- Importante? – Indaguei para Kevin, ainda mais confuso após sua declaração repentina. O pequeno concordou com a cabeça, olhando para o fim do corredor onde Woojin estava, na sala de estar. Ele colocou o dedo indicador contra os lábios, pedindo silêncio. Provavelmente o pai havia dito algo que o mais velho não poderia ouvir, sinal que entendi quase imediatamente. Han pegou sua mão e o trouxe para dentro do quarto, e então fechei a porta. O pequeno sentou-se em cima da cama cruzando as pernas, o celular de Woojin em suas mãos. Eu tentava organizar minhas muitas perguntas na cabeça, tentando encontrar uma para começar. Eu não conseguia imaginar um motivo plausível pelo qual Chan tivesse que ter dado as caras somente semanas depois de seu último contato, e que nem poderíamos revelar nada ao outro. Eu queria estar irritado, ou até mesmo curioso, mas eu só sentia pura preocupação e medo da descoberta.
Abri a boca para falar, mas Han tomou a dianteira, sentado ao lado de Kevin.
- O Channie está bem, não é?
- Sim, mas a voz do papai parecia muito cansada. – Kevin respondeu, olhando para a tela escura. Era triste ter que ouvir tanta preocupação na voz de uma criança tão pequena. No entanto, só pelo fato de ele dizer que estava bem já eliminava várias possibilidades que minha mente infelizmente me obrigava a imaginar. – Perguntou se estávamos bem, se eu estava me divertindo aqui com as primas. Mas não disse muito sobre ele mesmo.
- E o que ele está fazendo? Por que ele não ligou antes? – Perguntei.
- Ele disse que estava ocupado resolvendo algo muito, muito importante e que por isso não conseguiu falar com a gente. Disse que era algo sobre o papai Woojin... – Kevin explicou. – Ele falou só por alguns minutos, e o telefone fazia um barulho estranho, meio quebrado.
Franzi o cenho, tentando decifrar tudo aquilo. Aquilo era vago demais para que qualquer um de nós aceitasse. Não chegava a fazer o menor sentido, se eu não pensasse o suficiente. Suspirei, me sentando no carpete cinza do quarto.
- Ele disse mais alguma coisa? O que ele estava fazendo, perguntou sobre o Woojin, qualquer coisa? – Perguntei, segurando as têmporas. Kevin apenas me jogou o celular.
- Ele me disse para te dar isso, e esperar.
- Esperar? – Questionei, levantando uma das sobrancelhas. Liguei o aparelho, mostrando apenas a tela de bloqueio. Nela, havia uma foto dos três em algum parque em São Francisco, fazendo um passeio. O sol forte e de tom alaranjado típico de fim de tarde iluminava os três rostos sorridentes, sentados em um banco. Kevin devia sentir muita falta de Chan, isso eu apostava. Mesmo depois dele quase ter tido um excesso de raiva e ter descontado no pequeno, Kevin ainda era muito jovem para entender tudo aquilo, e era melhor se não o fizesse por agora. Mordi a parte interna da bochecha, esperando algo.
De repente, o telefone vibrou, e um e-mail apareceu nas notificações. Expandi a mensagem rápido até demais, quase deixando o celular escapar dos meus dedos, e no assunto do e-mail estava escrito: Aqui é o Chan.
- O quê, o quê? – Han se aproximou para ver, assim como o menor. Nós três ficamos lado a lado, sentados no chão, prontos para abrir o e-mail. Respirei fundo, pronto para clicar, quando Han segurou o meu braço, me impedindo por um instante.
- Não podemos deixar o e-mail aí, o Woojinnie pode ver depois já que vai querer o celular logo, logo. – Ele me alertou, como se fosse algo claramente óbvio. Concordei freneticamente, tentando esconder que aquele cuidado nem havia passado pela minha cabeça.
- Caramba, tem razão. Espera um pouco.
Abri a caixa de entrada e rapidamente encaminhei para o meu próprio e-mail, apagando aquele logo depois, até mesmo me certificando de que ele não estaria nem na sua lixeira. Devolvi o aparelho para Kevin, já que o pai não suspeitaria do próprio filho. No meu bolso, meu próprio celular tocou, então enfim começamos a ler dali, e Han se disponibilizou para narrar o e-mail, numa vozinha baixa, quase sussurrada:
“Oi, Minho, Han, ou até mesmo o Kevin. Aqui é o Chan.
Espero que antes que você comece a ler esse e-mail, não seja ingênuo ao ponto de não apagar do e-mail do Woojin primeiro para depois ler. Eu teria mandado para o seu, mas as circunstâncias me levaram a escrever para o único que eu sabia de cor porque, afinal, quem escreve e-mails casuais hoje em dia?
