LEIAM AS NOTAS FINAIS *Tem surpresinha lá* PRINCIPALMENTE OS LEITORES NOVOS
Maldito momento em que atendi o celular sem antes olhar a droga do nome na tela de chamada. Respirei profundamente saindo do banheiro angustiada, sem querer que a minha prima ouvisse que eu estava falando com o Matteo.
- Oi nada. Não vem com essa de oi não. Porque você está me ligando? - Sussurrei contra o telefone ouvindo um pigarro confuso do outro lado da linha. Era só o que me faltava, batava que as coisas começassem a dar certo que algo acontecia para estragar. Se bem que esse "certo" é relativo, considerando principalmente a merda onde eu havia me metido com o Shawn.
- Calma lá linda. Eu mandei um monte de mensagens e você não respondia. Comecei a ficar preocupado. - O garoto falou cuidadosamente, seu tom de voz estava mais suave que o normal, como se medisse cada palavra que saía da sua boca. Revirei os olhos para toda aquela idiotice, tirando o celular da orelha para olhar a barra de notificações lotada de mensagens do garoto. Eu quase não acreditava naquilo, mas se tratava do Matteo então é óbvio que essa insitência insuportável já era esperada.
- Conta outra Matteo. - Murmurei escutando o menino resmungar por conta da minha incredulidade, enquanto eu ficava cada vez mais tensa com a possibilidade chegar a qualquer momento e ouvir a minha conversa. Comecei a cogitar a ideia de voltar para o banheiro e correr o risco da Aali ficar sabendo daquela ligação, pelo menos nela eu conseguiria dar um jeito mas no seu irmão a história já é outra. - Diz logo o que você quer, eu não tenho a tarde toda.
- Hi, já vi que você tá de TPM. - Murmurou mais para si mesmo do que para mim. O pior era que o desgraçado me conhecia. Agora não dava mais para voltar atrás do que já tinha acontecido entre nós dois, mas isso não significava que eu queria fazer tudo de novo apenas por que não conseguia me arrepender de nada. Ouvi um suspiro pesado deixar os lábios do meu ex, começando a amolecer meu coração contra a minha vontade. - Olha é, depois do que aconteceu no fim de semana eu achava que seria bom conversar, quer dizer, esclarecer algumas coisas. Não quero ficar nesse clima estranho com você Rach.
- Matt eu... Eu realmente não quero saber o que você tem pra me dizer. Eu simplismente não preciso saber de mais nada que possa sair da sua boca. Estou bem assim. - Cochichei apertando meus olhos com força por ter que dizer essas coisas, sim ele é um babaca que não vale nada, mas pela primeira vez desde o dia em que começamos a ficar o Matteo estava se importando com o que eu acharia das suas palavras, ele estava se esforçando para ser educado e dizer a coisa certa.
- Pare de ser tão cabeça dura, pelo amor de Deus! Eu preciso mesmo falar com você Rach, eu preciso te ver. Por favor. - Implorou. Engoli em seco ao notar a voz do garoto cada vez mais oscilante e embargada, e o som da sua respiração pesada no celular fazia meu estômago revirar. Mas de um jeito ruim. Rachel Mitchell você é uma idiota. Não devia ceder tão fácil, quer dizer eu não estava nem um pouquinho afim de ser feita de trouxa pela milésima vez. - Eu prometo que não vou forçar nada entre a gente, não vou encher seu saco. Só quero conversar meu bem.
- Matteo você sabe que isso não vai dar certo. - Murmurei de forma enfandonha ouvindo o garoto reclamar me pedindo repetitivamente para atender ao seu pedido, bati o pé disposta a negar a todo custo mas assim que pousei os olhos no meu primo caminhando em minha direção o meu coração pareceu parar por alguns instantes e todo o sangue do meu corpo ser escoado por um buraco invisível. O Matteo não desligaria até que eu lhe respondesse sim. - Tá legal ok? Eu saio com você agora para de encher meu saco. E não me chama de meu bem.
- Quem não pode te chamar de meu bem? - A voz do Shawn fez o meu corpo todo tremer, não sei se de tensão por ele possivelmente ter escutado a conversa, ou se era simplismente por ser ele. O meu primo nao podia sabem daquilo, a última vez que ele e o Matteo estavam no mesmo lugar os dois quase se mataram e eu tive um ataque de pânico arrasador. Pois é. Não estava afim de repetir a dose, mas também não queria mentir para o Shawn.
