Por mais ridículo que parecesse, observar humanos vivendo sua vida pacata e chata era interessante. E por mais que fizesse isso constantemente, Sasuke nunca admitiria aquilo.
Sasuke via adolescentes perderem o horário da aula durante uma semana inteira, como eles conseguiam realizar aquele tipo de proeza ainda lhe era um mistério.
Mas, para todo o seu desgosto, a vida de Shikamaru Nara e Naruto Uzumaki ainda lhe eram uma boa novela mexicana. E Sasuke não sabia como havia descoberto o significado do termo "novela mexicana" para usá-lo.
Na maior parte do tempo, Sasuke se perguntava como diabos o rapaz de cabelos loiros ainda não havia notado que Shikamaru era completamente apaixonado pelo colega de quarto?
E Shikamaru não se sentia assim por falta de opções, necessário dizer, pois se apaixonar por Naruto deveria ser algum tipo de punição por algo que havia feito em vidas passadas.
— Por que você simplesmente não fala com ele?! — uma mulher de cabelos loiros e belos olhos verdes gritou com Shikamaru, enquanto eles comiam aqueles pães com carne e alface.
Às vezes Sasuke se perguntava qual seria o gosto daquilo.
— Não é assim tão simples. — resmungou endireitando sua postura.
Eles estavam em algum tipo de lanchonete, o por quê daquele encontro ainda era um mistério.
Ela abriu a boca para discordar e ele a interrompeu:
— Não diga que é, porque você fala da boca pra fora exatamente igual seu irmão.
— O que é "da boca pra fora?" — Sasuke odiava aquelas gírias que ele não entendia.
Quando estava com outras pessoas que não eram Naruto, Shikamaru o ignorava, quando estavam na rua ele encostava o celular sobre o ouvido e o respondia sem olhar para ele.
— O mundo precisa de mais pessoas como eu e o Gaa, vocês medrosos não tem nada a oferecer. E se ele arruma outro pra tapar-buraco que o Sas deixou antes que você se confesse para ele? Vai ficar choramingando pelos cantos?
Shikamaru se encolheu no banco e olhou brevemente para Sasuke. O anjo não entendeu o porquê do olhar, mas de certa forma o intrigou.
— A gente não precisa falar dele. — resmungou o moreno, aparentemente aquele tal de Sas conseguia arrancar alguns sentimentos de inveja do sem expressão que era o Shikamaru.
— Só porque ele foi mais homem que você e conquistou o Naruto? — ela disse friamente.
— Obrigado por levar meus sentimentos em consideração.
— Da mesma forma como você levou os meus? — ela estava furiosa porque ele se apaixonou por Naruto e não pode corresponder seus sentimentos?
— Nunca alimentei suas esperanças, você se desapontou porque criou expectativas.
Ela bufou, ele tinha razão afinal.
Ele estava mesmo rejeitando uma garota muito bonita por um rapaz que obviamente correspondia seus sentimentos, mas não tinha a coragem para confessá-los?
— Você vai pagar o almoço. — ordenou ela.
Shikamaru era algum tipo de cachorrinho de loiros?
— Eu sempre pago, não pago?
Após Shikamaru pagar pelo almoço com a loira, ele começou a caminhar lenta e preguiçosamente de volta para a universidade, enquanto fumava.
— Por que você simplesmente não pode se envolver sexualmente com seu colega de quarto?— Sasuke perguntou de forma inocente.
Shikamaru se engasgou com a fumaça e talvez com a saliva também.
— Não... não é assim!— gritou envergonhado, se esquecendo que estava em público e em seguida encolhendo os ombros e caminhando rapidamente.
— Então como é?— Sasuke havia cansado de andar estava sobrevoando o humano agora. — Qual... qual dos dois interpretaria a mulher? Não sei como vocês chamam as posições de cada um.
Ele o ignorou, aparentemente aquela conversa deixava Shikamaru desconfortável.
— O que tem de tão difícil? Ele claramente tem reações hormonais por você e para os humanos é só isso que importa não é?
— Não!
— Vocês tornam tudo complicado.
— Você não tem mesmo mais o que fazer?
Sasuke não sabia responder aquela pergunta, será que era assim que Shikamaru se sentia sobre as suas perguntas?
