História More Than Words - Holy Shit Pt. ll

          PDV DUFF

Fiquei olhando pra Mandy de relance e tentei não rir da situação. Era engraçado tirar onda com ela. Coisa que antes eu fazia pra irritá-la, agora é por diversão. Ela olhava pra TV com a maior cara de tédio. Até assim ela era linda.

 

— Não gosta? – perguntei, ainda a olhando.

— São uma porcaria. Van Halen estava mais interessante. – respondeu e abri a boca indignado.

— Misfits porcaria?! De que mundo você veio?

— Do mundo “devolve a droga do controle”. – me olhou e revirei os olhos.

— Tá tristinha porque tirei seu Van Halen? – fiz bico e ela não conseguiu conter o riso fraco.

— Você é um idiota. – desviou o olhar.

— Você que não entende de música. – respondi.

— Cala a boca, até o Sex Pistols ou Black Flag são melhores do que essa droga que você chama de banda. – falou irritada e ri nasalado.

— Perdôo você por gostar dessas duas. Mas ainda assim não são melhores. – falei e ela balançou a cabeça em negação. De repente, Slash desce as escadas e nos olha.

— Tão afim de sair? Tô no maior tédio. – perguntou.

— Tô ocupado cara. – respondi, fitando a TV.

— Por que não chamou o Axl? Ou qualquer outro? – Mandy perguntou.

— Axl vazou com o Izzy, Steven tá apagado no quarto e a Liv disse que tava cansada. E aí, vamos?

— Qualquer coisa pra eu não ter que ficar vendo isso. – ela levantou, me encarando e eu sorri sem tirar os olhos da TV. — Vou pegar minha jaqueta, espera aí. – disse, subindo as escadas.

— Do que ela tava falando? – perguntou.

— Ela não gosta do Misfits. Dá pra acreditar? – o olhei.

— Dá, só você gosta dessa porra. – ele riu e dei o dedo. Logo ela desceu novamente, com a jaqueta e alguns acessórios. — Tá linda, Mandy. – Slash sorriu pra ela.

— Estamos. – ela sorriu e olhou pra mim, mudando de expressão. — Perdeu alguma coisa?

— Você tá parecendo gente. – falei.

— E tá parecendo que você gostou, não para de secar minhas pernas. – sorriu forçado.

— Sou homem, fazer o que. – dei de ombros, sorrindo debochado.

— Vamos Slash, antes que eu arranque a peruca dessa girafa. – disse e Slash riu.

— Vou pegar um negócio na cozinha, espera.­ – falou saindo dali e logo voltou, balançando uma garrafa de Jack no ar. — Agora vamos. – a pegou pela mão e saíram.

 

PDV LIV

Não sei porque que me deu um cansaço do nada. Até recusei a sair com o Slash e estou puta comigo mesma por isso. Quando alguém inventa de sair, me dá vontade de ficar em casa. Bufei e me levantei pra tomar um suco. A casa estava meio silenciosa e só ouvi o barulho da TV descendo as escadas. Vi o Duff e ele parecia concentrado a assistindo.

 

— Oi loiro. – falei, me dirigindo a cozinha.

— E aí, Liv. – o ouvi dizer meio baixo. Me servi um pouquinho de suco e logo voltei pra sala.

— Tá vendo o que? – perguntei, dando um gole.

— Show do Misfits, mas já tá acabando. – respondeu e me olhou. — Senta aí.

— Eles são demais. – me sentei no outro sofá.

— Pelo menos você tem bom gosto, ao contrário de certas pessoas. – falou, fitando a TV.

— Que pessoas? – ri fraco.

— Sua amiga, quem mais seria? – disse.

— Mandy? Impossível, ela adora eles. Se tem uma pessoa que conheço que tem um incrível gosto musical, é ela. – o olhei de relance.

— O que? Ela me disse que eles eram uma droga.

— Deve ter sido pra te provocar. – ri e ele revirou os olhos. — Duff posso te perguntar uma coisa? – terminei o suco e o olhei.

— Até duas. – disse.

— O Izzy sempre foi na dele assim? – perguntei, tentando disfarçar o interesse.

— Do nada você vem perguntar isso? – sorriu safado, notando.

