Os meninos começaram a comemorar, digo, eles gritaram e abraçaram um ao outro e, até mesmo, meu tio Allan. Eu deixei um sorriso escapar, não sei o motivo, mas aquilo me deixou animada.
—Isso é incrível, meninos. — disse Renée e puxou Slash para um beijo rápido. —Parabéns, meu amor.
—Obrigado. — Slash disse e deu um selinho nela.
Percebi que o moreno ficou incomodado com a ação da noiva, mas ela não percebeu isso. Porém, foi quando Axl desceu as escadas junto com Seymour, ambos sorriam.
—O que está acontecendo aqui? — Axl perguntou curioso.
—A Geffen ligou, Rose. — disse tio Allan. —Nós conseguimos outro contrato.
Ao ouvir a notícia, Axl deu um sorriso muito diferente, um sorriso vitorioso e sincero, como se tivesse recebido a melhor notícia de sua vida, o que talvez não era mentira. O ruivo se afastou de Seymour e correu até os meninos, então eles se abraçaram em grupo e começaram a pular no meio da sala enquanto chamavam um ao outro de apelidos nada carinhosos.
Seymour, por sua vez, apenas revirou os olhos e cruzou os braços, como se aquilo não fosse importante, então ela deu de ombros e saiu pela porta da frente sem se despedir. Renée percebeu a amiga saindo e foi atrás.
—Okay... isso é muito bom. — disse Axl assim que eles se soltaram. —Ou melhor, isso é incrível.
—Nós conseguimos novamente. — disse Duff e sorriu.
—Sim, conseguimos. — Slash concordou sorrindo, mas imediatamente ficou sério e lançou seu olhar preocupado para meu tio. —Droga, quanto tempo nós temos, Allan?
Depois daquela pergunta todos ficaram sérios e encararam meu tio, que pareceu entender a pergunta. Espera... tempo para que? Do que eles estavam falando?
—Ah, não se preocupem com isso. — tio Allan respondeu e sorriu de orelha a orelha. —Nós temos mais alguns dias até a festa da Geffen em Londres, onde vocês vão assinar o contrato, só depois iremos marcar as datas.
Foi então que algo estranho aconteceu. A expressão de Axl, que já era séria, ficou ainda mais rígida e pesada, como se o ruivo estivesse pronto para brigar com alguém.
—Como você quer que não nos preocupemos? — ele perguntou com um tom mais alto.
Percebi que todos se entreolharam e permaneceram em silêncio, como se soubessem o que realmente estava acontecendo. Axl permaneceu sério — até demais — encarando meu tio Allan, que agora tinha desfeito seu sorriso.
Então, de um minuto á outro, a comemoração havia ganhado um ar tenso e pesado, como se alguém estivesse prestes a contar algo proibido.
—Axl, foi apenas modo de dizer. — disse Duff, tentando amenizar a tensão.
—Você quer que não nos preocupemos quando teremos que escrever diversas músicas novas? — Axl perguntou sem dar importância ao que Duff havia dito. —Acha que as coisas são fáceis assim?
O tom do ruivo era rígido e, de certa forma, rude e frio. Porém, a minha surpresa era pelo fato de que Axl estava exagerando, afinal, ele não tinha motivos para tratar meu tio daquela maneira e ninguém parecia se importar com esse exagero.
—Eu não disse isso, Rose. — disse meu tio. —Só estou falando que ainda vamos assinar o contrato e só depois iremos resolver os detalhes maiores.
Axl continuou com a expressão séria por longos segundos até que simplesmente deu de costas e subiu as escadas rapidamente. Eu o segui com os olhos até que desaparecesse pelo corredor e depois voltei encarar os meninos, que agora pareciam mais... relaxados.
—Acho que vamos precisar ligar para a Beta. — disse Duff com um tom sério. —Não sabemos como vai isso vai influenciar na cabeça dele.
—Não acho que precise de tanto. — disse Slash, como se estivesse tentando amenizar algo. —Ele melhorou muito de uns tempos para cá.
Os dois encararam tio Allan, que parecia pensativo. Eu já não estava entendo mais nada. Quem era Beta? E por que ligar para ela? Tio Allan permaneceu encarando Slash e Duff por alguns segundos, mas então desviou seu olhar para Izzy, que estava com uma expressão neutra e fumava um cigarro.
—Izzy... o que você acha? — tio Allan perguntou.
Izzy tragou lentamente seu cigarro e soltou a fumaça na mesma velocidade.
—Espere para ver como vai ser o comportamento dele até o dia da festa. — Izzy respondeu. —Se for calmo e normal como estamos acostumados, deixe Beta de fora. Caso o contrário, ligue para ela.