- Você. Você não pode. - Soltei rapidamente com um sorriso falso se formando no meu rosto que não enganaria ninguém, muito menos o Shawn. O garoto riu franzindo as sobrancelhas claramente curioso por conta da minha reação estúpida. Ok Rachel você já foi melhor nisso. Por que eu não estava conseguindo mentir para ele? Meu primo circundou a minha cintura com as duas mãos fazendo as minha pernas ficarem bambas.
- Primero: É claro que eu posso. Segundo... o que você anda me escondendo hein? - Perguntou com um sorrisinho malicioso no rosto me fazendo bufar por ser uma garota tão incompetente a ponto de dar na cara que eu estava omitindo algo sem mal abrir a boca. Você é péssima em disfarçar dele, só aceita Rachel e vida que segue. Apoiei minha testa em seu pescoço evitando que ele visse a minha cara de mentirosa deslavada.
- Não estou escondendo nada. - Disse sentindo ele puxar meu rosto entre suas mãos e me forçar a encara-lo, ele revirou as órbitas castanhas dessa vez esperando que eu falasse o que realmente havia acontecido. Não dava. Não conseguia olhar no fundo dos olhos do Shawn e não dizer tudo que estava me incomodando, ele tinha se tornado aquele amigo para quem você podia contar qualquer coisa sem pensar e correr o risco de se arrepender depois. E aquilo estava me assustando.
- Por favor não fique chateado tá?
- O que houve? Pare de me enrolar Rachel. - Falou com meio sorriso no rosto macarando seu mais recente estado defensivo, enquanto eu ponderava se realmente contaria para ele ou não. Dizer para que não se irritasse realmente não foi o melhor jeito de iniciar essa conversa. O Shawn odiava quando começavam a falar algo e não terminavam. Bom a merda já estava feita, não tinha para onde correr. Quer dizer até tinha, só precisa empurrar ele um pouquinho para o lado e pernas para que te quero... - Você vai dizer ou não?
- Promete que não vai ficar puto né? - Perguntei querendo me certificar e apenas deixando o garoto mais impaciente. Essa seria uma ótima hora para a Aaliyah sair do banheiro. O Shawn balançou a cabeça freneticamente pedindo para que eu falasse logo o que era. - O Matteo me ligou e disse que quer conversar. Só isso.
- E o que você respondeu? - Perguntou algum tempo depois tentando parecer desinteressado ao se encostar na parede do corredor me puxando sobre seu corpo em seguida, fazendo eu me lançar aconchegantemente em seu peito rígido. Olhei para trás pensando que a Aali poderia aparecer a qualquer momento, imediatamente me afastando dele de forma tímida deixando que o meu primo tocasse apenas na minha mão.
- Eu disse que ia. - Contei receosa mas ele não parecia surpreso. Senti o garoto me puxar de novo sem nenhum pudor e enfiar delicadamente o rosto na curva do meu pescoço de um jeito manhoso. Eu baixinho agarrando o seu cabelo e o puxando oara trás numa tentativa falha de fazê-lo se distanciar de mim.
- Mas você vai? - Falou finalmente levantando o rosto e me encarando com aquela carinha, o meio sorriso e os olhos brilhantes, que fazia eu me derreter por completo. Era inevitável. Respirei fundo sem saber ao certo o que lhe responder, enquanto desviava o olhar sabendo exatamente qual palavra o Shawn queria que eu falasse.
- Não sei. Talvez sim. - Disse por entre um suspiro sendo sincera com ele. O garoto pigarreou ajeitando a postura e agora me olhando de cima, puxando o topete de forma inquietante para em seguida abraçar a minha cindura deixando seu rosto perigosamente perto do meu. Prendi a respiração sentindo o ar quente sair dos seus pulmões livremente e aquecer minha bochecha.
- Tem algo que eu possa fazer para te convencer a não ir? - Perguntou baixinho se aproximando cada vez mais até ser capaz de depositar um selinho em baixo da minha orelha. Apertei seu braço sem nenhuma delicadeza ouvindo sua risada arrastada, eu devia ter empurrado o Shawn quando tive a chance pois agora havia perdido todo o resto do meu pouco bom senso que sobrava.
