Bring me to Life – Evanescence
Silêncio. Era tudo o que eu ouvia quando abri meus olhos, e a claridade do teto extremamente branco fez com que eu voltasse a fechar de novo. Onde eu estava? Não conseguia me lembrar, mas de repente a voz de Luke soou na minha cabeça e eu me sobressaltei novamente, me sentando na cama. Aonde ele estava? Será que ele está bem?
-Alex, calma. O Luke tá bem. – olhei pro lado focando os olhos em Zack, que segurava a minha mão. – Como se sente?
-Não sei dizer... Tô com um pouco de dor de cabeça, mas nada além disso. Cadê o Luke e... estamos no hospital? – perguntei olhando em volta.
-Você me assustou pra caramba e a todo mundo quando desmaiou assim que a gente achou vocês. Sim, estamos no hospital e o Luke está no final do corredor. – ele respondeu. Notei as olheiras escuras em seus olhos. Ele tinha passado a noite acordado?
-Há quanto tempo eu estava desacordada?
-Doze horas. – Zack falou coçando os olhos e eu arregalei os meus. – Eu e o pessoal estamos nos revezando entre ficar com você e o Luke. Graças a Deus não tivemos mais perdas.
-Ele já acordou? Já teve alta? – perguntei ansiosa.
-Não. Combinamos de avisar caso um de vocês acordasse. – Zack respondeu digitando no celular. – Pronto. Agora eles já sabem que você acordou e está bem. – meu melhor amigo apertou minha mão, fechando os olhos com força.
-Zack, o que foi?
-Eu estava com tanto medo de perder vocês... – quando abriu os olhos, estavam marejados e avermelhados. – Logo os dois mais importantes pra mim, minha melhor amiga e meu primo, que é mais como um irmão mais novo. Se eu perder um de vocês... – as lágrimas dele já caíam livremente e eu o interrompi. Não ia deixar que continuasse a frase.
-Shh... Nada vai acontecer, eu estou bem e você mesmo disse que o Luke também. – o acalmei e Zack levantou os olhos.
-Desculpa. Você acabou de acordar, eu deveria deixar você se recuperar e não ficar despejando um monte de coisas em você. – disse fungando um pouco. Balancei a cabeça, apertando sua mão.
-Zack, está tudo bem. Eu imagino quão desesperado você deve ter ficado. Agora respira – pedi e ele o fez – Se acalma e me responde: mais alguém se feriu?
-Não que eu saiba. Os bombeiros ainda estão fazendo buscas, mas nenhum corpo foi encontrado nos escombros. – ele disse e suspirou como se fosse continuar, mas se interrompeu.
-Aconteceu mais alguma coisa? – perguntei preocupada. Zack negou com a cabeça, desviando o olhar do meu. – Fala logo, eu aguento! – Mais uma negativa. – Zachary...
-Tá bem, tá bem. – ele falou rápido, me cortando. – Estão dizendo que a culpa pelo incêndio é da banda, por usar um espaço tão pequeno pra acomodar tantas pessoas. – Zack relatou e eu arregalei os olhos, indignada.
-O quê?? Como se atrevem? A culpa é do idiota do dono do pub, que mesmo com o lugar estando em reforma quase implorou pra eles irem tocar lá! – disparei a falar, quase gritando e fazendo com que o aparelho que media minha pulsação acelerasse. Onde já se viu?! Voltei a me recostar no travesseiro, soltando um gemido de dor, já que a dor de cabeça deu o ar da graça novamente, sem mencionar que minhas costas ainda doíam por causa da batida que eu dei quando Luke me empurrou. Zack me segurou pelos ombros antes de prosseguir.
-Eu sei disso e você também, mas não foi isso o que aquele verme disse pros jornais. A versão dele é que foi a banda que ficou insistindo pra se apresentar lá e ele, sob o aviso das afiações não estarem boas, tentou impedir, mas a banda não deu ouvidos e plugou todos os instrumentos mesmo assim.- Zack terminou se falar, soltando um suspiro derrotado. – Eu e os meninos não sabemos o que fazer. Vão cair matando em cima da gente e não temos provas de que a história aconteceu ao contrário, e se isso acontecer, a carreira deles vai acabar antes mesmo de ter deslanchado... Eu ia te contar depois, pra você poder descansar, mas sua curiosidade e teimosia não deixaram. – ele desabafou.
Desgraçado, filho da puta, mentiroso, mesquinho, idiota, aproveitador... Tudo isso (e muito mais) passava pela minha cabeça. Minha vontade era sair deste hospital, achar aquele imprestável e dar na cara dele até eu esquecer essa história. Ai que ódio!
-Quando eu posso sair daqui? – foi a única coisa educada que eu pensei em dizer. Zack olhou para cima, tentando se lembrar.
-A enfermeira disse que já era pra você ter recebido alta, mas vão te deixar em observação por mais 1 ou 2 dias para terem certeza. – respondeu. Ai, que ótimo. Tem um idiota tripudiando em cima deles e nem sair desse lugar eu posso. Maravilha.
