Sakura chegou no colégio com sua típica cara de poucos amigos e notou a comoção na frente do quadro de avisos. Várias pessoas indo de um lado para o outro, a gritaria bem naquela hora da manhã e o fato de estar com fome, contribuíram para seu mau-humor. Por que diabos esses idiotas berravam tanto? A maldita guerra já tinha acabado então não fazia sentido essa barulheira.
Ignorando as pessoas que não eram de sua turma, o bicolor seguiu seu caminho para a sala de aula. Não estava tão cheia assim, mas ele sabia que isso não iria durar muito. Pouco a pouco, seus colegas foram entrando com sua tradicional animação e conversas, as quais Sakura não dava a mínima para saber do que se tratavam.
Sentou em seu lugar habitual e esfregou a barriga, levemente agoniado pelo vazio e amaldiçoou Kotoha por não abrir bem quando não tinha mais estoque de macarrão em casa. Pior, nem um dos moradores deu-lhe alguma guloseima. Se bem que não passou pela rua da padaria. Meus parabéns, Sakura, você é um idiota.
Bem, não era a primeira vez que sentia fome… mas foi bem incomum desde que veio para essa cidade, talvez estivesse acomodado de mais.
Sem muita opção, já que não era viciado na porcaria do celular, o qual desligara no meio do caminho pelas mensagens irritantes, o rapaz deitou a cabeça na mesa. Se Sugishita conseguia ignorar os problemas dormindo, ele também conseguiria. Bem, não dormiu, entretanto, conseguiu desligar o cérebro o suficiente para descansar um pouco. Salvar a cidade não era para qualquer um.
Infelizmente sua paz não demorou muito para ser destruída assim que seus amigos mais próximos apareceram. O coro de vozes também foi alto o suficiente para fazer o meio branco levantar a cabeça.
— Sakura-san! Bom dia! — o raio de sol ambulante se aproximou com seu sorriso.
— Bom dia, Sakura-kun. — o pirata disse em seu tom calmo.
— Essa vai para a coleção! — o rosado bateu uma foto da cara de sono do capitão.
— Adoro a estética do nosso Sakura! — Tsugeura comentou animado.
— Bom dia… — resmungou, se arrumando na cadeira.
— Então, tá animado? — Nirei sentou ao lado de Sakura que o olhou confuso.
— Para quê?
— Você não viu o grupo?
— Vocês falam de mais! Não tenho paciência.
— Vamos fazer um acampamento. Claro, não todos de uma vez ou a cidade viraria do avesso. — O alaranjado disse fazendo seu shake de banana. Sakura sentiu o estômago borbulhar um pouco.
— Calma, um acampamento?
— Sim! Vai ter várias coisas divertidas. Pelo que tudo indica, será em um parque na cidade vizinha onde tem até um lago secreto! — Kiryu mostrou uma foto do lugar para ele.
— Hm… o que tem de divertido em está no meio do mato?
— Que isso, Sakura-san, podemos pescar no lago, fazer trilhas, andar de tirolesa, assar marshmallows e nos encher de histórias de terror! — Nirei explicou e Tsugeura fez o sinal da cruz.
Sakura suspirou.
— Vocês não vão parar de encher meu saco se eu não for, né?
— Que bom que sabe disso, Sakura-kun! — Suo deu um sorrisinho. — Vai ser um bom momento para todos relaxarmos.
Ficaram conversando mais um pouco e as aulas deram início. Sakura ficou surpreso quando, em algum momento, um bolinho apareceu em sua mesa, porém nem pensou duas vezes antes de comer aquilo antes que o professor virasse. Ouviu a típica risadinha de Hayato e mandou o dedo do meio para ele. Odiava o fato daquele cara ter um olho ótimo, principalmente quando se tratava de saber como ele estava.
Suo era alguém misterioso. Vivia fazendo piadas, tendo um estilo de luta único e era respeitado por todos. Também era super carinhoso com Nirei, já que era seu pupilo e Sakura achava adorável como os dois se davam bem.
Suo adquiriu a mania de fazer cafuné em momentos aleatórios. Sakura reclamou de início, como sempre, mas sendo uma pessoa carente, acabou aceitando. Isso até levou Kiryu a ficar abraçado com ele em algum momento, mas ele logo correu pelo olhar mortal e territorialista do você capitão. Sakura achou isso estranho, mas pouco se importou.
