Ryou cerrou os punhos já decidida e ligou para o número que Souma havia dado a ela.
— Eu aceito sua proposta, mas não mate ninguém e não faça ninguém morrer.
— Certo, amanhã enviarei um carro para você.
~ Capítulo 7 ~
~ Ryou On ~
Na manhã seguinte, eu me dirigi ao ponto de encontro onde o carro que Souma havia enviado para mim me aguardava. O veículo preto e elegante, com janelas escurecidas, se destacava contra o cenário urbano cinzento.
Quando o motorista abriu a porta para mim, eu entrei, sentindo uma mistura de nervosismo e determinação. O trajeto até a casa de Souma foi silencioso, com o som do motor funcionando como um lembrete constante da missão que eu estava prestes a enfrentar.
Quando chegamos à mansão, a grandiosidade da casa me deixou sem palavras. A fachada imponente, com colunas de mármore e um jardim meticulosamente cuidado, exalava opulência e poder. Era um testemunho do status de Souma, um símbolo claro de sua influência e riqueza.
Um homem de terno escuro, com uma aparência imponente e uma expressão severa, se aproximou do carro assim que eu saí. Ele era um dos empregados de Souma, com um olhar que transmitia tanto respeito quanto autoridade.
— Bem-vinda, senhorita Ryou. Por favor, siga-me — Disse ele, com um tom formal e respeitoso. Enquanto me conduzia para dentro da mansão, eu observava ao meu redor, maravilhada e, ao mesmo tempo, um pouco assustada com o ambiente extravagante. Cada detalhe, desde os lustres de cristal até os pisos de mármore polido, parecia dizer que eu estava em um território que não era o meu.
— Esta é a mansão do senhor Mizuno — Começou o mordomo, enquanto atravessávamos um hall vasto e decorado com obras de arte caras — Ele estará lhe aguardando no jardim.
Chegamos a um espaço ao ar livre, um grande jardim com uma fonte de água cristalina no centro, rodeada por flores vibrantes e plantas exóticas. A beleza do local era inegável, mas havia algo de sombrio na maneira como o ambiente era mantido. Era um cenário perfeito para discussões de assuntos secretos e perigosos.
— Espere um pouco aqui — Disse o mordomo, antes de se dirigir a Souma, que estava de pé ao lado da fonte. Ao me ver, Souma sorriu, um sorriso que parecia mais uma máscara de cordialidade do que um sinal de boas-vindas genuínas.
— Olá, Ryou. Finalmente você chegou — Disse ele, sua voz suave e calculada. Ele me fez um gesto para que o seguisse até uma mesa elegante sob um gazebo, onde duas xícaras de chá estavam cuidadosamente dispostas.
Sentamo-nos nas cadeiras acolchoadas, e Souma pegou a xícara à sua frente, servindo um pouco de chá com uma expressão de prazer calculado.
— Você sentiu algum desconforto no caminho? — Perguntou ele, com uma casualidade que contrastava com a gravidade da situação.
— Não muito — Respondi, tentando não deixar minha apreensão transparecer — Então, esta é a sua casa?
— Você gostou? — Souma perguntou, com um sorriso quase provocador.
— O aquecimento deve ser muito caro — Comentei, desviando da pergunta e tentando focar no fato de que estava ali para um propósito específico.
— Não muito. Eu posso pagar — Respondeu ele, com um tom que misturava satisfação e desdém.
— Vamos direto ao ponto — Disse eu, cruzando os braços de forma resoluta — Qual é o meu trabalho?
Souma se inclinou levemente para frente, pegando um pequeno pacote que estava sobre a mesa. Com um movimento deliberado, ele retirou um cigarro do pacote e acendeu-o, a fumaça se ergendo lentamente em um gesto que parecia um ritual mais do que um simples ato.
— O trabalho é relativamente simples — Começou ele, com uma calma que parecia cuidadosamente calculada — É uma disputa por uma propriedade.
Eu observei, com uma certa irritação, enquanto ele inala o cigarro com um prazer quase arrogante. A falta de formalidade dele me incomodava, e eu o encarei, frustrada pela sua falta de respeito.
— O nome Miyazaki lhe parece familiar? — Ele continuou, sem sequer me olhar nos olhos.
A minha raiva aumentou. Quando alguém fala sem olhar nos olhos, é porque está escondendo algo. E eu não suportava mentiras. Levantei-me de repente e agarrei o pulso dele com firmeza.
— Quando você fala com alguém, olhe nos olhos dela com respeito, entendeu? — Exigi, a voz firme e carregada de frustração. Souma sorriu com um desdém calculado e, com um movimento tranquilo, puxou o cigarro para longe de mim.
— Desculpe-me. Vamos começar de novo. Conhece o nome Miyazaki?
— Sim, eu conheço. Ele era o ex-prefeito que morreu em circunstâncias suspeitas — Respondi, tentando manter a calma enquanto a tensão aumentava.
— Exatamente. Miyazaki deixou uma fortuna em imóveis e dinheiro, mas sem herdeiros diretos — Disse Souma, enquanto o tom de sua voz revelava uma satisfação maliciosa — E eu estou interessado nessa herança.
A revelação de Souma me pegou de surpresa. Eu sabia que a morte de Miyazaki havia sido envolta em mistério, e havia rumores de uma máfia poderosa envolvida em sua ascensão ao poder.
