_ Você pode colocar a sua bolsa. - Apontei para a coisinha pequena que ela escondia em seu corpo. _ No seu novo quarto que mamãe está preparando. - Não falou e apenas saí do escritório, a levando para o segundo andar.
O ambiente continuava normal e esperava que todos se lembrassem da garota nos meus braços, seria horrível se eles não se lembrassem.
Olhei para Leesa e ela olhava tudo ao seu redor, como se estivesse tentando saber se tudo aquilo era apenas um sonho causado pela dor.
Subi os degraus e mamãe apareceu correndo, parando no mesmo instante que nos viu.
Pedi a Merlin que ela ainda se lembrasse de nossa conversa e se lembrasse de tudo que passamos nesses dez anos.
_ Leesa! - Sorriu e desceu a escadaria correndo. _ Santo Merlim, você está tão magra, pedirei aos elfos para fazer um pouco de sopa para forrar o estômago.
Correu para a cozinha e Leesa me olhou assustada, quase pensei que ela se jogaria dos meus braços e sairia correndo, e poderia fazer isso, se não fosse pelas suas costelas.
_ Você morreu nessa realidade pelo Potter. - Continuo subindo os degraus devagar. _ Você era muito querida por nós e era madrinha do meu filho.
_ Sou minha substituta? - Zombou. _ Isso deve ser minha imaginação pregando peças, como posso ser importante para alguém? Ainda mais a família Malfoy.
Merlim, terei que ensinar tudo de novo, meus pés não irão aguentar...
Os elfos estavam entrando e saindo de um quarto e o cheiro de tinta era muito forte. Mamãe fez isso de propósito.
_ Pensei que elfos estivessem livres. - Observou-me, como se estivesse me acusando de algo.
_ Eles são bem tratados e recebem dinheiro para isso. - Entrei no meu quarto e ficou observando o lugar. _ Esse é meu quarto...
_ A sua Leesa transava com você? - Sinto minhas bochechas corando e parei no meio do quarto. _ Você traiu sua esposa?
Suspirei e caminhei até o banheiro, a deixando sentada no balcão. Era melhor estar deitada para o tratamento, mas ela iria precisar de banho, não é?
_ Não, não tinha esse tipo de relacionamento com a Leesa, já que ela estava presa no ministério por dez anos, devido a essa bolsa. - Apontei.
Começou a piscar sem parar, enquanto eu pegava as poções que estavam na gaveta. Ela com certeza estava decifrando minhas palavras e as colocando em um patamar elevado para suas fantasias.
Destampei algumas poções e as dei, esperando que ela não bebesse ou perguntasse o motivo de estar ajudando.
Mesmo não sendo exatamente a Leesa de 2007, continuava sendo a Leesa de 2017, uma mulher desconfiada...
Mas tudo que fez foi beber o conteúdo e fazer caretas como uma criança que odiava tomar remédios.
_ E não, não traí a minha falecida esposa. - Continuei entregando poções.
_ Por que me salvou? Não era só seguir em frente? - Neguei, nunca poderia fazer isso.
_ Convivi com aquela mulher por dez anos, mesmo que ela estivesse em apenas uma cela no ministério, não podendo usar magia ou algo do tipo. A curei e conversei...
_ Você se apegou? - Concordei. _ O que temos de tão interessante? - Ri pela sua pergunta.
_ Caráter, sabedoria, zombaria e tudo. - Ela não iria acreditar, mas não custava nada falar. _ Você é tudo que eu e meu filho temos. Meus pais podem ser tudo para mim, mas eles já têm suas vidas...
_ Não quer ficar sozinho quando seu filho se for? - Discordei.
_ Não queria que uma das minhas razões de viver estivesse morta...
_ Mas está, não sou a pessoa que você sente saudades. Sou apenas a substituta.
_ Se realmente você for a substitua, você pode me bater. - Sei que é uma loucura e o corte no meu pulso concordava. _ Porque você pode ter nascido em uma realidade e até mesmo ter um passado diferente, mas sempre será a Leesa, seu nome ou caráter mudou?
Tirei os frascos de sua mão e os joguei no lixo, ela não era substitua de ninguém.
_ Por que não foi atrás de uma pessoa de sua realidade? Ou até mesmo de sua esposa?
_ Porque não queria que todas as pessoas que te amavam não pudessem se lembrar de quem você é. - Respirei fundo. _ Não salvei a Astoria pela sua maldição, ela não iria sobreviver por muitos anos e meu filho ficaria triste novamente.
Sei que minhas palavras soaram hipócritas e infantis, mas como poderia explicar um sentimento tão ilógico que nem mesmo eu o entendia completamente?
A tirei da bancada e continuava com a mesma altura de sempre, 1,70.
_ Você continua baixinha. - Ficou insultada. _ Você pode tomar banho, trarei roupas para você vestir e depois você pode me encher de perguntas.