Em meio a seus devaneios na aula, lembrou que foi por conta da ideia de Suo que ele e Nirei foram ao shopping juntos, decididos a dar um guarda-roupa decente para o bicolor. Foi um dia até que divertido, gerando várias fotos hilárias e até hoje Sakura não superava os elogios que recebia de seus colegas dizendo que ele daria um ótimo modelo. Porém, o que marcou esse dia na cabeça do meio a meio foi um momento no provador.
A blusa que Nirei escolheu havia entrado com facilidade. Sakura achou legal que exibia um pouco de seu corpo, mas o problema foi na hora de tirar. Ele havia reclamado disso e, pouco tempo depois, Suo entrou no provador.
— Qual o problema, Saku-
Ok, talvez o olhar que Hayato deu ao ver a blusa colada em Sakura não tenha saído da mente do bicolor.
— E-Eu não tô conseguindo tirar. — Tentou agir como se estivesse normal e isso pareceu trazer o outro de volta à Terra.
— Certo, eu te ajudo com isso. Puxar de mal jeito pode acabar rasgando.
Sakura pode sentir o coração errar uma batida com o toque em sua cintura e suspirou quando os dedos entraram em contado com sua pele para conseguir segurar a barra da camisa. Suo foi levantando a blusa de uma forma que o bicolor não sabia se ele estava aproveitando para ser lento ou só estava sendo cuidadoso.
— Levanta os braços.
O mais baixo seguiu a ordem, foi um pouquinho mais complicado, mas logo se viu livre quando a cabeça saiu, dando mais liberdade. Esse sentimento sumiu no momento em que encontrou com o olhar do outro tão de perto. Em algum momento suas mãos estavam presas acima da cabeça, ainda com a blusa ali, e Sakura suspirou com a parede gelada do cubículo em suas costas. Suo estava bem perto, olhando com admiração e talvez… desejo?
Sakura deu um pulo quando o sinal tocou. Quanto tempo ficou perdido naquela lembrança? Meu Deus, o que teria acontecido se Nirei não tivesse voltado? Não era momento para pensar nisso!
Se bem que depois desse dia, Sakura começou a pensar demais antes de dormir e suas bochechas esquentaram com o pensamento de que os lábios de Hayato poderiam ter tocado os seus. Às vezes admirava demais seu vice capitão. O jeito como ele ria, ou quando ajudava uma idosa com as compras, resgatando gatos de árvores, ensinando Nirei a se defender… ou quando não estava com o uniforme da Furin… seu estilo meio tradicional era algo bonito também.
Bom, não era hora para isso! Tinham um acampamento para planejar então nada de ficar todo apaixonado. Sim, Haruka sabia dos sintomas dessa doença após conversar com Tsubaki. Foi bem vergonhoso ao descobrir sua paixão e a garota lhe dava dicas pelo celular ocasionalmente. Mas isso não vinha ao caso.
Para discutir sobre o acampamento com mais detalhes, os capitães foram convocados para um almoço, Umemiya não tinha outra forma de resolver as coisas se não com comida. E lá foram os três para a parte de cima do colégio. Sendo sincero, todos apenas queriam encher a barriga com o banquete que lhe aguardavam.
Suo arregalou o olho quando um toque sutil em sua cintura o impediu de sair da fila e encontra os orbes coloridos, que diziam para ficar quieto. Isso vinha acontecendo faz algum tempo. Sua desculpa “estou de dieta, obrigado” não funcionava mais. Bem, pelo menos não perto de Sakura.
Talvez, só talvez, Suo teve alguns momentos ruins depois da guerra e isso refletiu em sua alimentação. Já não era de comer muito, foi uma decisão que tomou para provar a todos que podia cuidar de si, mas o tiro saia pela culatra. Sim, ele tinha hábitos saudáveis, estava em forma e evitava comer besteiras. Porém, a adrenalina da guerra trouxe-lhe memórias que gostaria de esquecer.
Após passar dois dias sem conseguir ingerir absolutamente nada além de água ou chá e manter sua rotina como se estivesse tudo normal, no terceiro dia Suo iria continuar com o teatro, mas um bicolor intrometido o seguiu durante a saída.