— E qual é a conexão disso com o meu julgamento? — Perguntei, tentando entender a relação entre essas duas questões aparentemente distintas.
— A corrupção não é uma obra de um único indivíduo. As moscas sempre se reúnem em torno da mesma carne podre — Comentou Souma, com uma expressão de superioridade ao pegar sua xícara de chá. O que ele estava insinuando era grave. Se o ex-prefeito estava envolvido em corrupção com Hitaki, então essa disputa pela herança poderia expor toda uma rede de corrupção e desestabilizar a posição de Hitaki.
— Então, Hitaki e o ex-prefeito estavam relacionados em atos de corrupção? — Minha voz saiu quase em um sussurro, o choque evidente em minhas palavras. Souma inclinou a cabeça com um sorriso de satisfação, como se minha descoberta fosse um passo importante em seu plano.
— Parece que você está começando a entender a situação — Ele disse, levantando-se e pegando seu casaco — Agora, vou levá-la ao quarto onde estão os documentos necessários.
— Quarto? — Minha voz estava carregada de incredulidade — Você acha que eu vou ficar aqui?
Souma riu, um som suave e cheio de ironia.
— Se eu enviar toda essa papelada para a sua casa, você vai acabar dormindo no corredor — Ele disse, com um sorriso que não ocultava sua diversão — Mas, se preferir, posso arranjar uma estação de trem para facilitar suas idas e vindas.
— Não, isso é inaceitável — Eu respondi, minha voz firme — Eu posso me cuidar sozinha.
..........
Mais tarde, eu voltei para casa e, algumas horas depois, retornei com minha moto, uma simples e confiável motocicleta. Quando cheguei à mansão novamente, Souma e o mordomo me olharam com uma combinação de curiosidade e desdém.
— Nos vemos às 9 — Eu disse, com uma firmeza que tentava esconder a raiva que ainda ardia dentro de mim. Eu entrei na mansão e, ao me deparar com a cozinha luxuosa, me perdi por um momento em pensamentos sobre como Souma podia viver em tal esplendor.
Mas minha reflexão foi abruptamente interrompida quando dei de cara com Souma, que estava ali inesperadamente.
— Nossa, parece que você sempre está prestes a cair em minha direção — Ele comentou, com um tom sedutor que me deixou desconcertada.
— Isso não é...! — Balbuciei assustada e Souma segurou minha nuca, me forçando a olhar diretamente nos olhos dele. O mundo ao nosso redor pareceu desaparecer, e me senti hipnotizada pela intensidade de seu olhar. Sem perceber, começamos a nos aproximar e nossos lábios quase se tocaram.
Ao perceber o que estava preste a acontecer, eu rapidamente o empurrei sentindo meu coração bater forte em meu peito.
— Eu estava... Com muita pressa...! — Exclamei com um rubor nas bochechas sentindo raiva por quase ter beijado esse homem.
— Sim, você parece estar muito apressada — Souma riu, com aquele tom de voz que sempre me irritava. Nós fomos para fora da mansão porque eu queria ir embora, mas meus passos vacilaram ao ver minha moto toda destruída no chão. Meus olhos se arregalaram em choque e incredulidade, meu coração batendo mais rápido à medida que me aproximava dos destroços.
Como isso foi acontecer comigo?!
— Não pode ser. O que aconteceu? — Minha voz saiu trêmula, quase inaudível, enquanto eu tentava processar a cena diante de mim.
— Deve ter acontecido um acidente — Souma falou, seu tom casual contrastando com a gravidade da situação. Ele fingia inocência, mas eu podia ver o brilho malicioso em seus olhos. Esse idiota quebrou minha moto de propósito! — Eu digo que você deveria ficar aqui na minha casa até compramos uma nova moto! Parece que foi um gato que tentou escalar. O que deveríamos fazer?
Meu corpo inteiro ficou tenso, me virei lentamente para encará-lo com um sorriso forçado nos lábios enquanto apertava os punhos com tanta força que minha unhas cravaram nas palmas das mãos. Cada fibra do meu ser queria dar uma surra nele, mas eu sabia que isso só pioraria as coisas.
— Um gato, é? — Perguntei, minha voz carregada de sarcasmo — Que tipo de gato poderia fazer isso?
Souma deu de ombros, fingindo indiferença, mas eu podia ver a diversão em seus olhos. Ele estava se divertindo às minhas custas, e isso só aumentava minha raiva. Eu respirei fundo, tentando manter a calma. Não podia deixar que ele me visse perder o controle.
— Então, Souma, — Continuei, forçando um tom leve — O que sugere que façamos agora?
Ele sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos.
— Como eu disse, você pode ficar aqui na minha casa até comprarmos uma nova moto. Será até divertido, não acha?
Eu queria gritar, queria socá-lo até que aquele sorriso desaparecesse do rosto dele. Mas em vez disso, apenas assenti, tentando esconder minha frustração.
— Claro, Souma. Isso parece... ótimo. — As palavras saíram com dificuldade, mas eu precisava jogar o jogo dele por enquanto. Enquanto caminhávamos de volta para a mansão, não conseguia deixar de pensar em como me vingaria desse mafioso imbecil. Ele havia cruzado a linha, e eu não era do tipo que esquecia ou perdoava facilmente. Por enquanto, eu suportaria. Mas minha hora da revanche chegaria.
Continua...
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