Mulheres poderiam ser perigosas quando queriam, acredita-se que cada uma recebeu um talento, o meu era a manipulação. Poderia fazer uma amizade de anos de existência desintegrar-se apenas usando as palavras certas.
— Sadie Marshall
Sadie estava segurando as lágrimas enquanto observava seu irmãozinho se jogar em seus braços, aparentemente sentiria saudades da mais velha, cujo único passatempo ultimamente tinha sido perturba-lo. O magracilo tinha diversos jeitos de expressar seus sentimentos, com cada uma das irmãs ele agia de uma maneira, sempre foi muito apegado com a morena por ela ser a mais nova, ser a mais jovial em espírito, ser a mais parecida com o mesmo.
A única que jogava algumas partidas de video-game com o mesmo, e sempre o levava para sair, iam pro shopping ou até mesmo assistiam um filme infantil juntos no cinema, brigando por quem iria comer o último saco de pipoca.
Ela não conseguiu nem dizer enquanto agachava-se para abraça-lo também, e embora soubesse que sua voz sairia embargada continuou:
—Também vou sentir sua falta, pirralho. — Com isso afastou-se, e ele também fez o mesmo, recompondo-se e endurecendo sua postura, uma das coisas que aprendeu com a mesma, disfarçar seus sentimentos.
Estava na sala dos Marshall olhando parte dos membros presentes com os olhos marejados, enquanto seus pais observavam tudo, tentando não chorar, bem, seu pai ao menos tentava não chorar, já que Malfada Alba estava desmanchando-se em lágrimas enquanto aproximava-se, apertando com toda sua força a caçula contra seu corpo.
—Promete que vai me ligar quando chegar, assim que chegar, nada de conferir mensagens dos seus amigos, quero que me ligue dizendo se está bem, se ninguém ficou te olhando torto ou se alguém tossiu perto demais de você, tuberculose pode estar em massa naquela cidade, então você me liga e conta tudo, está bem? — Os olhos marejados de Sadie agora estavam derramando lágrimas, e ela tentava segura-las a todo custo, mas não tinha como, sua mãe era muito cuidadosa e ás vezes chegava a irritar, era um tanto exagero da parte da mesma.
Segurando com toda sua força as lágrimas que teimavam em sair, ela fechou os olhos, apreciando aquele ato materno, permitindo-se sentir-se amada.
— Mãe, o que adianta eu te ligar se alguém me olhar atravessado, por acaso você vai se materializar lá e vai derruba-lo com seus bisturis? — Sadie perguntou imaginando sua mãe toda certinha, apontando um bisturi para quem quer que a olhasse estranho. A figura foi tão forte que não conteve um risinho, para a completa desapreciação da mãe.
—Por vocês sou capaz de atravessar meio mundo para poder protege-las, então não duvide disso quando digo que é para me ligar, sou muito mais que uma médica, posso ser tão perigosa quanto aquelas personagens de fanfic que vocês costumam ler quando o assunto é minhas filhas. — O tom não deixava espaços para brincadeiras.
Ela iria retrucar algo, tentar descontrair aquele momento sentimental mas foi salva quando seu pai aproximou-se das duas, com um sorriso forçado.
Os olhos vermelhos, parecendo que iam derramar cascatas de lágrimas a qualquer reação mais profunda da parte da filha e em seguida suas mãos tocaram no bolço da bermuda azul, buscando aparentar algum tipo de expressão que os olhos avaliativos de Sadie não conseguiam decifrar, afastou-se de sua mãe sentindo que poderia desmanchar em lágrimas se ela quisesse pedir mais alguma coisa, ou declarasse seu amor mais uma vez.
Seu pai puxou do bolso um cordão com aparência antiga, era em formato de coração, aqueles que abriam e revelavam duas fotos dentro. Era de prata, e parecia ser antigo. Os olhos de Sadie brilharam quando notou as pequenas pedrinhas rosas enfeitando o coração de prata.
Era tão meigo que estendeu suas mãos, buscando querer toca-lo, mas foi retraída quando seu pai o puxou de volta, afastando-a do pequeno acessório.
O que a levou a encara-lo, querendo entender.
