História Minha Salvação - Capítulo LXIII - Levo seu coração comigo

Sua mente disparou um alerta e rapidamente mudou sua atenção do homem à sua frente para atrás deste, e pode ver nitidamente Eren caído no chão enquanto o capanga o levantava para colocá-lo no ombro. "Não...não...não...", pensava desesperado. Não poderia deixar que levassem Eren para longe de si, não poderia deixar que o matassem, não poderia. Não suportaria. Com esse pensamento, desviou do soco do maior e pode o atingir com seu cotovelo várias vezes até este largar a faca no chão e tentar inutilmente se defender das investidas do Ackerman. Levi não enxergava mais nada em sua frente, a única coisa que pensava era em Eren sendo levado para fora da sala, indo possivelmente para Zeke. 

Acertou um chute no estômago do capanga, dando vantagem para lhe dar uma rasteira. Assim que o homem caiu no chão, agarrou o pé do menor e tudo aconteceu tão rápido. Levi só pode sentir a dor do objeto perfurar sua coxa, sentia a lâmina adentrar em sua carne e o sangue escorrendo da ferida. Grunhiu de dor e irá, acertando um chute no queixo do homem conseguindo arrancar a faca da sua perna. Precisava ser rápido, se não perderia Eren. Ignorou a dor e sem hesitar começo uma série de chutes no maior, até ter a brecha perfeita. Sem pensar duas vezes enfiou a lâmina da faca na carótida do maior, girando o objeto e o tirando podendo sentir o sangue espirrar em seu rosto e vestes. Deu alguns passos para trás vendo o homem agonizar no chão, tentando miseravelmente estancar o sangue, mas sem sucesso. Em pouco tempo a poça de sangue se formava ao redor do corpo que perdia as forças, e parava de se debater fitando fixamente o teto. 

O dono dos orbes cinzas mantinha a respiração calma, mas sua mente girava em círculos. "Eren...cadê ele? Preciso achá-lo", pensava desesperado saindo da sala com pressa depois de pegar a única arma carregada que sobrou, porém sua perna dificultava tudo. "Merda...como pude me descuidar assim...", tirou um pedaço da sua blusa amarrando na região ferida, não conseguia agir com o machucado aberto daquela forma e por mais que tivesse acostumado com a dor, não podia ignorar o ferimento latejando toda vez que andava. Continuou seguindo pelo corredor e assim que virou, pode ver Eren sendo carregado pelo capanga à frente.

E graças ao Céus pegou a arma que continha três munições antes de sair do outro cômodo.

Mirou nas costas do homem e acertou vários tiros podendo ver as balas atravessarem o corpo que caiu no chão em milésimos de segundos. Correu podendo segurar Eren em seus braços, vê-lo sem se mexer fez seu coração apertar e sua respiração falhar.

- Eren...

Afobadamente procurou pelos batimentos do jovem e não pode esconder o suspiro de alívio que saiu dos seus lábios ao ouvir o coração do moreno bater perfeitamente. Eren estava bem, só desacordado. Entretanto estavam com vários inimigos ao seu redor...o que faria?

- Eu preciso tirar você daqui. - Falou, segurando o mais novo no colo voltando a caminhar. "Vou deixa você em um lugar seguro, depois volto e procuro pelos outros...", pensava a medida que voltava para o caminho por onde começaram as buscas por Ymr.

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Os olhos azuis atentos tentava achar alguma brecha para fugirem, e cada vez mais via que não tinha outra alternativa à não ser enfrentar Rod. Ainda tinha sua arma, mas ela estava um pouco distante de si, e se quando se mexesse seu pai percebesse e atirasse? Era arriscado, mas não havia outra forma. Pelo que o mais velho lhe falou, havia bombas pela casa inteira, ninguém iria sobreviver se ficasse lá dentro e sabia que Eren, Levi , Mikasa, Annie e Rico ainda estavam em busca de Ymr. Precisava avisar todos para fugirem, e a única maneira era matando Rod para que ela e a morena pudessem sair daquela sala.

- Christa... - Ymr chamou a loira que parou de encarar Rod para fitar a maior. 

Pode ver a preocupação nos olhos castanhos e o medo explícitos.

- Nós vamos sair daqui. - Garantiu baixinho - Vai ficar tudo bem. Ninguém vai morrer. - Ymr fitava os orbes azuis que assim como os seus estavam marejados - Você não vai morrer, eu não vou permitir. Temos uma vida inteira para viver juntas se lembra? Eu nem sequer pude pedir sua mão em casamento ainda. - Sorriu triste deixando uma lágrima escapar 

- Não posso lhe perder Christa...