Brincadeiras à parte, quero primeiro pedir desculpas por não ter falado com vocês durante esse tempo todo. Acreditem se quiser, tudo o que restou do meu celular foram pedacinhos de vidro, e eu estava muito ocupado para tentar por outros meios, mesmo sabendo que eu poderia e sinto muito por ter deixado vocês (talvez) preocupados comigo. Mas eu finalmente consegui e eu preciso da ajuda de vocês uma última vez. Se eu conseguir, talvez tudo se resolva de uma vez entre mim e o Woojin.
Nessas semanas sumido, eu estava organizando minhas ideias e decidi que não vale mais a pena viver em São Francisco. Eu sempre soube que Woojin nunca gostou de viver aqui e se esforçava até demais para dizer que via beleza aqui, quando seu coração sempre sentia saudades dos amigos e de sua cidade natal. Ele sempre teve que fazer sacrifícios por mim, sempre teve que mentir pelo nosso bem, e essa é a primeira coisa que eu quero resolver. Eu finalmente conseguir sair da minha empresa, e ainda por cima denunciar meus superiores por abuso de poder. Consegui alguns depoimentos de outras pessoas do meu setor e descobri que eles não escolhiam pessoas para atazanar; faziam com qualquer um que os contrariasse. Soube que até batiam em estagiários quando não executavam um trabalho que nem ao menos foram instruídos sobre como fazer! Isso me fez perceber que eu nunca deveria ter saído do meu emprego na filial coreana, e que eu estava misturando minha vida pessoal e profissional de maneira destrutiva.
Depois, consegui uma casa nas redondezas, quase ao lado da mesma escola em que a Eunchan e Jihye estudam, escola que pretendo colocar o Kevin assim que resolver tudo. Sim, voltaremos. Isto é, se o Woojin achar que será o certo que continuemos juntos. Por mais que eu esteja arrependido de cada ação e palavra que eu disse a ele, não deixarei que ele faça nenhuma decisão sem pensar antes em si próprio e no Kevin, da mesma forma que ele fez ao me deixar aqui durante esses meses. Doeu como o inferno não ter as luzes da minha vida por perto, mas eu entendi a importância daquilo e como ele agiu perfeitamente bem. Por causa disso, eu aprendi a minha lição e sei exatamente o que fazer.
Tendo explicado o meu plano, eu preciso de vocês agora. Eu estou num cybercafé em Cingapura, mandando esse e-mail. Há alguns minutos eu liguei para o Woojin, mas felizmente quem atendeu foi o Kevin, por isso pude mandar esse e-mail com mais facilidade. Não pude falar muito já que o telefone era do lugar e eu tinha no máximo cinco minutos. Eu já deveria ter chegado em Incheon há mais ou menos dois dias atrás, mas por causa do tempo, o meu voo foi cancelado e vou ter que esperar. Por isso, preciso que mantenham o Woojin por perto até mais ou menos dia 8. Quero lhe fazer essa pequena surpresa, junto com a minha proposta.
Se ele aceitar, podem emoldurar esse e-mail junto com a minha promessa: nunca mais vou decepcionar nem ele, nem meu filho, nem nenhum dos meus amigos até o dia em que eu morrer. Se ele recusar... bem, eu realmente espero que isso não aconteça. Provavelmente voltarei para a Austrália e aceitarei qualquer que sejam as suas demandas. Mas eu não aguentaria muito tempo sem ele. Kim Woojin é a minha base, minha vida, literalmente tudo.
Até que eu chegue, NÃO CONTEM PARA ELE. Nem ao menos pensem sobre isso quando estiverem perto dele, porque eu tenho quase certeza que ele lê mentes. Tentarei mandar outro e-mail depois, mas por agora, foi a única coisa que eu consegui fazer.
Eles já vão fechar o café, então preciso ir. Conto com vocês, uma última vez.”
Quando Han finalmente terminou de ler a mensagem, nós soltamos um suspiro em uníssono.
- Se não fosse realmente o Chan, eu juraria que era alguma história de hacker pedindo dinheiro. – Comentei, passando a tela com o e-mail. Olhei para Kevin, que mantinha uma expressão aliviada no rosto. – Tudo bem, pequeno.
- Estou feliz que o papai esteja bem e que está tentando ajeitar as coisas. Eu não culpo ele, só pela saudade mesmo. – Ele disse, sorrindo para nós, agora um pouco mais animado. – Mal posso esperar para estudar junto das primas! Seremos o “trio maravilha”!
Não pude evitar rir daquilo junto de Han, tentando nos desvencilhar do turbilhão de informações que recebemos, apenas apreciando a ingenuidade de Kevin. Passei os dedos pelos seus cachos, tentando deixá-lo naquele estado.
- Com certeza, pequeno. E pode ter certeza que seus papai ficarão juntos novamente, hm?