Ele abriu a boca para puxar ar, e em seguida voltou a manter aqueles olhos cheios de expectativas na direção de Sadie, pelo menos isso ela conseguia reconhecer.
—Antes de tudo, quero que saiba que isso era a única coisa que veio contigo, você sabe, quando bebê, e nós não conseguíamos te dar antes, era doloroso demais admitir que isso era de alguém que não conseguiu ou não quis criar uma coisinha tão preciosa, e por isso nós queremos te pedir desculpas pois retemos de você essa informação, se quiser jogar na primeira lata de lixo que ver, eu me sentiria extremamente feliz, mas se quiser guarda-lo contigo como uma recordação dolorosa e desnecessária nós não vamos nos opor. — O pai nunca tinha sido evasivo como estava sendo naquele momento.
A respiração de Sadie tornou-se irregular quando estendeu novamente sua mão em direção ao objeto, e dessa vez o teve. Não estava preocupada em observar sua forma, estava querendo descobrir o que tinha dentro do coração, se o pingente tinha espaço para duas fotos pequenas quais será que tinham?
Será seus pais, ou até mesmo sua mãe e ela quando recém nascida? Alguma pista de onde viera? Ou até mesmo um pedido informal de desculpas pelo abandono em um orfanato?
Estava focada em abrir, mas sua mãe interrompeu ainda com uma voz embargada:
—Não querida, não tente abri-lo na nossa frente, não queremos que por algum acaso isso abra e revele quem foi o ser humano que conseguiu por alguém no mundo e deixa-lo, não quando dezenas de mulheres sofrem por não poderem realizar o sonho de suas vidas, ser mãe, gerar uma vida. Abra-o quando estiver a caminho de New Orleans .— A ordem era clara, e mesmo se remoendo de curiosidade tinha consciência de que isso era um direito deles.
Suspirou, guardando o colar dentro do bolço.
—Nunca abrimos. Nem quando você cresceu com um comportamento estranho, você sabe, aquela coisa de gente com olhos pretos e criaturas saindo direto do mundo Grimm.— O pai completou escondendo o abatimento repentino. Tocar naquele assunto fez várias dúvidas entrarem em sua mente novamente, como se relembrando cada momento onde eles a fitaram sem saber o que fazer em relação as criaturas vindo da imaginação da menina.
—Tudo bem, eu esperava que não houvesse nada comigo, nada dos meus pais biológicos, e entendo que não conseguiram me devolver algo que era meu, mas tem algo que eu quero muito saber, sei que tenho sempre as mesmas respostas, mas quero saber. Vocês estão escondendo algo de mim? Eu quero saber por que não consigo lembrar de quase nada em relação a minha infância. — Seus olhos verdes tornaram-se avaliativos, concentrando-se em cada reação dos mais velhos.
A mãe meio que estremeceu-se e o pai endureceu o olhar, parecendo divagar mentalmente o que responderia, ou talvez outra coisa.
Cruzou os braços.
O barulho de passos apressados ecoou, a fazendo desviar o olhos dos pais para quem aproximava-se, descendo a escada estava Samantha.
Revirou os olhos demonstrando ter escutado boa parte da conversa, e então comentou com um tom de desdém.
— Você não se deu conta, é como todas nós, seus pais não quiserem ter a responsabilidade que um bebê exige. — Samantha estava vestida com suas habituais vestimentas negras, cada vez mais magra.
As palavras doeram, mas do que um soco doeria. Mas Sadie fechou sua expressão mais ainda, tornando-se indiferente aos olhos da mais velha, uma ação de defesa que Hayley a ensinou para fazer as pessoas nunca saberem do seu ponto fraco.
Seus fios loiros destacavam-se com toda aquela maquiagem pesada nos olhos, e o cheiro de cigarro preencheu o local a medida que ela aproximava-se, buscando parar na frente da irmã mais nova, apenas para suavizar aquele olhar desdenhoso.
Sadie estava abrindo a boca para responde-la enquanto tornava-se mais agressiva, quando foi surpreendida pela mesma:
—Espero que um carro não te atropele, ou um caminhão esmague seu crânio, leve esse ervinha aqui, é boa para espantar as más vibrações que New Orleans tem. — Sadie fechou a boca enquanto transparecia todo seu espanto.
Samantha estava sendo gentil?