- Você não vai, Ymr eu... - Porém foi interrompida pela risada do homem.

- Acham mesmo que vão conseguir fugir depois de tudo que falei? Vocês já estão mortas. Falta poucos minutos para as bombas explodirem e essa casa ir para os ares, com vocês junto claro. - Disse com ironia - Não fiquem tão tristes, vocês terão a chance de morrer juntas. Isso é mais do que justo.

- Você é um doente! Deixou que matassem minha mãe e minhas irmãs, não se importou com nenhuma de nós! Deixou que o Zeke me levasse e me torturas-se! Você é um monstro! - Gritou a loira com ódio, pela primeira vez se permitiu sentir raiva por aquele homem que tanto à feriu e tirou sua família de si.

- Pode não parecer, mas eu me importava com sua mãe. Mas ela sabia no que estava se metendo quando aceitou abrir as pernas pra mim. - Soltou uma risada audível, balançando levemente a cabeça voltando a encarar a loira com seus orbes gélidos - Mas tenho que confessar, quando olho para tudo que fiz quero que saiba que sinto arrependimento. - Christa se assustou de imediato, mas sua expressão mudou para confusão ao ver o sorriso cruel surgir - Arrependimento por não ter causado mais dor. 

A garota dos olhos azuis apertou suas mãos em punhos e pode sentir o ódio crescer em cada poro do seu corpo, um sentimento tão forte e tão doloroso que a única coisa que desejou foi poder matar aquele homem com suas próprias mãos e fazê-lo sofrer por tudo que lhe fez passar. Christa não era impulsiva, nunca fora, mas não podia mais se controlar ao saber que aquele ser humano maldito não se arrependia de nada. Nem por sua mãe ou por suas irmãs, todas estavam mortas por culpa dele. 

Ele precisava pagar.

E com esses pensamentos que fez com que largasse a mão de Ymr e se preparasse para correr até a arma jogada no chão. Não pensou no tempo, nas probabilidades, nem no fato de talvez levar um tiro, só pensava em vingar aqueles que amava. Mas antes de sequer se levantar, viu Ymr passar em sua frente, não pode a impedir e nem pensar nessa possibilidade. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, a morena pegou a arma do chão e se preparou para mirar em Rod, mas devia saber que tal impulso viria com um preço. E por essa razão, assim que virou-se e apertou o gatilho imediatamente sentiu uma dor forte na região peitoral, como uma pontada que a fazia perder o ar. Arregalou os olhos tentando puxar o ar de volta para os pulmões, mas era inútil. Sentiu dor logo em seguida, largando a arma e caindo no chão.

- YMR! - Christa gritou o nome da namorada, indo desesperada até a garota que colocava a mão na região ferida - Não, não, não... - Dizia entre lágrimas, vendo o sangue manchar a roupa e se espalhar pelo assoalho.

- Christa.... - Sussurrou o nome da loira com dificuldade, olhando para o rosto repleto de angústia da menor que pedia que tudo não passasse de um terrível pesadelo - Christa...eu...

- Não, não fala. Você precisa poupar forças, eu vou te tirar daqui... - Balançava a cabeça tentando pensar, pressionando suas mãos na região para tentar estancar o sangue - Você vai ficar bem, você vai...você precisa ficar...

Segurou um soluço. Não sabia o que fazer. Não conseguia pensar, só visualizava o sangue vermelho vibrante manchando suas mãos.

Ymr estava morrendo.

Sentia isso. 

Sabia disso.

- Christa...eu consegui... - Disse com dificuldade pelo sangue que começava a sair de seus lábios - Eu consegui, eu o matei...

- O que? - Não entendeu do que a maior falava, mas bastou olhar para trás e ver seu pai caído no chão com um tiro certeiro em seu peito e os olhos arregalados opacos, já sem vida.

"Meu pai está morto? Ela conseguiu o acertar...Ymr...", pensou sentindo a mão da morena apertar a sua sutilmente lhe fazendo a encarar.

- Você está livre agora... - Sorriu de canto - Vai poder ter a vida que sempre quis, vai poder viver de novo...

