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História My cousin is my boyfriend - Dia 26; Parte V - Sherlock Fucking Holmes - História escrita por Gabby_Lopes - Spirit Fanfics e Histórias
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História My cousin is my boyfriend - Dia 26; Parte V - Sherlock Fucking Holmes


Escrita por: Gabby_Lopes

Notas do Autor


Oi gente, eu ia esperar um pouco mais pra postar só que o Mateus pediu pra eu postar agora e eu quero que ele se sinta amado então tô postando mais cedinho, te amo Mateus. Ignorem a demonstração de amor e agora vamos aos fatos, eu preciso agradecer imensamente a todos vocês, obrigada, obrigada por terem esperado tanto tempo assim pelo capítulo, minha única justificativa é: eu estou enlouquecendo. Sem mais. Mentira tem mais sim, tem muitas coisas pelas quais eu preciso agradecer e só essas notas aqui não vão ser suficientes, mas isso n significa que eu não possa tentar. Obrigada por todas as mensagens de apoio no último capítulo, eu li todas, sem exceção, e não respondi a maioria porque simplesmente não sei como fazer isso, como dar uma resposta a altura do carinho que vocês colocaram ali em palavras, vcs escrevem muito melhor do que eu ksjsksks, também quero agradecer muito aos que chegaram agora (e provavelmente não estão lendo essa nota kkkk) porque surpreendentemente, realmente um mistério, nesses dias que eu não postei tive a impressão de que os favoritos aumentaram consideravelmente, o Shawn deve estar tendo uma outra onde de fama e as pessoas estão procurando mais sobre ele depois do Villa Mix né deve ser (obrigada Shawn por esse seu rostinho lindo e talento assombrosos). Tenho tanto a agradecer, tanto, tanto, tanto, mas continuo com os avisos nas notas finais tem mais que eu quero falar, vcs sabem que eu não calo os dedos nas notas da autora pro desprazer de vcs ksjsksjs mas enfim tá aí o capítulo, achei que foram 10 mil palavras de pura enrolação honestamente ksjsksjsk enfim nos vemos lá no final

Capítulo 63 - Dia 26; Parte V - Sherlock Fucking Holmes


** Leiam as notas finais **

Meus dedos vacilam sob a folha pesada, passando as páginas lotadas de anotações bizarras, adesivos e rabiscos macabros com recados romantizados que me fizeram vomitar tudo o que havia no meu estômago. Volto para a primeira foto perdendo a conta de quantas vezes já havia revirado o álbum de trás para a frente.


Meus pulmões doíam por estar hiperventilando por mais tempo do que meu corpo seria capaz de aguentar, cada músculo parecia se contorcer com uma dor interminável e minha cabeça pesava, sendo pressionada de dentro para fora por todo desespero pulsando em meu cérebro.


Meus olhos caminham pela primeira foto, mesmo após tê-la encarado durante quase uma hora ela ainda me causava os piores arrepios que já tive. “Que lindo jantar romântico seria se toda a família não estivesse com vocês para apreciar esse momento. Oh, às vezes esqueço como os pombinhos gostam de manter as coisas em família.”


A legenda escrita a mão marcava o espaço logo abaixo da imagem, colada com fita isolante prateada de forma grosseira em contraste com todo o resto. A foto havia capturado o momento perfeito onde estava com o garfo cheio a meio caminho da minha boca encarando o meu primo, que jogava a cabeça para trás numa gargalhada espontânea. A Leslie ao meu lado parecia entretida com a comida em seu prato e a Aaliyah tinha as sobrancelhas erguidas claramente surpresa com cena.


Seria uma bela foto, se não fosse uma situação tão assustadora, considerando que esse momento havia acontecido horas após o Shawn chegar em Naples. A vinte e seis dias atrás, quando mal olhávamos um para o outro e nem se passava pela nossa cabeça que em algumas semanas abandonaríamos nossos preconceitos e assumiríamos os sentimentos guardados durante todos esses anos. Quando a ideia de que algum psicopata nos faria correr risco de vida por conta de um relacionamento desaprovado por todos, era a na verdade a coisa mais estúpida e absurda que poderia se cogitar.


Foi uma surpresa para nós dois quando percebemos que estávamos sendo perseguidos, não à uma semana como achávamos, mas sim antes mesmo de tudo começar. E nossos pensamos foram levados a insanidade a cada foto que se seguia, descobrindo que na verdade a pergunta certa a se fazer era, a quanto tempo eu estava sendo perseguida?


Todas as vezes que me sentia observada por mil olhos quando pisava na rua, quando o queimor pungente esquentava minha nuca pela presença de alguém que não podia ver, todos os momentos em que me encontrava completamente sozinha e tinha a impressão de enxergar vultos se esgueirando nas sombras.


Quando tentava aceitar que estava enlouquecendo, que minhas desordens mentais haviam chegado a um nível que não conseguia mais controlar e que na verdade não estava sozinha, já que minha paranóia, minha ansiedade e meus vícios sempre me faziam companhia sussurrando na minha cabeça coisas que não estavam realmente ali.


Mas elas estavam. Sempre estiveram, e sempre me fizeram adoecer mesmo que achasse não ser real. E agora, com meus medos e aflições sendo literalmente tocados pela minha pele fria, bem na palma das minhas mãos, pela primeira vez em muito tempo pude ter uma visão diferente do que acontecia dentro de mim.


Não tinha energia, e muito menos disposição suficiente para reviver cada momento e tentar lembrar se, ao menos uma vez, vi nas sombras mais do que meus olhos tentavam podiam acreditar enganando meu cérebro. Meus medos a meses atrás eram inofensivos, até a ansiedade estourar, ou melhor ser estimulada pelo sentimento de perseguição e paranóia de sempre. Sim, minha mente não era das melhores antes, porém mesmo alguém tão autocrítica quanto eu consigo perceber a crueldade e frieza em toda essa situação.Injusta, ainda assim seria eufemismo demais considerando o ponto onde chegamos.


E todo mundo sabe que injustiças nos forçam a fazer coisa que não queremos.


Com os olhos grudados nas páginas e ouvidos atentos a cada mínimo som no quarto, a única coisa que conseguia pensar não era sobre o medo da reação dos meus pais ao descobrir, a humilhação de ter minha vida nas palmas de uma pessoa sem coração, a aflição de saber que não havia segredos meus que esse monstro não soubesse. Nada disso se passava pela minha cabeça agora. Toda minha mente girava ao redor de um só ponto específico, um só desejo irreparável e doloroso que já era tarde demais para ser atendido.


Me submeteria a qualquer coisa, para que o Shawn não passasse por tudo isso. Não conseguia suportar a ideia de que, mesmo indiretamente, era eu a pessoa a estar infringindo essa angústia e sofrimento torturantes nele. Não sou Deus, mas digo com a maior certeza que o meu primo não nasceu para experimentar uma penúria como essa.


Não que não seja capaz, porque é, e tem um coração enorme e uma cabeça boa demais para, ainda que se arrastando, superar problemas jamais pensados antes. A verdade é que o Shawn simplesmente não merece. Não merece amargura esse coração enorme e essa cabeça boa demais com algo que poderia ser evitado. Que pode ser evitado mas que é teimoso demais para sequer cogitar. Basta um simples, precisamos dar um tempo.


No fim das contas isso talvez não seja teimosia. Só faça parte do coração e da cabeça que tanto respeito, sempre cheios para se doar aos outros.


E… merda, o mundo é muito injusto por fazer alguém como o Shawn se sentir assim.


E não era só isso. Cada página do álbum me fazia verdadeiramente temer mais pela segurança dele, do que pela minha. E não me faltavam motivos para isso.


A maioria das fotos tinham uma péssima qualidade, provavelmente por terem sido tiradas a distâncias atrás de uma moita enquanto éramos espionados por um psicopata bizarro. Ainda assim éramos claramente identificáveis em cada uma delas.


Algumas eram só minhas, andando na rua sozinha, a mesma expressão enfezada de sempre mas sem a menor consciência de que realmente havia alguém me espreitando bem sob a luz do dia. Mas não estaria tão desesperada sentindo o gosto do perigo na minha língua se fossem apenas fotos borradas coladas numa folha de papel.


A medida que as páginas passavam, mais e mais elementos estranhos iam decorando a superfície do álbum. Um brinco que tinha certeza que havia emprestado para Aaliyah, desenhos cuidadosamente pintados com o meu esmalte preferido que havia sumido semanas atrás, alguns retalhos de roupas que inegavelmente eram minhas, até meu perfume parecia ter sido borrifado entre as brochuras.


