolo eles vão sofreram muito. - A voz maldosa se fez, se aproximando da criança que agora se permitia deixar lágrimas grossas descerem por suas bochechas sujas - E se quer se sentir melhor, eles estão melhor do que você agora, se fosse você eu ficaria feliz pela morte deles.
Lembrança Off
Zeke não lhe deixou ficar na cela, lhe arrastando para outra qualquer, mas naquele momento também não se importou mais com nada. Seus amigos estavam mortos e tudo indicava que Christa e Amélia também, perdeu por completo a vontade de sair daquela lugar infernal. Porque sair se estaria sozinho? Porque? Contudo, não foi assim que as coisas terminaram. No fim Christa estava viva, Amélia também e agora Tyler, isso poderia significar que talvez Caroline também estivesse. Mas caso a resposta fosse positiva, onde ela estava? E porque Tyler queria lhe matar? Porque sentia tanta raiva de si, se não fez nada para ele?
- Sabe, eu não imaginei ver você assim. Cercado de amigos, uma vida relativamente boa. Você teve privilégios a vida toda Eren. - A voz do maior lhe acordou do transe que entrará e agora encarava os olhos verdes profundamente.
- O que quer dizer? - Sua voz estava fraca e quase inaudível.
- Quero dizer, que você teve tudo. Eu nunca tive uma casa para dividir com meus amigos, ou uma casa para chamar de lar. Pessoas que se importassem comigo? Eu não tive isso, mas você? Você deve isso e muito mais. E valeu a pena? Me deixar lá, naquela lugar desprezível para ter a vida que sempre quis? - Tal pergunta lhe deixou confusa, estreitando os orbes para com o loiro.
- Te deixar lá? Ficou louco, eu não fiz isso. - Eren se prontificou com dúvida.
"Ele acha mesmo que deixei ele lá, com meu irmão doente apenas para ter uma boa vida?"?, pensava surpreso.
- Claro que você fez. Me deixou lá, deixou a Caroline lá...
- Ela está viva? - Perguntou esperançoso.
- Nessa altura deve estar morta, mas pouco me importo. Ela teve o que mereceu, mas quero que saiba foi sua culpa. Pensou só em você mesmo, pensou só na sua dor e nos deixou para trás. Foi um erro Eren. - Tyler pulou em sua direção e com reflexo se esquivou da faça da mão do loiro, ouvindo as batidas do seu coração intensificarem - Me sinto enojado toda vez que lembro como te ajudei, quando você era um garotinho patético e fraco chamando por sua mamãe. Era tão ridículo e cômico. Exatamente por isso fiz questão de me aproximar de você por uma de suas amigas.
- Amiga? Mas como... - Eren arregalou os olhos fitando o outro que fez um sorriso malicioso - Era você. O cara que a Annie estava saindo, esse tempo todo era você!
- Olha ele raciocina. - Ironizou.
- Porquê Tyler? Porque fez isso tudo? Porque enganou a Annie, porque fez aquilo no restaurante? A Sasha ela...
- Ela teve o que mereceu! Assim como a Caroline. - Cortou o moreno que não acreditava nas palavras do loiro, pedindo para que saísse dali e fosse para os braços do Ackerman, onde poderia se sentir protegido daquilo tudo - Pessoas boas quando se envolvem com pessoas ruins como você, saem feridas e mortas. Essa é a lei. Todos deviam saber que ao se aproximar de você teriam problemas, a morte da Sasha foi culpa sua. Caso não tivesse voltado para a Austrália ela ainda poderia estar viva.
- Como sabe que vim para a Austrália? - Perguntou espantado.
- Oh Eren, sua querida amiga Annie confia fácil demais nas pessoas. Não precisei de muito e ela já contou sobre seus amigos, incluindo você. Disse que estava feliz por você ter voltado, e que você estava namorando alguém que você conheceu na escola. Foi magnífico quando soube que você estava com Levi Ackerman, você sabe sobre o passado dele? - Levantou uma sobrancelha, mantendo o sorriso - Ele é como o Zeke, talvez menos pior, mas continua sendo um assassino. E para minha sorte, eu achei uma pessoa que era louca para ter um reencontro com ele.
- Pessoa? Quem... - Desviou os olhos para o chão, sabendo que somente uma pessoa queria se vingar do Ackerman - Oh meu Deus, Kenny está aqui
- Outro acerto. Você está mais esperto do que antes, mas não se preocupe. Seu namorado vai ter o que merece, e você também. E no fim ambos vão estar no mesmo lugar..
E não teve tempo para responder o loiro que pulou em cima de si com velocidade, tentando enfiar a faca em sua carótida.
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Os passos agitados chegaram ao salão onde aconteceria as apresentações da faculdade segundo Annie, que mandou as coordenadas para chegarem até o local por mensagens minutos atrás. Para a surpresa dos mais velhos, o evento ainda não havia começado e o lugar estava mais lotado do que pensavam. Levi suspirou mandando outra mensagem para Eren já que as últimas não foram respondidas. Sim no plural. Pois enviou uma assim que saiu de casa, outra quando estava no meio do caminho e uma quando chegou em frente à faculdade, mas não recebeu resposta de nenhuma das três e começou a ficar preocupado. Contudo, Hanji lhe tranquilizou dizendo que Armin mandou uma mensagem dizendo que o moreno fora pegar algo importante para ele, mas levando em conta a hora que o loiro escreveu isso e a hora que chegaram, era normal que o Ackerman se sentisse apreensivo.