Samantha, a perturbada estava sendo gentil?
Elas escutaram as palmas da mãe, obviamente feliz por elas estarem conversando sem querer pular no pescoço da outra.
—Hunm... Tá... Obrigada, eu acho. — Sadie respondeu estendendo suas mãos para enfiar a ervinha dentro do seu bolso, logicamente já se imaginava jogando a mesma pela janela do carro.
Garota estranha.
A mesma parecia querer falar muitas outras coisas, porém como se perdesse o sentido ou a coragem acenou com a cabeça e voltou para o andar de cima, provavelmente para o quarto.
Só faltava Olívia, mas ela deveria estar na casa do namorado ou no trabalho pensando em ir na casa do mesmo, nem mesmo sabia da viagem repentina da irmã caçula.
Então não veria a cabelo-de-fogo antes de deixar a cidade.
Completamente ciente que seus pais estavam mais aliviados por pensarem que ela tinha esquecido da pergunta feita antes que fosse interrompida, deu de ombros.
Seus pais não iria falar nada, não importa o quão desesperada estivesse em busca de respostas.
Talvez devesse esquecer deles, e ir buscar por respostas sozinha assim como Hayley decidiu fazer, aparentemente não dariam apoio para algumas delas caso estas quisessem saber sobre suas origens.
Não deu-se por vencida, iria explorar esse assunto, mas não agora e nem na frente do irmãozinho, que observava tudo quietinho com os olhos brilhando de curiosidade.
—Acho que então chegou minha hora de ir... Mais algumas recomendações dona Malfada? — Perguntou brincando, mas por dentro sabia o quão forçado estava sendo seu ato. Estava magoada pelas escolhas dos mesmo.
Por que não podiam entender o lado das filhas, eram adotadas, tinham o direito de saberem quem eram os progenitores ou até mesmo pistas sobre os mesmo, por que não podiam cooperar?
A mão aproximou-se de novo, e abraçou.
Querendo recomeçar a chorar, talvez querendo implorar para que a filha não fosse para onde seus olhos não pudessem vê-la.
—Não saia a noite, nem converse com desconhecidos e tente não desfilar por aí com aquelas saias curtas que eu sei que você usa escondido de nós. E por favor, tome cuidado, muito cuidado com tudo,e se estiver em apuros me ligue, na verdade me ligue todos os dias, e sempre conte-me tudo, desde quem você conheceu até a quem deixou de conhecer, nunca se sabe quando tem um sociopata de espreita. — Ela falou tudo tão rápido e em um tom de preocupação, como se estivesse liberando uma criança para o mundo que Sadie soltou uma risadinha, afastando-se da mesma para fazer uma reverência.
—Pode deixar minha senhora, suas ordens serão todas atendidas. Esta plebeia jamais iria cogitar desobedece-la. — As palavras soaram sinceras aos ouvidos dos pais, tanto que por fim começaram a aproximar-se da porta, provavelmente iriam acompanha-la até o carro, onde o motorista estava aguardando para que fossem até o aeroporto.
Levaria cerca de quatro horas para seu destino final, já que teria que passar por Mystic Falls, para chegar de Niverpox até a mesma demoraria cerca de duas, para sair da mesma e chegar até a próxima cidade levaria o mesmo tempo.
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Sadie encarava o assento vago fim da classe A, estava sentindo-se chateada por que aparentemente todos queriam ir para New Orleans no mesmo dia que a mesma, esperava não ter que sentir-se encabulada com os olhares de luxúria que eram lançados em sua direção, talvez por estar tão sensível pela despedida com os pais tinha ficado muito, mas muito envergonhada quando notou um homem aparentando ter a idade para ser seu pai a encarando como se fosse uma modelo nua desfilando pela cabine do avião.
Estava de calça jeans e uma blusa rosa claro, os cabelos presos em um coque despojado enquanto os pés eram agraciados por sapatilhas confortáveis, de um tom bege. Estava perfumada, aquele cheiro de macho cheio do dinheiro, sim, aqueles perfumes masculinos com essência forte. E não tinha deixado de passar uma base e um pouco de corretivo, e nos lábios um brilho.