—Você tem certeza? — meu tio perguntou.
—Sim. — Izzy respondeu e apagou seu cigarro.
Izzy não disse mais nada e subiu as escadas.
—Se Izzy disse, então não podemos protestar. — disse Duff. —Aliás, ele conhece -
Antes que ele terminasse de falar, o telefone tocou e o próprio loiro atendeu, como se estivesse esperando por aquilo, tio Allan e Slash o encararam meio assustados, mas nada disseram.
—Alô? — disse Duff. —Sim... claro... do que precisa?
Ele prestou muita atenção na resposta da outra pessoa e fez uma expressão meio confusa, então ele pegou um bloquinho de papel que estava ao lado do telefone e anotou algumas coisas.
—Claro. Já estou indo. — disse e desligou rapidamente.
Sem dizer mais nada, ele deu de costas e subiu as escadas como se o mundo estivesse acabando, levando consigo o bloquinho de folhas. Não demorou muito e Slash também se retirou, deixando somente á mim e meu tio na sala. Minha cabeça começou a latejar, uma mistura de dor com diversas dúvidas, que iam desde a situação de Axl até as ações repentinas de Duff.
—Algum problema, Scar? — meu tio perguntou.
—Ah... não exatamente. — respondi e levantei o olhar para encará-lo. —Eu só estou com algumas dúvidas.
—Como quais, por exemplo? — ele perguntou.
Aquela pergunta fez com que eu reformulasse minhas futuras perguntas. Eu tinha o direito de perguntar sobre o disco e sobre a festa, mas sobre Axl, bem, seria mais fácil eu perguntar á Izzy, pois o albino parecia ser o mais próximo do ruivo.
—Primeiro, que história é essa de festa da Geffen em Londres? — perguntei. —E esse disco novo? Como surgiu esse contrato?
Tio Allan me encarou por alguns segundos e sorriu, então caminhou até mim e se sentou ao meu lado no sofá.
—A Geffen tem a tradição de dar festas quando fecham um contrato grande. — meu tio respondeu. —Na verdade, os meninos assinam o verdadeiro contrato antes, perante um advogado, e depois voltam a assinar uma cópia em um evento direcionado á publicidade.
—Então a festa é de fachada? — perguntei surpresa.
—Sim. — ele respondeu. —Normalmente para divulgar e coisas do tipo.
—Interessante. — falei como se fosse para mim mesma.
—Ah, e sobre a segunda coisa. — disse ele e suspirou pesado. —As vendas do Lies aumentaram em 20% mesmo depois de meses do lançamento e isso chamou atenção da Geffen, que decidiu fechar novamente com o Guns. Agora sobre o disco eu não tenho muito que falar, até por que ainda não sabemos como vai ser essa experiência.
Suspirei meio apreensiva e balancei a cabeça, tentando afastar o grande nó que havia se formado em minha mente. Abri meu diário rapidamente e anotei alguns detalhes simples, mas importantes.
—Bem, mais alguma coisa, querida? — tio Allan perguntou.
—Creio que não. — respondi. —Pelo menos por enquanto.
—Ótimo. — disse e se levantou. —Ah, só mais uma coisa.
Levantei a cabeça e o encarei curiosa.
—O que?
—Você também vai. — respondeu e sorriu.
POV-Duff
Vesti uma calça de couro preto, uma blusa bem larga do Ramones, calcei minhas botas, peguei minha jaqueta e as chaves do meu carro, saí rapidamente do meu quarto e caminhei apressado em direção as escadas, porém, fui impedido de descer por Slash, que se colocou na minha frente.
—O que foi? — perguntei surpreso.
—Quem era no telefone e por que você está com tanta presa? — perguntou desconfiado.
Droga, mil vezes droga! Eu não podia contar a verdade, isso só pioraria a situação, afinal, Slash ainda estava bravo comigo por conta da noite passada e, se eu contasse que estava saindo para ajudar Michelle, isso acabaria com tudo.
—Ah, era um amigo meu. — menti. —Ele está com uns problemas e pediu minha ajuda.
—Hm. Quer que eu vá junto? — Slash perguntou ainda desconfiado.
—Não. — respondi rapidamente. —Obrigado, mas não precisa. Agora, com licença.
O empurrei levemente e desci apressado, Allan e Scar ainda estavam na sala, mas eu nem me despedi e caminhei em direção a cozinha, onde tinha uma porta que dava na garagem.
Nossa garagem era espaçosa e ocupada por diversos carros e motos, a maioria era de Slash, que tinha uma fascinação por eles. Meu carro era um Maverick preto com uma pintura brilhante e as calotas prateadas, e era um dos poucos que eu não roubei, só comprei, então era fácil perceber que eu morria de ciúmes dele.