Bem, não sabia da existência de Sakura nas proximidades até quase cair no chão pela tontura. Seu corpo sucumbiu ao cansado e foi assim que descobriu como seu belo capitão tinha um dos abraços mais quentinhos que poderia receber. Sakura fez a questão de levá-lo para casa, seguindo as instituições quase inaudíveis, e foi uma experiência peculiar.
— Cadê a chave?
— No meu bolso esquerdo. Eu consigo abrir.
Sakura não deixou de segurá-lo e foram tirando os sapatos ao entrar.
— Tá meio tarde, cadê seus pais? — perguntou o meio a meio ao colocá-lo no sofá.
— Estão em uma viagem de negócios. Não vão voltar hoje.
— Merda… — ouviu Sakura resmungar baixinho e foi impossível não ficar surpreso com a mão dele em sua testa, depois em seu pescoço. — Não tem febre, o que você tá sentindo?
— Um pouco de dor de cabeça… cansaço e a visão meio turva.
— Tenho quase certeza… — o estômago do ruivo fez um barulho alto, o deixando com uma leve vergonha. — Sabia! Isso é falta de comida.
Antes que pudesse protestar, o bicolor já havia saído do cômodo. Hayato suspirou, sabendo que o colega era cabeça dura e resolveu tirar a parte de cima do uniforme. Ainda meio lerdo, dobrou a roupa e retirou seus brincos, como de costume. Sentia-se fraco demais para ver o que o seu capitão fazia, então apenas deitou a cabeça no sofá e encarou o teto, vendo algumas bolinhas pretas piscarem em sua visão.
Não tinha a mínima ideia de quanto tempo havia passado, só voltou para a terra quando um cheiro gostoso ficou mais forte no ambiente. Olhando para o lado, Sakura tinha um potinho com alguma coisa pastosa dentro. Era um pouco amarela e tinha algum tipo de pó misturado…
— Não adianta fazer essa cara, você vai comer.
— O que é isso?
— Banana amassada.
— Eu não sou mais criança para comer coisas assim.
— E olha a minha cara de quem se importa.
— Agradeço, Sakura-kun, mas não é necessário.
— Suo, para de frescura e come.
— Não é frescura, eu só tô dê dieta.
— Dieta é a cabeça da minha pica. Que diabos de dieta é essa que não come fruta?
— Independente, não preciso di-
— Hayato! — o ruivo se arrepiou por inteiro, Sakura nunca havia falado seu nome, principalmente com aquele tom de repreensão. Sakura respirou fundo, deixando a comida de lado e segurando a mão dele. — Desculpa gritar.
— Tudo bem, só… só não tava esperando.
— Eu não tenho ideia do porquê você tá sendo tão teimoso, mas, por favor, come um pouco. É só você comer essa gororoba que eu te deixo em paz. Olha, eu sei bem como é ruim passar muito tempo sem comer, então sei como você tá uma merda.
— É que simplesmente não desce nada. — admitiu, apertando a mão do mais novo. — Eu olho para a comida e não consigo nem chegar perto.
Haruka suspirou antes de pegar uma porção da comida com a colher e levar até os lábios do ruivo.
— Vamo, come.
Hayato demorou um pouco, mas abriu a boca timidamente. Não esperava essa ação vinda do outro e comeu a primeira colherada. O gosto não era ruim, a banana foi misturada com leite em pó e um pouco de aveia. Ou talvez estava com tanta fome que aquilo parecia um banquete. Logo outra porção veio e mais outra. Suo apenas aceitou comer. Normalmente iria fazer de tudo para não parecer fraco, porém era Sakura, então não iria reclamar em ser alimentado por ele.
Depois desse dia, Sakura ficou de olho e Suo acabou se acostumando a comer um pouco mais do que seu costume. Por isso permaneceu na fila e colocou um belo pedaço de carne no prato, ganhando um sorrisinho satisfeito. Foi algo bem discreto, mas o ruivo sentiu um quentinho no coração. Sempre cuidou e se importou com os outros, então pequenas demonstrações de carinho mais frequentemente o deixavam meio… amolecido?
O almoço correu bem. Foi uma bela reunião para organizar tudo que precisavam para as próximas duas semanas de muita diversão.