Estava com o celular descarregado e desligado dentro da mala, sentou-se no assento ignorando os olhares sobre si. Na escola ela sempre os tinha, mas nunca ligou, até gostava, mas agora estava emotiva por conta dos pais.
Já até sentia saudades de estar na presença do irmão, de assistir seus filmes repetidos e ficar provocando o mesmo. E agora, batia aquela incerteza se tinha tomado uma decisão correta, tinha feito um vestibular para New Orleans, tinha conseguido uma pista que sua irmã desaparecida estava na cidade, e agora tinha dúvidas se era uma boa ideia largar o local onde era conhecida, os amigos e até mesmo os fãs para isolar-se de tudo.
Fechou seus olhos, sentindo-se um pouco perdida.
O incômodo de algo no seu bolso a fez levantar-se para retira-lo, se lembrando rapidamente do colar deixado pelos seus progenitores, ou talvez um deles, não se sabe.
Somente abriu logo aquele coração, buscando controlar suas emoções. Que sinceramente estava quase sentindo fisicamente a angústia e ansiedade por respostas.
—Meu Deus do céu ai meu coração! — As mãos da menina começaram a tremer, e seu coração batia descompensadamente enquanto sua mente assimilava o que tinha dentro do pingente coma aspecto antigo.
Em um lado do pingente, tinha a foto minúscula de uma mulher de lado, segurando uma criança de colo, era uma menina. Deveria nem ter os três anos ainda, pois parecia muito alheia a tudo, exalava aquele ar de bobinha.
O mais impressionante não foi a suposição que aquela deveria ser ela, mais nova sendo segurada por sua mãe biológica, fator decisivo que comprovava a existência da mentira por parte dos pais em relação a tantas coisas, e abria o leque de dúvidas cem porcento.
O mais impressionante e assustador, o que a fez exclamar em um tom alto e ter tremedeiras nas mãos ao ponto de deixar cair o colar no chão, em cima de uma de suas sapatilhas, foi o reconhecimento que veio ao ver uma parte do rosto de quem sorria segurando a criança, com todo aquele afeto materno exalando, foi a semelhança com aquela mulher incinerada no teto, olhando para ela fixamente parecendo querer dizer algumas palavras antes de morrer que a fez ter as reações nervosas que estava tendo.
Aquela mulher segurando o bebê era a mesma que via em seus pesadelos queimando no teto, ela era a porra da mulher que assombrava seus sonhos, era a porra da mulher que deveria ser apenas fruto de sua imaginação.
E descobrir isso estava fazendo com que um turbilhão de sentimentos a invadissem como um avalanche, estava prestes a surtar na cabine do avião em direção a New Orleans.
—Não era a porra de um pesadelo! — A voz angustiada de Sadie fez com que os mais próximos virassem para olha-la com questionamento e alguns com repreensão no olhar por conta do uso do palavrão.
Seus pais estavam mentindo o tempo todo.
Ela tinha lembranças confusas e inexplicáveis, pois não era possível que uma mulher queimasse no teto, sendo segurada por que tipo de força?
E o mais assustador, se ela não era uma criança com alguns problemas psicológicos, descobertos por conta dos pesadelos onde ela acordava gritando no meio da noite em completo pavor, então os monstros, as pessoas de olhos pretos existiam? Ou eram apenas frutos de sua imaginação perturbada por algum tipo de trauma que não lembrava-se cem por cento de ter vivido?
Sadie puxou o ar com mais força, ignorando os olhares preocupados que eram lançados em sua direção, conseguiu até ver uma desconhecida levantando-se do assento e vindo em sua direção, parecendo realmente ter boas intenções.
Ela simplesmente forçou sua mão, ainda tremendo por conta do nervoso, pegar o acessório que tinha caído.
Como não tinha ainda fechado, só o aproximou do rosto, para enxergar melhor.
E ela agradeceu por isso, pois na pressa não tinha notado as letras pequenas escritas no outro lado do pingente, era uma letra escrita a mão mesmo, e somente tinha dois nomes com uma pequena declaração ou dedicação, não sabia ao certo diferenciar um do outro.
❝ Mary e Sadie Winchester. ❞
—As duas mulheres de minha vida,
com amor Jonh...
Quando acabou de ler, surpreendeu-se com as lágrimas rolando pelas suas bochechas.
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