- Eu sei disso. Eles se amam demais para ficarem separados. – Ele respondeu com simplicidade, como se já fosse óbvio, e eu me senti bem mais aliviado com aquela resposta.
Deixamos Kevin voltar para o quarto e então ficamos sozinhos novamente. Dessa vez, sem clima para fazer nada, apenas ficamos ali sentados conversando sobre tudo. Pensei em como tudo estava se alinhando na base da sorte, mas que não podíamos confiar inteiramente nela. Woojin precisava ficar, então tínhamos que mantê-lo ocupado. A preparação da festa era uma boa opção, já que planejávamos fazer algo um pouco maior que uma festa em casa. As meninas já tinham coleguinhas que poderiam chamar (fiquei bastante interessado no pequeno Sunny, “amigo” de Eunchan), e elas nunca tiveram um aniversário temático, então seria a oportunidade perfeita. Deixei que Han terminasse a lista de decoração que mais em breve compraríamos, além de buffets pequenos que estariam disponíveis para aluguel. Han estava mais que animado com a ideia, já que sempre planejou todas as festinhas das meninas e adoraria planejar algo mais elaborado. Quando ele enfim terminou, deixou tudo na mesa e então nos deitamos para amanhã começar a planejar. No entanto, não dormimos de primeira, tentando digerir tudo o que nos aconteceu durante aquele dia. Era quase impossível de acreditar em todas as palavras de Chan, e que ele realmente estava dando mão de tudo o que construiu em São Francisco para voltar. Por outro lado, nunca o vi quebrar nenhuma promessa durante todo o tempo em que fui seu amigo, e eu confiava nele.
Só esperava que Woojin também pudesse voltar a confiar.
Dois dias se passaram, e então eu e Han saímos para começar os trabalhos da festa. Jihye e Eunchan ficaram muito animadas com a ideia de terem uma festinha de aniversário com seus novos amigos, mas Han estava no mínimo mil vezes mais. Elas nos disseram que para o tema da festa, elas iriam se fantasiar de princesa e plebeia, assim como naquele filme da Barbie, e elas estavam tendo algumas dificuldades para decidir quem seria quem, mas disseram que gostariam muito que fosse desse tema.
Então, logo após pegá-las da escola, as deixamos na casa da sra. Ji, que se disponibilizou a cuidar delas, e ainda fez um almoço delicioso. Entramos no carro logo depois de nos despedirmos e nos acomodamos nos assentos. Não pude evitar me esticar no banco e dar um longo bocejo, já que sempre ficava com sono logo após o almoço.
- Ah... será que não poderíamos dar um cochilo rápido aqui?
- Não, a loja vai fechar em menos de uma hora. – Han disse sem dó, olhando para o relógio em seu pulso.
- Então dirija até lá. – Resmunguei, fechando os olhos por alguns instantes. Olhei de esguelha para ele logo depois, e vi que ele cruzou os braços e fez bico.
- Se o Minho tivesse tempo de ensinar ao Han, ele dirigiria! Mas ele só sabe ligar e desligar porque você pede para economizar gasolina.
- Mas é claro que eu já te dei aulas! Não se lembra? – Retruquei, e ele me olhou com a expressão incrédula, como se eu estivesse mentindo. Soltei o ar e logo depois dei um sorriso sacana com a ideia que me passou na cabeça, tirando o cinto de segurança.
- Bem, então vai aprender agora. Vamos. – Disse a ele, desligando a ignição, abrindo a porta do carro e saindo. Sua expressão mudou imediatamente para quase desespero.
- O-o quê? Está falando sério? – Ele perguntou, enquanto eu atravessava o automóvel e abria a sua porta.
- Mais sério, impossível. Vamos, saia. – Disse, e quando ele viu que eu não brincava, ele saiu com relutância, sentando-se na cadeira do motorista e segurando o volante. Me sentei ao seu lado, me divertindo com sua expressão confusa. Eu não pretendia realmente fazê-lo dirigir, apenas queria que ele confessasse que eu realmente havia dado as aulas, e que ele apenas não queria dirigir devido ao estômago cheio. Porém, aparentemente todos aqueles anos de casados não me ensinaram que Han Jisung era criatura extremamente teimosa.
Han virou a ignição e o carro ganhou vida, rangendo aos seus pés.
- Vamos, ensine ao Han então. O suficiente para que ele possa usar sozinho. – Ele disse, segurando o volante e com os pés agitados no chão do carro. Engoli em seco, olhando para ele, que parecia pronto para receber minhas instruções. Vi que não sairíamos dali se ele não realmente fosse ensinado a dirigir, então eu tive que engolir em seco antes de começar a falar.