Iria sair e deixá-la à vontade, mas segurou meu pulso e fiquei um pouco confuso com essa ação.
_ Antes de ir, me responda uma coisa. - Concordei. _ Você gostava dela? - Minha respiração ficou entrecortada.
_ Sim, mas...
_ Sabe que não gosto de você, não sabe? - Ri. _ Por que está rindo?
_ Leesa, gosto realmente de você. - Suas bochechas coraram. _ Mas você nunca gostou, eu era mais um bom irmão e pai do seu afilhado.
_ Então por que me salvou? Se você falar que foi devido ao seu filho, isso não cola.
_ Porque prometi que iria te salvar e infelizmente não cheguei a tempo para isso. - Ainda sentia culpa. _ Poderia muito bem ter salvado a mulher que morreu hoje pelas mãos do Potter, mas, não queria que ela se lembrasse de tudo que viveu no ministério.
_ Então você pegou outra pessoa... - A censurei. _ Ok, eu, você me salvou para não sofrer? - Balancei a cabeça. _ Apenas para um talvez?
_ Lessa, escute. - Emoldurei seu rosto e ela tentou escapar. _ Você pode fazer o quiser quando se curar de tudo, pode até subornar a Minerva para entrar em Hogwarts, mesmo tendo uma idade já avançada.
_ Você me chamou de velha? - Ficou irritada.
_ Não te salvei para ser a minha esposa ou a mãe do meu filho, claro que queria isso, mas não posso impor isso a você. - Nunca faria isso. _ Se você quiser se casar com alguém ou até mesmo sair dessa família, você pode, mas não pense que vou obrigar a você a gostar de mim.
_ Então, por quê?
_ Porque amo você, cacete! - Tentei não gritar. _ Sabe como me senti segurando o único membro que sobrou do seu corpo? - Minhas mãos estavam tremendo. _ Sabe como me senti sabendo você foi morta? Sabe como estou me sentindo segurando tudo que passei para tentar te proteger e no final, você faleceu pela minha incompetência?
Estava assustada e não era para menos, como iria reagir se ela gritasse que me amava, quando nem mesmo a conheço direito? Ter calma e paciência não era comigo.
_ Desculpa por gritar, não queria que você visse isso. - Retirei minhas mãos de seu rosto. _ Deixarei você tomar banho e pedir uma elfa para trazer suas roupas. - Antes de sair a perguntei. _ Vestido ou...
_ Pode ser. - Olhou para o chão e apenas concordei, fechando a porta do banheiro.
Não sou bom nessas coisas de afeto e romance, devo culpar meus pais por isso? Ou apenas devo parar de reclamar e tentar aprender?
Saio do quarto e vou atrás da senhora Narcisa, ela precisava entender que a Leesa não pode dormir no meu quarto.
Desço a escadaria e continuo caminhando até a cozinha, era o lugar mais afastado depois do sótão, que antes não tinha essa função.
Entrei na cozinha e a encontrei conversando com um elfo, pedindo algum tipo de opinião.
_ Mamãe, temos que conversar. - Ela me olhou e veio até mim. _ O quarto da Leesa tem que estar pronto hoje mesmo e você sabe o porquê. - Fez careta.
_ Ok, farei isso e se não ficar, ela pode passar alguns dias no quarto de hóspedes até que o cheiro de tinta saia completamente. - Isso era bom. _ Mais alguma exigência?
_ Leesa precisa de roupas, e com certeza ela vai querer algo que cubra seus braços e costas. - Ela sabia o motivo.
_ Certo, um vestido com botões frontais e com mangas blusão será uma boa opção.
_ Não pode ser muito longo ou muito curto, mas o busto não pode ser largo, mas na medida certa. Lembro que ela não gostava de coisas a apertando. - Sorriu. _ O quê?
_ Pijamas, também temos que ver isso...
_ Ela não gosta de dormir com coisas que apertam, talvez apenas uma blusa grande a... - Entendi o motivo do sorriso. _ Pare de me olhar assim. - Baguncei meus cabelos.
_ Não falei nada e providenciarei isso, agora mesmo. - Foi atrás de um elfo.
Fiquei olhando meus sapatos e desfiz o nó da gravata, mas minha cabeça continuava me mostrando o rosto da Leesa quando finalmente pude falar o que sentia.
Merlim, ela estava tão surpresa e corada, que pensei que sua palidez poderia nunca mais voltar. E seus olhos brilhando, enquanto me ouvia...
Naquele momento pensei que meu coração iria parar de bater, aquela garota, mulher e tanto faz, ela me faz sentir vivo.
E quero fazê-la se sentir viva e bem, mesmo que tenha que me afastar contra minha vontade. Por ela, faria tudo de novo, apenas para vê-la feliz.
Afinal, minha família só pode amar uma pessoa, mas tive a chance de amar duas.
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