- Você pode tentar. - Falei com a voz ridiculamente afetada, sentindo o garoto agarrar meu pulso e em dois segundo me puxar para dentro de um dos corredores de serviço do shopping. Deu alguns passos para se afastar da porta de entrada restrita e quanto achou a distância suficiente me prensou contra a parede de um dos becos vazios. Eu tremia dos pés à cabeça e parecia que todo o meu corpo estava eletrizado, tendo pequenos choques em pontos estratégicos, sem ele ao menos me tocar. Segurei a risada nervosa com medo de sermos pegos por alguém, encarando o rosto corado e sorridente do meu primo como se fosse uma obra de arte. Talvez, por que era mesmo uma.
Meu coração bateu forte em meu peito e eu não quis descobrir se aquela reação era por temer que nos vissem ali ou se era culpa do meu primo. Encarei seu rosto por alguns segundos analisando cada detalhe ao alcance da minha visão, deslizando os dedos pela cicatriz na sua bochecha cada vez mais corada, sentindo seus olhos buscarem contato com os meus desesperadamente. Por um momento eu não quis olhar para mais nada na minha vida além das íris castanhas do Shawn.
Seus lábios mornos tocaram os meus calmamente e foi como se cada lugar em que as mãos do Shawn pousavam começasse a formigar sob seu tato. O garoto estava diferente naquele dia, ele não estava me beijando apenas com a boca e sim com todo o seu corpo. Ele estava me beijando com uma emoção que eu desconhecia, mas gostava.
Parecia mais carinhoso e sentimental do que qualquer outra vez que tenhamos nos beijado, e eu tive certeza de que se meu primo não estivesse me segurando com tanta firmeza já teria ido ao chão a muito tempo pois minhas pernas definitivamente haviam parado de funcionar como deveriam. Nunca na minha vida havia sentindo tanta intensidade e fervor nos gestos de alguém como nos do Shawn. Não parecia ser ensaiado e sim completamente natural como se seu corpo guiasse o meu espontaneamente.
Não conseguia me concentrar em nada além da sensação de ter a língua do meu primo explorando cada canto da minha boca e das suas mãos tocando cuidadosamente cada centímetro de pele exposta do meu corpo. Seus lábios desceram febris pelo meu maxilar e indo em direção ao meu pescoço, dando chupões controlados como se estivesse policiando sua própria afobação. Seus dedos se entrelaçaram aos meus cabelos puxando alguns fios levemente enquanto eu me sentia cada vez mais cálida e frágil em seus braços.
- O que você tá fazendo comigo Ray? - Murmurou o apelido que só ele usava com a voz rouca saindo arrastada pela sua garganta fazendo meu estômago borbulhar do jeito mais estranho possível. Enquanto eu respirava de forma completamente descontrolada agarrada aos ombros largos do garoto sem conseguir formar uma palavra coerente sequer para respondê-lo. Seus lábios voltaram aos meus deixando selinhos torturantes antes de finalmente se separar me encarando docemente. - Senti sua falta ontem, a gente mal se viu.
- Sentiu foi? - Perguntei com um meio sorriso no rosto ainda atordoada por todas as reações que meu dava em resposta às atitudes do garoto. Havia sido diferente dessa vez. O Shawn nunca tinha me beijado daquele jeito, com tanto ímpeto, e depois disso não estava conseguindo recuperar as minhas melhores faculdades mentais. A única coisa clara na minha cabeça parecia ser o meu primo. E, enquanto eu encarava o fundo dos seus olhos castanhos, senti aquelas cosquinhas na barriga que sempre estragavam tudo quando apareciam. Achei que o Matteo tinha destroçado todas as borboletas do meu estômago no dia em que passou por cima de todos os sentimentos que eu nutria por ele como se não fossem nada. Mas parece que o Shawn havia trazido as suas próprias borboletas para ocupar o espaço das que o meu ex matou. - Foi só um dia Mendes.
- Eu sei mas... ah, acho que me acostumei a ficar perto de você, mesmo sem "isso" que tá rolando entre a gente. - Falou desviando os olhos dos meus e puxando o topete para cima como um tique nervoso. "Isso". Ele queria falar de tudo que fazíamos e na verdade não deveríamos fazer? Eu me perguntava se "isso" queria se referir aos beijos quente e mãos bobas que agora trocávamos com frequência. Não pretendia ouvir o Shawn falar que sentia minha falta logo depois de ter um momento tão intenso com ele, parecia que tudo ficava pior e mais transgressor. Mas o tom da sua voz quase fez aquilo parecer certo. Pena que não foi suficiente para que realmente fosse correto, e nós dois sabíamos disso.