- Bem, como o carro é automático, não precisa passar a marcha, então... aperte o freio primeiro. – Disse, e ele, convencido, sentou o pé no acelerador ao invés disso. O carro rugiu alto, o motor trabalhando a mil sem nem sair do lugar, e ele gritou com o susto, puxando os pés para perto do corpo e cobrindo a orelhas para evitar o barulho alto novamente. – Sua esquerda! Esquerda!
Ele demorou um pouco para se acalmar e ter a coragem de colocar seu pé de novo no pedal, mas se sentiu aliviado quando pisou no certo e o carro ficou silencioso.
- Certo, agora passa a marcha para o “drive”. O carro vai se mover um pouquinho, aí você acelera devagar, e se quiser frear, faça devagar também.
- T-tá... – Ele engoliu em seco e fez o que instruí. O carro lentamente começou a ir para a frente e ele comemorou rapidamente. Felizmente, o trajeto até a loja de festa envolvia apenas uma rua em linha reta e uma curva para a direita, então ele não teria que fazer manobras muito complexas. Eu achei que ele daria freadas bruscas como aquelas que se veem em séries de comédia, mas ele até que seguiu de maneira razoável, apenas pelo fato de que ele dirigia extremamente devagar, na faixa de 25 km/h., mas, era melhor do que nada.
- É como dirigir num carrinho bate-bate, Minho! – Ele exclamou, animado, quando um outro carro nos ultrapassou e buzinou para nós, assim como no brinquedo.
- É, mas sem a parte do “bate-bate”, pelo amor de Deus.
Ele riu, animado, e eu não pude evitar sorrir com ele, mesmo que eu tivesse perdido na discussão.
Após muito tempo e várias buzinadas depois, nós finalmente chegamos. O atendente da loja nos olhou com uma expressão de quase ameaça de morte, já que chegamos quinze minutos antes dele fechar as portas, mas prometemos não demorarmos mais do que ele pudesse ficar. Assim, nos separamos com as listinhas e corremos para pegar tudo o que contemplava uma festa de criança: muitos balões, toalhas, utensílios descartáveis, sacos de balas e pirulitos, chapeuzinhos de aniversário, convites, tudo com o tema relacionado ao filme, ou nas cores rosa, azul e branco. De quebra, subimos no andar de cima, que era destinado especialmente para fantasias e outros acessórios de festa e conseguimos dois vestidos longos muito parecidos com os utilizados no filme, com um tamanho que esperamos poder caber nas duas, além de algumas pulseiras e colares divertidos que as crianças poderiam brincar. Han corria para todos os lados, encantado com a quantidade de coisas que poderiam ser usadas em uma festa, e que nenhum de nós tinha visto antes na vida. tive que literalmente arrastá-lo para fora da loja quando ele pensou eu comprar uma vela que cantava parabéns.
Guardamos tudo no carro (desta vez Han nem fez questão de dirigir de volta para casa) e então o menor puxou o seu caderninho, desta vez me mostrando a lista de convidados nas meninas. O papel estava dividido no meio, as letrinhas das duas preenchendo seu lado.
- Jihye pediu para chamar sete amigas e cinco amigos. – Han contou do lado direito, mas me mostrou o lado de Eunchan um pouco preocupado. – A Eunchan só chamou esse garoto. “Sunny”, acho que é o nome dele. Até perguntei a ela se ela não queria chamar mais ninguém, mas ela só quis ele mesmo. O Han ficou um pouco preocupado, não?
- Tenho certeza de que é um amigo muito verdadeiro e especial para ela. – Respondi, sorrindo ao ler o nome do garoto. – Podemos chamar nossos amigos também, não é?
- Claro! O Han já falou com o Yuggie hoje durante a aula, ele disse que com certeza vai! – Ele respondeu animado, virando a página com outros nomes de convidados. Todos os nossos amigos estavam lá: Changbin, Felix, Seungmin, Jeongin, Hyunjin... Passei os olhos até o final da folha onde li os dois últimos nomes: Yugyeom e Jackson.
- O... Jackson, ele disse que vai? – Perguntei, tentando parecer o mais despretensioso possível. Han deu de ombros.
- O Yuggie disse que nada é certo com o Jackson. Se ele aparecer, não é surpresa, assim como ele não aparecer. – Ele respondeu, olhando agora para outras listas e falando mais sobre outros aspectos que estavam faltando comprar, mas eu não estava prestando completa atenção. Eu tinha que mantê-lo longe, não importava o que fosse. Não, melhor, eu tinha que der direto com ele, só assim ele iria embora. Se eu não fosse, seria como a anos atrás, e tudo se repetiria. Yugyeom estava certo sobre Jackson, ele fazia o que queria, não importando o que fosse.
Meu telefone notificou uma nova mensagem, usando um toque específico, e meu coração pulou uma batida.
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