— Responde. – ri de leve.

— Izzy é todo estranho. É legal também, mas a gente nunca sabe o que ele tá sentindo, pensando... as vezes pegamos ele olhando pro nada, viajando. E sem estar chapado. – riu nasalado.

— Com mulher ele é diferente por acaso? – mordi o lábio.

— Você é péssima em disfarce sabia? – me olhou e eu ri.

— Ah, nem tem o porque de eu disfarçar mais. Eu quero ele, eu desejo esse homem. – falei e ele riu. — O problema é que ele se faz de difícil pra mim e fico super frustrada.

— Izzy? Difícil? Só com você mesmo, com as putas do Rainbow ou de qualquer outro lugar ele se entrega. – respondeu.

— Qual é o problema dele então? Não sou tão gostosa assim? – bufei.

— Ah, disso você pode ter certeza que é. – Duff sorriu. — Ele deve estar bolado com alguma coisa pra agir assim, não pense que você é o problema. – disse, dando um beijo na minha cabeça e indo pras escadas. Até que ele pode ter razão. Vou tentar conversar com o Izzy depois.

 

PDV IZZY

Estávamos eu e o Axl no Rainbow a umas duas horas e a mesa já estava cheia de garrafas de cerveja e pontas de cigarro, e o impressionante é que ainda estávamos conscientes. Tocava alguma música do Black Sabbath e torci pra que mudassem pra alguma dos Stones. Chegaram muitas groupie na nossa mesa, oferecendo o serviço delas e nós dois recusamos. Pois é, estranho. Ainda mais o Axl. Notei desde que chegamos que ele estava meio “tanto faz” pras coisas.

 

— Você tá estranho hoje, o que foi? – perguntei, ascendendo mais um cigarro.

— Não tô, por que a pergunta? – me olhou.

— Sei lá, tá com cara de desânimo e ainda deu fora em todas as groupies que chegaram em você. Conheço você, Rose. –  o olhei.

— Olha quem fala, você também não é de recusar nenhuma. – falou, tragando o cigarro. — Essas garotas não são pra mim.

— Não desvia do assunto, eu só não tô afim. E você falando assim parece até que quer algo sério. – ri baixo e ele me lançou um olhar, entregando a resposta. — É sério?

— Ah, sei lá. Tô cansando dessa vida. – disse mais pra ele do que pra mim.

— Ok, quem é você e o que fez com o Axl? – dei um gole de cerveja e ele revirou os olhos. — A Mandy é o que pra você? Um passatempo?

— Não Stradlin, eu gosto dela, de verdade, só não é mais como antes. – falou, desviando o olhar.

— E tá esperando o que pra dizer isso? Ela continua achando que você é louco por ela. – respondi e ele ficou pensativo.

— Eu sei, eu vou conversar com ela. – fez sinal pra trazerem mais uma cerveja.

— Que lindo meu irmão querendo entrar nos eixos agora. – ri nasalado e ele mostrou o dedo.

— Não quer dizer que vou parar com isso aqui. – falou, se referindo a mesa com as coisas. De repente, ele ficou vidrado com algo.

— Tá olhando o que? – perguntei.

— Nossa, olha pra trás. – pediu e me virei. Vi uma garota saindo do balcão e indo em direção a porta. Bem bonita, por sinal. Antes que eu falasse alguma coisa, ele se levantou.

— Vai aonde? – olhei pra ele.

— O que você acha? Não é todo dia que eu vejo uma pérola daquelas. – disse e o segurei antes que ele fosse atrás.   

— Não acabou de falar que queria sair dessa vida?

— Me larga Izzy, não vou transar com ela. Só quero conhecê-la. E depois... quem sabe. – sorriu de canto e revirei os olhos, o soltando. Fiquei na mesa, observando todas aquelas mulheres dançando num pequeno palco que tinha ali e a imagem da Liv me veio a cabeça, fazendo o mesmo. Balancei a cabeça, tentando pensar em outra coisa.

 

PDV AXL

Fui atrás da garota, na esperança de poder conversar com ela. Saí do Rainbow e olhei pros lados, a procurando. Nem sinal dela. Fiquei frustrado de tê-la perdido, não acredito! Bufei, voltando pra dentro e esbarro com o Izzy.