Em meio a multidão avistaram Annie, Ymr e Jean parados em uma das paredes conversando, se aproximaram dos jovens que os cumprimentaram animadamente.
- O que está havendo? - Hanji perguntou com um sorriso divertido.
- Só estávamos tranquilizando a Annie dizendo que o namorado dela, que ela afirma não ser um namorado não deu um perdido nela e foi embora. - Ymr deu de ombros com seu jeito descontraído.
- Mas ele foi ao banheiro a uns quinze minutos. - Retrucou emburrada.
Levi procurou o jovem de orbes esverdeados, mas não o encontrou e já se preparava para perguntar sobre o mesmo, quando Armin chegou aparentemente preocupado e possuindo o semblante em agonia.
- Gente, cadê o Eren? - Questionou afobado.
- Não vimos ele. - Ymr respondeu - Ele estava perto do palco quando o vi pela última vez.
- Sim, mas eu pedi para ele pegar meu Pen drive na minha sala e ele não voltou. Minha apresentação é a primeira e já vai começar, o que vou fazer? - Abanou o rosto com as mãos, sentindo o suor escorrer da testa.
- Tem razão, eu vou procurar ele e...
- Não! Eu vou, e trago ele. - Levi interrompeu Jean, não gostando da forma estranha que o moreno sumirá daquele lugar.
Todavia, assim que deu dois passos em direção ao corredor, uma voz feminina no microfone fez com que olhasse para o palco, juntamente com todos do salão.
- Gente, antes da apresentação recebemos um pedido muito especial. - A garota de vinte e poucos anos disse, com um sorriso espontâneo piscando para o rapaz que controlava as caixas de som posicionadas na frente do palco - Essa música foi pedida especialmente para Levi Ackerman... - Os jovens olharam para o dono de olhos cinzas automaticamente, não entendo o que estava acontecendo - Do seu querido amigo Kenny.
Os orbes de Levi quase saltaram das órbitas, e rapidamente olhou para os lados esperando alguma aparição do seu tio em meio às pessoas. "Isso não está acontecendo...ele está morto, como pode estar aqui? Merda, cadê o Eren?", pensava nervoso querendo que tudo passasse de uma brincadeira de mal gosto. Uma música antiga e macabra começou a tocar, fazendo todos do salão estranharem tal escolha, mas Levi sabia que música era aquela, uma das favoritas do seu tio e que ressoava pela casa deles em Paris a anos atrás.
- Levi? - Ouviu a voz de Hanji, virando-se para frente que o fitava assustada - O que estava havendo?
- Eu não sei, acho que...
- Quem é Kenny? - Annie interrompeu a fala do mais velho.
E antes que pudesse sequer pensar em uma resposta ouviram um som ensurdecedor, e um barulho vindo de trás do salão. Um grito foi ouvido por uma estudante dizendo que a porta se encontrava fechada. "Nós prenderam aqui?", pensou e não pode agir ao terem as luzes apagadas e a escuridão total preencher o salão. Gritos foram ouvidos de todos os lados, e sentiu uma mão agarrar seu braço e como reflexo se virou pegando o pescoço entre dentes, já se preparando para brigar caso fosse Kenny ou qualquer outra pessoa que tentasse machucar a si ou os amigos de Eren, mas diminuindo a pressão na região ao ouvir a voz conhecida.
- Levi sou eu! - Hanji disse sentindo o aperto cessar - O que havendo? O Kenny está aqui? Ele não devia estar morto? Mas que merda! Porque ele está aqui?
- Eu não sei, mas temos que tirar as pessoas daqui agora. - Não conseguia enxergar nada ao redor e começava a temer pelos estudantes que ainda gritavam e chamavam por pessoas no escuro - Cadê os garotos?
- Estamos aqui! - Armin estava ao lado de Hanji que não notou por conta da escuridão, mas pode visualizar o loiro pela luz do celular do menor que ligou a lanterna do aparelho - A Annie e a Ymr foram até o palco para ver a Mikasa e a Christa.
- Merda. - Xingou irritado - Preciso achar o Eren...
Outros barulhos foram ouvidos e assim que notaram um clarão fez com que várias pessoas tapassem os olhes, e se afastassem dos lugares em questão. Assim que voltaram a olhar as reações de pânico se iniciaram ao verem que o lugar começava a pegar fogo, em lugares estratégicos como a porta e as janelas, incluindo uma parte do palco já era coberta pelas chamas que se alastravam rapidamente, destruindo a decoração da festividade. Os gritos ficaram piores, e todos começaram a correr de um lado pro outro no salão, dificultando a passagem de Levi que queria chegar até o corredor para ir em busca de Eren.
Cada vez mais uma sensação ruim vinha e de alguma forma sentia que não era por sua segurança, e sim para aqueles que se importava, principalmente para o dono de olhos esmeraldas.
- Temos que sair daqui! - Jean gritou agarrando o pulso de Armin, com medo de se perderam em meio aos empurrões.
E mesmo com o barulho horrível que se fazia, puderam ouvir a voz de Mikasa que conseguiu pegar o microfone no palco com certa dificuldade, e repetir diversas vezes que havia uma saída extra nos fundos do prédio. Os mais novos seguiram para o corredor do primeiro andar, correndo o mais rápido possível para a saída e conforme o salão ficava vazio podiam ver como as chamas já começavam a pegar metade do local, felizmente ninguém se feriu com o fogo.