- Mas admita que com "isso" é muito melhor. - Sussurrei tentando cortar o sentimentalismo naquela situação, começando a beijar o maxilar do meu primo. Não tive muito sucesso quanto a isso pois, a cada toque meu eu podia sentir o coração do Shawn bater mais rápido em todo o seu corpo. Aquilo teria me incomodado se o meu próprio coracão também não estivesse tão veloz quanto o dele. Pousei a mão aberta sobre seu peito sentindo o movimento acelerado lá dentro, não conseguia acreditar que isso estava acontecendo por causa do nosso beijo. Talvez porque não fosse por isso. O garoto me encarou envergonhado por saber que eu estava experimentando cada batida sob minha palma, sem saber na verdade se vinha de mim ou dele. Então era "isso", aquele lance não verbalizado. - Porque seu coração está batendo tão forte?
- Estou com medo de nos pregarem aqui. - Murmurou com um emio sorriso no rosto após algum tempo de silêncio enquanto claramente pensava no que responder. O garoto se afastou com as bochechas avermelhadas, aproveitando para dar uma olhada no beco vazio onde estávamos e checar se havia alguma movimentação por perto. Ri pela sua cara desconfiada, me sentindo mais leve agora que que sabia o motivo de tanta afobação. Mesmo que uma pontinha em mim achasse que poderia ser mentira. - Aliás, a Aali já deve ter saído do banheiro.
- Será que alguém vai nos ver? - Perguntei dando alguns passos de forma tensa em direção ao corredor amplo e cheio de estruturas no tetos que levava a parte restrita do shopping. Olhando nervosa para os lados na esperança de não encontrar nenhuma alma viva ao sair do beco vazio. Dei um pulo quando senti a mão do Shawn apertar a minha cintura deixando a adrenalina ainda mais evidente em meu sangue.
- Não sei. Mas não quero esperar pra ver. - O garoto murmurou no meu ouvido antes de agarrar meu pulso de forma brusca e me forçar a correr ao seu lado. Logo atravessamos a porta de acesso restrito encontrando o corredor dos banheiros do shopping, me permiti rir escandalosamente ao lado do meu primo esperando que não nos metessemos em encrenca. Ri ainda mais quando escutei a gargalhada do garoto, quando eu via o Shawn sorrir não sabia dizer se quem estava mais feliz era ele ou eu por vê-lo tão alegre.
Eu idolatrava aquele jeito lado despojado e brincalhão do Shawn, o que tinha um pouquinho de irresponsabilidade e inconsequência. Me mostrava que mesmo tão diferente de mim ele também podia ser como eu as vezes, a gente possuía um pedacinho um do outro em um mar de diferenças. Deixei meu primo lá por alguns segundos seguindo em direção ao banheiro feminino já esperando o sermão que a Aali ia me dar por ter sumido de repente e deixado ela lá sozinha para morfar. Franzi as sobrancelhas ao ver umas cinco garotas se olhando no espelho, e nenhuma delas era a Aaliyah.
- Aaliyah? Alguma de vocês viu uma garotinha com blusa azul saindo desse banheiro? - Perguntei andando entre as cabines começando a sentir minha garganta seca pelo desespero. Algumas das mulheres nem ao menos respondeu, a as que responderam apenas me trouxeram respostar negativas. Gritei o nome da minha prima mais uma vez. Não obtive nem um sussurro ao longe. Respirei fundo tentando manter toda a calma que eu possuía, que sempre foi pouca. Que porra eu ia fazer, a Aali tinha sumido.
Peguei meu celular sentindo as minhas mãos tremerem ao tentar fazer aquilo, ficando rapidamente o número que já conhecia muito bem e esperando que ela atendesse. Cada toque era uma batida do meu coração. Liguei mais uma vez sentindo a angústia me consumir. Redisquei pela terceira vez e quando percebi que ela não ia atender eu finalmente perdi todo o meu auto controle. Corri para fora do banheiro sentindo o ar escasso dentro dos meus pulmões, encontrando meu primo escorado contra a parede. Ele notou que tinha algo errado assim que pousou os olhos em mim e não esperei muito para dar a notícia.
- A Aali não tá lá dentro. - Falei com a voz já embarbargada sem saber como manter a calma, e esperando que o Shawn conseguisse resolver aquilo melhor que eu. O meu primo ajeitou a postura imediatamente e seus passos apressados em direção ao baneuro feminino fizeram tudo parecer ainda mais preocupante. Em dois segundos seu celular já estava em mãos olhando para a tela com as sobrancelhas franzidas.