Eram tantas opções correndo meu cérebro agora que parecia incapaz chegar a um ponto coerente. Quais as probabilidades de ser alguém da nossa família? Impossível, haviam fotos de momentos em que todos estavam presentes. Talvez não fosse uma só pessoa. Talvez alguém daqui de dentro o estivesse ajudando a conseguir todas essas coisinhas grotescas ligadas à mim para nós assustar ainda mais.


Mas quem? A Heeley? Isso não fazia sentido algum. Os pais do Shawn jamais fariam Isso, muito menos a Aaliyah. O Ryan já teria aberto a boca a muito tempo se tivesse descoberto. A Lenora parecia preocupada demais em lamber o chão onde os Collins pisam para gastar seu tempo nos seguindo por aí. O Gary? Ele era provavelmente o maior suspeito mas não explicaria a estranha obsessão estampada em cada centímetro do álbum, além do mais ele estava quase sempre bêbado, não sobraria tempo para mais nada que envolvesse tanta dedicação. Quem?


Mas as opções pareciam infinitas considerando a imensa quantidade de pessoas que me odiavam nesta cidade, a inúmera fila composta por todos que tinham algo contra mim ou que eu já havia irritado de alguma forma. Meu Deus porque tinha que ser uma vadia estúpida o tempo todo? Mesmo assim não explicaria o resto das aberrações escritas e coladas no papel grosso.


Não explicaria por que haviam rabiscos sobre o rosto do Shawn, por que cada foto sua tinha sempre um comentário ignorante e desprezível acompanhando-a. Era isso que estava me corroendo por dentro. As fotos riscadas com tanta força a ponto de rasgar o papel que estampava o semblante belo do meu primo, com olhos pintados de preto e enormes linhas cruzadas sobre sua face, de forma tão violenta que era capaz de sentir a raiva incontrolável através de cada marca na folha. Tão amarga e doentia.


Levanto os olhos das palavras rabiscadas de forma desleixada com o tom cruel banhando cada letra, meus olhos marejados encontram o Shawn. O quadril apoiado na mesa, os braços cruzados e o olhar aflito perdido num ponto inexistente no quarto. Sua respiração pesada era audível no cômodo, e sentia que a qualquer momento a lágrima presa em seus cílios poderia despencar.


Minha boca estava seca, levantando do colchão e caminhando a passos largos em direção ao meu primo, que mesmo notando a minha aproximação clara não desviou os olhos avermelhados para me encarar. Engulo em seco sem saber ao certo se ele queria ser tocado, mas não hesito ao fazê-lo.


Paro à sua frente, adentrando em seu campo de visão, esperando que isso chamasse a sua atenção dos pensamentos conflituosos em sua cabeça nos quais mergulhava profundamente agora. Mas seus olhos continuam baixos e sem foco, dilacerado meu coração pouco a pouco. Solto um longo suspiro, deslizando a palmas das minhas mãos trêmulas pelos seus ombros rijos, caminhando pelos braços macios e arrepiados mesmo no calor da Flórida.


Uma pessoa triste e com medo, tentando fazer outra pessoa triste e com medo não se sentir assim.


- Olhe pra mim. - Peço e minha voz sai mais suave do que imaginava. Talvez a vontade absurda de acalmar o Shawn acima de qualquer outra coisa me tornasse mais capaz de controlar a mim mesma.


O garoto solta arfa rapidamente, vejo seu pomo de Adão subir e descer em nervoso e as pálpebras se fecharem sobre as íris castanhas antes de levantar a cabeça. Os cachos bagunçados pelas mãos nervosas e os lábios vermelhos após serem atacados pelos seus dentes num tique ansioso.


Os seus músculos se retraem sob meu toque antes de me encarar. Dizem que uma felicidade compartilhada se multiplica e uma tristeza, se divide. Mas por Deus, eu faria qualquer coisa para que essa sensação devastadora causada por mim não chegasse nem perto do Shawn. Não quero que ele tome uma dor minha para si.

- Antes de fazerem qualquer coisa com você, vão ter que passar por mim. Eu nunca permitiria que nada de ruim te acontecesse. - Murmuro baixinho aproximando-me mais do sem corpo, sem ter certeza se isso era para consolar a ele ou a mim.


Era irônico como isso seria algo que o Shawn diria para mim e não ao contrário. Mas acho que de uns tempos para cá já deveria ter me acostumado com a inversão de papéis, não existia aquilo de proteção e segurança que sua masculinidade proporcionava. Esse é um pensamento egoísta que nunca entendi nos relacionamentos que via por aí.


Nos dois protegemos um ao outro, nos dois fazemos o outro se sentir seguro, nos dois entramos numa briga para defender o outro. E eu aprecio essa cumplicidade acima de tudo.


- É exatamente por isso que sinto medo. - O garoto sussurra, como se não estivéssemos sozinhos no quarto. E nessas circunstâncias já não tinha mesmo tanta certeza assim. Sua voz soa rouca e arranhada, e prefiro que ele chore do que segure toda a tensão dentro de si como faz agora. Mesmo que cada uma de suas lágrimas seja como uma faca rasgando minha pele. - Não faça nada estúpido por minha causa Rachel, por favor.


- Não me peça isso. É difícil mudar um hábito. - Digo, incapaz de conter o sorriso melancólico que adorna meus lábios enquanto toco seu rosto quente e corado com a ponta dos dedos. A pele macia em contato com a minha trazendo o máximo de conforto que era possível naquela situação. O Shawn fecha os olhos inclinando a cabeça na direção na minha mão e apoiando a bochecha sobre a minha palma. Sinto minha garganta arder ao ver a expressão abalada em seu rosto. - Desculpa.


- Não. Não peça desculpa. Você é a maior vítima nessa história toda. - Meu primo murmura num sopro, balançando a cabeça negativamente. Seus cachos acarinhando meu rosto, devo ter me aproximado sem nem ao menos perceber. Como sempre. O Shawn tinha esse magnetismo que simplesmente me puxava para perto e eu nunca era capaz de controlar. E mesmo com a voz tão suave e honesta ainda discordava do que o garoto dizia.

- Talvez… talvez eu mereça isso. - Sussurro abaixando o olhar, sem conseguir encarar seus olhos doces enquanto falava em voz alta as verdades que sempre preferimos ignorar. - Sabe, eu não sou a melhor pessoa do mundo Shawn. Longe disso. Não sou tão diferente dos outros adolescentes egoístas e fúteis daqui e… uma pessoa assim não merece viver, nem sentir a felicidade que eu sinto quando tô com você.


- Não. Só pare com isso. Pare. - Meu primo grunhe com a voz embargada, me puxando para perto e me forçando a enterrar o rosto em seu pescoço para que as palavras parassem de sair da minha boca. Aspiro profundamente o cheiro da sua pele, e por algum milagre não sou eu quem está prestes a chorar. - Não diga essas coisas, por favor. Nem mesmo pense isso, só pare.


- Meu bem, você sabe. Não sabe? Por todas as vezes que eu fui má com você. Por todas as vezes que fui cruel e você ouviu tudo calado. Por todas as vezes que te bati e você deu a outra face. - Digo contra seu ombro, sentindo a pulsação acelerada correndo por suas veias enquanto me aperta em seus braços como se eu fosse sair correndo a qualquer instante. Meus lábios encontram a área sensível embaixo da sua orelha e depositam um beijo suave e tenro enquanto meus dedos afagam os fios sedosos. Com a esperança de que cada carinho pudesse fazê-lo se sentir melhor mesmo que por um só segundo. - Você sabe Shawn. Não mereço você. E você mesmo disse, quando duas pessoas estão destinadas a ficar juntas, elas vão ficar. Shawn, olhe ao seu redor, parece que estamos…


- Você realmente vai desistir agora? - Meu primo me interrompe incapaz de engolir o rumo que meu raciocínio tomava. Ele levanta a cabeça num movimento brusco e seus olhos cheios d’água encontram os meus.