- Levi! - Hanji foi até si com os jovens atrás dela o fitando aflitos.
- Leva todos para fora, agora! Eu vou procurar o Eren, ele ainda deve estar lá em cima.
- Não! Não vou deixar você subir lá! E se não conseguir voltar? O Kenny deve estar aqui ainda. - Argumentou nervosamente, não gostando da ideia de deixar o Ackerman correr a onde possivelmente seu tio estaria.
- Exatamente, e o Eren também, não posso deixar ele se machucar pelos meus erros Hanji, por favor tenta entender. Leva todos pra fora, preciso que faça isso por mim.
- Levi...
- Por favor Hanji, eu preciso da sua ajuda.
Olhou para os orbes castanhos assustados, e mesmo contra gosto a mulher concordou chorosa pegando na mão do professor antes que esse se virasse em direção às escadas para o segundo andar.
- Tentar voltar inteiro, eu também preciso de você. - Pediu com a voz embargada.
Sorriu de canto como resposta acenando positivamente, indo para as escadas sumindo da visão da amiga. A mulher de óculos mandou os estudantes irem para fora, porém, Christa e Mikasa se exaltaram dizendo que não deixariam Eren dentro daquele prédio em chamas, e eles não eram os únicos já que Annie também se recusava a sair, tanto por Eren como pelo rapaz que a acompanhou ao evento e até então não o viu mais em meio a confusão. Não precisou de muito e ao trocar olhares com Jean e Ymr, estes entenderam o que era para ser feito. Pegaram Mikasa e Christa a força as arrastando para fora do prédio, ignorando os protestos de ambos para que fossem soltas e as deixassem seguir Levi a procura do amigo. Annie também saiu sendo arrastada por Hanji que possuía muita força nos braços quando queria, só soltando a loira quando chegaram ao lado exterior do prédio.
- Annie para! - Armin pediu ajudando Hanji a segurar a amiga.
- Mas o Eren, e o Kol... - Parou de se debater, colocando as mãos no rosto, deixando as lágrimas transparecessem.
- Me escuta... - Hanji colocou as mãos nos ombros da menor que levantou a cabeça para a encarar - Você precisa confiar no Levi, ele vai trazer o Eren de volta com vida e bem, mas para isso você precisa confiar nele Annie. Acredite em mim, nada é mais importante para aquele baixinho do que a segurança do Eren.
Mikasa e Christa pararam de tentar avançar para o prédio, sabendo que as palavras da mais velha estavam certas. Hanji acalmou a loira falando que procurariam o rapaz que veio junto a ela, mas para isso teriam que se afastar da construção e ir para onde os outros estudantes estavam, aguardando a emergência. E mesmo abalada, Annie concordou com a ideia sendo abraçada pela mais velha que mesmo não demonstrando, também estava com medo e pedindo para que tanto Eren como Levi voltassem, afinal ninguém possuía o conhecimento a cerca de Kenny e o quanto o homem poderia ser cruel em suas ações. Sabia que aquele incêndio tina sido orquestrado, e isso lhe causava mais medo ainda.
Enquanto isso, Levi em passos velozes chegava ao segundo andar e se aproximava da escada que o levaria para o terceiro andar. "Eu preciso achá-lo, preciso saber que ele está bem. Se o Kenny o machucar por minha causa, eu nunca vou me perdoar, não posso perdê-lo", pensava aflito, porém sentiu um baque enorme ao passar por uma das salas com a porta aberta, sendo obrigado a se segurar na parede por milésimos de segundos, fitando a direção de onde veio o golpe.
- Quanto tempo sobrinho, ficou com saudades? - Kenny segurava um taco de beisebol, sorrindo enquanto batia o objeto na mão direita saindo da sala a passos calmos.
- Kenny... - Disse entre dentes.
- Não está feliz em me ver? Fiz todo um show de abertura. O que achou da minha escolha musical para o momento? Admito que talvez tenha sido um pouco exagerado, mas você me conhece. Gosto de demonstrações grandes.
- Você planejou tudo isso, não foi? - Perguntou limpando o sangue da sua testa.
- Tudo não, tive uma ajudinha. - Falou e ouviram um barulho de algo caindo no andar de cima. Levi olhou para o teto só com um nome lhe passando a mente, "Eren! Eu preciso salvá-lo" - Não se preocupe, o seu preciso Eren deve estar ocupado também. - Voltou a atenção para o mais velho que estalou a língua em sarcasmo.
- O que você fez com ele? - Perguntou irritado, querendo bater no homem a sua frente com toda a força que tinha ao imaginar alvo acontecendo ao moreno - Responda Kenny!
- Eu? Nada, mas não posso dizer o mesmo do Tyler. Ele não via a hora de poder estar frente à frente com seu precioso Eren. Sabe eu acho que o Eren deve ter feito algo muito grave a ele para merecer tanto raiva assim.
Levi ficou confuso com o nome dito, não se recordando de ouvir nenhuma vez tal nome sair da boca de Eren. E não importava quão fundo fosse nas memórias, Tyler jamais ouviu aquele nome, então quem era? Alguém do passado do jovem? Antes de ir para o colégio ou antes do Eren ir para Rosey?
- Mas se eu fosse você... - O homem de cabelos compridos voltou a falar, aumentando seu sorriso psicopata - Eu me preocuparia mais com seu bem estar do que com o dele.
Kenny iniciou vários movimentos com as mãos, tentando a todo custo acertar o taco no menor. Houve vezes que por conta do seu desempenho físico conseguirá desviar do objeto, mas outras sentiu a dor do taco em sua carne, reduzindo sua velocidade.