- Tem certeza que ela não está aqui? Você procurou direito Rachel? Aaliyah? - O Shawn perguntou claramente nervoso enquanto gritava o nome da irmã com furor em frente a porta do banheiro. Tinha lágrimas nos meus olhos, se algo acontecesse a ela eu jamais me perdoaria. Tudo isso era culpa da responsabilidade que o Shawn e eu tivemos, achei que ela fosse estar segura quer dizer isso aqui é um shopping, ninguém some num shopping. - Ela me ligou a alguns minutos.
- Como a gente não viu isso em? Que burrice, puta que me pariu como isso foi acontecer? - Falei um pouco exaltada demais começando a correr pelo shopping com o Shawn no meu encalço na esperança de encontrar a Aali. Eu me esbarrava nas pessoas e sentia meu peito se apertar mais a cada passo que dava, tudo ao meu redor parecia um vulto indecifrável enquanto eu tentava de todas as formas localizar a Aaliyah ni meio da multidão. Em um certo momento em que desacelerei o ritmo da minha corrida o Shawn conseguiu me alcançar agarrando meu braço com certa brutalidade e me forçando a parar.
- Respire. Você tem que se acalmar, não vamos achar ela desse jeito. - Falou embolado sem conseguir formular as palavras em sua boca. Percebi que tinha algumas lágrimas escorrendo pelo meu rosto quente e ver que o Shawn parecia tão angustiado e desorientado quanto eu fez tudo perder o sentido. Corcordei com a cabeça sabendo que fazê-lo ter que lidar com a minha ansiedade agora só deixaria a situação mais complicada. Meu primo não estava com raiva nem irritado, tudo que eu enxergava em meio às emoções tempestuosas nos seus olhos castanhos era medo. A única coisa que ele sentia naquele momento era um medo devastador de que a pessoa que ele mais amava pudesse não estar segura. Eu o entendia completamente.
O garoto me puxou pela mão de forma atordoada encontrando um segurança e correndo até o homem. Não conseguia distinguir suas palavras, reparava somente nos seus lábios tremendo da forma mais desesperada possível enquanto ele juntava forças para descrever a irmã, como se estivesse fazendo um grande esforço para não chorar. Desviei os olhos rapidamente sem aguentar ver o estado em que o Shawn se encontrava, aquilo havia me desestabilizado dos pés à cabeça.
Quando algo assim acontece você começa a pensar de um jeito que jamais pensou antes. Eu pensei em todas as possibilidades, as boas e as ruins. Pensei em como minha família ela antes e como ela ficaria quando soubesse que a Aali havia sumido. Pensei em meus tios e nos meus pais, o que seria deles depois daquilo? Pensei no Shawn, ah o Shawn. E pensei em mim. Nunca mais seríamos os mesmos se algo acontecesse. Percorri os olhos pela praça de alimentação sem nenhuma esperança, sentindo meu coração errar uma batida ao ver os cabelos extremamente lisos da minha prima.
Devo ter balbuciado algumas palavras antes de sair correndo em direção à garota. Nunca havia corrido tão rápido em toda a minha vida. Assim a alcancei puxei seus ombros fazendo ela se virar na minha direção, deixando bem claro para mim aqueles olhos brilhantes que eu conhecia melhor que os meus próprios. A abracei como se a minha vida dependesse disso, talvez porque dependia mesmo de certa forma. O alívio que eu senti foi tanto que por um momento achei que pudesse estar flutuando. Ouvi a voz dela mas não entendi uma sílaba sequer, tentava ao máximo confirmar que a minha prima estava segura e sem nenhum arranhão.
Em poucos segundos o Shawn apareceu ao meu lado e logo a irmã estava em seus braços sem entender nossa reação. Só então, mais calma por finalmente saber que estava tudo bem, percebi o menino próximo a nosso estardalhaço como se passasse o maior constrangimento da sua vida. Demorei um pouco até associar mas rapidamente captei o que estava acontecendo ali. Era o mesmo garoto que vi conversando com a minha prima no dia do festival de adoção. Eu estava tão feliz por ter encontrado a Aali sã e salva que mal pensei em questionar tudo aquilo. Mas assim que o Shawn começasse a se perguntar por que havia passado por todo aquele sufoco, ah o pau ia comer.
