Sadie segurava o controle da Tv com uma de suas mãos e com a outra levava a pipoca a boca, estava com os olhos fixos no aparelho digital apertando o botão que aumentava o volume. Queria a todo custo que aquela cena fosse escutada por todos da residência Marshall.
Se possível, repetiria as falas da personagem junto com a mesma, mas se o fizesse ninguém iria querer deixa-la assistir aquele filme de novo, pela décima terceira vez somente naquele ano.
Era Romeu e Julieta, o clássico mesmo.
Conforme Julieta declarava-se com aquelas palavras diferentes e complexas os primeiros passos de que alguém estava descendo a escada começaram a soar, para a satisfação pessoal da morena.
Provocar os outros sempre foi seu ponto forte, ainda mais se fosse seu irmão mais novo. Pirralho fofoqueiro pra caramba, vivia lendo as conversas privadas de Sadie ora hakeando ou espiando pelo canto do olho mesmo, depois ia fazer um relatório para a figura paternal da família.
Que ódio sentia ao ter que inventar várias desculpas, trocando nomes e até mesmo o gênero de alguns para apenas disfarçar. Ela era maior de idade, mas como vivia na casa dos pais tinha que aceitar aquela super-proteção toda e fora o ciúme que ambos tinham dos filhos, ainda mais da caçula, sim ela era a mais nova, de três filhas, ela era a mais nova, depois vinha o único homem, Isaac.
O pirralho fofoqueiro.
A família Marshall era bem abastada, tinha algumas casas espelhadas pelas cidades mais próximas, e quanto a área profissional, eram donos de um consultório de psicologia e psiquiatria no centro de Niverpox.
Niverpox era antes de Mystic Falls, cidade na qual a família Marshall tinham residido por muitos anos, inclusive foi no término do ensino fundamental de Sadie que regressaram para a cidade onde conseguiram montar o consultório.
Sadie avistou primeiramente as pernas do irmão, magricelas e pequenas. Depois veio metade do corpo, onde a blusa com a imagem do Itachi Uchiha estava estampado, logo o viu por inteiro.
Ele estava com as bochechas rubras e parecia estar nervoso, ao invés de aproximar-se da Tv e desliga-la, como sempre fazia como resposta as implicâncias da irmã, pois ambos sabiam o quanto ele dedicava-se a fazer traduções dos animes e apreciava o silêncio, coisa impossível com aquele volume no máximo, ele simplesmente gritou:
— Insuportável! — Deu as costas e voltou-se para a escadaria, buscando seu quarto.
Com isso abaixou sua mão, mantendo o nível do volume do mesmo jeito, no máximo.
Sadie não entendeu absolutamente nada, seu pestinha sempre gostava de trocar farpas e nunca pulava uma discussão básica entre os dois, então não conseguia compreender o motivo de todo aquele surto.
Tudo bem que nessa semana por causa do seu término do ensino médio, não tinha absolutamente nada para fazer além de por em dia seus seriados, e ler as fanfic de Bleach, esteve tão dedicada no decorrer dos anos anteriores a conseguir prestar o vestibular de medicina, que obteve sua aprovação.
Em fevereiro começava suas aulas, e ela estava vibrando em expectativa! Finalmente iria sair da casa dos pais, iria deixar toda aquela super-proteção de lado e embarcaria em um avião para New Orleans!
E por ficar em casa o dia todo, ficava sempre arranjando motivos bobos para provocar seus irmãos. O alvo principal era a Sam, sempre com aquele ar negativo e roupas escuras, sem falar no crucifixo quase tão chamativo quanto o decote extravagante das blusas da mais velha.
Ela não queria prestar vestibular muito menos fazer algum concurso, Samantha queria madrugar nos eventos de Rock com suas biscatezinhas enquanto até seu absorvente era pago pelos pais.
E toda aquela agressividade dela com sua família que a tratava com tanto amor fazia o sangue de Sadie ferver, não implicava com intenções sutis, implicava com intenção de ofender mesmo, de magoar mesmo.