- Você está enferrujado sobrinho! - Kenny bateu com seu punho no rosto do Ackerman, que não se deixou abater pegando o braço do tio o torcendo fazendo o taco cair de sua mão - Desgraçado!
Gritou enfurecido batendo com seu joelho no estômago do mais novo que foi para trás dando a oportunidade para Kenny socar sua fase na bochecha. Levi não ficou atrás golpeando o homem com seu pé duas vezes seguidas, batendo com seu cotovelo no queixo do maior que cuspiu o sangue ainda com o sorriso de diversão presente. Kenny foi em direção ao taco, mas o mais novo o jogou no chão iniciando uma sucessão de socos de ambas as partes. Poucos pegavam nos alvos, já que os dois homens eram treinados para aquele tipo de situação, e mesmo que para Levi fizesse alguns anos que não praticasse tal coisa, isso não havia lhe tirado a habilidade que tinha na época da máfia.
Kenny chutou seu peitoral lhe fazendo cair para trás, mas em um movimento rápido pegou o braço do seu tio o jogando para trás assim que este levantou, e com a força do seu corpo o empurrando para frente lhe chutando as costas. Kenny tossiu caindo de joelhos no chão, mas não ficou muito tempo nessa posição se levantando com fúria nos olhos tirando de dentro do casaco uma arma, fazendo o menor arregalar os orbes cinzas minimamente.
- Parece que temos alguém em desvantagem. - Brincou, apontando a arma para o Ackerman que em reflexo tirou seu celular do bolso jogando no rosto do outro que desviou a atenção da mira por um curto período.
Todavia, assim que seguiu para pegar a arma da mão de Kenny este lhe deu um golpe com a ponta da mesma, mas não forte o suficiente e segurou o braço do tio que se dirigia a sua cabeça. Três disparos seguiram pegando no teto da faculdade, e naquela hora mediam forças para ver quem perderia as energias primeiro naquela guerra de braços.
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- Seu filho da puta! - Tyler limpava o sangue do nariz ao ter recebido um soco de Eren.
Estavam jogadas no chão, com o moreno em cima do loiro distribuindo focos na fase do maior querendo que o mesmo desmaiasse, mas obviamente não seria tão fácil. Tyler era mais resistente do que aparentava, estava mais forte, mais ágil e mais impiedoso, isso dificultava tudo. Eren não queria o machucar, pois ainda via o amigo de anos atrás nele, o garoto que o ajudou naquela cela, que lutava pelos amigos e era gentil, mas cada vez mais essa imagem ficava difícil de enxergar. O rapaz só queria lhe ferir, queria lhe matar e não média esforços para isso. Não teve escolha a não ser se defender e revidar, por essa razão que se encontravam no chão após vários socos e chutes de ambas as partes.
- Você pode até ter treinado Eren... - Tyler sorriu debochado - Mas não foi treinado pelo seu irmão. - Retirou uma outra faça da sua cintura, já que a primeira estava a metros de distância.
O objeto afiado foi em direção ao rosto do moreno que segurou a mão do loiro, enquanto forçava seu braço livre no pescoço do maior. Mesmo com toda a força não conseguia manter aquela posição por muito mais tempo, e por isso deixou com que a faca fosse cravada em seu braço. Grunhiu de dor, mas não se deixando focar nisso dando quatro socos no rosto de Tyler que não pode reagir, e ao perceber que os braços do loiro cairam ao seu lado se levantou com dificuldade, correndo para uma das portas próximas, adentrando na sala de aula.
Encostou-se na parede respirando fundo, tirando a faca do seu braço mordendo os lábios para não fazer barulho. Colocou a mão na ferida sentindo o líquido vermelho sair do machucado sujando sua camisa e pingando no chão de cerâmica.
Assustou-se ao ouvir três disparos e tudo indicava que era no andar de baixo. Primeiro ouviu os gritos no primeiro andar, que se estenderam por longos segundos e depois pararam. Uma sensação amarga lhe vinha, e pensou em seus amigos, em Armin, Mikasa, Annie, Christa, Ymr, Jean e Hanji, e claramente no Ackerman. E se algo tivesse acontecido com eles? Sua mente não sabia se prestava atenção nos movimentos hostis de Tyler ou nos barulhos que ouvia nos andares de baixo, o que resultou em receber diversos socos e chutes do loiro que não se importava com sua leve distração.
"Droga, preciso ir lá em baixo, ver se estão bem...", pensou virando-se para frente dando de cara com Tyler que bateu com cabeça na do moreno que deu passos para trás, sentindo uma dormência terrível no nariz e no lábio cortado.
- Você não perdeu esse hábito né? Sempre tentando jogar sujo.
Foi para cima de Eren, mas em uma atitude de última hora, o moreno se lembrou da faca que possuía em mãos e assim que Tyler chegou perto de si, não hesitou em enfiar o objeto na barriga do jovem que arregalou os olhos fitando o rosto do menor e depois a mão que segurava firmemente a faca em seu abdômen.
- Eu sinto muito. - Pediu, se afastando do loiro com os orbes verdes marejados.
Fitou o corpo do maior cair de joelhos no chão e não esperou mais para sair da sala aos passos velozes. Não queria o machucar, mas ele não pararia de tentar lhe matar, o que deveria fazer? Tinha que ver se seus amigos estavam bem, e lhe doía saber que talvez tenha machucado alguém que um dia também considerou seu amigo. Desceu as escadas rapidamente e assim que colocou os olhos no corredor, viu uma cena que muitas vezes sonhou nos seus piores pesadelos.