- Sinto muito. - Murmurei timidamente com um sorriso de lado para o garoto até então desconhecido, agora que o Shanw finalmente havia colocado a Aali no chão e a sessão de interrogatório começaria. O menino me olhou com um misto de confusão e vergonha apenas dando um aceno de cabeça.
- Onde você se meteu Aaliyah? Você tem noção do quanto fiquei preocupado? Sabe o que passou pela minha cabeça e pela da Rachel enquanto a gente virou o shopping de ponta cabeça atrás de você? Um segundo a mais e a polícia estaria atrás de você agora. - Meu primo disparou como um pai de três filhos faria, ele se preocupava tanto com a Aali e sua atitude me fez imaginar como seria quando ele fosse o responsável por construir uma família e criar as próprias crianças. Não precisei pensar muito, definitivamente o Shawn seria um bom pai. O garoto tinha uma postura autoritária e eu senti pena da Aaliyah por estar passando por tudo aquilo, sim queria respostas mas seu bem estar já aliviava praticamente todo o meu desespero. Vi as bochechas da minha prima corarem violentamente enquanto ela gaguejava sem saber o que responder. E eu quis rir sabe, tudo ficou tão engraçado de repente que tive de fazer força para segurar a risada. - Eu sempre digo, quando você se perder fique onde está. Por que você não fez isso em? Aliás, porque não atendeu as nossa ligações?
- Hey! Não venha com essa, eu te liguei várias vezes e você que não atendeu. Eu saí do banheiro e vocês dois tinham simplesmente sumido e ido pra sei lá onde fazer sei lá o que. Como sempre. Eu esperei e os dois não apareceram eu não ia ficar lá platanda esperando a boa vontade de vocês! - Engoli em seco notando o Shawn se desestabilizar um pouco ao meu lado. A Aali tinha tocado no nosso ponto fraco, sabia como o meu primo odiava esconder as coisas da irmã. Não poder contar a ela sobre nós estava o matando. E de certa forma a culpa havia sido nossa, nós tínhamos nos descuidado para atender a alguns caprichos e por isso perdemos a Aaliyah de vista. A culpa tinha sim sido nossa. Mas tudo que o meu primo fazia era para o bem da garota, entendia sua irritação mas não dava para negar que a garota estava certa, em parte. - Achei que vocês pudessem ter ido sentar numa mesa ou sei lá, por isso vim pra praça de alimentação e coincidentemente me esbarrei num conhecido e fiquei por aqui conversando. Não precisava desse desespero todo, a gente tá num shopping ninguém se perde num shopping. Eu sempre vou sozinha lá em Pickering, o que deu em vocês pra tentarem chamar a polícia?
- Eu sei eu pensei a mesma coisa, você é esperta e sabe se virar. Mas não conhece a cidade Aali, nos dê um desconto ficamos preocupados contigo. O mundo tá cheio de doidos por aí sabe se lá o que pode acontecer. - Falei, muito mais calma que o Shawn que se contorcia ao meu lado tentando pensar. Estava me surpreendendo com a minha capacidade de lidar com crianças, talvez isso fosse culpa do meu amor imensurável pela Aali que com certeza elevava minha paciência ao infinito. Mas não deixava de ser uma novidade, bom Rachel talvez você tenha chance como mãe. - Por favor Aali, prometa que nunca mais vai fazer...
- Um conhecido? - O Shawn me interrompeu como se nem estivesse escutando o que eu estava dizendo. Me virei para ele pronta para reclamar até perceber a merda que aquilo ia dar. Tudo fazia sentido agora, era por isso que a Aali estava tão sorridente e não largou o celular esses dias, tinha haver com o garoto estatelado a atrás da Aaliyah. Vi meu primo respirar fundo sem tirar os olhos da irmã, ele estava fazendo um bom trabalho em manter a compostura, era educado demais para dar um ataque de ciúmes bem ali, mas eu sabia o quanto ele era super protetor com a minha prima.
- Sim Shawn um conhecido. Esse é o Collin. - Parecia que só naquele momento o Shawn havia notado a presença do garoto, o encarando como se perguntasse o que ele ainda estava fazendo ali. O Collin parecia ser um pouco mais velho que a Aali, talvez um ou dois anos no máximo, e era um típico garoto de Naples, pele bronzeada e cabelo loiro. Fiquei feliz pelo romance de verão da minha prima e dei um pouco de credibilidade ao seu crush crush por ainda não ter saído correndo dali. Meu primo se sentiu forçado a ser imponente por isso estendeu a mão para que o pré adolescente apertasse de volta, fiquei com pena quando vi os nós dos dedos do Shawn ficarem brancos pela força que fazia no cumprimento. Pobre Collin.