Quem levantava a mão para a própria mãe? Sendo ela uma das pessoas mais doces e carinhosas do mundo? Ainda bem que Dona Alba não podia ter emoções fortes, se não poderia enfartar, pois Sadie quando soube disso teve que ser segurada para que não esfregasse o rosto de Samantha no chão.
E depois, ela implicava por diversão com o mais novo, Isaac sempre gostou tanto das farpas trocadas entre os dois, eles eram até muito parecidos na personalidade, tinham gostos diferentes mas possuíam um gênio que só o pai e a mais velha conseguia por na rédea.
A porta foi aberta, e de lá surgiu uma mulher de feições maduras segurando uma pasta amarela enquanto transmitia um ar de exaustão. Ela fechou a porta atrás de si e adentrou o comôdo, jogando seu corpo com tudo do lado de Sadie.
As irmãs Marshall eram totalmente diferentes uma da outra, enquanto uma não conseguia crescer tanto na estrutura física e mental, as outras disputavam quem eram mais alta. Enquanto uma tinha olhos claros, as outras queixavam-se por não terem aquele privilégio.
E continuava naquela singularidade até mesmo na cor do cabelo, todas tinham cores diferentes. Samantha era loira, Sadie morena e Olivia tinha fios ruivos.
Era o esperado, pois todas eram adotadas.
Os Marshall não podiam ter filhos.
— Você pode fazer o favor de abaixar essa porra? Só tem você nessa casa com esse costume que já ultrapassou todos os limites e deveria parar logo, de querer escutar tudo no máximo! Quer estourar os seus tímpanos? ótimo, mas faça-o sem incomodar os outros! Não sou obrigada a ter que passar por essa situa... — Olivia nem fazia pausas.
Aquilo fez Sadie revirar os olhos, não tinha como ter paciência com uma pessoa que vivia no perfeccionismo, vivia para fazer e manter tudo sobre seu controle até mesmo nos mínimos detalhes.
Em resposta recebeu um beliscão, outro ponto que fazia a Marshall desejar sair daquele lugar o quanto antes possível, não tinha mais capacidade de suportar aqueles surtos da mais velha, sempre chegava do expediente com um humor péssimo e tudo era motivo de estressar-se.
— Ae! Vou te beliscar também! Você pode por favor calar a boca? Seu expediente foi uma merda? Tá insatisfeita com a sua vida profissional escolhida pelos pais do seu namoradinho de merda? Problema é seu. Não venha descontar nos outros. — Sadie não gritava, nunca chegava a esse ponto, pois antes preferia ir logo para a parte dos socos. E dessa vez não foi diferente, falou tudo encarando sua irmã, olho no olho.
Aquilo fez Olivia sorrir, parecendo mais aliviada.
— É por isso que você é a minha favorita, vem cá esquentadinha. — Olivia se deixasse iria montar em cima das pessoas, mas quando era repelida recuava.
O relacionamento de ambas Marshall era como uma balança, uma hora estavam distantes outrora estavam aos abraços.
Sadie deixou-se ser embalada naquele abraço, sentindo o cheiro fraco de uma essência masculina mesclado com suor.
— Você precisa de um banho, e pra já. — O comentário fez ambas sorrirem, ainda apreciando aquele abraço o celular de Sadie vibrou.
Como estava surpresa por receber uma ligação quase dez horas da noite, em plena quarta-feira, resolveu afastar-se e pega-lo. Para sua total incredulidade, o nome na tela a fez saltar do sofá e ir com passos largos para a cozinha, onde teria sua privacidade.
Enquanto Olivia observava a cena com um sorriso no rosto, obviamente pensando que fosse algum rolo.
— Manda um beijo pro boy! — Olivia gritou vendo-a afastar-se.
Como resposta, recebeu o dedo do meio.
— Hey! — Seu comentário em relação ao gesto inadequado da mais nova.
A cozinha de Alba era espaçosa, tinha vários aparelhos que facilitavam a vida da empregada fixa que tinham, na verdade ela era as duas coisas, tanto empregada quanto cozinheira.