Levi estava caído no chão de costas para si, e Kenny posicionando uma arma para as costas do professor falando alguma bobagem. Tudo passou em câmera lenta, e o primeiro pensamento que teve foi de correr até o chão onde uma pequena faca estava jogada e ir em direção ao homem sem pensar duas vezes, enfiando o objeto nas costas do mais velho que gritou, largando a arma no chão caindo ao lado de Levi que olhou para trás, se surpreendendo ao ver a imagem de Eren.
- Você está vivo... - Sussurrou, sendo amparado pelos braços do moreno que segurou o rosto de Levi entre as mãos.
- Claro que estou, e você também. - Sorriu de canto, sentindo um grande alívio em seu peito - Cadê o Armin e os outros?
- Eles estão bem, saíram do prédio. - Segurou no braço do jovem que soltou um gemido de dor, olhou para a região vendo a ferida aberta e o vermelho do sangue manchar a blusa - Deus Eren...
- Está tudo bem, não foi nada. Precisamos sair agora. - Olhou para Kenny que tinha a respiração acelerada e proclamava palavrões de todos os tipos - Vem.
Ajudou o Ackerman a levantar, foram para as escadas descendo os degraus no mesmo ritmo que tinham anteriormente. Todavia, assim que chegaram aos últimos degraus o fogo pegava o início das escadas, pararam abruptamente. Eren olhou para os lados, podendo ver que as chamas pegavam todo o salão onde aconteceria a exposição, e se espalhava agora para o corredor.
- O que vamos fazer? - Olhou para Levi, que encarou os orbes esverdeados.
- Confia em mim? - Perguntou receoso, segurando as mãos do mais novo.
Tal perguntava poderia ser interpretada de muitas formas, mas Eren soube que não era uma pergunta somente para aquele momento. Relembrando os acontecimentos recentes, fazia sentido ser questionado a cerca de confiança. Levi queria saber se mesmo após tudo que soube ainda confiava nele, se mesmo sabendo das atrocidades que ele cometeu no passado, das vidas que ele havia tirado, tanto de seu pai como os pais de Jean, mesmo sabendo o homem que um dia ele foi, se mesmo após tudo isso, ainda confiava nele. E a resposta? Sim mil vezes. Poderia ter deixado Kenny o matar, afinal ele foi que machucou Jean, mas demorou para notar que não importava o que Levi fizesse o amaria incondicionalmente. Além do mais, o que ele fez aos pais do Jean permitiu que seus amigos vivessem esses anos, e jamais culparia ele pela decisão que tomou.
Somando tudo isso não havia dúvidas, sempre confiaria nele para o que fosse.
- Sim. - Respondeu convicto - Confio mais do que imagina.
O semblante do homem de fios negros relaxou, e sorriu de lado segurando o rosto do moreno com a mão delicadamente, limpando o sangue na boca ferida do jovem.
- Vamos pular, as chamas ainda não estão grandes e se formos rápidos podemos pular elas. - Falava vendo a hesitação nos olhos do outro, segurando mais firme o rosto do maior - Eren, confia em mim, por favor. - Pediu fazendo o mais novo concordar - Ótimo, vamos correr as escadas e quando chegarmos no segundo degrau pulamos, entendeu?
Eren afirmou levemente segurando a mão do mais velho, subindo as escadas de novo. Ambos respiraram fundo, trocando olhares para confirmar o que fariam. Contaram até três, e correrem pelas escadas e assim que seus pés alcançaram o segundo degrau pularam entre as chamas. Por um segundo de tempo Eren cogitou a hipótese de morrer, de ser queimado vivo, mas...Levi estava certo. As chamas não estavam grandes demais, e conseguiram chegar ao outro lado bem, sem queimaduras.
- Levi, você está bem? - Levantou do chão, se abaixando ao lado do Ackerman que respondeu um "sim" tossindo - Vem, temos que ir.
Ajudou o menor a levantar e seguiram para fora do prédio, vendo Mikasa e Hanji correrem na frente de todos, abraçando ambos com força ouvindo murmúrios de dor pedindo desculpas logo em seguida. Atrás vinha Armin, Christa, Ymr e Jean visivelmente aliviados por saber que tanto Eren como Levi estavam bem. Perceberam os machucados nas peles faciais, e na ferida aberta que o moreno possuía no braço. Armin foi o primeiro a se prontificar dizendo que deveriam imediatamente esperar a emergência que dali a poucos minutos chegaria no local, contudo Levi não pensou sequer nessa opção falando para todos irem para o carro. Obviamente que nenhum deles entenderam, com exceção de Eren e Hanji que concordavam que estar naquele lugar poderia acarretar em mais acidentes.
Mikasa questionou o Ackerman acerca da segurança de Eren, argumentando que o homem deveria se importar com a saúde de Eren que aparentemente não estava nas melhores condições, e antes do professor responder a asiática, o moreno foi mais rápido, falando que o que aconteceu ali não foi acidente e que ele e Levi tinham que explicar o que levou ao incêndio, mas para isso teriam que estar em um local seguro. Por fim todos concordaram em ir, mesmo estando confusos entraram no carro do mais velho e foram em direção ao apartamento deste, notando ao longo de caminho os desvios de caminho que percorriam, o que não era o habitual, mas decidiram guardar as perguntas para quando chegassem.