- Oi querido. - Falei acenando na sua direção. O Collin e Alli pareciam achar algum conforto na minha presença, eu sabia que era por causa do Shawn estar tentando intimidar os dois e sendo super protetor com a Aaliyah enquanto eu parecia bem aberta a um diálogo como se estivesse ali para protegê-los. Pousei a mão no ante braço do meu primo querendo que ele se acalmasse e sentindo seu alívio sob meu toque, deixei um meio sorriso escapar ao confirmar meu efeito sob o garoto ao meu lado.
- Rach, eu tava pensando se eu não poderia dar uma volta com o Collin... - Perguntou deixando a frase morrer no ar. Eu tinha que fazer aquilo por ela, eu tinha que apoia-la nesse momento por isso a minha prima estava pedindo para mim. Encarei o Shawn vendo a expressão de pânico genuíno em seu rosto, acho que ainda não estava preparado para ver a Aali querendo namorar e ter encontros com outros garotos. Isso seria difícil para ele, mas pelo que sabia a Aaliyah já havia tido alguns namoradinhos aqui e a ali.
- Acho que pode, não deve ter problema. - Falei assumindo uma responsabilidade que não era minha. Vi o Shawn me fuzilar com os olhos, sabendo que ele não queria aquilo. Qual é? Eu não ia ser a culpada por manter a menina enjaulada e privando ela de crescer. Arregalei os olhos na sua direção vendo ele franzir as sobrancelhas. Supirei de volta vendo ele rolar as órbitas castanhas para mim enquanto eu dava de ombro. Não precisávamos de palavras para nos comunicarmos, havíamos entendido exatamente o que o outro queria dizer. Isso me fez sorrir por um instante. O meu primo se deu por vencido finalmente. Encarei os dois a minha frente vendo que eles nos olhavam como se fossemos aberrações.
- Vocês dois parecem a mamãe e o papai. Quie isso. - A Aali falou fazendo meu sangue gelar. O Shawn pediu timidamente que a Aaliyah o seguisse se afastando o suficiente para não ouvirmos a conversa que teriam. O meu primo precisava daquele momento com a irmã, para dizer tudo o que queria antes de entregar ela a outro garoto. Fiquei orgulhosa por ele estar tomando esse passo. Olhei na direção do Collin percebendo que ele encarava a minha a conversa dos dois de forma tensa.
- Relaxa, o Shawn pareceu bem assustador aqui mas ele é muito bom pra falar a verdade. - Comentei chamando sua atenção mas sem desviar os olhos do meu primo, falando de forma incisiva com a Aali enquanto ela balançava a cabeça com veemência. - Você deveria ter mais medo de mim, eu que sou a má aqui.
- Não foi o que pareceu. Mas prefiro não duvidar disso. - Falou com vergonha eu pude ouvir sua voz pela primeira vez. Queria poder julgar o Collin mas não sabia nada sobre ele, como tratava a minha prima, sobre seu jeito, do que gostava. Não podia dizer que era um garoto mal, mas também não podia dizer que era bom.
- Quantos anos você tem? - Perguntei com curiosidade, vendo ele dar um sorriso inteiro dessa vez. Pelo menos ele era bonito, isso eu não podia negar. Minha prima tem bom gosto.
- Acabei de fazer 14, tem um mês. - Respondeu. Eu diria que ele é velho demais para a Aali mas isso não faria muita diferença para falar a verdade, pelo menos esperava que não. Fiz os cálculos, ele era capricorniando. Isso me preocupou. - Obrigada, por convencer ele a deixar a Aaliyah sair comigo.
- Ah não precisa agradecer. - Disse balançando a mão como quem diz "Não foi nada". Mas bom, foi. Teria de ouvir a crise do Shawn durante o resto da tarde, não que isso me incomodasse mas ficava mal por ele. Dei o meu melhor sorriso na direção do Collin preparando meu discurso. - Eu gostei de você Collin, PR favor não me decepcione e parta o coração da Aali. Desculpa dizer mas, você vai conhecer o inferno se fizer isso. E o Shawn não vai ser sei guia. Eu vou.