- Não... - Negou, não controlando as lágrimas - Eu não quero viver sem você...eu vou te tirar daqui, precisamos de ajuda. Um médico não sei...Rico...ela vai saber ajudar. - Falou como se tais falas servissem para ela própria e não para Ymr - Vamos sair daqui e vamos ajudar você. Você não vai morrer entendeu? A Rico e o Eren vão te ajudar. - Fitava os orbes castanhos que assim como os seus possuíam lágrimas - Ainda temos que nós casar. - Sorriu triste com lágrimas vindo a todo momento - Não me deixe... -  Pediu desesperada, segurando o rosto da maior com uma mão enquanto a outra continuava  pressionando o ferimento.

Ymt apertou levemente a mão da loira como se a consolas-se.

- Está tudo bem, eu fiz o certo para te salvar. Eu amo você Christa, e não me arrependo de nada...agora você pode viver como sempre quis, me prometa...

- Ymr...

- Me prometa que vai viver, por favor...que vai contnuar, você precisa viver, terminar sua faculdade e quem sabe amar de novo...

- Não. - Negou com a cabeça querendo que aquilo acabasse e voltasse para segundos atrás. Onde Ymr estava bem - Eu preciso de você...por favor fica...

- Eu...amo você, sempre vou amar você... - Fitava fixamente os orbes azuis, sua voz ficava fraca e perdia as forças. Seu tempo estava acabando, sabia disso. - Espero que não se esqueça disso...nunca...

- Eu também amo você... - Christa dizia com dificuldade por conta das lágrimas.

- Então..me prometa, prometa que não vai desistir, que vai seguir em frente... - Christa negou, não saberia como iria viver depois de perder quem ela mais amava, não podia, não conseguiria - Por favor, se...se não, não vou conseguir ir em paz...

- Eu... - Fechou os olhos com força, como se as palavras se perdessem em meio a tantos sentimentos dolosos, o ar parecia faltar naquele momento - Eu prometo...eu prometo.

 Abriu os olhos vendo os orbes castanhos se fecharem, mas não antes de ver um pequeno sorriso singelo de Ymr ao lhe ouvir. E então veio o último suspiro da amada, e Christa sentiu a mesma soltar sua mão lentamente até não sentir mais o toque em sua pele. Não sentia mais o calor tão conhecido.

- Ymr? Não, não, não... - Christa abraçou o corpo da namorada, chorando em cima do corpo que já não havia mais vida - Ymr...não me deixa.

Era assim que se sentia, sem vida alguma ao ver a pessoa que amava morrer em seus braços. E nesse momento nada mais valia a pena, a ideia de sair daquela casa sem Ymr não era uma realidade que queria encarar.

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"Cade elas? Merda, preciso tirar todos daqui...", Levi pensava enquanto terminava de derrubar mais um dos homens de Rod. 

Seu coração se encontrava acelerado e suor descia por sua testa, mostrando o esforço que fazia junto a respiração entre cortada.

Tentava manter sua mente limpa em meio a tantos pensamentos e preocupações, tentava focar no seu objetivo, mas era cada vez mais difícil. Sua frustração aos poucos lhe consumia e ela se dava por vários motivo: não achava Mikasa, Annie, Rico, Christa e muito menos Ymr naquela casa. Depois de ir para os túneis subterrâneos com Eren desacordado em seu colo, resolveu que seria mais seguro deixar o moreno perto da saída do tunel, assim ninguém do grupo de Rod ou Zeke o veria e saberia que o jovem estaria seguro até recobrar a consciência. Entretanto já andava por aqueles corredores à alguns minutos e nada delas. Não podia ir embora, não as deixaria, mas até então não havia as encontrado e sua preocupação não se dava só a elas, como a Eren e Zeke. 

E se Zeke achasse Eren? E se Eren acordasse e resolvesse voltar para a casa e acabar sendo capturado? E se o matassem?

Sentia que precisava tirar todos dali logo antes que algo ruim acontecesse. 

O Ackerman sempre ouvia muito a sua intuição, poderia se dizer que era um de seus artifícios durante a época que trabalhava na máfia, e naquele exato momento ela lhe dizia que algo de ruim iria acontecer. Levi não era de ignorar essa intuição, mas quis acreditar estar errado e que na realidade nada ocorreu de fato. Mas era só uma forma de se auto consolar. Não podia perder tempo, precisava achar todos rápido. 