Entraram no apartamento minutos mais tarde, com Eren segurando um pano dado por Christa para estancar o pouco de sangue que ainda saia de sua ferida no braço.
- Vem, vou cuidar disso. - Hanji pegou na mão do moreno, olhando para Levi que sorriu discretamente.
Os jovens sentaram-se no sofá da sala ainda atordoados com que aconteceu, e tendo um pressentimento de que ainda não havia acabado. Enquanto Eren estava no banheiro com a mulher de óculos cuidando do seu ferimento, o Ackerman foi até a geladeira pegando gelo enrolado em um pano colocando em sua testa dormente pelos golpes que recebeu. Suspirou, sabendo que aquela era a hora de revelar para os mais novos sua real identidade, se Eren fosse fazer o mesmo só cabia a ele, mas não poderia fugir mais da verdade, não sabendo que era provável que se Kenny ainda estivesse vivo os usaria para chegar tanto em si como no dono de olhos verdes. Foi para a sala olhando para os jovens que o observavam atentos e em silêncio, cada um com suas perguntas e suas próprias confusões mentais.
Respirou fundo, sentando-se na poltrona, iniciando aquele diálogo que mudaria tudo.
- Eu preciso contar a verdade para vocês, sobre mim e sobre quem eu sou. E o motivo que levou ao incêndio de hoje. - Iniciou, não omitindo sua história.
Contou tudo desde sua infância até sua saída da França, não mentiu sobre Kenny e o motivo por ter ido para a Suíça, também foi clara quando contou como conheceu Hanji, mas ao chegar na parte do porque ter ido embora, preferiu não relatar tudo. Deixando de fora Grisha e os pais de Jean, foi breve falando que seu tio apenas ameaçou a segurança de Eren e a deles, e por essa razão que saiu do país. Os olhares dos mais novos beiravam a confusão e desacreditamento. Pensaram que Levi havia enlouquecido, ou engolido muita fumaça dentro do edifício universitário, a única que ouvia tudo com a o semblante surpreso era Christa, que sabia que o Ackerman não tinha como mentir sobre algo que ela mesmo vivenciou. E já se preparavam para o questionar acerca de tudo, mas nesse exato momento Eren entrou na sala com um curativo no braço. Tanto Hanji como o jovem estavam sérios, mostrando que a história do homem de fios negros era verídica.
O rapaz de olhos verdes respirou fundo iniciando sua parte da história, e dessa vez Levi o ouvia com atenção já que não tiveram a oportunidade de conversar em relação a história do moreno. Tudo que saia dos lábios de Eren era novidade para seus amigos como para os mais velho, contou-lhes tudo. Sobre seu pai, sobre Zeke e Kenny. Não escondeu sobre sua infância, ou a morte de sua mãe, pela primeira vez contava a verdade sobre seu passado para seus amigos, e assim que chegou na parte em que ficou com seu meio-irmão, Christa se prontificou, deixando todos espantados. A loira estava aflita e receosa, mas assim como Eren também decidiu contar a verdade sobre si, o que deixou Ymr atordoada por um longo tempo. Não acreditava que a namorada fizesse parte de toda aquela loucura. A garota de orbes azuis contou o que houve nos anos que ficaram presos, não quis entrar em muitos detalhes, mas foi clara em relação aos maus tratos que sofreram e das pessoas que perderam naquele lugar. E com isso o nome de Tyler entrou.
- Depois que fomos pagos tentando espaçar pela trigésima vez, Zeke nos prendeu em celas separadas. E ficamos assim por dias, até... - Parou de falar, abaixando o olhar tristemente.
- Até sermos colocados na mesma cela de novo, mas Tyler e Caroline já haviam morrido, e Amélia...
- O que houve com ela? - Armin perguntou com medo.
Teria como ser pior do que aquilo que já ouviu?
Sim. Teria.
Lembrança On
Acordou assustado ao ouvir a porta da cela ser aberta com hostilidade e ouvir um baque de algo cair no chão. Fitou a entrada e viu Amélia com os braços ralados e o rosto coberto de lágrimas, até então pensou que a garota havia morrido como Tyler ou Caroline, mas ao ver a mesma ali não teve outra reação sem ser levantar e ir até a menina que chorava compulsivamente.
- Amélia? - Chamou a garota que parecia estar em choque, abaixou-se ao lado desta - Amélia, pode me ouvir?
- Oh não se preocupe com ela, eu contei sobre seus outros amigos que morreram e ela ficou assim. Tadinha, deve estar em choque. - Zeke colocou a mão na cintura, vendo Eren chamar a menina e a ajudar a se sentar no pequeno colchão que havia no canto da parede ao fundo da cela - Mas eu dei o mesmo conselho que dei a você, falei que eles estavam em um lugar melhor do que vocês.
- Você não cansa de nos machucar? - Eren perguntou fitando o irmão com raiva nos olhos verdes - Não cansa de nos ver assim?
- Não. - Zeke respondeu friamente, tirando de dentro do casaco uma arma de porte pequeno - Mas eu sou bom irmão, e vou provar minha bondade com isso. - Jogou a arma ao lado de Eren que fitou o objeto não compreendendo onde o mais velho queria chegar - Nessa arma á duas balas, uma para você e outra para ela. É uma equação simples, você atira nela e depois em si mesmo, acabando com o sofrimento de vocês. - A criança arregalou os olhos em espanto, não crendo no que ouvia - Você vai poder colocar um fim a esse inferno e só atirar nela e posteriormente em você.