- Shawn, eu nunca desistiria de você. Pode ter certeza disso. - Minha voz sai lenta e determinada, palavra por palavra pronunciada lentamente sem desviar os olhos dos seus, para ele jamais duvidar daquilo. Meus ombros queimam com a intensidade das suas íris e me pergunto se ele também sentia o mesmo ao meu respeito, mas percebo que no fundo não fazia diferença, me sentiria assim mesmo que não fosse recíproco. - Só não quero que se decepcione, se não terminar do jeito que queremos…


Os socos na porta da casa faz nós dois nos sobressaltarmos, uma falta de ar repentina se instalando rapidamente em meu peito mesmo lembrando que havíamos chamado o Matteo a pouco menos de uma hora atrás. Meu primo engole em seco, hesitando longamente antes de dar as costas e sumir no corredor, descendo a passos rápidos até que nada além da minha respiração seja audível.


Um segundo se passa e todo meu corpo se contrai num tremor involuntário, a dor no tornozelo voltando a se acentuar pelo medo de ficar sozinha. Um lembrete de que não conseguiria fugir rápido o suficiente se fosse necessário. Meu pescoço gira rapidamente num movimento brusco, sentindo uma onda mínima de alívio ao ver o Thomas deitado calmamente na cama. Não sei se por saber que está seguro, ou por me sentir melhor na sua companhia.


Ainda assim meu peito começa a subir e descer rapidamente, e um desespero me atinge a medida que o tempo passa e meu primo demora a voltar. Tenho medo de olhar por cima do ombro e ver uma sombra se esgueirando pela janela, e até meu reflexo no espelho parece esconder algum perigo. É provável que não tenha se passado nem um minuto, mas pareceu uma eternidade quando o Shawn irrompeu a porta acompanhado do meu ex-namorado.


Solto o ar que segurei durante todo esse tempo, minha cabeça ficando mais leve por não ser mais a única pessoa capaz de lutar naquele cômodo. Era irônico, sempre tive o costume de sentar perto da porta em todo lugar que ia, para o caso de uma emergência, e agora me vejo realmente diante da preocupação constante de ter que correr, lutar e defender ter minhas vida e a das pessoas que amo a todo custo.


- Que porra de emergência é essa que me forçou a pegar um Uber de um canto a outro da cidade? E que merda deu com você e com a Leslie? - A voz do Matteo soa pesada e ofegante, enquanto se arrasta até minha cama com uma careta contorcida no rosto. Parecia que o efeito de todas as bebidas ingeridas nas horas passadas estava passando se convertendo na dor de cabeça e enjoos desagradáveis que todos sentiam ali. Meu ex joga seu peso sobre o colchão sem pestanejar, soltando um grunhido doloroso ao deitar. - Deus, sua cama fede ao Shawn, não era assim que me lembrava dela. A propósito porque você me ligou todo nervosinho pedindo um monte de merda?


- Ele ainda tá bêbado Ray, eu disse que não era uma boa ideia. - Meu primo grunhe apertando a ponte do nariz entre os dedos, respirando de forma angustiada. Deslizo os dedos pelo seu ombro num rápido consolo antes desviar os olhos para o Matteo, que não parecia exatamente embriagado só com uma ressaca bastante contundente.


- Você trouxe? - Pergunto com um desespero notável na voz, mancando na direção do garoto e me deixando cair sentada ao seu lado na cama. O garoto se contorce com as pálpebras apertadas no rosto inchado, se esticando para alcançar o bolso da calça e tirando de lá algumas folhas de caderno dobradas.


Arranco os papéis da sua mão com afobação, e num segundo o Shawn está agachado no chão à minha frente, agarrando o álbum com uma força que deixava os nós dos seus dedos esbranquiçados. Respiro fundo, tensão borbulhando sob minha pele, desdobrando a folha de caderno que tremulava em meus dedos.


Uma parecia ser um resumo de algum assunto de história e a outra alguma atividade copiada às pressas. As duas foram claramente escritas pela mesma pessoa, Clair, oscilando entre letrinhas arredondadas e finais precisos. Não era exatamente boa em analisar caligrafia, mas era um sinal de alguém que está mais preocupada com a estética das letras do que o que realmente dizem.


Não vou mentir, isso temos em comum. Apesar de que comigo as coisas sempre descansavam pelo meio da página quando ficava com preguiça e começava a achar tudo uma perda de tempo. Meu primo estende o álbum na minha direção, a tensão estalando no ar, e meu coração para antes mesmo que eu consiga posicionar uma folha ao lado da outra.


- Eu sabia. Eu sempre soube. - Minha voz sai entrecortada abafada pelos meus dentes trincados. O Shawn arranca o álbum da minha mão, correndo os olhos de um lado para o outro entre o crime e a prova. Merda. Eu tinha certeza desde o início. Engulo em seco, minha cabeça doendo e minhas mãos tremendo de puro ódio.


- Que merda está acontecendo afinal? - A voz do Matteo soa distante pelo zumbido em meus ouvidos, a pele do meu rosto parece queimar enquanto esfrego-a tentando afastar a sensação de dormência causada pela raiva cega que sentia.


Nunca, nem por um segundo, descartei a possibilidade de a Clair ser a causadora disso tudo. Chegava a ser patético, como a vilã da história era na verdade a pessoa mais óbvia possível. Mesmo que o Shawn tenha plantado algumas dúvidas na minha cabeça, mesmo que a achasse burra demais para planejar tudo isso, estava ali bem diante dos meus olhos, sempre a achei sonsa demais para ser verdade. E agora ficava me pergunta o que fazia parte da sua encenação e o que era idiotice para valer.


- Tem alguma coisa errada. - Meu primo murmura concentrado, folheando incansavelmente as páginas amaldiçoadas do álbum. Rosno com ódio, meus dedos dormente para socar alguma coisa. Mais especificamente a cara daquela degenerada. - Isso não faz sentido nenhum.


- É claro que faz Shawn! Qualquer um com olhos pode ver! É a Clair, sempre foi, e não adianta vir com sua conversinha pra cima de mim porque não vai funcionar! - Grito, sem dar a mínima para quem quer que pudesse escutar. Me levanto num pulo fazendo o Matteo se agitar, a dor no meu tornozelo machucado servindo de alimento para a raiva correndo no meu corpo.


- Ei, espera aí! Aonde você tá indo? - Meu primo diz dando passos largos na minha direção e segurando meu braço. Me sacudo numa tentativa frustrada de me soltar, mas seu aperto é forte demais, aumentando gradativamente com meu descontrole.


- Onde você acha que vou? Não é óbvio? - Pergunto e minha voz soa mais como um grunhido de algum animal raivoso, a saliva se acumulando nos cantos da minha boca enquanto me debatia ignorando a dor causada pelo esforço do Shawn em me manter dentro do quarto. A última coisa que precisava agora era do meu primo dando uma de bom samaritano. Não tenho paciência. Enterro o punho em seu peito num soco que faz minha mão doer, o garoto geme mas não me solta. - Que merda, me solta! Eu tô indo na casa dessa escrota desgraçada do caralho e vou enfiar esse álbum naquela metralhadora de bosta que ela chama de boca e depois rasgar o cu dessa vadia com a unha postiça dela!


- Nossa - Escuto o Matteo dizer e aproveito a distração para enfiar as unhas no braço do meu primo e forçá-lo a me soltar. Não consigo dar dois passos no corredor antes de sentir meu vestido ser puxado com brutalidade e minhas costas doerem ao ser arremessada de volta para dentro do quarto.


- Me deixa sair agora! - Grito jogando meu corpo contra o do meu primo tentando a todo custo tirá-lo da frente da porta do meu quarto. Estava cogitando a dolorosa ideia de chutar o meio das suas pernas e sair correndo, por que ele realmente não daria o braço a torcer.


Sinto uma mão me puxar por trás e meu cotovelo faz um movimento quase involuntário acertando o estômago do Matteo. Vou pedir desculpas a ele depois que tiver esfolado a cara daquele monte de merda que é a Clair.


Mas é claro que o meu primo é muito mais esperto. O Shawn parece prever meus movimentos pois num segundo agarra meus pulsos e me pressiona contra a parede. Me debato começando a sentir as lágrimas queimando um caminho pelo meu rosto e a respiração do garoto se misturando ao meu choro escandaloso.


- Você precisa acalmar a porra dos seus ânimos Rachel! Você tem merda na cabeça? - Aperto os olhos sentindo o seu hálito bater contra meu rosto enquanto o seu aperto em meus pulsos ficava mais frouxo, meus soluços se tornam mais frequentes à medida que os chutes e socos no ar cessam. Meu primo rosna com raiva sem se afastar um centímetro de mim sequer. - Quando você vai entender que ser impulsiva é burrice? Pelo amor de Deus Rachel!