Recebia muito bem pelo trabalho, inclusive tinha um motorista para busca-la e leva-la em casa, tudo para garantir o bem estar da mesma, afinal as ruas estavam perigosas em Niverpox, ainda mais para uma moça desacompanhada em altas horas da noite.
Por ser quarta-feira, o dia de folga da mesma, não tinha ninguém na cozinha. O que fez Sadie atender a ligação o mais rápido possível.
— Cachorrona, é você mesmo? — O tom de voz feminino e um pouco rouco automaticamente confirmaram quem estava ligando para Sadie.
Os olhos da Marshall começaram a lacrimejar diante do turbilhão de emoções que estava sentindo, somente ao ouvir a voz da ovelha perdida da casa.
— Hayley, meu deus! — Foi tudo que ela conseguiu expressar por conta do impedimento que tinha, chamado choro compulsivo.
Do outro lado da linha, ela pôde escutar que sua irmã também estava chorando. Coisa tão difícil de acontecer, ou de presenciar. Ela sempre foi a mais durona de todas as Marshall, e depois de toda aquela confusão onde tinha posto na mente que iria descobrir quem era seus pais biológicos saiu mundo a fora, deixando todos preocupados com aquele sumiço de anos!
Não poderiam caça-la com o apoio da polícia pois ela já era maior de idade, e vivia dizendo que iria correr atrás de suas origens, mesmo que tivesse que ser contra os pais. Pois nenhum deles tinham dado permissão, tinham medo e inseguranças.
O jeito foi contratar detetives, achando o paradeiro da mesma em Mystic Falls, naturalmente os pais foram atrás da mesma, e não encontraram nada, dois dias antes ela tinha sumido do mapa, não sendo possível localiza-la.
Desde então eles seguiram em frente, mas toda vez que ela regressava para Mystic Falls eles iam em busca da morena, para apenas depararem-se com nada.
A única que realmente sabia que tinha algo acontecendo com aquela cidade esquisita e os moradores estavam apoiando a fuga da irmã, era Sadie. Sempre atenta aos detalhes e com uma mente perspicaz notou logo que tinha caroço naquele angu.
Por isso estava prestando vestibular para New Orleans, sabia que ali era onde sua irmã realmente residia. E sem levantar suspeitas, iria encontra-la.
Ela sabia disso pois Caroline, sua amiga de infância tinha lhe revelado. Sem querer, mas tinha. E por isso suas suspeitas de que Mystic Falls tinha seus segredos foram confirmadas. Quem negaria para os amigos a localização da filha deles? Todos em conjunto, alegando não saberem, quando os detetives diziam claramente que ela encontrava-se naquela cidade, vez ou outra.
Alguém iria vê-la, pelo amor.
Somente não esperava que a mesma tomasse a iniciativa e a procurasse tão repentinamente.
— Eu sinto muito, Sadie, você tem que desistir dessa ideia louca de vir para New Orleans, essa cidade é um inferno. Eu estou bem, mas não venha para cá. — E com isso desligou a ligação.
Quando crianças elas viviam em total sicronia, tinham uma mínima diferença de idade, mas davam-se bem. As mais próximas aliás, eram as duas . Hayley fazia o papel da mais velha, sempre era quem dava a última ordem e tinha a responsabilidade de zelar por Sadie.
E Sadie fazia o papel de defensora, sempre que as irmãs ou as outras garotinhas tentassem implicar com a mais velha, ela tomava suas dores. Bem as duas sempre estavam batendo nas outras garotinhas, mesmo quando não podiam pois as mesmas eram filhas de pessoas importantes, mas lá estavam as duas enfiando a cabeça delas na privada do banheiro feminino.
Se mexessem com uma, mexia com as duas.
Talvez em uma outra época ela teria abaixado sua cabeça, aceitando aquela ordem. Mas depois de amadurecer tanto, e camuflar aquela saudade e questionamento, não iria acatar.
Pelo contrário, amanhã mesmo iria de avião até New Orleans.
Não iria deixar sua irmã escapar, ambas tinham muito o que conversar.
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