Ouviu um barulho em uma das salas do imenso corredor, pegou a arma que havia caído de um dos capangas e caminhou até a sala em silêncio. Quem quer que fosse não o pegaria desprovido, e com isso em mente respirou fundo e apontou a arma para dentro do cômodo esperando ver os homens de Zeke ou talvez até o próprio, mas se surpreendeu ao se deparar com Mikasa agachada ao lado de Annie e entre as garotas se encontrava Rico, aparentemente desmaiada com um ferimento na barriga onde Annie ajudava a estancar o sangue com um pedaço de pano.

- Levi... - Mikasa sussurrou em alívio, agradecendo aos céus por não ser mais homens querendo lhes matar.

- O que houve? - Perguntou se aproximando das garotas enxergando o rosto de Rico inconsciente. 

Imediatamente foi checar os sinais vitais da mesma, respirando em alívio ao notar que ainda se encontrava viva. Visualizou o ferimento, vendo o sangue sair da ferida podendo constatar que não era tão profunda, mas ainda sim precisava de cuidados.

- Estávamos procurando pela Ymr quando ouvimos barulhos em um dos corredores. - Explicou a asiática - Quando chegamos era Rico com mais três capangas, mas Christa não estava mais com ela. Tentamos ajudar ela, mas em meio aos tiros um dos homens conseguiu acertar ela. Annie e eu atiramos neles e os matamos, mas Rico estava perdendo muito sangue e tínhamos que tirar ela daqui...

- Mas era impossível, a cada corredor mais homens apareciam e ficamos sem balas. - Annie interrompeu a morena, fitando o Ackerman - Então trazemos ela pra cá, mas já havia perdido a consciência e ela não acorda.

- Tudo bem a gente tem que...

- Espera! Cadê o Eren? - Annie interrompeu o mais velho ao notar que o moreno não o acompanhava.

- Ele...ele não... - A voz de Mikasa embargou ao imaginar o pior das hipóteses.

- Não, ele está bem e vivo. - Esclareceu - Mas acabou perdendo a consciência quando um dos caras acertou a cabeça dele. Achei melhor tirar ele daqui.

- Então onde ele está?

- Nos túneis subterrâneos, está perto da entrada por onde viemos, e preciso que vocês levem a Rico pra lá e tirem ela e o Eren daqui. - Respondeu Mikasa, lhes entregando a arma - E não voltem.

- Mas e você? Não podemos deixar você aqui! - Annie retrucou inconformada, fitando o Ackerman que suspirou.

- Olha escuta, não sabemos onde Ymr e Christa então e precisamos encontrar elas, mas não vou conseguir fazer isso se não souber que vocês, Rico e o Eren então seguros. Preciso que façam isso...por favor.

Após o pedido do mais velho Annie se calou sabendo que o mesmo estava certo, não poderia deixar Rico naquela casa no estado em que a mulher se encontrava e não poderia permitir que Eren ficasse em perigo. Fechou os olhos aceitando as palavras de Levi, balançando a cabeça.

O menor ajudou as garotas a levantarem Rico e amarrou o pano na cintura da mulher para que o sangramento diminuísse. 

- Certo vocês voltem por esse corredor pela direita, vão reto e só parem quando chegar na sala. A cozinha fica no terceiro corredor, na terceira porta. 

- Tudo bem. - Annie colocou o braço de Rico no ombro, indo para a porta junto com Mikasa que antes de sair da sala voltou a olhar para o Ackerman.

- Só toma cuidado, o Eren precisa de você. - Disse notando a pequena surpresa do mais velho ao lhe ouvir - Então volta inteiro se possível. Por ele.

- Eu vou. - Garantiu, vendo a asiática concordar levemente e sair pela porta o deixando sozinho.

Ela tinha razão, não poderia deixar Eren sozinho, não com Zeke ainda atrás dele. Precisava achar Ymr e Christa, e saírem dali para bem logo. Ninguém estava mais a salvo, e aquilo lhe assombrava. Contudo não era hora de pensar, precisava agir e logo.

Algo lhe dizia que não tinha muito tempo. 

Passou as mãos em seus cabelos, fitando suas mãos que possuíam respingos de sangue. Voltará a matar pessoas mesmo prometendo a si mesmo que não o faria mais, mas aquela vida sempre voltava para si. Era como um imã, e não conseguia fugir. Só esperava que Eren não precisasse passar por mais dor, mas era tudo que ele sentia. Dor por aqueles que amava.

Se recompôs, indo para o corredor que veio mas dessa vez indo pra direção contrária que as garotas foram.