- E o que você quer fazer então Senhor Sensato? Convidar ela pra um chá da tarde? Ah, espera você é canadense, provavelmente vai ligar e marcar um horário com a madame não é? - Rebato erguendo a cabeça o máximo que conseguia para encarar o garoto, sem me deixar intimidar pelo seu tamanho sobre mim. Vejo os músculos da sua mandíbula se contraírem e os olhos apertarem, os punhos fechando com tanta força a ponto dos dedos estalarem. Ele estava irritado, ótimo porque também estou.


- E chegar na casa da garota dando um socão na boca dela é realmente uma coisa inteligente a se fazer. - Meu primo responde com a voz mais grave que o normal. Os olhos escurecidos com vasos dilatados encontram os meus e me encaram por intermináveis segundos antes de hesitantemente se afastar, um aviso claro da discussão que teríamos se continuasse agindo daquele jeito. - Pode espernear o quanto quiser mas não vai fazer nada enquanto eu não tiver certeza de que está calma!


- Primeiro, você não manda em mim. Segundo, quanto mais calma eu estiver pior vai ser, já que vai me tempo suficiente pra planejar em detalhes tudo que aquela lunática vai passar. - Digo, minha voz soando mais baixa e controlada, enquanto enfio o dedo indicador no seu peitoral contraído. O garoto cruza os braços me encarando de cima.


- Você além de estar agindo mais infantil que o normal, também está sendo ridícula. - A expressão arrogante em seu rosto e a sobrancelha erguida em escárnio faz os pêlos da minha nuca se arrepiarem, em parte pela raiva que me causava e em outra pela reação que meu corpo tinha a esse tipo de atitude sua. E esse idiota desgraçado ainda por cima estava certo.


Preciso de todo o controle do mundo para não responder e dar as costas a ele, sentando na beira da cama com o rosto enterrado nas mãos. Odiava, odiava com força o jeito como o Shawn sempre estava certo enquanto eu não conseguia nem ao menos pensar no meio da minha impulsividade, como ele sempre tinha uma resposta coerente para toda atitude estúpida que eu tomava. E odiava estar errada perto dele. Me sentia burra e ignorante.


A adrenalina ainda corria pelas minhas veias, pulsando com uma rapidez que nunca conseguia acalmar, meu estômago se revirava e minha cabeça parecia pesar o mesmo que meu corpo inteiro, carregada de preocupações e incertezas e ódio. E eu achando que o dia não poderia ficar pior.


Realmente, chegar na casa da Clair e a espancar não era a melhor das ideias. Precisávamos de um plano mais palpável e menos perigoso. Uma emboscada num lugar deserto ou… Ah meu deus Rachel! Você não pode bater nela, nem atropelar ela com um carro, nem afogar ela na praia, você simplesmente não pode partir para violência.


Será que, no meu instinto mais primitivo, é assim tão difícil de entender algo simples assim? E mais uma vez queria ser tão sensata quanto o Shawn, a ponto de mesmo numa situação de estresse constante como essa, ser capaz de pensar da forma mais coerente possível e menos nublada possível.


- Agora que vocês já acabaram de agir feito animais será que dá pra me explicar o que tá acontecendo? - A voz do Matteo irrompe pelo cômodo silencioso, não consigo evitar lhe lançar um olhar cortante enquanto ele parecia ocupado demais em achar uma posição confortável na minha cama fazendo o colchão quicar.


- Nem sei por onde começar. - Meu primo murmura, a voz melodiosa soando cansada, parecendo exausto ao cruzar os braços e apoiar o quadril na escrivaninha. Mais distante do que gostaria. O garoto esfrega a mão calejadas no rosto avermelhado várias vezes antes de lançar um olhar irritado para o Matteo e soltar o ar em seus pulmões. - Faz uma semana que estamos...


- Não! Não! Não! Vamos ser objetivos aqui! - Digo aumentando o tom de voz ao interromper meu primo. Prefiro não encarar a expressão raivosa que o garoto me lançava, virando na direção do Matteo com afobação. - A sua melhor amiga simplesmente é uma psicopata obcecada pelos meus relacionamentos!


- Por você. Obcecada por você. - O Shawn corrige balançando a cabeça negativamente, parecendo juntar toda a calma, que não era pouca, dentro do seu ser antes de caminhar na minha direção e pousar as mãos em meu ombro levemente. Realmente, o meu primo tinha um autocontrole invejável quando queria. A sensação da sua pele contra a minha relaxa meus músculos tensionados pelo menos por um segundo, me distraindo terrivelmente do que quer que estava fazendo para encarar as feições contidas do garoto. - Se você não vai explicar direito, meu bem, por favor não me interrompa.


Era engraçado como o Shawn conseguia fazer uma expressão tão doce soar como um soco na boca do meu estômago com apenas uma pequena mudança de tom. Não consigo evitar contorcer o rosto numa expressão furiosa, desviando a atenção dos seus olhos ainda sentindo o peso insistente das suas mãos sobre mim.


- Eu admito a Clair é maluca as vezes mas se alguém aqui pode ser chamada de psicopata, meu amor essa pessoa é você. - O Matteo diz arregalando os olhos ao se sentar rapidamente no colchão. Enterro o rosto nas mãos, suprimindo um grito irritado. Minha paciência já era inexistente quando o Matt defendia a Clair antes, agora nem se fala. Ouço meu primo sussurrar ao meu lado, o toque morno sobre mim me impedindo de dar um chilique.


- Não cara, você não tá entendendo. Não é modo de dizer. - O Shawn murmura, ainda tendo estômago para soltar uma risada irônica com a inocência do Matteo. Meu primo se inclina agarrando o álbum e o encarando pensativo por alguns segundos, antes de estender ao meu ex que observava tudo com uma expressão curiosa no rosto moreno. - A pessoa que mandou isso é realmente um psicopata. Faz mais de uma semana que nós dois estamos sendo ameaçados… recebendo mensagens estranhas de números anônimos, que… fotos nossas aparecem em cantos pela casa sem que ninguém tenha colocado lá e… nossas coisas têm desaparecido e reaparecido de uma hora pra outra.


- Tá, é bem… bizarro, mas o que a Clair tem haver com isso? - Meu ex questiona com uma sobrancelha arqueada e sua pergunta quase soa ofensiva aos meus ouvidos. Meus olhos rapidamente encontram os seus castanhos, enquanto escancaro a boca em ultraje.


- O que a Clair tem haver com isso? Você é cego ou o quê? A porra da caligrafia dela tá pelo álbum inteiro! - Rebato entredentes voltando a sentir o usual calor na nuca proporcionado pela raiva. Solto um grunhido irritado, as feições nem um pouco convencidas do Matteo me deixando cada vez mais impaciente.


O garoto suspira como se estivesse cansado daquilo, abrindo a primeira página e dando de cara com o cartão colado na contracapa, escrito exatamente da mesma maneira que o resumo que ele trouxe apoiado na outra. Estava claro como o sol no céu da Flórida, simplesmente não entendia o porquê da hesitação constante do Matteo e do Shawn em relação a isso.


- Essa pode ser sim a caligrafia da Clair, mas… - Salto da cama com um rosnado, incapaz de deixá-lo argumentar a favor daquela maluca mais uma vez. Meu sangue borbulhava de ódio toda vez que o escutava pronunciar o nome dela, sempre com aquele tom adocicado e dócil, como se estivesse dizendo à garota que ela tem lindos olhos. Mesmo quando esses olhos estão grudados na cabeça de uma psicopata.


- Não tem mais nenhum droga! É só olhar a merda do papel! - Digo apontando energicamente para o álbum no colo do garoto e enfiando os dedos no meu cabelo, buscando algo para agarrar, alguma dor para sentir que me deixasse sã. - Quer saber? Obrigada pela ajuda, agora já pode voltar pra casa. Nem sei porque te chamei aqui, era óbvio que você defenderia sua amiguinha mesmo numa situação absurda dela. E se você não consegue admitir que ela ao menos escreveu as coisas que estão aí então você não serve de nada. Oh Deus, Shawn, explique a ele que foi a Clair que escreveu essa desgraça e não tem como argumentar contra isso.


Cruzo os braços, a mandíbula contraída com força na esperança de manter um controle que nunca tive, e as mãos apertando meu braço para que ninguém pudesse vê-las tremer.  Espero, aguardando a voz sensata do Shawn soar pelo cômodo, concordando comigo e listando cada um dos motivos pelos quais eu estava coberta de razão.