— Sei lá, tipo derrubar livros no chão? Cantar serenatas, usar fraldas e acertar as pessoas com flechas de coração?
O anjo tentou não parecer ofendido com aquilo.
— Ele... ele não confia em muitas pessoas. — disse em quase um sussurro.— Eu vi ele sofrer demais em tão pouco tempo, era como se o coração dele se partisse e não tivesse tempo para se curar e acontecia algo ruim de novo... eu não poderia jogar meus sentimentos sobre ele simplesmente e...continuar vivendo minha vida normalmente pressionando ele pra me amar. Não é assim. — mesmo que o humano fosse sincero, haviam metáforas demais naquela frase para que Sasuke compreendesse.
— Ele... perdeu um parceiro sexual?
— Pelo amor de Deus!
— Você usa muitas metáforas e gírias. Não gosto disso.
Shikamaru soltou uma nuvem de fumaça em direção a Sasuke, que não se importava com o gesto e começou a caminhar novamente ao lado do outro.
Sasuke considerava mesmo os humanos fúteis, apenas uma realocação de almas os deprimiam tanto.
Agora o anjo entendia o por que daquele desgosto e mau humor todo, Shikamaru havia visto muitos anjos rodando Naruto em algum momento de sua vida.
— Você sabe que ninguém fica realmente morto, certo?
— Ah é Sherlock Holmes de fralda e auréola, me diz aí a teoria da conspiração então.
— As almas nunca param, e mesmo que sejam absorvidas ainda tem um propósito.
— Há quanto tempo você tá nesse trabalho? O de irritar os humanos.
A realidade era que: o tempo no mundo dos anjos era mundo diferente do tempo humano, era quase incomparável.
Sasuke não sabia dizer se fazia aquilo há décadas ou há alguns dias.
Ele não sabia responder.
— Você...se lembra de alguma coisa antes de ser... o que é?
— Nossas almas são diferentes, eu não poderia ser nada além de um anjo.— respondeu ao humano.
Mas almas podiam evoluir, uma alma humana poderosa e sábia o suficiente poderia facilmente se tornar algum tipo de influência no mundo dele.
— Eu duvido muito disso.— resmungou Shikamaru, colocando o cigarro na boca, aquilo iria matá-lo algum dia.
Sasuke podia concluir que odiava almas poderosas.
— São apenas palavras, ele claramente te corresponde é uma coisa sim...
— Se você disser que é simples, eu vou dar um jeito de te socar.
Aparentemente era simples, não tinha nenhum motivo para não fazê-lo, além da probabilidade equilibrada de rejeição e aceitação, mas humanos eram plenamente complicados.
Como Sasuke não sabia se tinha outras coisas interessantes para fazer, ele seguiu Shikamaru até o dormitório, onde o rapaz em um momento mandou mensagem para o outro e passou o resto da tarde e começo da noite andando de um lado ao outro na pequena casa, aparentemente esperando o outro chegar.
Quando finalmente a maçaneta girou, Shikamaru se acalmou, porém Naruto não aparentava estar bem.
— Por que você fica fazendo essas coisas?! — reclamou o moreno.
— Shika...
— Alguém te trouxe? — perguntou fazendo com que o loiro se escorasse nele.
Naruto negou, estava andando cambaleando, mal conseguia se manter de pé ou concluir uma frase que fizesse sentido.
O moreno o levou até o banheiro e começou a tirar as roupas do outro.
— Galinha que voa, pode me dar uma mão aqui? — gritou Shikamaru.
— Pela forma com que você fala comigo, não. — respondeu Sasuke se aproximando do banheiro.
Shikamaru se encontrava segurando um loiro desacordado enquanto entrava no box.
— Gira essa chave pra ligar o chuveiro, por favor.
Sasuke o fez e observou Shikamaru colocar o loiro delicadamente debaixo d'água, o abraçando quando ele se encolheu perante a água morna e delicadamente lavando seus cabelos, em alguns momentos, pronunciava frases de conforto, dizendo que estava tudo bem e que nada iria acontecer com ele, que Naruto não tinha que se preocupar porque ele não iria à lugar algum.
Por que ele diria aquelas coisas quando o outro mal conseguia se manter em pé?
Por que eles faziam aquilo?
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