Saí da casa em alta velocidade, até por que Michelle disse que era urgente, e dirigi até o centro da cidade, onde passei vinte minutos procurando uma farmácia entre os bares de stripper.
Assim que encontrei uma, estacionei bem na frente e adentrei o local. Todos que estava lá voltaram suas atenções para mim, mas eu não me importei muito e fui até o balcão, onde havia uma senhora de cabelos grisalhos. Ela vestia um uniforme branco, era muito baixinha e usava um óculos de lente grossa.
—Em que posso ajudar, querido? — ela perguntou com a cabeça levemente inclinada para cima.
—Hm... eu preciso dessas coisas. — falei enquanto tirava o papelzinho amarelo do bolso.
Ela pegou o papel e sorriu ao ler as coisas.
—Ah, tudo bem, meu querido. — disse ela e sorriu divertida. —Eu vou lhe ajudar.
Ela pegou uma cestinha e começou a colocar tudo lá. Eu me perguntei como uma coisa tão pequena podia gastar tanta coisa. A maioria de coisas eu sabia o que eram, mas não sabia diferenciar tamanhos, estilos, formas, e também não sabia como usar ou colocar.
Realmente, eu não servia para o cargo.
—Bom. Mais alguma coisa? — a senhora perguntou.
—Acho que... não sei. — respondi rindo nervoso e cocei a nuca. —Eu estou um pouco perdido.
—Ora, não se preocupe. — disse ela ainda sorrindo. —Com o tempo você ganha experiência nisso. É de primeira viagem?
—Hã? — perguntei sem entender.
—É a primeira vez que faz as compras, querido? — perguntou rindo.
—Ah, sim, sim. — respondi ainda sem entender muito bem. —Enfim, obrigado.
—Não agradeça. — disse ela. —Apenas lembre-se de se proteger mais vezes.
Acabei corando com o comentário e fui para o caixa. Eu não me importava de gastar dinheiro com coisas para Michelle e ele, afinal, eu havia prometido que ajudaria em tudo. Peguei as compras e voltei para o carro, então saí em direção ao apartamento da Chelle, que ficava um pouco longe dali.
Chelle morava em um dos prédios luxuosos de Los Angeles, porém, isso não era por vontade própria, mas sim por que Izzy e eu a obrigamos. Ela precisava de um lugar calmo e seguro, ou melhor, eles dois precisavam, por isso demos o apartamento de presente para ela.
Estacionei o carro em frente ao prédio e desci com as sacolas. O porteiro já me conhecia e eu tinha passe livre para frequentar o lugar, então não demorou até que eu já estivesse no elevador.
O andar de Chelle era o oito e seu apartamento era o 212.
Eu já tinha a chave da porta do apartamento, então o adentrei rapidamente e, no mesmo momento, pude ouvir o choro que vinha da sala. Acabei me assustando um pouco e caminhei até o cômodo, onde encontrei Michelle e Maria, a empregada latina que era a pessoa em que Michelle mais confiava.
Michelle vestia apenas uma lingerie vermelha e robe de seda da mesma cor e tinha uma expressão cansada no rosto, como se não tivesse dormido a noite inteira. Maria era uma mulher já com certa idade e a mesma que tinha cuidado de Michelle quando ela fugiu de Londres, ela era como um irmã para Chelle.
—Duff! — disse Chelle enquanto se balançava de um lado para o outro. —Graças a Deus!
—Desculpe, mas o trânsito estava horrível. — falei meio preocupado. —O que ele tem?
—Cólica. — ela respondeu rapidamente. —Trouxe o que eu pedi?
—Sim. Está tudo aqui. — respondei levantando as sacolas.
—Maria, será que você poderia preparar o remédio? — Michelle perguntou para a mulher. —O doutor receitou vinte gotas.
—Claro, senhorita. — Maria respondeu com seu sotaque latino.
Ela pegou as sacolas das minhas mãos e saiu em direção à cozinha, enquanto eu me aproximei de Michelle e fiquei a observando, o que ela notou.
—O que foi, loiro? — ela perguntou curiosa enquanto balançava o pequeno.
—Nada. —respondi rapidamente. —É só... preocupação.
Michelle riu e levou a mão até meu rosto, alisando-o.
—Não se preocupe, meu anjo, ele vai ficar bem. — disse ela com um sorriso confortante e passou o polegar pela minha bochecha. —É apenas cólica, não é meu amorzinho? Já vai passar... vai passar, meu principezinho.
Uma cena que eu nunca imaginava que iria presenciar.
Michelle agindo como mãe.
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