(…)
Ok, Sakura não esperava que essa baboseira de ir descansar em um lugar cercado por árvores poderia ser… Não entediante. A viagem de ônibus foi um caos completo, nada surpreendente vindo de sua turma e Nirei teve que segurá-lo algumas vezes para evitar pular no pescoço de Sugishita (esse que era segurado por Kiryu o chantageando dizendo que o Umemiya não ficaria feliz em vê-lo brigando assim.)
Claro, o vice capitão vermelho só fazia rir da situação. Um riso tão gostoso e sincero, às vezes maléfico ao jogar gasolina no fogo, que deixavam as orelhas de Sakura quentes. Não iria pensar sobre como a cena era adorável.
Foram para uma área de acompanhamento. Tinham várias cabanas e muitas atividades radicais ou poderiam só sentar e relaxar. Tiveram uma noite de jogos! O pessoal da Furin descobriu que o bicolor era ótimo em jogos de tabuleiro, porém era um merda em jogos eletrônicos. O que gerou momentos hilários entre os adolescentes.
Sakura resolveu aproveitar os convites e saiu bastante para se aventurar com os colegas. O que foi surpreendente até para si.
Faltava alguns dias para o fim das “férias” e lá estava o capitão dando uma volta pelas redondezas. Era de manhã, Sakura acabou acordando muito antes dos outros e resolveu aproveitar o momento de paz. A brisa matutina fazia os fios coloridos se misturarem e o rapaz respirou fundo fechando os olhos.
— Não sabia que gostava de meditar, Sakura-kun.
Sakura deu um pulo. Na visão de Suo, pareceu um gato assustado com os pelos levantados. Adorável para dizer o mínimo.
— Porra! Qual o seu problema? Quando você chegou aqui?
— Oh, perdão, não sabia que estava tão distraído ao ponto de não me ouvir chegando. — sorriu pequeno. — Eu não tinha nada melhor para fazer, então decidi…
— Me perturbar?
— Eu não diria isso. Só vim te fazer companhia!
— Tsk, tanto faz.
Então, sem mais conversa e mergulhando em um silêncio confortável, os dois continuaram caminhando, seja lá para onde floresta adentro. Sim, era meio idiota sair assim, porém tomaram cuidado para não saírem da trilha.
O meio a meio olhou de lado para o outro. Suo ficava bonito naquela blusa vermelha tradicional chinesa e sempre com sua postura impecável.
— Você não fica cansado em ficar segurando a própria mão? — o questionamento saiu de repente, atraindo o olhar levemente surpreso do outro.
— Não, já é uma mania… Por que, deseja segurar minha mão, Sakura-kun?
Certo, estava demorando vim uma provocação e aquele maldito sorriso “inocente”. Sakura puxou o ar, ficando vermelho, e olhou para o lado.
— Vai a merda! — disse tentando abafar as batidas de seu coração.
— Você é fofo.
— O quê!?
O mais baixo virou o rosto em sua direção, incrédulo pelo elogio, e pode ver Hayato com a mão na boca, olhando para o lado envergonhado. Espera… Suo envergonhado? Isso era novidade. E Sakura não ia perder essa chance.
— O que foi, piratinha? Deixou a língua solta de mais? — provocou ele e ganhou um sorriso sacana.
— Piratinha? Não sabia que me considerava tanto ao ponto de me dar um apelido! Isso é amável da sua parte.
Merda, o desgraçado tinha um bom ponto. Sakura só fez cruzar os braços e virou a cabeça. Pena que foi distraído ao ponto de bater a testa no tronco da árvore. Xingou pela dor e, antes que percebesse, uma mão segurou seu queixo e o levantou. O olho de Suo percorreu pelo rosto de Haruka, checando se o machucado foi muito grande. Não tinha nada além de uma pequena vermelhidão, coisa bem simples para alguém que vive levando socos e chutes em brigas.
Contudo, o perigo veio quando o olho rubi encontrou o dia e a noite.
A luz do sol parecia fazer os olhos coloridos brilharem ainda mais e essa visão era a coisa mais linda que Suo poderia experimentar.
Sakura lembrou do dia no provador e o coração disparou no peito. Eles estavam sozinhos novamente. Somente eles e as árvores. Ninguém por perto para atrapalhar aquele momento, o qual o meio a meio imaginou tantas vezes que poderia acontecer.
— Você tá bem, Sakura-kun?
— Ah… E-Eu tô sim. Já levei socos piores.