-Okay, deixa eu pensar... Quando eu posso ver o Luke? – perguntei, já esquematizando os próximos passos.
-Assim que você tiver alta. Alex, descansa até amanhã e aí a gente cuida de tudo isso. – ele pediu. Meneei a cabeça. Zack riu baixo. – Você não vai desistir, né? – não respondi. – Pelo menos eu posso ajudar em alguma coisa?
-Pode. Deixa seu celular aqui comigo e me diz onde está o meu. – disse e Zack tirou os dois aparelhos do bolso, entregando-os para mim.
-O que você vai fazer? E caso minha opinião ainda conte pra alguma coisa, eu ainda prefiro que você deixe isso pra amanhã, pra resolver isso com a cabeça fria.
-Zack, se eu adiar, é capaz que eu sinta até dó daquele imbecil. E outra, se eu agir agora, as pessoas vão ficar do nosso lado por eu estar resolvendo uma crise enquanto me recupero no hospital. – expliquei e Zack balançou a cabeça, seguindo meu raciocínio e por fim,concordando.
-Tem razão, então tudo bem. Não totalmente, mas já que não tenho outra escolha... Mas antes de colocar seu esquema em prática, fala com os meninos e as suas amigas. Estavam todos muito preocupados. – Zack disse me dando um beijo na testa e se dirigiu à porta, deixando-me ver, ao abrir, meus amigos aliviados e até emocionados.
Ao passar pelo corredor, a enfermeira nos alertou que só podia entrar um por vez no quarto. Zack avisou que ficaria com Luke enquanto isso. Um a um, todos conversaram comigo e a cada visita, mais lágrimas de saudade e alívio caíam de ambas as partes, mas sem dúvidas, quem chorou mais, por incrível que pareça, foi a Lani. Até a Mia passou pra falar comigo e eu notei um brilho vidrado em seus olhos, indicando que havia chorado recentemente, mas decidi não comentar nada. Até fiquei feliz de saber que ele se preocupava comigo também.
Depois de estar levemente recuperada das fortes emoções, resolvi colocar a mão na massa e tentar reduzir parte do problema. Me lembro de ter ouvido Zack discutir sobre as condições do pub ao telefone, há algumas semanas e era por aí que eu ia começar, pois precisava de provas. Liguei para a operadora do meu amigo para pedir gravações de conversas do contato em questão; demorei um pouco, mas consegui.
Em seguida, mandei um e-mail para a senhora Brown, ressaltando a urgência do assunto. A resposta chegou em pouco tempo, com tudo o que eu havia pedido. Ótimo. Eu tinha todos os elementos que precisava para esclarecer a história.
Ouvi a gravação da conversa algumas (muitas) vezes, só para garantir a culpa no cartório daquele empresário infeliz. Também liguei para o senhor Williams, digo Mark, já que ele é um empresário e entende muito da área. Ele disse que iria pesquisar para ver se tínhamos algum apoio na Lei para nos ajudar, e assim que descobrisse iria me ligar.
Em nenhum momento eu deixei de pensar em Luke, ele poderia ter morrido por causa da ganância do dono do pub e se dependesse de mim, ainda ia pagar caro por isso. E toda vez que eu perguntava sobre meu namorado a resposta era “Ele está bem”, seguido de uma mudança de assunto. As pessoas tem que entender que depois que você passa por um evento “traumático”, nada mais te surpreende. Mas eu iria resolver toda essa confusão até amanhã e então ficaria ao lado de Luke até ele sair daqui.
Comecei a escrever uma nota à imprensa relatando nossa versão dos fatos e tentando esclarecer todos os buracos deixados para trás na primeira versão que lhes foi contada. Assim que terminei, revisei para ver se tinha algum erro, mas estava um tanto insegura, então resumi a história para Mia e pedi para que ela desse uma olhada. Arrumamos uns poucos erros e aí peguei os contatos enviados pela sra. Brown. Mia disse que estava cansada e que estava indo para casa, mas que o namorado ficaria. Assim que ela se foi, voltei a me concentrar e mandei a nota, anexando a gravação das conversas, enviando à maioria dos meios de comunicação que tinham relatado a história até o momento. Deixei bem claro nos e-mails que eu e Zack estaríamos à disposição, porém nenhum membro da banda falaria em público sobre o assunto.
Voltei a sentir minha cabeça latejar, mas eu não queria parar, não agora. Precisava provar a inocência dos meus meninos. Algumas horas se passaram e finalmente recebi o retorno de Mark (ainda é muito estranho chamá-lo pelo primeiro nome). Segundo suas pesquisas legislativas, o Above The Noise não deveria receber nenhuma atração que diminuísse ainda mais seu espaço já reduzido pela reforma; tinha que ter tomadas suficientes, caso houvesse alguma apresentação que as utilizasse e claro, o proprietário deveria pagar uma indenização caso alguém se machuque dentro do estabelecimento. Ele também se disponibilizou para ajudar caso ainda precisássemos dele. Agradeci milhares de vezes e respondi que seria muito bom.