- Você é louco... - Falou desacreditado, negando com a cabeça diversas vezes - Não vou fazer isso.
- Certeza? Pensa bem, é só atirar. E tudo acaba, sem tortura, sem fome, frio e solidão. Sem perdas. - Eren apertava as mãos, cravando as unhas na carne da palma da mão querendo que Zeke parasse de dizer aquelas coisas horríveis - Você seria livre, vai poder ter paz e se acreditar nisso rever seus amigos.
- Ou eu poderia atirar em você. - Falou entre dentes, levantando-se ao lado de Amélia que permanecia em silêncio chorando - E aí sim tudo acaba.
- Uau! Você criou coragem? - Sorriu de canto tendo seu irmão próximo a si, claro que a diferença de altura era exorbitante, mas Eren pela primeira não temeu seu irmão - Seria lindo, se não fosse trágico irmão. - Os olhos frios de Zeke focaram atrás de Eren, abrindo um sorriso maldoso - Mas acho que infelizmente você é o único com esse pensamento.
Não entendeu a fala do mais velho, e ao se virar viu Amélia ainda sentada de joelhos, mas o que chamou sua atenção foi a mão da garota. Esta segurava a arma no queixo, com o dedo no gatilho prestes a atirar, o ar não existiu e seu corpo começou a tremer.
- Amélia, o que está fazendo? - Perguntou com a voz trêmula.
- Eu não posso mais Eren, você não entende... - Um soluço foi ouvido, os olhos negros estavam repletos de lágrimas e sua boca estava tremendo, talvez de medo ou de excitação. Nunca saberia. - Eu não posso mais viver assim...não dá..
- Por favor abaixa isso, vamos dar um jeito... - Avançou um passo, mas parou ao ver como Amélia pressionava ainda mais a arma contra o queixo - Nós podemos sair daqui, recomeçar...eu e você juntos para sempre como prometemos, eu não vou deixar você Amé, sou seu amigo. Ficaremos juntos nessa, seremos o apoio um do outro como fizemos até agora. Por favor... - Pediu com a voz embargada, não sabendo o que fazer ou o que dizer. Merda só tinha oito anos, o que poderia fazer?
- Eu... - Amélia desviou o olhar negro e distante para Zeke, mais lágrimas descerem por sua fase e suas palavras saíram em um ruído inaudível, mas Eren a ouviu - Eu sinto muito...
E antes que pudesse avançar em direção a menina o sou do disparo foi ouvido, o sangue se espalhou na parede atrás dela e respingou no rosto de Eren que gritou a plenos pulmões o nome da mesma. Correu até o corpo de Amélia segurando nos braços a menina já sem vida, os olhos negros como o céu noturno se encontravam opacos, e o sangue sujava seu corpo e suas vestes. Abraçou o corpo da amiga, pedindo sem parar para ela voltar, e pensou que estivesse morrendo junto com ela naquele chão.
- Não, não por favor...não... - Lágrimas caiam dos seus olhos e pedia aos céus que acordasse daquele pesadelo sem fim, não podia ser real. Estava caindo de um abismo e sabia que não sobreviveria a queda daquela vez - Não...
- Oh que pena, eu gostava dela. - Zeke deu de ombros, colocando a mão no queixo - Mas cai entre nós que ela já foi tarde. Ela sempre foi a mais fraca de vocês, está melhor sem ela.
Eren ouviu as palavras do irmão e um sentimento de cólera lhe atingiu em cheio. Não via nada a sua frente, não ouvia nada, as batidas do seu coração marcavam aquele momento infinito no tempo quebrado do relógio da sua alma. Não se importava com o que aconteceria consigo, contando que Zeke estivesse morto, já bastava. E com esse pensamento que pegou a arma caída ao seu lado apontando para o mais velho em direção a cabeça e puxou o gatilho, mas...não ouviu nada. Somente o barulho do gatilho indicando estar sem balas, prendeu a respiração olhando para seu irmão confuso. Zeke demorou-se a mostrar alguma reação, soltando uma gargalhada histérica segundos depois.
- Meu Deus você ia me matar, meu irmão caçula ia me matar! Isso é incrível! - Bateu palmas ainda rindo, enquanto o moreno abaixa as mãos desnorteado - Eren você se superou! Realmente ia me matar, nossa estou em choque, pena que...eu menti sobre o número de balas.
A porta da cela foi fechada, e foi deixado para trás com o corpo de Amélia caído no chão. Não pode contar quantas vezes esmurou o chão de concreto aquele dia, mas após horas incontáveis seus machucados eram profundos e o sangue não só da garota pintava o chão cinza de vermelho, mas como o seu também.
Lembrança Off
Silêncio.
Foi o que se seguiu ao contar o ocorrido com Amélia, ninguém esperava que a história acabasse daquela maneira. Com um suicídio. Pensaram que a garota havia morrido pelas mãos de Zeke, ou de qualquer outra pessoa, mas jamais imaginaram que ela mesma havia tirado a própria vida. Christa possuía lágrimas nos cantos dos olhos e se segurava para não chorar, enquanto o restante digeria tudo que ouviram até o momento. Levi fitava o rosto do moreno que permanecia de cabeça baixa não querendo encarar os olhos de nenhum dos presentes, nunca contou aquilo pra ninguém, a não ser Christa. Foi a tanto tempo, decidiram não tocar mais no assunto, nem Britney, nem Amélia, nem Caroline e nem Tyler.