Mas isso não acontece. Meus olhos se encontram com os dele, e as íris castanhas já começavam a se desculpar silenciosamente. A boca entreaberta soltando e puxando cada vez mais ar para explicar seja lá o que eu não certamente não ficaria feliz ouvindo.


- Shawn…


- Meu bem… meu bem, você tá com raiva, e não está pensando da forma mais… inteligente possível. - Suas palavras deixam os lábios macios e cheios de maneira cuidadosa, pisando num terreno que nós dois sabíamos ser difícil. O peso nos meus ombros me faz largar os braços como se fosse um fardo pesado, alternando o olhar entre a expressão preocupada do meu primo e a constantemente incrédula do Matteo.


- Eu não… não consigo entender Shawn, eu sei que não sou tão inteligente quanto você mas é só olhar… só olhar para a droga do álbum. - Digo movendo apenas os lábios enquanto minha têmpora já começava a doer por manter a mandíbula apertada com tanta intensidade. As lágrima quentes começando a despontar no canto dos meus olhos pela raiva raiva bombeada no meu sangue. - Porque você sempre tem que achar uma desculpa pra tudo que ela faz? Até isso Shawn…


- Não, não, não. Não é assim. Eu não sou mais inteligente, você tá irritada e confusa, e por isso não está pensando direito. Só escute. - O garoto pede com o tom da voz inalterado, temendo outra explosão minha, uma que particularmente estava bem perto de acontecer. E se fosse qualquer outra pessoa me pedindo aquilo, eu jamais desfaria do meu orgulho para ouvir. Mas não era qualquer pessoa. - O que o Matteo está tentando dizer… ou melhor o que eu acho que ele está tentando dizer e o que eu quero que você entenda é que, sim, é a caligrafia da Clair aí. Todos nós já percebemos isso. Mas não podemos deixar os detalhes passarem numa situação como essa.


- Cruzes Shawn, seja objetivo não temos tempo aqui. - Digo ignorando seu olhar sempre atento a mim, batendo o pé impaciente com toda aquela conversinha. Meu primo solta um suspiro frustrado devido à minha teimosia, certamente juntando toda sua paciência para tentar me fazer entender.


- Só folheie as páginas. Tome. - O garoto diz arrancando o álbum da mão do Matteo sem delicadeza, empurrando-o contra as minhas mãos. Balanço a cabeça negativamente.


- Eu sei o que tem aí, ninguém aqui olhou esse álbum tanto quanto eu. - Digo balançando a cabeça de um lado para o outro, meu primo deixa um suspiro frustrado escapar antes de arremessar o livro na minha direção me forçando a agarrá-lo.


- E ainda assim você não notou a coisa mais óbvia nele. Você tá suscetível a pensar que é a Clair, por que você acha que é ela desde o início, e isso te faz ignorar todos os outros sinais. - Meu primo explica e escancaro a boca sem incrédula. Cruzo os braços me afastando do garoto começando a ficar cada vez mais na defensiva.


- Não acredito que você prefere colocar a culpa na minha falta de atenção ao invés de admitir que a Clair é responsável por tudo isso! - Respondo aumentando o tom de voz gradualmente, incapaz de esconder o quanto me sentia ofendida por ouvir algo assim da boca dele. O garoto solta um grunhido impaciente, enfiando os dedos entre os fios de cabelos castanho.


- Não é isso Rachel! Olha, você lembra aquela cena de Anjos da Lei 2? Aquele que filme com o Channing Tatum que você ama e já assistiu um milhão de vezes? - O garoto pergunta é minha raiva se dispersa minimamente sendo substituída por confusão, em entender onde ele queria chegar com tudo aquilo.


- Isso! Finalmente algo que ela entende! - O Matteo comenta, sendo ignorado por nós dois enquanto encaro meu primo curiosa.


- A cena em que estão na sala do psicólogo da faculdade, fingindo ser um casal e o Schmidt percebe que o amigo do Jenko não era o traficante? Porque eles introjetaram. - Sinto minha visão perde o foco brevemente enquanto a cena curta passa na minha cabeça algumas vezes, e meu coração palpita ao finalmente entender o que o Shawn tentava dizer. Solto um suspiro chocado e quando nossos olhos voltam a se encontrar, estamos na mesma frequência novamente. - Introjeção Rachel.


- Ahn? Que merda de língua vocês estão falando? Quem não tá entendendo porra nenhuma agora sou eu. - O Matteo diz interrompendo meu primo e apontando para si mesmo. Solto o ar preso em meus pulmões, ainda com certa dificuldade em assimilar a ideia, me enfiando entre os dois garotos no espaço sobrando no colchão como antes.


- Introjeção, é um princípio da psicologia, é quando existe uma tendência a incorporar a primeira informação que se recebe. - Explico lentamente começando a juntar as peças na minha cabeça.


- Fazendo com que se ignore as outras informações contraditórias a essa. - Meu primo completa, sem conseguir esconder um sorriso por termos conseguido chegar a um ponto em comum. Meu primo desliza as mãos pelos cabelos já bagunçados se inclinando sobre mim para chegar mais próximo do Matteo e concluir seu raciocínio. - A Rachel nunca gostou da Clair e desde o início a hostilidade entre as duas fez ela ter certeza que a Clair era culpada, começando a ignorar todos os sinais que poderiam indicar o contrário. Como por exemplo, o fato de que as primeiras páginas foram escritas com calma e cuidado, enquanto no final a caligrafia tá apressada, quase desleixada.


- Oh meu Deus! Você é tão inteligente Shawn! - Digo, por um segundo esquecendo que estávamos sendo perseguidos, que estávamos próximos de descobrir quem era a pessoa ameaçando nossas vidas, e que o Matteo estava exatamente ao meu lado observando tudo. A única coisa que conseguia prestar atenção era a expressão sem jeito no rostinho do garoto que eu amava.


- Ah, não foi nada… - Meu primo responde dando de ombros, se inclinando involuntariamente na minha direção enquanto não conseguia tirar os olhos dos dele.


- É claro que foi! Nossa, a associação que você fez com o filme, eu jamais pensaria em algo assim. - Digo com uma risadinha, sentindo a respiração do Shawn contra o meu rosto a medida que nos aproximávamos. Meus olhos encontram sua boca e não consigo deixar de notar o jeito como ele mordiscava o lábio, fazendo um sorriso incontrolável surgir no meu rosto. Não espero mais, pousando a mão na pele quente do seu pescoço e…


- Agradeceria se eu fosse poupado da visão de vocês introjetando um no outro. - A voz desesperada do Matteo corta meus pensamentos me fazendo soltar um suspiro irritado, ouvindo a risada constrangida do meu primo ao meu lado. - Vamos manter o foco aqui.


Como eu deveria manter o foco se o Shawn continuava bem ao meu lado, joelhos se encontrando e hálito batendo em meu pescoço? Soa impossível para mim. Principalmente agora, onde cada segundo da sua companhia se tornava cada vez mais indispensável, e mais incerto também.


- Tudo bem. O Shawn usou um ótimo argumento mas ainda é a letra da Clair aí. Não tem como negar isso. - Murmuro por fim, soltando um suspiro pesado ao desviar a atenção daqueles olhos tão castanhos para a dor cravada em papel e tinta. - Mesmo que a caligrafia esteja mais desleixada quando vai chegando no final, isso não significa nada.


- Claro que significa. - Meu primo e o meu ex falam em uníssono e mal consigo acreditar que os dois estavam concordando em alguma coisa. Eles também não, pois se encaram com sobrancelhas franzidas durante longos, e tediosos, segundos.


- A gente já sabe que a Clair está envolvida, mas você realmente acha que ela seria capaz de criar tudo isso na cabeça dela? - O Shawn continua o raciocínio, fazendo uma careta e deixando sua cabeça pender para o lado em questionamento.


- Exatamente por isso! Ninguém espera que alguém como ela pensei em algo tão diabólico e calculista assim. Você não aprendeu nada com A Órfã? Ou… ou, aquele Os Suspeitos, o com Hugh Jackman! E as Branquelas? A gente assistiu várias vezes desde que você chegou. - Digo exasperada, enumerando cada argumento com um dedo erguido, vendo a expressão do Shawn se tornar mais confusa a cada movimento que fazia. - Pois deveria! Porque eu aprendi que a gente sempre deve desconfiar da mais sonsa, mesmo que ela pareça burra feito uma porta.