Não desfiz o sorriso ao ver os irmãos Mendes vindo em nossa direção, um bem sorridente e outro claramente precisando ser consolado. Olhei para o Collin estático, quase sem respirar ao meu lado, assim que seus olhos alcançaram os da Aali ele pareceu relaxar. Minha prima veio em minha direção me dando um abraço de lado.
- Você vai me contar tudo depois. - Sussurrei para que só ela pudesse ouvir escutando sua risadinha em seguida.
- Esteja aqui daqui em frente ao McDonalds as seis. - O Shawn pediu vendo a irmã acenar com a cabeça e se distanciar sorridente, assim que acharam estar fora do nosso campo de visão Collin entrelaçou suas mãos me fazendo soltar um gemido pela fofura. - Não acredito que acabei de fazer isso.
- A Aali vai crescer Shawn, e a única coisa que você pode fazer é aceitar e estar ao lado dela, pra passarem por isso juntos. - Falei enquanto começavamos a andar em direção a uma das mesas na área mais vazia do andar. Meu primo não parecia triste, apenas um pouco incomodado.
- Eu sei. Mas não quero que ela me troque pra ficar com outro garoto. - Falou dando um muchocho enquanto sentávamos lado a lado em frente à mesa. Ri pela sua insegurança, ele não costumava ser assim quando se tratava de outros assuntos. O garoto apoiou o cotovelo na mesa e depois o queixo na mão, fazendo um caretas de birra mais lindas que eu já vi.
- Ela jamais te trocaria Shawn. Nenhum garoto que ela pode ficar vai ocupar o seu lugar. Pare de ser idiota, você o irmão dela. - Falei me aproximando mais dele e deixando nossos ombros colados. Virei na sua direção ao ouvir ele estalar a língua no céu da boca, o Shawn estava com o bico mais lindo que eu já havia visto na vida, e eu quis morder seu lábio do jeito mais água com açúcar possível. Sua expressão de birra era incrivelmente adorável. - Para com isso vai deixa eles serem felizes.
Ficamos em silêncios por incontáveis minutos. Pensei que passar a tarde inteira sentada ao lado do meu primo apenas analisando a vida das pessoas seria uma ótima programação para o resto do dia. Mas ele estava pensativo, e o Shawn pensa demais para um adolescente de 17 anos. E eu sei bem como é ruim pensar demais.
- Hey. - Chamei de forma manhosa vendo um sorrisinho se formar em seu rosto, mas sem ter sua completa atenção. Apoiei minha cabeça no seu ombro passando minha mão do jeito que consegui pelo espaço entre seu braço e seu peito dando um jeito de abraçar seu pescoço. Gemi manhosamente tentando fazer ele prestar atenção em mim. A que ponto eu cheguei. Estava sendo romântica com o Shawn, sem nunca ter sido romântica com ninguém. - Shawn.
Chamei. Não ouvi sua risada mas ou De sentir seu peito vibrar denunciando seu humor. Levantei a cabeça deslizando os dedos delicadamente pelos fios de cabelo que caiam minimamente sobre sua orelha. Beijei sua bochecha, ele finalmente passou o braço pela minha cintura me puxando para mais perto e virando o rosto na minha direção. Seu rosto ficou tentadoramente perto do meu. E antes mesmo que eu pudesse fazer piada sobre como aquilo era ridículo o Shawn juntou seu lábios aos meus num selinho suave e rápido sem nenhuma preocupação.
- Quer ir na loja de CDs que tem no andar de baixo? - Perguntei a primeira coisa que veio a minha cabeça, ainda de olhos fechados. Senti a sua respiração contra meu rosto sair entrecortada por conta da risada que deu.
- Quero.
Eu sempre achei que tinha o melhor gosto para música de todo o mundo. Isso até conhecer essa parte do Shawn. Meu primo sabia muito sobre o assunto, sabia tudo sobre acordes e pontes, vibrattos e falsettes, reagge e rock clássico. Arriscava dizer que gostava mais dele depois de ouvi-lo falar uma tarde inteira sobre algo que ele mais amava. Música.
Chegamos em casa antes do jantar, para a felicidade dos nossos pais. E surpreendente todos estavam felizes, até a minha mãe ria das piadas idiotas que o Shawn fazia.
Tinha algo diferente, e eu não sabia se era em mim ou no Shawn mas sabia que cada olhar acompanhando de um sorriso que trocávamos possuía um significado que só existia para nós dois. Mesmo que não o entedêssemos ainda.
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