Quando estava prestes a deixar o cansaço me abater, dei uma última olhada em meu celular e vi que os jornais aos quais eu enviei a história tinham respondido. Assim como eu esperava, todos aceitaram meus termos e condições, já que não queriam perder a matéria. Ufa, quase resolvido. Pedi um último favor a Mark: que ele fosse à mídia, contasse sobre sua relação com a banda e apresentasse o resultado de sua pesquisa. Quero ver quem vai contrariar tantas provas assim. O empresário afirmou que o faria e só depois dessa confirmação eu consegui relaxar um pouco e dormir.
(...)
Três dias. Esse é o período de tempo que estou uma pilha de nervos e o por quê? Porque Luke ainda não acordou. Era por isso que ninguém me contava nada. Ele não se mexe, não acorda e nem dá o menor sinal de que está realmente consciente. Os médicos já me afirmaram (várias vezes) que ele não está nem há probabilidade de entrar em coma, o que me deixou muito aliviada, porém a pancada que ele levou na cabeça foi bem forte, então todos temos que esperar para ver se há ou não sequelas.
Ah, sim. Sobre a questão do incêndio, depois que apresentamos todas aquelas provas mais o depoimento do senhor Williams, foi feita uma perícia para averiguar quem estava realmente certo. Acabou que os peritos acharam as extensões queimadas, mediram o espaço do local e constataram que o erro foi de total responsabilidade do proprietário do pub; e assim que souberam que isso acarretou na entrada minha e do Luke no hospital, disseram que podíamos processá-lo. Para não ter mais essa dor de cabeça, o dono da Above The Noise nos sugeriu uma boa indenização durante um ano, em troca de não abrirmos um processo contra ele. Zack aceitou e agora vamos todos ganhar uma grana preta do cara. Bem feito! Embora isso não diminua nem um pouco os danos físicos do meu monstrinho, é o máximo que podemos ter no momento.
No entanto, o fato de Luke não ter acordado ainda faz com que meu coração doa cada vez que olho pra ele. Eu só saio do sofá no canto ao lado da cama quando Zack me obriga a ir pra casa tomar banho e comer direito e mesmo assim é depois de muito argumentar.
Voltei ao meu posto, depois do banho e Zack deixou um beijo em minha testa, dizendo que ia buscar café pra gente. Assenti sem prestar muita atenção e meu melhor amigo deixou o cômodo. Andei em direção a um Luke desacordado e parei ao lado da cama. Puxei uma cadeira para me sentar ao seu lado e sem mais aguentar não tocá-lo, passei os dedos por seus cabelos, me lembrando das vezes que o fazia enquanto ele dormia em meu colo e o sorriso que se formava em seus lábios, mesmo dormindo. Aquilo fez meu coração apertar ainda mais contra o peito.
Zack voltou e me entregou um papel assim que eu recebi alta e disse que quando as enfermeiras foram tirar os pertences de Luke das roupas para colocar aquela camisola hospitalar e tinha o meu nome nele. Eu não tinha tido coragem de abrir o papel, mas o carregava sempre desde que me foi entregue e diante do aperto forte em meu peito decidi abrir e ler. Era a letra de uma música. Disconnected. Meus olhos começaram a lacrimejar a cada verso que lia, até que minha visão ficou embaçada e eu pisquei, deixando as lágrimas caírem. A música era linda.
-Luke, volta pra mim. – sussurrei com a voz embargada. – Volta pra mim, por favor. Eu preciso de você, Luke. Sem você sou totalmente perdida, não sei o que fazer. Preciso de você me chamando de chatinha pra prosseguir todos os dias, então volta, por favor. Eu te amo muito, meu monstrinho. – segurei sua mão inerte em busca de uma reação. Nada.
Abaixei a cabeça, derrotada, mas não soltei minha mão da dele. Tentava conter o choro, no entanto, só me deixava com mais vontade de desabar e eu acabava soluçando. Após alguns minutos (ou horas, não sei dizer) ali, estava tentando arranjar forças para me levantar e ir tomar café do lado de fora do quarto quando senti meus dedos serem levemente apertados. Levantei o olhar para a região e os dedos de Luke começaram a se fechar em volta dos meus lentamente. Ao encontrar seu rosto, ele começava a mexer a cabeça, como se estivesse desconfortável naquela posição e então finalmente abriu os olhos. Varreu o pequeno espaço com os olhos, dando-se conta de onde estava e os focalizou em mim, porém não senti o calor sempre presente em seus olhos extremamente azuis. Luke parecia me analisar e então suspirou. Sua voz estava rouca quando fez a pergunta que fez meu coração praticamente parar de bater.
-Okay, desisto. Quem é você?
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