- Ãhn… Primeiro, meu bem você realmente precisa usar seu tempo de algum jeito mais produtivo. - Meu primo responde deixando escapar uma risadinha divertida, gesticulando gentilmente com as mãos. Franzo o nariz em discordância, já cruzando os braços numa postura defensiva. - Segunda, que porra As Branquelas tem haver com isso? E terceiro. Seguindo a sua teoria baseada em filmes, a Clair não seria uma culpada óbvia demais?


- Exatamente por ser óbvia demais a gente acaba excluindo ela dos suspeitos e no final BOOM! É ela! - Digo dando um soco na minha mão aberta e me projetando sobre o colo do Shawn, ilustrando minha fala com tudo que tinha direito. Não sei como consegue, mas o meu primo ri jogando a cabeça para trás, deixando o peso em meu peito mais suportável com o seu sorriso. - E As Branquelas tem tudo haver Shawn, não existe no mundo detetives melhores que o Marcus e o Kevin.


- Mas se nossa vida fosse um filme, nunca seria igual esses que você tá dizendo… - O garoto rebate balançando a cabeça negativamente e o encaro esperando uma resposta. Era impressionante como fazíamos de tudo para nos distrair daquela situação. Isso era típico de mim, e o Shawn sabia disso, sabia como costumava fugir de todos os meus problemas. E, mesmo que não pudéssemos perder tempo, era incrivelmente grata por ter ele para esfriar a minha cabeça. - Seria uma comédia romântica ou um daqueles filminhos de adolescente, tipo Meninas Malvadas.


- Isso meu bem, você está certíssimo, não poderia concordar mais contigo. Sabe porquê? - Digo teatralmente apontando na direção do garoto que me encarava com uma expressão curiosa, voltando àquele ponto onde havíamos parado antes e não conseguimos concordar sobre. - Porque comédias românticas e filmes de adolescentes são sempre o mais previsível que você pode imaginar. E sabe o que também é previsível? A Clair perseguindo nós dois.


Abro os braços com as palmas apontadas para cima e os ombros levantados, como se assim pudesse colocar na cabeça do meu primo que aquela era de fato a opção mais plausível que tínhamos. O garoto solta um suspiro pesado, sem esconder o esgotamento na sua expressão abalada.


- Ainda assim, tem muita coisa que não bate. - O Matteo murmura ao meu lado, os dedos cobrindo a boca com a mão apoiada no queixo anguloso e as sobrancelhas grossas juntas no meio da testa. Meu ex parecia estar colocando todas as engrenagens para funcionar, realmente o único ali se esforçando de fato para chegar a alguma conclusão.


Ele nunca foi o mais rápido, o mais inteligente, e muito menos o mais sensato, mas apreciava sua ajuda acima de tudo. Demorei muito para perceber que o Matteo era muito melhor como amigo, do que como namorado, mas cada dia que se passava minha segurança sobre a amizade excelente entre nós só aumentava. Talvez ele estivesse fazendo tudo isso por se sentir culpado depois de todas as decepções que me causou. Acho que nunca voltarei a confiar nele de verdade, sempre existiria aquela pontada de dúvida.


Principalmente quando se tratava da Clair.


- O que não bate Matteo? A Clair sempre me odiou e nunca se importou em esconder isso, na verdade ela fazia o completo oposto. Todo mundo dessa cidade sabe que nossa relação não tem nada além de hostilidade. A sua amiguinha já deixou bem claro, e mais de uma vez, que adoraria ver eu me ferrando. - Argumento com fervor, tentando enxergar algo suspeito, oculto, em meio aos traços do meu ex. Começando a questionar se abrir o jogo com o Matteo havia sido mesmo uma boa ideia. - Além do mais, você não acha estranho vocês dois terem discutido e ela ter dito que “daria um jeito em mim" por ter destruído o relacionamento de vocês e no dia seguinte eu começar a receber ameaças anônimas? É estranho demais pra ser coincidência!


- Eu sei Rach, eu sei. Mas eu tava olhando as fotos e todas têm as datas… e eu estava com a Clair na maior parte desses dias. Ela não poderia ter ido pro estacionamento da farmácia, pra praia ou ficar espreitando a janela do seu quarto enquanto estava comigo. - Sua voz soa mais contida que os berros escandalosos que costumava dar, as feições travadas esperando alguma reação minha ou do meu primo. Recuo lentamente, sem desviar os olhos do garoto, meu coração se contorcendo em meu peito sendo consumido por uma onda de dúvidas e suspeitas. - Não teria como.


É, talvez abrir o jogo com o Matteo não tenha mesmo sido a melhor ideia. E agora não conseguia decidir entre me culpar por não ter sequer pensado nisso quando tudo aconteceu ou entrar em pânico por estar com um possível suspeito bem na minha frente. Poderia esperar o meu ex ir embora e contar para o Shawn toda a desconfiança ou confrontá-lo agora.


- Não teria como. - Repito, encarando o rosto familiar do Matteo enquanto um turbilhão se passava pela minha mente. O que levaria o meu ex a nos perseguir? Nos ameaçar? Quais seriam as suas motivações? O Matt disse que me ajudaria, ele prometeu que compensaria o que houve entre nós dois. E eu acreditei. Acreditei tanto que mal considerei a possibilidade de ele ser o perseguidor anônimo. Mesmo que já tenha me enganado tantas vezes. - Não teria como. A não ser que você esteja mentindo.


As palavras deixam a minha boca num sopro incontrolável, a respiração de todos nós parece se estagnar e nenhum som reverbera no quarto além das batidas abafadas dos nossos corações. A expressão do Matteo passa de confusa a chocada num segundo, para depois se contorcer numa mágoa profunda que nunca pareceu tão verdadeira em seu rosto.


- Rachel… você realmente acha que tenho alguma coisa haver com essa história? - O tremor em sua voz quase faz eu me sentir culpada. Quase. Mas o medo de ser traída de novo vence qualquer sentimento. Engulo em seco recuando deliberadamente até estar com as costas contra o corpo do meu primo. - Eu… eu te contei sobre a Clair antes mesmo das mensagens começarem, te contei quando ela me disse o que pretendia fazer com você, te defendi todas as vezes que seu nome apareceu numa conversa. Porque eu faria tudo isso se quisesse ferrar contigo? Ou melhor, porque eu iria querer ferrar contigo, Rachel?


- Eu não sei! Você já fez isso uma vez. Não pode me culpar por cogitar essa possibilidade Matteo! - Respondo sentindo o nó na minha garganta, nem ao menos conseguia olhar nos seus olhos enquanto falava, pareciam tão ofendidos, tão cheios de ultraje. Encaro meu primo esperando que diga algo, mas sua expressão confusa diz tudo, parecendo deslocado em toda a situação. - Como quer que eu acredite que tudo isso não é fingimento e na verdade você tá de complô com a Clair?


- Fingimento? Eu posso ter sido um filho da puta com você, admito meu erro quantas vezes for preciso. Mas nunca fingi nada do que sentia. Não fingi meu choro quando conversamos na cozinha da minha casa. - O Matteo diz, sem gaguejar nenhuma vez mesmo com a voz oscilante, desviando a atenção de mim apenas por alguns segundos para lançar um olhar desconfortável na direção do Shawn e então me encarar novamente. Os olhos escuros numa fenda. - Não fingi que gostava de você. Não fingi quando disse que ainda gosto. E não fingi quando prometi te ajudar.


Engulo em seco sentindo o peso em meu peito. Não estava errada, estava? O Matteo já havia mentido tantas vezes, era de se esperar que não conseguisse confiar nele tão facilmente. Então porque me sentia tão culpada? Porque seu rosto contorcido em mágoa me afetava tanto? Minha boca tinha um gosto amargo, das palavras que não sabia dizer.


- Acho que deveríamos fazer o que precisava ser feito desde o início. - Meu primo murmura hesitante, felizmente interrompendo o momento desagradável de lavar roupa suja entre o Matteo e eu. O garoto levanta determinado, batendo as palmas nas coxas cobertas e nos encarando brevemente antes de continuar. - Vamos na delegacia.


- NÃO!


Minha voz e a do Matteo fazem eco nas paredes do meu quarto, assustando o Thomas que repousava tranquilamente sobre o colchão. Meu primo arqueia as sobrancelhas, num misto de surpresa e irritação, parecendo puxar um grande volume de ar para despejar todos os argumentos contra nós dois, mas nada além de um grunhido nervoso deixa sua boca.