E agora tudo voltava como um furacão destruindo tudo por onde passava.
O Ackerman queria levantar da poltrona e abraçar o jovem, não conseguia imaginar como deve ter sido os anos que o moreno passou ao lado de Zeke. Viu o homem de postura indiferente e olhos repletos de maliciosas poucas vezes, e sabia o quão a mente do mesmo era suja e perversa e após ouvir os relatos de Christa e Eren, não tinha dúvida. Se visse Zeke, o mataria. Não permitiria que ele tocasse no jovem novamente, e o machucasse mais do que machucou.
- Então... - Armin foi o primeiro a falar com dificuldade quebrando o silêncio crucial - Então vocês fugiram de lá?
- Sim. Depois que a Amélia morreu, Zeke me trocou de cela e lá estava Christa. Eu havia perdido minhas esperanças, mas ao ver que ela estava viva me fez querer sair daquele lugar mais do que nunca. Então planejamos durante semanas, sabíamos os caminhos que deveríamos fazer, já tínhamos tentado fugir várias vezes antes. Da última vez quase tínhamos conseguido, mas fomos pegos.. então finalmente conseguimos, agora eramos só nós dois, era mais fácil sair de lá e sem chamar muita atenção. - Levantou a cabeça encarando todos - Diferente do que pensava o lugar que éramos mantidos como prisioneiros era no centro da capital Russa, então corremos pelas ruas por dias, nos escondendo, até acharmos um abrigo. Ficamos lá, perdemos a noção do tempo e tentávamos juntar dinheiro para sair do país, foi quando uma amiga do meu pai nos encontrou e nos ajudou a sair da Rússia. Foi ela junto ao meu pai que possibilitou que eu e a Christa fossemos para a Suíça. Para Rosey.
- Mas você foi embora. - Annie murmurou com dor na voz.
- Sim, como sabem o Kenny ameaçou o Levi para ele ir embora e assim me deixasse em paz. Ele foi, mas o tio dele não. - Fitou o Ackerman - Depois que você foi embora ele veio atrás de mim, tentou me matar. - Levi o ouviu e seus olhos mudaram para cinzas raivosos em milésimos de segundos, apertando os punhos com vigor querendo enforcar o tio até este asfixiar - Mas graças a Rico eu consegui me livrar dele.
- Espera, quem é Rico? - Armin perguntou.
- Ela é filha adotiva da Hannah, a mulher que me ajudou a sair da Rússia e a se livrar do passado da máfia do meu pai. Esses últimos três anos passei me escondendo e fugindo, não só do meu irmão, mas da organização da máfia em geral. Com a morte do meu pai o poder da alta cúpula passou para mim. Não tive escolha.
- Mas era só você negar essa posição! - Mikasa apontou exaltada - Não é? Você poderia passar ela para seu irmão e assim ficaria livre. Teria evitado tudo isso.
- Não é assim que funciona. - Hanji falou na frente de Eren - Quando o líder da organização de alguma máfia coloca um herdeiro para o suceder, essa sucessão só é validade com a morte do atual líder. Caso o Eren passe a liderança para o irmão, ela só irá valer...
- Com a minha morte, assim como aconteceu com meu pai. - Completou com nó na garganta, olhando para o Ackerman que parecia abalado ao ouvir algo que já sabia, mas que mesmo assim era difícil de escutar.
- Então o culpado do incêndio é o seu irmão? -Jean questionou sério.
- Não, do meu tio. - Levi respondeu levantando da poltrona, não aguentando ficar sentado. Sentia-se nervoso com a situação, incapaz de fazer algo.
- E do Tyler. - Eren falou, e Christa arregalou os olhos prendendo a respiração.
- Esperava, o Tyler que morreu anos atrás é o mesmo que...mas como? - Hanji ficou perplexa perante o nome dito.
- Eu não sei, mas é ele. Tyler está vivo, e quer me matar, só não sei o porque. Eu o vi morto, eu sei que vi...
- Mas não o sentiu. - Christa sussurrou, olhando para Eren afoita - Você não sentiu os batimentos cardíacos dele, o Zeke enganou você. E isso quer dizer que a Caroline pode estar viva, não é?
- Sim. - Respondeu amuado.
A loira botou as mãos no rosto não sabendo se sorria com a informação ou se ficava preocupada. Afinal, onde ela estaria? E porque só Tyler queria matar Eren? O que aconteceu nesses anos para o garoto pensar que Eren era culpado de algo? Qual era a verdadeira história? Eren viu os corpos deles, viu ambos mortos, então como?
- Mas isso não é tudo. - Prosseguiu cansado - Annie... - Chamou a loira que olhou para o moreno, Eren respirou fundo. Não queria contar, mas não tinha escolha. Tyler machucaria a amiga se isso significasse lhe atingir, assim como matou Sasha - O Tyler ao qual estou falando...é o Kol, o cara que você estava saindo.
Todos arregalaram os olhos, e algo que já estava ruim ficou ainda pior com aquela revelação que fez com que os jovens sentissem um mal estar ao recordar do rosto do rapaz que conheceram no evento, e que se quisesse poderia ter os matado ali mesmo.
Um assassino.
- E ele... - Seu tom de voz falhou. "Droga...não posso omitir isso, eles precisavam saber...". Suspirou profundamente pegando forças para que pudesse dizer aquelas palavras em bom som - E foi ele que matou a Sasha.
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