— Ha, imagino que sim. — ficou em silêncio por um tempinho, abaixando mão.
— Você dormiu bem? Me parece um pouco cansado…
— Creio que a pancada foi forte de mais e você está vendo coisas.
— Suo, você está sem seus brincos.
O ruivo arregalou o olho e tocou em suas orelhas. Céus, estava distraído a esse ponto?
— Se… — deu uma tosse falsa. — Eu descobri onde é o tal lago secreto que o Kiryu falou. Podemos ir para lá se você quiser.
Novamente o ruivo sentiu aquele calorzinho agradável no coração. Ultimamente Sakura era a causa disso e lhe causava ansiedade. O bico adorável e suas bochechas vermelhas ajudaram a produzir mais borboletas em seu estômago.
— Vou atrás de você, capitão. — deu seu sorrisinho típico e começaram a andar.
A floresta era um pouco grande, tendo várias trilhas para auxiliar na localização e bem sinalizadas. Para sair da área de acompanhamento e ir voltar para cidade levava, mais ou menos, uma hora de uma bela caminhada e muita vegetação. Essa era a trilha principal e Sakura, em vez de continuar, resolveu ir para a direita e subir um morro que tinha ali. No topo, andaram mais alguns metros e logo encontraram um belo lago bem no meio das árvores.
Parecia uma piscina redonda. A água quase cristalina deveria vir de alguma nascente no fundo, e não transbordava pelas inúmeras raízes em volta. A natureza era linda!
— É realmente bem bonito por aqui… Pensei que seria mais escondido. — Suo comentou, aproveitando a brisa, agora dando por falta de seus brincos.
— É só um marketing barato para idiotas. — Sakura revirou os olhos, indo sentar perto do lago, apoiando as costas em uma árvore. — Vem, senta aqui.
Suo não pensou duas vezes, por mais que não estivesse tão cansado, o alívio em descansar as pernas foi algo positivo. O silêncio deu as caras logo depois. Cada um em seu próprio mundo enquanto olhavam para o lago iluminado pelo sol matinal com o conjunto de sons calmos da floresta.
— Você teve um pesadelo? — Sakura quebrou o silêncio, calmamente, não querendo deixá-lo desconfortável.
O mais velho demorou, mas respondeu:
— Sim.
— Hm… Quer conversar sobre?
— Não sei ao certo. — o silêncio voltou por mais um tempo.
Hayato ficou surpreso quando o braço dele envolveu seu pescoço sendo puxado para um abraço.
— Ah… Sakura-kun?
— Tsk, vocês têm essa mania de serem pegajosos, achei que… b-bom… gostaria de um abraço.
Mais uma vez aquele cara enchendo seu coração de fogo! Suo acabou encostar a cabeça no peito do meio branco e riu do tipo suspiro envergonhado vindo dele. Sim, ele havia aprendido.
Às vezes o silêncio era uma boa solução e os dois ficaram ali, sentados debaixo de uma árvore enquanto murmuravam qualquer besteira que lhes vinham à mente. Um momento calmo e só deles.
— Sabe, eu te invejo um pouco. — Suo admitiu.
— Ha? Por quê?
— Você é simplesmente tão lindo.
— Não me provoque.
— É sério. Sua autoestima é uma merda, mas você é tão lindo! Sua aparência é única. É como se você fosse a personificação do dia e da noite!
Sakura ficou calado, aquilo havia superado os elogios constantes que recebia e seu coração pulo no peito. Porra, com certeza ele estava ouvindo o barulho.
— Se eu te contar que eu também tinha heterocromia, você acredita? — o ruivo continuou.
— Quê?! Pera, você também? Sei que não é tão raro, mas eu nunca conheci outra pessoa.
— Meio maluco, eu sei. — levantou a cabeça para encarar o bicolor. — Meu olho direito era castanho-claro. Igualzinho a da minha mãe.
— Era lindo. Vi em um porta retrato na sala, sua mãe tem olhos bonitos.
— É…
— Deixa eu adivinhar, algumas pessoas não gostaram e te acharam estranho?
— Não exatamente. Sempre disseram que eu tinha sorte, que era uma coisa única e bela…
— Sortudo.
— Desculpe.
— Já me acostumei com essa merda.
— Não deveria.
— Ei, seu trauma primeiro, depois do meu.