- De jeito nenhum Shawn! Isso não pode sair daqui! - Esbravejo me levantando num salto, uma pontada aguda atingindo meu tornozelo e me fazendo fraquejar. Encaro os dois garotos com o olhar mais incontestável possível, querendo deixar claro que essa opção estava fora de cogitação no momento.


- Uma porra, o que você quer então? Dar uma de Sherlock Holmes e descobrir sozinha quem está nos perseguindo? - Meu primo retruca com o tom debochado, cruzando os braços e adquirindo uma postura defensiva pronto para a uma discussão iminente. - Nós vamos na delegacia, vamos levar nossos celulares, esse álbum e todas as outras coisinhas que deixaram pra gente. Eles vão deter a Clair, já que ela tá claramente envolvida nisso, e na primeira pressãozinha ela vai cuspir tudo.


- Você não está entendendo a gravidade da situação Shawn! - Murmuro apertando os olhos com força e esfregando minhas têmporas por conta da dor de cabeça que começava a aumentar.


- Como é que é? Na verdade, eu pareço ser o único aqui entendendo a gravidade da situação! - Meu primo grunhe entre os dentes se aproximando de mim a passadas curtas, até que o único lugar para onde eu pudesse olhar fosse seu rosto estampando frustração. - Ou você prefere brincar de Scotland Yard até esse maluco te atropelar enquanto atravessa a rua?


- Deus, não precisa exagerar mano. - O Matt murmura tentando acalmar os ânimos, sendo ignorado completamente pelo meu primo. Quem diria, Matteo Mantovanni tentando apaziguar uma discussão.


- Meu bem, eu sei que você está preocupado. Eu também estou. Mas não podemos fazer coisas impulsivas que vão mudar toda figura da história, ok? - Digo tentando soar o mais calma que era capaz, já havíamos tido uma discussão feia hoje no calor do momento e a última coisa que queria agora era repetir a dose. Brigar com o meu primo sempre me esgotava. Pouso as mãos sobre seu antebraço e sinto a rigidez se suavizar minimamente. - Ir na delegacia é a coisa mais certa a se fazer, eu concordo. Mas não estamos em Pickering, Shawn. Se colocarmos a polícia nisso, amanhã de manhã essa confusão já vai estar na primeira página do jornal da cidade. E certamente vai descobrir sobre nós dois e aí Deus sabe o que pode acontecer. Isso estragaria tudo.


Tudo. Todo o plano, já cheio de furos, que bolamos para fugir daqui. Nossa única saída. Não precisamos de mais um empecilho. A expressão irritada do meu primo suaviza levemente, e consigo ler o impasse nos traços do seu rosto. O Shawn hesita, oscilando sobre os dois pés antes de enfiar os dedos nos cachos castanhos com frustração.


- Além do mais, se formos na polícia e não der em nada, a pessoa que está nos perseguindo vai saber. Como sabe sobre cada passo que damos. E isso só vai incentivar essa loucura porque vai ficar claro que estamos nos mijando de medo. - Falo tentando convencê-lo, acalmar aquela última faísca dentro dele que ansiava por fazer a coisa mais certa, independente das consequências. Encaro seus olhos confusos, meu estômago se contorcendo em angústia com impressão de estar me aproveitando disso para persuadi-lo. - E então esse monstro vai ter conseguido exatamente o queria. Nos assustar, nos separar.


- A Rachel tá certa. Seria uma decisão muito precipitada levando em conta tudo que tá em jogo. - O Matteo dispara sem dar chance do Shawn responder, correndo os dedos pelo cabelo e curto e barba mal feita. Encaro o meu primo, pensativo, concentrado. O meu ex me olha de relance sabendo que precisávamos convencê-lo de que envolver as autoridades nisso deveria ser nossa última opção. - Vocês precisam agir como se estivesse tudo bem, continuar a fazer tudo do mesmo jeito. Não sair por aí desesperados, dando com a língua nos dentes. E… bom, agora que vocês me contaram, e temos certeza de que a Clair está envolvida, eu posso…


- Não! Se você tá pensando que vai abrir o bocão e falar tudo com ela, você tá muito enganado! - Explodo com o coração disparado apenas com essa possibilidade, apontando um dedo contra o peito do Matteo e encarando seus olhos na mesma altura dos meus. No entanto o garoto não parece se abalar nem um pouco. - Matteo, você não sai dessa casa enquanto não jurar que vai ficar de bico fechado!


- Por que é tão difícil pra você entender que eu não quero piorar sua situação? Olhe, eu conheço a Clair melhor do que ninguém. Eu sei como ela pode ser influenciável, foi como o Shawn disse. Uma pressãozinha e ela joga tudo na roda. - O garoto explica com os ombros encolhidos e gesticulando cheio de dedos aqui e ali. Cruzo os braços, balançando minha cabeça em negação vigorosamente. Me aprecia bastante coerente, mas sabia que o Matteo sempre acabava fazendo tudo diferente do que dizia. - Você precisa acreditar em mim. Rachel, todo mundo na cidade sabe sobre a briga entre você e a Clair, lembra? Ela seria a suspeita mais provável. E a mais fácil de pegar também. Não é?


- Só diga logo onde você quer chegar… - Meu primo murmura impaciente, o que não é do seu costume, passando os dedos com agonia pelo topete bagunçado. Noto os músculos contraídos no maxilar do meu ex e seus ombros tensionados, exalando ansiedade pelos poros.


- Eu acho… - O Matteo murmura se aproximando de nós dois, olhando por cima dos ombros como se alguém estivesse espreitando nossa conversa. É meu querido, eu conheço bem essa sensação. Sua voz sai ainda mais baixa, um sopro se perdendo na atmosfera densa. - Eu acho que tem alguém tentando incriminar a Clair. Ela tem agido estranho nos últimos dias, acho que o verdadeiro culpado pode estar, não sei, obrigando ela a participar disso.


- Matteo, uma pessoa como a Clair não escreve um álbum inteiro por estar sendo obrigada. - Digo dando de ombros, franzindo o nariz com a possibilidade do meu ex estar certo. Na minha cabeça era impossível enxergar a Clair como vítima de alguma coisa. Encaro meu primo esperando que concorde comigo, mas para a minha infelicidade ele tem uma mão apoiada no queixo e outra cruzada na altura do peito, os olhos grudados num ponto vazio do quarto.


- Ela pode estar sendo chantageada. Ameaçada. - O Shawn completa levantando a cabeça com determinação, o Matteo assentindo em resposta, os dois se encarando como se tivessem chegado a um acordo. - Mas com o quê?


Penso em gritar, falar em como isso tudo soa absurdo e estúpido, e jogar na cara deles dois a forma como simplesmente não conseguiam enxergar a maldade em Clair Rodriguez, convencê-los a parar de sentir pena de uma pessoa detestável como ela. Seria tão mais fácil, colocar a culpa na Clair, jogá-la contra a parede, resolver tudo e seguir nossas vidas como se nada tivesse acontecido.


Tão fácil. Até fácil demais.


Queria ser fria o suficiente para não sentir tanta pena e sede de justiça quanto o Matteo e o Shawn. Mas não era, não conseguia ser como a Clair, não conseguia destruir a vida de alguém que não está fazendo nada de errado. E do jeito que os dois garotos falavam, todas as teorias e especulações, ela realmente não parecia ser a mais errada da história. A mais culpada disso tudo.


O som retumbante da porta da casa batendo me faz saltar no lugar, sendo arrancada dos meus pensamentos e lembrando de outras inseguranças ainda mais graves. Conseguia ouvir os passos no andar de baixo, a Heeley deve ter voltado para casa. Se ela sequer cogitar a possibilidade de que estamos correndo perigo por causa do relacionamento entre mim e o Shawn, será o fim.


- O que vamos fazer? - Pergunto num sussurro afobado, alternando o olhar entre os dois garotos completamente apreensiva. Cada decisão parecia mais urgente, mais apressada, um lembrete constante de que nosso tempo corria sem pausas e estava ficando cada vez curto. Tempo para nos esconder, tempo para nos proteger, tempo para ficar juntos. Tempo para fazer escolhas.


- Vocês vão fazer exatamente o que fazem sempre. Como se não tivessem recebido nada. Como se não estivessem se borrando de medo. - O Matteo fala sussurrando entredentes sem pegar leve na breguice nem em uma hora dessas. Meu ex enfia os papéis radicados dentro do álbum e joga o livro grosso embaixo da cama. - Eu vou fazer o possível pra sondar a Clair sem deixar na cara que sei de algo. E vocês ajam naturalmente, fiquei se abraçando pelos cantos e fingindo estarem brigados como sempre. Assim o maníaco vai perceber que não conseguem ser afetados tão facilmente. Talvez até desista.