 

— E aí, deu certo? – perguntou e eu semicerrei os olhos.

— Porra nenhuma, por sua culpa eu a perdi! Se você não tivesse me segurado, teria dado tempo. – falei meio bravo e ele riu baixo.

— Relaxa nervosinho, ao menos você sabe como ela é agora. Quando a ver de novo, é só chegar junto. – disse, calmo. Ele tinha razão.

— É, pode ser. – falei, tentando não me mostrar convencido e voltamos pra mesa.

 

PDV AMANDA

— Tá afim? – Slash abriu a mão com um papelzinho.

— O que é isso? – perguntei.

— LSD. É incrível. – sorriu, colocando na boca.

— É a minha primeira vez mas... me dá aí. – falei.

— Primeira? Sei não, cada um reage diferente com isso, pode te fazer mal. – disse e bufei. — Mas se quer viajar de qualquer jeito, isso aqui é mais de boa. – tirou do bolso da jaqueta um cigarro.

— Maconha? – perguntei e ele assentiu. Dei de ombros e peguei. Logo ele acendeu com um isqueiro pra mim. Nunca tinha experimentado antes, só a Liv, e eu via ela viajando. Tudo o que eu já usei na vida foi cigarro comum, mas tem uma primeira vez pra tudo né? Traguei e soltei a fumaça, fazendo formato circular. Do nada, Slash começou a rir. — Tá rindo de que?

— Não sei. – falou e eu ri também. Com isso, ele riu mais ainda e assim seguimos rindo sem parar. Até que esse negócio era dos bons.

 

PDV SLASH

Eu já estava meio doido com a droga. Acho que por usar com certa frequência, meu corpo não se entregava tanto, mas claro, não deixava de ver tudo se mexer. Além de que também eu via uns flashes coloridos, e as coisas gerando vida. Eu sabia que eram alucinações, então fiquei de boa. Já a Mandy estava completamente entregue a maconha, ria de tudo e pulava em cima de mim, como se alguma coisa se aproximasse dela. Não contive a risada. De repente ela saiu correndo na minha frente e subiu num carro. A segui, só observando a cena.

 

— HEY MAMA, LOOK AT ME I’M ON MY WAY TO THE PROMISED LAND, I’M ON THE HIGHWAY TO HELL! – embora ela estivesse chapada, não desafinou. Fiquei surpreso.

— Acho melhor você cantar mais baixo, se não essas coisinhas em volta de mim vão ficar bravas. – ri.

— Não deixa Slash! Eu sou uma estrela do rock, woohoo! – disse alto, levantando os braços e ri mais. — Ai meu Deus, ligaram os holofotes pra mim! O show já vai começar gente! – apontou pra umas luzes atrás de mim. Me virei e vi que elas se aproximavam mais, me cegando com a claridade.

— Ei, vocês aí! – duas pessoas apareceram entre as luzes e rapidamente saquei tudo. Era a polícia. Caralho... — Desça já daí garota! – um deles a pegou pelo braço e o outro puxou meus braços pra trás, me algemando.

— Relaxa aí, não fizemos nada. – falei, meio calmo. O efeito já estava passando.

— Fizeram sim, recebemos uma ligação anônima dizendo que duas pessoas estavam fora de si, perturbando a vizinhança. Vocês vem com a gente. – empurraram a gente pra dentro do carro.

— Acho que eles vão levar a gente de volta pro nosso hotel, Slash. – Mandy ria, achando que era famosa, não fazendo ideia do que estava acontecendo.

— Não podem prender a gente, somos inocentes caralho. – falei sério, e eles ignoraram dando a partida. Eu estava fodido se o Axl descobrisse.

 

PDV AMANDA

— Porra, tirem a gente daqui! Não podem fazer isso! – eu batia nas grades com força. Que merda! Eu fui presa! Eu me rebaixei a esse ponto, não acredito! O efeito já tinha passado um pouco e eu nunca estive tão puta comigo mesma por ter ido na onda com o Slash.

— Precisamos sair daqui. – Slash disse baixo, se levantando.

— A gente tá ferrado, Slash! – olhei pra ele e me virei pra grade novamente. — Ei, eu posso fazer uma ligação, abram a porra dessa cela! – esbravejei.