Suo riu pelo jeito dele se esquivar, o silêncio reinou por mais algum tempo e bicolor o encarou de volta.
— Não precisa me contar tudo, não se preocupe. Só… Só pode contar comigo caso tenha um pesadelo de novo.
— Você dormiria comigo, Sakura-kun?
— D-Dormir… Com você?!
— É que seu abraço é quentinho e ajudaria a espantar os sonhos ruins.
Sakura inspirou o ar com o rosto vermelho e, mais uma vez, foi agraciado pela risada gostosa do mais velho. Sim, fazer Sakura corar era a atividade favorita de Hayato.
— Seu maldito! — o meio branco aproveitou para dar um mata leão nele.
Foi assim que começaram uma lutinha idiota, onde riam enquanto xingavam reciprocamente.
Pararam ofegantes e o cérebro de Haruka voltou a funcionar. Suo, Suo Hayato estava sentado em seu colo, com o cabelo bagunçado enquanto o olhava como naquele maldito provador, segurando suas mãos contra a árvore.
Indo contra qualquer pensamento racional, Sakura apenas fechou os olhos e inclinou a cabeça, selando os lábios de Suo como se soubesse o que estava fazendo. Bem, foi assim que vira em filmes e com os casais na rua, então não deveria ser tão difícil.
Suo arregalou o olho com aquilo e Sakura baixo a cabeça depois de um tempo, completamente vermelho, suas orelhas denunciavam. Hayato o soltou, levando a mão até a própria boca e surtando internamente pelo que acabara de acontecer.
— Desculpa, e-eu… eu não sei só… merda, eu não deveria ter feito isso. — o bicolor começou a se desculpar.
— Haruka… — a voz doce de Suo o chamando o arrepiou por inteiro. — Olha pra mim.
Meio hesitante, Sakura tomou coragem e mãos seguraram suas bochechas e suas bocas se encontraram novamente em um beijinho rápido.
Ambos os garotos se encaram com timidez. Suo tinha as orelhas vermelhas e Sakura as bochechas. Admirar um ao outro naquele estado foi uma ótima forma para colocarem os pensamentos em ordem. Pelo menos um pouco.
O barulho vindo da barriga de Suo trouxe eles de volta para Terra.
— Vamos voltar, precisamos de comida para enfrentar o dia. — o ruivo concordou com o mais novo e se levantou rapidamente, estendendo a mão para ele. — Se não conseguir comer, me diz que dou um jeito-
— Tá tudo bem, Sakura-kun, não foi tão pesado como da última vez. Se bem que adoraria ser mimado pelo meu capitão!
— Vai se fuder!
O pirata riu de seu pequeno tomate ambulante.
(...)
Mais um dia de patrulha se encerrou e Suo despediu-se de seus amigos para ir para casa. Andando pelas ruas calmas de Makochi, às vezes sorria para algum cidadão simpático e aproveitava a brisa do final da tarde. Seu estômago estava cheio, mas não via a hora de chegar em casa e tomar um belo chá antes de dormir.
Perdido em pensamentos, foi impossível não se assustar um pouco quando algo segurou sua mão, entrelaçando seus dedos. Logo a cabeleireira duo cromática se fez presente ao seu lado com uma cara neutra. Depois do acampamento, há semanas atrás, Sakura vez ou outra o acompanhava para casa, normalmente quando não tinha aulas com Nirei, e seguiam o trajeto de mãos dadas.
— Você me pareceu um pouco estressado hoje. Pode ir lá pra casa se quiser. — Suo ficou um tanto surpreso com o convite.
— Quer que eu vá dormir com você?
— No acampamento foi… bom. Por que não repetir? Fora que tem umas roupas suas lá e eu comprei uma caixinha com vários chás.
— Tudo bem, só vou avisar meus pais. — puxou o celular com a outra mão, mandando uma mensagem breve.
— Yato.
Suo virou o rosto e Sakura roubou um selar, com direito a uma mordidinha no final. Ok, o mais velho não esperava por isso e sorriu envergonhado.
— Haru-chan! Não sabia que era tão atrevido, poderia esperar para chegarmos em casa?
Obviamente foi xingado durante o caminho pelo bicolor, ou tomate ambulante para ser mais exato, e a noite foi tranquila.
Afinal, Sakura… Seu namorado tinha os abraços mais quentinhos do mundo inteiro.
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