Talvez não. Talvez isso seja um incentivo para ele. Penso. Mas não digo em voz alta, nossos nervos já estavam a flor da pele e não tinha nenhuma ideia melhor no momento. O meu ex se vira para ir embora mas seguro seu braço contraído num movimento rápido.


- Matteo. Me prometa que não vou me arrepender de confiar em você de novo. - Murmuro, minha voz mais trêmula e frágil do que gostaria denunciando toda a consideração que ainda guardava pelo Matt. O garoto me encara, virando o corpo na minha direção completamente e me encarando com firmeza.


- Você não vai se arrepender Rachel. Eu prometo. Prometo que vou dar um jeito nisso. - O Matteo fala com determinação, sua voz soando confiante de um jeito que nunca havia visto antes. Não parecia seguro de si por exibir sua beleza e seu dinheiro por aí, parecia seguro de si por algo que não dá para comprar. Por uma força de vontade sentimentalista movida por uma emoção sem nada de futilidade. Era difícil acreditar, mas o Matt estava diferente. - Vou consertar tudo.


- Rachel? Eu saí pra comprar aspirina pro Garret, vocês já voltaram da festa? Assim tão cedo? - A voz da Heeley soa do batente da porta entreaberta, revelando a mulher baixinha com os cachos tingidos presos no alto da cabeça nos encarando como se fossemos aberrações. Seus olhos vão do Matteo para mim, e para minha mão tocando seu braço, então encaram o Shawn e analisa nossos rosto nervosos e tensos, com linhas profundas de angústia. Claramente não estávamos no nosso melhor estado. - O que o Matteo está fazendo aqui?


Abro a boca para dar alguma desculpa mas não consigo pensar em nada além do maníaco nos perseguindo, na nossa família descobrindo o relacionamento entre mim e o meu primo, e no Shawn voltando para o Canadá. O Matteo se esgueira do meu toque e sua expressão nos denuncia mais que qualquer palavra dita. O canadense ao meu lado se mexe desconfortável e o rosto da minha tia é tomado pelo choque.


- Vocês estão fazendo o que acho que estão fazendo? - A mulher pergunta aumentando o tom de voz e escancarando a boca, sem hesitar em dar passos longos para dentro do quarto. Se você acha que estamos tramando um plano contra um perseguidor sanguinário querendo nos matar e destruir a honra dessa família, sim, é exatamente isso que estamos fazendo. A minha tia se demora encarando o rosto de cada um de nós completamente perplexa. - Vocês iam fazer um ménage?


- Oh meu Deus! Shawn, ela descobriu! - Digo no segundo seguinte soltando o ar preso nos meus pulmões sendo tomada por uma onda de alívio. A mente poluída da Heeley nunca foi tão conveniente. Enterro o rosto no peito do meu primo, escondendo a vontade de rir e vibrar com uma atuação barata movida pelo desespero.


- Porra… não é o que você tá pensando… quer dizer… droga! - Meu primo é mais lento que eu, porém seu nervoso e despreparo só torna tudo melhor e mais convincente. Seu jeito desprevenido parece surpreender a Heeley ainda mais, que cobre a boca aberta com a mão.


- Acho que já deu minha hora, vou indo. Fica pra próxima gatinha. - O Matteo não demora a entender, sempre sendo especialista em distorcer as situações para tirar o seu da reta. Se esgueirando a passos rápidos e apressados ele passa pela minha tia estatelada no meio do quarto, parando por apenas alguns segundo ao alcançar a porta e lançando um olhar significativo antes de sumir no corredor.


- Isso está saindo do controle! Pelo amor de Deus, onde vocês acham que estão? No Woodstock? - A mulher brada sem se importar com o Gary desmaiado no outro cômodo. Abaixo a cabeça, pela primeira vez na vida aliviada por levar um esporro monumental por algo que nunca aconteceu. - Olha aqui Rachel, não vou dar uma de moralista pois faria o mesmo no seu lugar mas caralho, dentro de casa não!


Aperto os lábios com força me segurando para não explodir numa crise de risos e pelo canto do olho consigo ver o Shawn fazer o mesmo, as bochechas num vermelho intenso que deixava minhas pernas bambas. Minha tia bufa sacudindo a cabeça como se tentasse manter a calma.


- Eu vou enfiar isso aqui goela abaixo do Gary agora, mas não pensem que isso acabou porque eu vou voltar. E vamos ter uma conversa séria sobre… sobre essa irresponsabilidade de vocês! - A mulher rosna entredentes dando as costas com violência e sai batendo os pés, murmurando reclamações indecifráveis. - Veja só… você dá a mão e eles já querem o braço todo, os adolescentes de hoje são tão idiotas… nem pra Karen chegar e pegar esses dois no ato… ou melhor esses três.

Seus murmúrios irritados se afastam até que não sejam mais audíveis, e me afasto do Shawn sentindo um certo peso ser tirado dos meus ombros agora que só havia nós dois no cômodo. Encaro seu rosto, um misto de diversão, medo e alívio. Se é que isso é possível.


- Nós estamos tão ferrados. - Meu primo murmura balançando a cabeça de um lado para o outro, prendendo o lábio inferior entre os dentes ansiosos. Não sei se ele está falando isso pelo sermão que vamos escutar pelas próximas horas ou por estarmos enfiados até o pescoço numa situação absurda e sem solução onde somos ameaçados por um maníaco. Independente de qual opção fosse, concordava plenamente.


- Sim, nós estamos.


Notas Finais


Desculpa os erros não aguentei revisar tava chato demais ksjsksjsks mas não era isso que eu queria dizer.

Nunca pensei que estaria escrevendo isso mas, caralho, estamos chegando na casa dos 100k de visualizações e a porra de 900 favoritos. Mano que caralho é esse? Eu tô em choque, não sei mesmo o que faço pra merecer a atenção de vocês, juro que não sei. Mas agradeço demais por isso, de verdade gente, é surreal. Surreal.

Bom, eu disse que ia fazer uma live quando chegasse em 800 faves, chegou em 800 e eu fiz porra nenhuma * meme da tulah rindo * Mas gente não parece só que eu sou muito tímida cara tanta coisa pode dar errado numa live, n consigo falar por mensagem, no celular, nem pessoalmente quanto mais fazer uma live paciência ksjsksjsks só que eu amo ser chacota nacional então eu tive a brilhante, brilhante ideia, puta que pariu n acredito que vou falar isso mas ok, a gente pode fazer um perguntas e respostas pelo insta né que agora tem aquela porrinha de perguntar ou, santo deus, vídeo no YouTube. Palhaçada. Respondam nos comentários o que vcs preferem, ou se vcs acham idiotice (tanto quanto eu) rs, se flopar fingimos que nada aconteceu é até bom que n preciso colocar meu rostinho horroroso na internet. Mas como amo muito todos vcs não tem nada que vcs n me peçam que eu não faça. Dedo no cu e gritaria.

Queria agradecer de coração mesmo por todo apoio que vocês tão me dando, tem dias que eu só quero morrer e vcs me ajudam muito mesmo que não saibam ksjsks e várias pessoas vieram falar comigo essa semana, alguns leitores novos, alguns ícones da escrita que me deram ótimos conselhos (Cheron ❤) e que me fizeram pensar muito sobre várias coisas, e certamente estou postando esse capítulo com muita felicidade por que ultimamente toda atualização tem sido um processo bem apavorante bem esgotante mas que sempre trás um gostinho bom no final, sempre vale a pena, graças a vocês. Vocês não fazem ideia do que significam pra mim, cada um de vocês. Então muito obrigada mesmo.

Agora que já terminei a porra do querido diário isso querido diário aquilo encheção de saco do caralho, quero abrir um parênteses pra falar, hummm até que o insta tá indo bem e eu sempre esqueço de fizer puta que pariu eu tava olhando os perfis de vcs no insta e caralho eu tenho muita leitora gata nossa mano vai se foder é beleza demais eu não aguento com isso não. Era só isso mesmo não podia deixar de enaltecer.

Então finalizando, comentem sobre a minha possível chacota de presente 900 faves e sobre o que acharam do capítulo e tal, não quero comentários tristes e profundos dessas vez vamos só rir e gritar de felicidade por eu ter atualizado ksjsksjsj amo vocês mais que tudo, beijinhos beijinhos ❤


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