— Abaixa o tom de voz, garota. Vocês podem fazer apenas uma, quem vai? – um policial se aproximou.

— Deixa que eu vou. – Slash falou e o cara abriu a cela pra ele. Comecei a andar de um lado pro outro, nervosa.

 

PDV SLASH

Saí e segui o tira até o telefone. Ele me observava enquanto discava os números rapidamente. Torci pra que o Axl não estivesse em casa.

 

— Quem incomoda? – ouvi o Duff do outro lado da linha. Suspirei aliviado.

— Duff sou eu, preciso da sua ajuda agora. Nesse exato momento. – falei.

— Qual é... o que foi agora? – bufou.

— Vem rápido até a delegacia. Eu e a Mandy fomos presos. – respondi rapidamente porque eu tinha tempo contado.

— O que?! Que porra vocês fizeram?? – aumentou o tom de voz.

— Nada cara, só tira a gente daqui. – falei e desliguei. O tira me pegou pelo braço e me levou pra cela novamente. Eu odiava isso.

 

PDV DUFF

Filho da mãe desligou na minha cara! Parecia pegadinha, não é possível que tenham sido presos. Caralho, inventa de dar trabalho pra mim às duas da manhã.

 

— Tava gritando com quem no telefone? – Steven apareceu com a Liv logo atrás.

— Slash. Ele foi preso junto com a Mandy e tô indo lá tirar os dois. – falei apressado, pegando as chaves do carro.

— COMO ASSIM? – os dois falaram ao mesmo tempo. Revirei os olhos.

— Vou descobrir lá o que aconteceu. – respondi.

— Espera aí criatura, nós vamos também! – Liv exclamou e dei de ombros. Entramos no carro e dei a partida, não demorou muito pra chegarmos, não tinha muito movimento na rua. Entramos no local e perguntamos pelos dois. Um deles explicou a situação e eu segurei o riso. Fui levado pra tirar os dois dali, enquanto a Liv e o Steven ficaram na recepção.

— Olha quem está aqui. – sorri debochado quando vi a Mandy. Ela semicerrou os olhos.

— Nossa, até que enfim. Veio sozinho? – Slash perguntou.

— Eu ia, mas a Liv e o Steven quiseram vir junto. Não tinham nada melhor pra fazer do que perturbar a vizinhança? – ri.

— Não enche, Michael. – Mandy resmungou. O policial abriu a cela e os dois saíram dali. Eu ia zoar muito com ela.

 

PDV LIV

— Não dá pra acreditar que isso aconteceu! – Mandy bufava e eu ria baixo.

— Ah dá sim, isso que dá fumar erva. – Duff zombava desde a saída da delegacia.

— Eu não te perguntei nada. – ela disse séria.

— Menos Duff, já foi. – Slash revirava os olhos.

— Quero só ver quando o Axl souber. – Duff sorriu maléfico. Mandy congelou na sala.

— Tá maluco? Quer que eu morra jovem? – Slash o olhou.

— Não seja cuzão Duff. – falei.

— Eu não disse que ia falar, mas uma hora ele vai descobrir. Ele não é idiota. – respondeu, subindo as escadas.

— Fala uma palavra pra ele e eu mato você! – Mandy gritou pra ele ouvir. Eu sabia que ele não falaria nada, e que era só provocação dele. Parece uma criança. O pior é que eu disse que não falaria nada pra ela sobre o que eu e ele conversamos uns dias atrás. Só me restava assistir essa “implicância” boba dele.

— Amiga, vamos dormir. Já são quase três. – falei e ela veio atrás. Entramos no nosso quarto e ela se jogou na cama, bufando.

— Eu odeio Michael McKagan. – disse e pensei “não, você não o odeia. E nem ele te odeia.”

— Ignora Mandy, ele não é escroto de entregar você. Até porque o Slash tá no meio e eles são melhores amigos. – me deitei e ela me olhou.

— Acho bom mesmo, se não eu cometo um homicídio nessa casa. – se levantou, indo ao banheiro. — Preciso de um banho, estou cheirando a cela suja. – fechou a porta e ri de leve. Era engraçado ver ela brava as vezes.